Contraste escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 18
Capítulo 18




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O resto da nossa viagem foi dividido entre visitas culturais, City Tours, bares diferentes e uma noite ótima na maior balada da Europa, que coincidentemente ficava a apenas alguns quarteirões do nosso apartamento. Nossa noite de ano novo foi comemorada no meu estilo, com um jantar num restaurante mais descontraído antes de irmos ao nosso destino final, que era um bar localizado nos porões de um dos prédios históricos da cidade.

A iluminação era bem baixa e as paredes cobertas de desenhos e frases que os clientes podiam escrever a vontade. Passada a má impressão de descer uma escadinha escura em uma rua lateral mais escura ainda para chegar ao local, Harry pareceu achar muito interessante e diferente passar o ano novo conversando com mochileiros de diferentes países que encontramos por ali, bebendo cerveja em canecas de vidro esquisitas e podendo ser ele mesmo em todos os sentidos possíveis.

Desembarcamos no aeroporto central de Londres no final da tarde de sexta, de onde fomos direto para a casa do Harry. Ele embarcaria para os Estados Unidos no domingo e eu podia apostar que estava tão relutante quanto eu com esse tempo todo que ficaria longe, por isso decidimos que ficaríamos juntos mais esses dois dias e eu o levaria no aeroporto no domingo a tarde.

Mandei mensagem para os meus pais informando que fizemos boa viagem e que eu não os veria no domingo porque Harry precisava de um favor, mas que estaria lá na semana seguinte. Depois de receber um simples “ok” como resposta, deixei o celular de lado pelo resto do fim de semana para aproveitar a companhia dele.

—Tem certeza que não quer deixar seu trabalho pra lá e vir comigo? Deixo você fazer fotos sensuais de mim todos os dias pra você não se sentir perdida. - Harry perguntou quando estacionei na área de embarque.

—A proposta é tentadora. Se você me disser que dessa tira tudo, eu talvez tope.

Ele me puxou para um abraço apertado que eu retribui de olhos fechados, aspirando seu cheiro.

—Vou sentir saudades, garota.

—Eu também, vê se não trabalha tanto e tira um tempinho pra falar comigo.

—O tempinho pra você é sagrado.

—E pra se divertir também, você está indo para Miami, ouvi dizer que tem baladas ótimas por lá. Não me decepcione e conheça pelo menos uma.

Ele riu e me apertou mais no abraço em que ainda estávamos.

—Você deve ser a única namorada do mundo que incentiva o namorado a ir sozinho numa balada em outro país.

—Sempre soubemos que eu sou única, meu amor. - Falei convencida, rindo com ele.

—Prometo tentar uns bares, a balada não vai rolar porque a única coisa que me atrai em uma vai ficar aqui em Londres.

—Da próxima vez eu vou com você então, aí resolvemos isso juntos.

—Seria perfeito. - Ele concordou e me deu um beijo longo. - Preciso ir, Gin. Eu te aviso quando chegar.

—Vou ficar esperando. Boa viagem.

Esperei que ele tirasse a mala de dentro do carro e sumisse dentro do saguão de embarque antes de dirigir de volta para casa para enfrentar todas as minhas três semanas sem companhia para dormir.

Nos falamos todos os dias em que ele esteve viajando e trocamos fotos com a mesma frequência. Claro que houveram fotos de nós mesmos, com e sem roupa agora que eu finalmente o havia convencido de que estava tudo bem brincar um pouco com isso se nossos rostos não aparecessem, mas as imagens trocadas eram principalmente uma forma de fazer o outro participar um pouquinho do que estávamos fazendo.

As fotos que eu recebi do Harry incluíam principalmente museus, pontos turísticos, xícaras de café e algumas cervejas que ele tomou nos bares a que realmente foi. As minhas incluíam todas as comemorações do aniversário do Olívio, a sobremesa que minha mãe fez para mim num dos nossos almoços e muitas fotos minha com Izzie, que passou um final de semana inteiro comigo para os pais fazerem uma viagem curta.

Harry chegaria de viagem no início da tarde do último domingo de janeiro, o que me dava tempo suficiente de almoçar com meus pais antes de buscá-lo. A vantagem de ter um namorado a quem seus pais absolutamente amam, é que quando eles te perguntam por que você está comendo tão rápido e você diz que precisa ir buscá-lo no aeroporto porque está com pressa para vê-lo, a única coisa que eles fazem é mandar um beijo para o rapaz e te recomendar que dirija com cuidado.

Meu namorado cruzou o portão de embarque e veio sorrindo ao meu encontro, o abraço em que ele me prendeu foi forte o suficiente para tirar meus pés do chão. Eu estava tão feliz em vê-lo, que mesmo todos os detalhes técnicos que ele me contou sobre o treinamento enquanto eu dirigia, me pareceram interessantes.

A noite, depois de matar parte da saudade acumulada desse tempo todo, ele abriu a mochila e me entregou um embrulho que eu recebi empolgada. Assim que vi o que tinha dentro fez total sentido para mim que a embalagem fosse pequena.

—Então é pra isso que você olha e lembra de mim? - Perguntei com a sobrancelha arqueada enquanto segurava o meu mais novo biquíni entre os dedos.

—Com certeza, e não vejo a hora de ver com você dentro.

—Obrigada, é lindo. - Agradeci olhando os detalhes da estampa colorida. - Só não sei bem onde vou usar isso em Londres.

—Não é pra usar aqui, esse é meu convite indireto para irmos para a praia juntos. 

—Achei que você preferisse piscina. - Provoquei com a sobrancelha arqueada.

—Um hotel com piscina na praia, já pensei em tudo. - Ele se deitou novamente na minha cama e apoiou a cabeça no meu colo. - Precisamos ir pra Miami juntos, Gin, você vai amar aquele lugar, tudo ali me lembrava você. A praia é linda, a quantidade de bares, baladas, lugares legais para visitar que você iria adorar fotografar.

—Que tal explorarmos todos esses lugares juntos nas próximas férias?

—Por mim eu ia semana que vem, mas talvez seja melhor mesmo esperar o verão. Antes que eu me esqueça, quer ir até a casa dos meus pais comigo no próximo sábado? Eles me mandaram mensagem ontem perguntando se estamos livres.

Eu não tinha certeza se queria ou não, mas eu duvidava que naquele clima de carinho e intimidade em que estávamos, em meio ao planejamento das nossas próximas ferias e tudo o mais, eu conscientemente negasse qualquer coisa que Harry me pedisse.

—Sim, pode ser.

—Perfeito, vou confirmar então.

Para compensar o tempo perdido durante essas três semanas, Harry e eu passamos todas as noites daquela semana juntos, tanto na minha casa quanto na dele. Nessa brincadeira de ficarmos nos dividindo entre um apartamento e outro, uma quantidade considerável de roupas minhas já ficavam na casa dele e vice e versa, porque o lado do meu guarda roupa onde antes só tinha roupa de cama agora contava também com um numero de camisas e calças sociais.

A semana corrida que tive no trabalho, associada às poucas horas que dormi todas as noites, me fizeram chegar exausta na casa do Harry na sexta à noite. Ele já estava lá e abriu a porta para mim com um cheiro gostoso de banho recém tomando. Trocamos um beijo rápido e ele fechou a porta atrás de mim enquanto eu tirava o casaco pesado que estava vestindo.

—Você parece meio desanimada hoje, está tudo bem? - Ele perguntou quando se virou novamente para mim.

—Sim, só estou cansada, a semana foi uma loucura no trabalho. As viagens de fim de ano sempre atrasam um pouco os ensaios, então tivemos ensaio e planejamento para as três capas essa semana. Vou tomar banho, já volto.

—Você cansou de bagunçar o seu apartamento e veio bagunçar o meu também? - Ele perguntou sarcástico quando deixei o sapato do lado da mesa de jantar, onde meu casaco e a bolsa já repousavam de qualquer jeito, e saí em direção ao seu quarto.

—É para você lembrar de mim enquanto estou no banho. - Olhei para ele por cima do ombro e pisquei antes de continuar meu caminho.

Quando saí do banheiro minha roupa estava pendurada num cabide no quarto e minha bota também por ali, e Harry estava deitado em sua cama me esperando. Subi no colchão ao seu lado e me deitei também.

—Eu vou dormir tanto essa noite.

—E eu tive um dia tão tranquilo que não estou nada cansado, pensei em perguntar se você gostaria de fazer alguma coisa.

—Quem diria que chegaria o dia em que você me convidaria para sair na sexta a noite e eu prefiro ficar na cama. - Comentei em meio a um bocejo e ele riu. - Vê se o Draco ou a Mione estão a fim de fazer algo e vai aproveitar sua noite, mas eu vou ficar aqui porque não tem nada que me faça sair dessa cama hoje.

—Não, deixa pra lá. Vou aproveitar minha noite de outro jeito e jogar um pouco de video game.

—E eu vou dormir até a hora de ir para a casa dos seus pais amanhã. Aliás, que horas temos que sair de casa?

—Não tão cedo, pensei em sair daqui umas seis da tarde, não precisamos chegar antes de todo mundo.

Abri os olhos e olhei para ele em dúvida:

—Todo mundo quem?

—Não muita gente, umas dez ou doze pessoas que minha mãe sempre convida para o aniversário dela.

—É aniversário da sua mãe? - Perguntei incrédula.

—Foi na terça, amanhã é só um jantar com amigos mais próximos e a minha tia.

—Harry, você nem por um segundo pensou em me dizer que eu estou indo para o aniversário da sua mãe? - Perguntei ainda no mesmo tom e ele deu de ombros. - Você é inacreditável.

—Não é tão importante, Gin.

—Pra você talvez, que é filho dela, para mim faz toda a diferença do mundo. - Cobri o rosto com as mãos e respirei fundo. - Reformulando os meus planos, eu vou dormir até acordar amanhã cedo para comprar um presente de aniversário para a sua mãe.

—Você não precisa se preocupar com isso, Gin.

—Aparentemente eu preciso, mas você tem que me dizer o que ela gosta.

—Ela não é tão difícil de agradar. - Ele falou convicto, mas eu não acreditei nem por um segundo naquilo. - E de verdade você não precisa se preocupar com isso, ela adora flores e chocolates por exemplo, e são presentes fáceis o bastante.

Fáceis e sem graça, pensei comigo mesma, mas era melhor do que nada e eu não tinha mesmo tempo de sobra para pensar sobre isso.

—Tudo bem, vou resolver isso amanhã. E depois que eu chegar dessa expedição, descansada e com um presente de aniversário resolvido, vamos ter nossa primeira briga para você aprender a identificar informações relevantes, o que aparentemente não é o seu ponto forte. - Eu falei sério, mas ele riu.

No dia seguinte, depois de um café da manhã tardio, caminhei até um mercado mais refinado do nosso bairro e passei mais tempo do que o normal em frente à prateleira de chocolates, tentando decidir qual seria a melhor opção para presentear uma sogra rica que nem gostava tanto assim de mim. Por fim me decidi por uma caixa de presente da edição especial da Godiva e um arranjo bonito de orquídeas lilases.

Quando cheguei novamente à casa do Harry, ele me olhou com ar aprovador e falou confiante:

—Ótimas escolhas, ela vai adorar.

—Espero, porque quando a mim parece que eu estou de volta aos anos cinquenta indo pedir sua mãe em namoro. - Respondi com o cenho franzido e ele riu alto.

Mas aparentemente Harry realmente conhecia a própria mãe. Isso, ou ela gostava muito do próprio aniversário, porque quando entreguei o presente a ela naquela noite foi a primeira vez que vi Lily Potter genuinamente feliz e animada, ela até me abraçou e tudo.

Fui apresentada alguns amigos da família e à única tia que Harry tinha, irmã da mãe dele, que estava acompanhada do marido e seu único filho. Depois de vários beijos, alguns abraços e muitos “o prazer é meu, como vai?”, meu namorado e eu apanhamos uma taça de vinho para cada e nos sentamos em duas poltronas posicionadas no canto da sala de estar, do lado de uma pequena mesa que segurava uma cafeteira muito tecnológica.

—Esse vinho é ótimo. - Elogiei para ele depois do primeiro gole.

—Sim, eles adoram vinho aí resolveram fazer um curso de sommelier quando se aposentaram.

—Então é assim que gente rica passa o tempo livre? - Brinquei e Harry riu comigo.

Antes que o assunto continuasse, ouvimos a campainha tocar e eu me atentei para a próxima pessoa bem vestida que se juntaria àquele grupo seleto de convidados. Do ângulo em que estávamos sentados era possível ver um pedaço da porta, mas quando James cruzou a sala a passos largos e a abriu, seu corpo cobriu a maior parte do meu campo de visão, me deixando apenas com o vislumbre de uma calça jeans skinny e um scarpin verde musgo muito bonito.

 –Olá James, como vai? - Ouvi a voz jovial e alegre cumprimentar animada.

—Eu não acredito nisso. - Harry comentou do meu lado num tom não muito feliz e eu me virei para ele confusa, sem entender do que se tratava sua mudança repentina de humor.

Quando a voz do pai dele soou, no entanto, eu entendi tudo.

—Cho meu bem, que bom te ver. Eu vou muito bem, e como você está?

Minha curiosidade agora estava mais aguçada do que nunca e eu observei quando ele a abraçou de forma muito carinhosa, me dando apenas uma visão de seus cabelos pretos, longos e extremamente lisos caindo sobre uma camisa branca bonita e elegante. Ela era bem bonita, não de um jeito óbvio e fácil de perceber, mas de uma forma característica e tão marcante uma vez que você olha, que meu primeiro impulso quando a vi foi pensar que eu deveria ter trazido um cartão de visitas para divulgar meu trabalho, quem sabe.

Lily ouviu o nome da recém chegada e também foi em sua direção com um sorriso enorme estampado no rosto. A caminho da porta seu olhar se cruzou comigo e com Harry e ela riu na nossa direção, me fazendo pensar que minha opinião sobre aquele aniversário havia acabado de mudar e a noite provavelmente seria muito interessante. Harry, por outro lado, estava mais do que muito insatisfeito do meu lado, ele parecia genuinamente bravo.

—O que foi, lindo? - Perguntei com a mão em sua perna, bebericando outro gole do meu vinho.

—Eu não acredito que eles a convidaram.

—Qual o problema? Você mesmo disse que Cho é super legal.

—E ela é, mas eu conheço aqueles dois e não quero que fique uma situação chata.

—Ela não foi convidada nos anos anteriores? - Tentei montar uma ideia mais completa do cenário à minha frente.

—Ela não estava em Londres nos dois últimos anos, algo assim. Mas caramba Gin, não precisávamos desse clima.

Lily e James a guiaram para dentro da sala e as conversas paralelas cessaram quando todo mundo olhou para a recém chegada do mesmo jeito que haviam olhado para Harry e eu pouco menos de uma hora antes.

—Vocês se lembram da Cho, ex namorada do Harry? - Lily a apresentou, eu segurei uma risada e meu namorado bufou, simultaneamente.

Cho acenou para todo mundo sem saber direito como responder àquilo, e em meio a tudo isso ela nos viu. Eu notei quando quando ela compreendeu quem eu era, porque seu rosto assumiu uma expressão muito sem graça, mas eu tentei sorrir o mais sinceramente possível em sua direção. Sem esperar por Lily ou James, ela pediu licença e veio até nós.

—Oi Harry, tudo bem? Eu não esperava encontrá-lo aqui, quando sua mãe me convidou ela comentou que você estava viajando a trabalho.

—Ei Cho, tudo bem e você? Sim, voltei no domingo passado. Essa é Ginny, minha namorada.

Trocamos os tradicionais dois beijos no rosto e eu me sentei novamente enquanto os dois conversavam brevemente sobre os acontecimentos recentes e pequenas amenidades. Quando ela nos deixou sozinhos novamente, Harry se sentou do meu lado e virou para mim um pouco constrangido:

—Você não está tendo uma boa noite, não é?

—Porque Cho está aqui? - Perguntei confusa e ele assentiu. - Harry, eu não conheço ninguém aqui, a única coisa que mudou depois que ela chegou é que agora tem uma desconhecida da minha faixa etária, com exceção do seu primo que não parece ser uma pessoa muito sociável.

Ele riu da minha resposta e se inclinou para dar um beijo no meu ombro.

—Aliás, você não saberia me dizer se ela estaria interessada em fazer fotos sensuais, saberia? A revista não pensaria duas vezes em assinar um contrato com ela. - Brinquei e ele me olhou com o cenho franzido.

—Não faço a mínima ideia e não vou perguntar, antes que você sugira.

O grupo ao nosso redor estava no meio de uma conversa aleatória sobre viagens, então foi fácil o suficiente olhar de um para o outro enquanto falavam. No meio daquela conversa, descobri que Cho tinha descendência coreana, porque Lily fez um comentário casual muito apropriado quando uma de suas amigas comentou que estava pensando em visitar a Coreia do Sul nas próximas férias:

—Harry e Cho estiveram lá juntos quando eles namoravam, foram visitar a família dela. Ele gostou muito da experiência no país, não foi querido?

A atenção ao redor se voltou a ele e, consequentemente, a mim, porque eu estava do lado. Harry não parecia nada confortável com isso e Cho estava completamente sem graça.

—É um país muito bonito, Sra. Tonks, tenho certeza de que vai gostar. - Ele opinou educado, mas sem muita vontade.

O assunto continuou casualmente a principio, mas James e Lily mencionaram tantas vezes entre um contexto e outro o tempo em que Harry e Cho estavam juntos que aquilo começou a me irritar. Não porque me deixasse com ciúmes, essa era a última coisa que eu estava sentindo naquele momento, mas me fazia sentir exatamente o mesmo incômodo de quando meus pais insistiam de todas as formas possíveis para que eu deixasse de ser eu mesma. Foi ali que eu notei que eles não achavam apenas o meu trabalho inadequado, isso se estendia a mim também.

Quando o jantar estava servido, uma seleção de muitos tipos de mini sanduíches bem feitos e de aparência apetitosa, Harry estava tão carrancudo ao meu lado que por um momento eu achei que ele não fosse comer nada, mas contrariando minhas expectativas, ele foi o primeiro a se levantar do sofá. O segui de perto e quase me choquei com suas costas quando ele parou do lado da mãe para dizer baixo o suficiente para apenas ela escutar:

—Mais um comentário sobre quando eu e Cho estávamos juntos, e eu vou embora.

Ela o encarou de volta por alguns segundos, o olhar no rosto de ambos era tão conhecido por mim que seria cômico se não fosse um pouco trágico, porque era exatamente o olhar que eu e meus pais trocávamos com mais frequência do que eu gostaria.

O aviso surtiu efeito, porque nenhuma palavra mais foi dita sobre esse assunto durante o resto da noite.

Duda, o primo de Harry, parou para conversar com ele logo que terminamos de comer, mas como o assunto era alguma coisa relacionada a um jogo de video game, eu os deixei onde estavam e fui até a cozinha buscar um copo d’água para mim. O cômodo estava vazio quando eu cheguei, mas logo em seguida ouvi o barulho de um salto alto se aproximando.

—Ginny? - Ela chamou um pouco tímida.

—Ei Cho, está com sede também? - Me virei de frente para ela e encostei na pia com o meu copo.

—Não, obrigada. Só queria me desculpar por todos os comentários, eu realmente não sabia que você e Harry estariam aqui hoje, a última coisa que eu quero é criar problemas.

—Que isso, você não está criando problema nenhum e não tem nada do que se desculpar.

Ela relaxou um pouco a postura e se encostou na mesa à minha frente.

—Eles podem ser um pouco difíceis, não é? Acho que você já notou. - Concordei com um aceno. - Mas são boas pessoas, só requerem um pouco de tato.

 –Eu já percebi, fica tranquila que se aquele tipo de comentário me deixa irritada, certamente não é com você.

—Que bom, só queria deixar isso claro da minha parte também. - Ela sorriu e eu sorri de volta. - Mas apesar disso, é bom te conhecer, Harry sempre falou de você nas poucas vezes que conversamos nos últimos meses, ele parece estar muito feliz.

O comentário me arrancou um sorriso involuntário.

—Que bom saber disso, eu estou muito feliz também.

O silêncio ficou um pouco constrangedor depois disso, então me apressei em terminar meu copo. Voltamos para a sala ao mesmo tempo, onde os grupos já estavam um pouco mais dispersos outra vez. Harry estava em pé conversando com a mãe, a tia e mais um casal cujos nomes eu não me lembrava mais, e eu me juntei a ele.

Assim que me viu, meu namorado passou braço pelo meu ombro e me prendeu em um abraço lateral, sem deixar de prestar atenção na conversa ao seu redor. Aparentemente a filha mais nova do casal estava em processo de escolher em qual universidade e estudar e eles estavam perguntando ao Harry os pontos negativos de Oxford, porque os positivos todo mundo já conhecia.

—E você, Ginny? - Eles se viraram para mim com uma expressão educada de interesse. - Alguma sugestão de universidade? Algo que na sua experiência valha a pena recomendar ou evitar?

—Ah não, Ginny é fotógrafa. - Lily respondeu por mim. - Fotógrafos não estudam em universidades, até onde eu sei.

Ela terminou de falar com uma expressão de dúvida para mim, para que eu confirmasse.

—Verdade Lily, o melhor caminho para a formação profissional de um fotógrafo são cursos voltados para a sua área de interesse, que foram os cursos que eu fiz. - Confirmei e me virei para o casal que havia perguntado. - Mas na verdade, minha primeira formação é em contabilidade pela London University. Se ela estudar algo que goste, o que não era o meu caso, tenho certeza de que gostaria muito, porque não tenho nada a reclamar da instituição.

—Você nunca comentou nada sobre ter terminado uma faculdade. - Lily falou um tanto desafiadora, afinal eu havia acabado de corrigi-la na frente de seus convidados.

—Você nunca perguntou. - Respondi séria, olhando de volta para ela com a mesma expressão.

Senti a mão do Harry, ainda no meu ombro, me apertar levemente, num sinal que poderia ser de conforto ou um pedido para que aquele assunto por favor morresse. O mais discretamente que consegui, respirei fundo e forcei para baixo a irritação que ameaçava dar as caras, e olhei novamente para os amigos que haviam feito a pergunta.

—O que a filha de vocês pretende estudar? - Voltei o assunto para um campo neutro, porque estávamos perto demais de um terreno no qual eu não gostaria de entrar.

—Arquitetura, ela ama design de interiores.

—Que interessante, tive alguns colegas na faculdade que faziam esse curso, eles gostavam muito.

E foi assim que eu passei boa parte da minha noite de sábado conversando sobre universidades. Tempos depois, quando as pessoas começaram a se despedir, Harry me perguntou se eu gostaria de ir para casa também e eu falei que sim.

—Pai, mãe, também já vamos. - Ele anunciou quando ficamos só os quatro.

—Não vai ficar para dormir dessa vez, querido? - Lily perguntou um pouco decepcionada.

—Não, fica para a próxima. Hoje vamos para casa.

Ele se despediu dos dois com abraços apertados, depois me deu espaço para fazer o mesmo.

—Tchau Ginny, foi um prazer revê-la. - Ambos falaram quando trocamos beijos no rosto.

—O prazer foi meu, obrigada por me convidarem.

Quando estávamos já acomodados e com o veículo em movimento, Harry se virou em seu banco para me olhar.

—Desculpe por hoje a noite.

—Harry, você precisa parar de se desculpar pelo que os seus pais fazem, sério. Até que me provem o contrário, você não tem nada a ver com isso e é muito diferente dos dois.

—Eu sei, mas me sinto mal do mesmo jeito. Eu queria muito que nós quatro conseguíssemos uma noite agradável e descontraída juntos, porque eu sei que eles sabem ser muito legais quando querem e você é incrível, então isso poderia dar tão certo.

O tom um tanto magoado dele me comoveu um pouco, porque afinal eu também queria uma relação descontraída com os meus pais, e se isso se estendesse também para os pais da pessoa que eu amo, melhor ainda.

—Acabamos de nos conhecer, dê a eles tempo para se acostumar com isso tudo e quem sabe? Vendo aquelas pessoas hoje, o tipo de amigos que eles têm, eu até entendo quão diferente eu sou para eles, deve ser só aquela relutância que algumas pessoas tem com o que não conhecem. - Afaguei um pouco sua mão e suspirei antes de continuar. - Até lá vou tentar ter muita paciência e luz interior para não piorar a situação.

—Você não piorou a situação em hora nenhuma Gin, só foi assertiva num momento apropriado, ela não deveria responder por você como fez. Mas obrigada por tentar.

—Disponha. - Sorri brevemente para ele e voltei a olhar para a frente. - Você quer ir almoçar nos meus pais comigo amanhã?

—Claro, adoraria.

—Ótimo, então amanhã temos mais pais adoráveis para animar nosso fim de semana.

Nós dois rimos, porque era a única coisa que dava para fazer, e mudamos de assunto para aproveitar o resto do caminho com uma conversa mais leve e interessante.


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Notas finais do capítulo

Ninguém aqui pensou que a Ginny nunca fosse responder, pensou? Lily aparentemente não gostou muito, então onde será que esse assunto vai parar?
Não deixem de me dizer o que estão achando da história.
Beijos e até daqui duas semanas.



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