O Conselheiro do Rei (Bokuaka) escrita por Linesahh


Capítulo 1
Bokuaka I One-Shot


Notas iniciais do capítulo

SAHH NA ÁREA
Eis o que trago-lhes nessa bela noite: a 2° one-shot da “Saga dos Sete Reinos”, dessa vez, focando no Reino de Fukurō e no MARAVILHOSO casal Bokuaka ♥️♥️
Lembrando que a 1° one-shot desse projeto já foi postada, a qual ambientou o Reino de Neko e, logicamente, nosso amorzinho shipp Kuroken ♥️ Deixarei o link nas notas finais
Bem, espero que gostem!

Fanfic revisada em: 27/02/2024



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O Conselheiro do Rei

por Sahh

 

◾◾◾

O Reino de Fukurō é conhecido por todas as nações como o reino mais festivo, com seus moradores amigáveis e sociáveis sempre prontos para participar de mais uma festa ou evento preparados a mando de seu adorado rei, Bokuto Koutarou. Há também uma quantidade imensurável de corujas no reino; a maior parte da população possui ao menos uma em sua casa.

▪️▪️▪️

— Bokuto-san, o senhor não deveria estar assinando os tratados oficiais neste momento?

A pergunta fora feita por um belo rapaz, cujas feições esculpidas desproviam de emoção; seus olhos azuis, entretanto, atualmente expressavam cansaço.

Akaashi Keiji, o Conselheiro Real de Fukurō, encarou seu soberano, Bokuto Koutarou.

— Akaashi! Como sempre sabe quando chego? — perguntou Bokuto com um pequeno bico. — Isso está ficando chato…

Akaashi por sua vez abriu um pequeno sorriso, o que desfez quase toda seriedade em seu rosto. 

— Em vez de lamentar-se, por que não me ajuda a alimentá-lo? — Akaashi estendeu a ele uma trouxinha contendo algumas sementes. — Ele gosta de você tanto quanto gosta de mim, afinal.

Bokuto sorriu e se aproximou de Akaashi e da coruja que ele alimentava. Ele pegou algumas sementes e a ofereceu à ave, que aceitou de bom grado, reforçando as palavras de Akaashi sobre o animal gostar do rei.

Alimentaram-na em silêncio. Em dado momento, Akaashi observou o rosto de Bokuto; belo, preenchido por feições risonhas e ornado por grandes olhos dourados, como estrelas. Seus cabelos mesclados em cinza e preto eram da mesma cor que a pelagem da coruja que alimentavam.

— Sua coruja deve ser a mais bonita de todo o reino, Akaashi — afirmou Bokuto com satisfação. As sementes acabaram, então ele acariciava a ave na região do bico. A coruja acomodou-se em seu confortável poleiro, que ficava em uma torre externa à oeste do castelo.  Bokuto continuou: — Mas isso não é surpresa, afinal ela é igualzinha a mim — vangloriou-se.

Akaashi entrou na brincadeira.

— Talvez seja por isso que eu decidi criá-la — disse, porém, mais sério, acrescentou: — A pelagem, os olhos… ela é uma cópia perfeita sua, Bokuto-san.

O sorriso de Bokuto cresceu, mas ele não disse nada. Ele se afastou alguns passos, dirigindo-se à borda da torre e olhando, com nítido orgulho, seu reino lá embaixo.

— O festival de ontem foi o melhor que já fizemos, não foi? — sussurrou ele. — Adoro como eles se divertem. Acho até que já podíamos começar a planejar o próximo!

O sorriso de Akaashi desapareceu e suas têmporas foram cutucadas pela boa e velha dor-de-cabeça.

— Bokuto-san — disse e se aproximou dele, já massageando a testa —, cheguei ao meu limite nas últimas semanas planejando o festival de ontem. Tenha piedade de mim, majestade.

Bokuto virou-se com uma careta. 

— Ei, não me chame de majestade quando estivermos sozinhos, Akaashi! — reclamou ele. — É como se criasse um abismo entre nós! 

Foram atingidos por um silêncio incômodo. Após vários segundos, Bokuto desviou, suspirando, toda leveza e positividade se apagando em seu rosto.

— Essa separação está cada vez mais difícil de suportar, né? — disse ele baixinho.

Akaashi travou por um momento, mas assentiu. Agora era só o que conseguia fazer quando esbarravam nesse assunto. Suas discussões com Bokuto lhe esgotaram nos últimos anos, não tinha mais forças para elas. 

De que adianta sofrer?

Respirou fundo.

— É — concordou apenas. — Está difícil, sim.

O silêncio de Bokuto lhe disse que ele se sentia destruído, mas tanto ele quanto Akaashi sabiam que não podiam fazer nada sobre isso. 

Não podiam fazer nada sobre a paixão que sentiam um pelo outro.

Eles se conheciam desde crianças e sempre foram melhores amigos, mas, ao passar dos anos, o sentimento de amizade evoluiu de tal maneira que de repente se viram apaixonados. Por causa do medo, não disseram nada um ao outro até Bokuto atingir a mocidade e seus pais planejarem seu casamento.

Na época, o desespero finalmente os fez se encontrarem e revelar um ao outro o que sentiam. O momento lhes trouxe alívio por finalmente se abrirem, felicidade por constatarem que seus sentimentos eram recíprocos e, por fim, tristeza por saberem que não havia espaço nem permissão para concretizarem esse amor.

E o motivo tinha rosto e nome.

— Ah, é aqui onde vocês dois estavam?

Bem na hora, não?, Akaashi suspirou e se virou a sua coruja, acariciando-a enquanto ouvia saltos se aproximando e o sorriso vacilante que Bokutou abriu à rainha, sua esposa.

 — Minha querida Yukippe! — Ele andou até ela, tomou suas delicadas mãos entre as dele e as levou aos lábios. — Achei que estaria exausta depois da festa de ontem. Não me diga que estava na cozinha outra vez?

Yukie sorriu serenamente para seu marido e rei. Seus olhos de uma cor castanha-avermelhada exibiam paciência de uma espécie que parecia deixá-la sonolenta.

Ela desviou os olhos para Akaashi, que, ainda de costas, fingia se distrair com a coruja, e voltou a encarar Bokuto.

— Acertou, meu rei. Aliás, acabo de ajudar no preparo de biscoitos de chocolate. Não quer provar? Eu ficaria contente com isso. — Olhou novamente para Akaashi: — Eu gostaria que fosse também, ouviu?

Akaashi agiu rápido: colocando no rosto seu sorriso mais natural, virou-se para sua soberana e disse:

— Talvez eu apareça depois, Yukie-san. Vou ficar aqui mais um tempo.

Com o sorriso intacto, Yukie assentiu.

— Tudo bem. Vamos, então, meu rei?

Bokuto acenou e, oferecendo-lhe um braço, acompanhou-a para dentro. Antes que cruzasse a abertura às escadas espirais, seus olhos-dourados se cruzaram rapidamente com os de Akaashi, que conseguiu ver neles inconfundível melancolia.

Sozinho, Akaashi deu permissão à tristeza de dominá-lo. Sempre os olhares. Ele e Bokuto os trocavam desde que ele se casou com Yukie. Eram tão rápidos, tão desilusórios, tão torturantes… Por meio deles conseguiam compartilhar sem palavras o sofrimento que sentiam.

Mas o que podemos fazer?, repetiu Akaashi a si mesmo pela milésima vez. Mas sabia que precisava continuar se lembrando de que a situação não se tratava apenas dos dois, mas de Yukie.

Sim. O empecilho que impedia ele e Bokuto de se amarem sem culpa era Yukie, nascida uma Shirofuku e amiga de infância dos dois. Era por causa dela que eles nunca conseguiam olhá-la nos olhos sem sentir o coração apertar; era por causa dela que continuavam a sofrer; era por causa dela que passaram os últimos anos trocando olhares desesperançados. Mesmo assim, Akaashi não se permitia refletir que, sem ela, as coisas seriam melhores. Sentia o coração sangrar à mais leve cogitação.

Por ela, e apenas por ela, decidiram abdicar de sua felicidade. Yukie sempre fora uma amiga verdadeira e leal, e Akaashi sabia que Bokuto, embora casado por obrigação, sabia que não poderia ter uma esposa melhor.

E ao mesmo tempo que isso lhes era um grande alívio, era também sua maior perdição.

▪️▪️▪️

O dia passou rápido. Após o jantar, Akaashi se dirigiu aos seus aposentos, cansado e amargurado demais para lutar contra os pensamentos que o levavam sempre à mesma pessoa: Bokuto.

Depois que se separaram na torre, os dois naturalmente passaram a maior parte do dia juntos exercendo suas funções de rei e conselheiro. O festival do dia anterior deixara Bokuto com ânimo às alturas, então foi triste para Akaashi observar o semblante tristonho do amado depois de deixar a torre com Yukie. O desânimo de Bokuto acabou chamando a atenção de algumas pessoas durante o dia, sua esposa uma delas, que, durante o jantar, perguntou a ele se estava tudo bem.

Bokuto parou de jogar as batatas de um lado para o outro no prato e piscou.

— Hã? Ah, estou sim, é só… hm… está frio, não está? É, sim, está frio. 

Ao lado de Yukie, Emi, sua prima que chegara há uma semana, torceu o nariz.

— Acha Furuko fria? Mudaria de opinião se fosse mais vezes a Neko.

Akaashi, um exemplo de discrição, não lançou um único olhar a Bokuto. Felizmente a desatenção do rei não era exatamente uma novidade para quem a assistia, portanto ninguém além de Yukie fez perguntas. Yukie, inclusive, pareceu achar a resposta do marido satisfatória, pois passou o resto do jantar se empanturrando despreocupadamente.

Uma pequena parte de Akaashi considerou a atitude da rainha um tanto cruel e refletiu, convencida, que se ela prestasse um pouco mais de atenção saberia diferenciar uma simples oscilação de humor de Bokuto do atual estado em que ele se encontrava. 

Claro, Akaashi arrependeu-se do pensamento, pois precisava seriamente parar de comparar as ações de Yukie das que tomaria no lugar dela. Era injusto criticá-la, mas também parecia impossível se impedir de pensar que não havia ninguém melhor do que si mesmo para lidar com Bokuto.

Suspirou ao fechar a porta do quarto. Não valia a pena pensar nisso. Pelo menos seus pensamentos depreciativos se limitavam a sua cabeça, então ninguém jamais saberia sobre suas críticas à rainha.

Sentou-se na cama. Estava exausto, mentalmente falando, é claro. Raras eram as vezes em que ele e Bokuto traziam à tona sua melancolia por não estarem juntos, mas, quando acontecia, ambos ficavam do jeito que estavam: Bokuto borocochô, Akaashi ainda mais fatigado. 

Não ficaremos juntos. Nunca.

Sim. Algo insuportável com o qual lidar.

Akaashi sabia que a maior parte de suas esperanças se esvaíram, mas o sentimento, por alguma razão, não ia junto. Bokuto, porém, estava casado com sua melhor amiga, portanto, se Akaashi não desejava magoá-la, tudo deveria ficar como exatamente estava, com ele cumprindo com seu papel de conselheiro e Bokuto, o dele de rei e marido.

Era um preço justo a se pagar por Yukie. Eles jamais se perdoariam caso traíssem a confiança dela.

Depois de Akaashi chegar a essa conclusão pela milésima vez na vida, buscou limpar a mente e dizer a si mesmo que ele e Bokuto estariam melhor no dia seguinte. Assim, arrumou-se para dormir e, ao lembrar-se, de repente, de que teria de acordar cedo, suspirou e procurou cair logo no sono.

▪️▪️▪️

— Akaashi, de quem foi a ideia de programar uma conferência com o conselho tão cedo?

Na madrugada que ia virando dia, Bokuto e Akaashi caminhavam pelos corredores do castelo, o primeiro arrumando o manto real sobre os ombros e o segundo suspirando após ouvir a pergunta pela terceira vez nos últimos dez minutos.

— A ideia foi sua, Bokuto-san — respondeu. — A conferência na verdade estava marcada para a semana passada, em um horário muito mais oportuno, devo dizer, mas infelizmente você preferiu cancelá-la para dar atenção a outras atividades.

Bokuto franziu o cenho.

— Outras atividades? E quais foram mesmo?

— Caçar doninhas.

— Ah. É verdade. Mas pelo menos foi uma caça produtiva — defendeu-se ele. — Essas doninhas espertalhonas vivem atrás das nossas corujas!

Akaashi assentiu no meio de um bocejo. Piscou várias vezes na esperança de mandar o sono embora, mas a escuridão nos corredores não ajudava, incentivando-o a qualquer momento a entrar em um dos aposentos e se estirar em uma das camas.

Depois de mais alguns minutos de caminhada, Akaashi parou na curva de um corredor e olhou Bokuto, que, confuso, parou também.

— Akaashi?

— Bokuto-san, tenho outras pendências para resolver agora. Não poderei te acompanhar.

Foi como se Bokuto escutasse a pior notícia desde sua ascensão ao trono.

— Ah, não! Justo agora que estou morrendo de sono você não virá para me aconselhar? Por que não me avisou antes?

— Não avisei justamente para você não ficar reclamando — respondeu, e, arqueando uma sobrancelha, acrescentou: — Olhe, Bokuto-san, não é a primeira vez que te digo isso, mas você precisa começar seriamente a trabalhar seu psicológico. Veja ontem, por exemplo. Você passou o dia inteiro…

— Não… não diga.

Akaashi calou-se no mesmo instante. Arrependeu-se de tudo o que disse à medida que observava os olhos de Bokuto nublarem com a mesma névoa melancólica que os dominou no dia anterior. Akaashi e ele normalmente conseguiam esquecer a tristeza após acordarem para um novo dia, mas agora Akaashi a trouxe de volta. 

Engoliu forte e desviou o olhar.

— Me perdoe — disse, respirando fundo. — Não queria ter tocado nesse assunto. 

Sentia os olhos grandes e brilhantes de Bokuto em si.

— Talvez… tenha sido melhor trazer isso à tona — disse ele após alguns segundos, surpreendendo Akaashi, que se virou rapidamente para ele e observou a expressão sóbria em seu rosto. — Acho que precisamos conversar outra vez sobre essa situação.

Akaashi não estava acreditando.

A insegurança abateu-o em cheio. Não… toda essa história havia sido debatida entre eles há muito tempo, pouco antes de Yukie se tornar esposa de Bokuto. Desde então tudo ia bem. Por que mudar? Sim, viver desse jeito, ignorando os sentimentos um do outro, sofrendo pela distância inevitável, era difícil, mas se eles visavam manter a honra de Yukie intacta, as coisas precisavam permanecer como estavam.

Simples assim.

— Bokuto-san — disse Akaashi lentamente, quase sem fôlego, como se testasse as sílabas. — Conversar sobre isso… não. Não é uma boa ideia.

Bokuto vacilou.

— Mas…

— Não. Isso não é o certo a se fazer. Não é o que eu quero — mentiu. — Por favor, Bokuto-san… apenas vá e cumpra seus afazeres. Irei cumprir os meus. — E, pela milésima vez, concluiu: — É melhor assim.

Akaashi sustentou o olhar quebrado de Bokuto um segundo a mais antes de ter certeza de que não conseguiria mais ficar na presença dele. Então virou o corredor para ir embora.

Mas foi impedido por Bokuto.

— Meu R-Rei, o que é iss…?

Calou-se ao se deparar com olhos dourados a centímetros dos seus. 

Akaashi parou de respirar. Nem sentia o peso das mãos de Bokuto em seus ombros, que o pressionavam na parede de pedra do corredor. Não conseguia falar. Sequer piscar. 

Em alguns segundos, a voz de Bokuto cortou o silêncio, enigmática como a expressão em seu rosto.

— E mais uma vez você faz isso, Akaashi. “Meu rei”, “majestade”... somos mais próximos do que isso.

Akaashi prensou os lábios.

Bokuto-san — corrigiu-se. — Pense no que está fazendo…

Eu não quero pensar, Akaashi. — Agora era Bokuto que apertava a boca numa linha fina, olhos trêmulos, atormentados. Reforçou o aperto nos ombros de Akaashi quando continuou: — Só quero você.

Akaashi fechou os olhos, recuou a cabeça para a parede e a abaixou segundos antes de Bokuto se inclinar. 

O coração batia o mais forte que já batera em toda sua vida. 

— B-Bokuto-san… — disse, sentindo-se zonzo com a respiração que batia em seu rosto. — Não podemos… por favor…

— Eu que imploro — disse Bokuto, as mãos no rosto de Akaashi, os polegares acariciando sua pele e erguendo seu rosto com delicadeza. — Preciso fazer isso. Ao menos uma vez…

Akaashi sentia que explodiria perante o momento tão tentador. Era como se cada palavra de Bokuto embaralhasse seu cérebro e esmagasse seu coração. Seus rostos, praticamente colados, e suas respirações falhas o hipnotizavam e o faziam crer que a qualquer momento cederia.

Mas ainda tinha medo. Era a primeira vez que iam tão longe. Jamais Bokuto insistira como fazia agora. Suas bocas estavam a míseros centímetros, e Akaashi sabia que, caso deixasse acontecer, se viciariam e iriam atrás de outras oportunidades. 

E não podiam deixar isso acontecer.

Entretanto, Akaashi nada fez quando sentiu o nariz de Bokuto roçar no seu. Nada fez quando sentiu as mãos dele subirem por seu rosto e nivelá-lo na altura do dele. Nada fez quando sentiu sua respiração perto, muito perto, chocando-se contra a sua… 

Quando Akaashi sentiu lábios mornos roçarem nos seus, acordou.

— Bokuto-san — disse com reforço. Suas mãos agora estavam nos ombros de Bokuto, mantendo seus corpos e lábios a uma distância segura. — Não… não podemos. Não podemos fazer isso.

Suas palavras trouxeram o silêncio que já esperava. Akaashi ergueu timidamente os olhos e se arrependeu com a visão à frente: Bokuto com os dele marejados. 

Lágrimas grossas deslizaram quando ele mordeu o lábio. 

Eu sei. — Ele inclinou-se, não para unir seus lábios, mas suas testas. — Eu sei. Eu sei, mas… mas se ao menos eu não te amasse tanto…

Akaashi sentiu os pulmões sem ar. Desmoronava junto a Bokuto. Seus olhos começaram a queimar. Disse a si mesmo que precisava manter a calma, que precisava consolar Bokuto…

— Vai ficar tudo bem — disse, respirando fundo enquanto sentia as bochechas umedecerem. — Vai ficar tudo bem, Bokuto-san…

Enquanto Akaashi acariciava o rosto e cabelos de Bokuto, que chorava e fungava como uma criança, na escuridão de um corredor uma sombra se afastou com pressa. 

▪️▪️▪️

— Aí está, minha prima! Pelo visto, seu grande amigo fez questão de aparecer por conta própria. Honestamente, não sei se enxergo audácia nessa atitude ou pura falta de senso.

Um sorriso ácido cortava o belo e ardiloso rosto de Emi. Akaashi, que acabara de adentrar o cômodo de lazer do rei e da rainha, parou ao escutar as palavras dela.

Franziu minimamente o cenho à postura da rainha de Neko: peito estufado, mãos na cintura. 

Escolheu manter para si uma neutra. A primeira coisa que deveria fazer era saber por que Emi estava o tratando assim.

— Perdão, não entendi.

— Ah, fique tranquilo, faço questão de elucidá-lo. Estava comentando agora mesmo com Yukie sobre algo que vi hoje mais cedo entre você e o rei. Não é mesmo, prima? 

Akaashi gelou. Foi como escutar uma explosão silenciosa, visto que era o que Emi era. Sem coragem, mas fazendo mesmo assim, ergueu os olhos para a figura poucos metros atrás de Emi. 

Pela segunda vez Akaashi sentiu os pulmões sem ar. 

Yukie estava ali.

Sentiu vontade de morrer. 

Isso não pode estar acontecendo.

Mas estava. E o olhar fixo de Yukie e  seu semblante calado eram  suficientes para Akaashi saber que ela descobrira tudo. 

Toda história envolvendo ele e Bokuto. 

— Yukie-san… Majestade — corrigiu-se, umedecendo os lábios, aproximando-se vários passos. — P-Posso explicar, eu poss…

— Ah, não venha com enrolação — intrometeu-se Emi. — Você tem traído a confiança de sua rainha desde o início. Não sente vergonha?

Akaashi ignorou-a completamente, a atenção apenas em Yukie, que agora esboçava melancolia em suas feições. A rainha não olhava para ninguém, mantendo seus olhos castanhos-avermelhados no chão.

Emi viu nisso a oportunidade para continuar falando, dizendo que Akaashi era um mentiroso e fingido de mau-caratismo que traiu a confiança de sua rainha. Pior: que teve a audácia de seduzir seu próprio rei.

Se fosse qualquer outra pessoa no lugar de Akaashi, ela decididamente já teria perdido a cabeça com Emi e retrucado que ela não estava em posição de falar sobre traição quando possuía uma porção de amantes. Mas não seria agora que Akaashi se rebaixaria a esse ponto. As falhas de Emi não eliminavam as suas. Sim, ele e Bokuto podiam nunca ter tido nenhum contato físico mais sério — o de mais cedo fora o primeiro mais ousado —, mas apenas o fato de sentirem coisas um pelo outro já podia ser considerado uma traição.

Sentia-se sujo como nunca se sentira. Sentia vontade de se esconder de Yukie, de nunca mais ser olhado por ela. Mas… era sua punição. Akaashi merecia a mágoa dela.

— Majestade…

— Emi, minha prima — disse Yukie, calando-o. Ela ainda não olhava para ninguém. — Retire-se, por favor. Desejo privacidade para conversar com o conselheiro do meu marido.

Emi sorriu. ela não gostava de receber ordens, mas essa ela obedeceria com gosto. Cumprindo a vontade de Yukie, ela retirou-se da sala e a deixou a sós com Akaashi.

…Que vacilou. Agora ele se sentia totalmente vulnerável. Não sabia que atitude Yukie tomaria, não fazia ideia.

E não conseguia mais olhá-la nos olhos. 

— Majestade… — tentou mais uma vez, expressão dolorida. — Eu…

— Akaashi. Vamos, olhe para mim.

Akaashi ergueu os olhos rapidamente. A voz de Yukie… foi gentileza que ouviu nela? 

Olhou-a e deparou-se com o rosto de Yukie, sereno como sempre. 

— Não se preocupe — tranquilizou ela com um tom de divertimento. — Eu sei que você e Bokuto são apaixonados um pelo outro. Eu sempre soube.

Akaashi estava atônito. 

— Perdão?

O sorriso de Yukie permaneceu calmo.

— Você e Bokuto. Apaixonados um pelo outro. — Ela moveu os indicadores de modo a juntá-los, como se os representasse. — Sabe? Conheço vocês desde que éramos crianças, eu seria a rainha mais aérea da história caso não tivesse notado.

Diante do silêncio de Akaashi, ela continuou:

— Sempre quebrou meu coração, sabia? Ver o sofrimento de vocês. Me fazia me sentir a vilã da história.

Akaashi engoliu em seco.

— Yukie-san…

— Eu sei, Akaashi. Afinal, o que eu podia fazer, não é? — Baixou os ombros. — Tenho certeza de que essa mesma impotência o atingiu várias vezes.

Akaashi sabia que ela se referia a Bokuto.

— Sinto muito — disse Akaashi, sentindo os olhos arderem. — Fui tão cruel com você.

Yukie ergueu o sorriso para ele.

— Antes de dizer o que quer, por que não aguarda a minha opinião? O que era mesmo?… Ah, sim. Se você e Bokuto desejam ficar juntos, podem ficar. Farei vista grossa.

O mundo de Akaashi parou.

— Akaashi… ei… — Segundos depois, percebeu que Yukie balançava uma mão à frente de seu rosto. — Ouviu o que eu disse? Farei vista grossa para o relacionamento entre você e meu marido, só tomem cuidado para que ninguém os veja.

Akaashi continuava paralisado, olhos azuis presos no rosto da rainha. 

— M-Mas… — Ouviu-se dizer. — Eu sempre achei que você fosse apaixonada por ele. Tínhamos certeza...

Yukie o olhou por vários segundos. Então levou a mão ao queixo e olhou o teto da sala.

— Eu realmente amo o Bokuto. Mas — disse, olhou Akaashi lhe dirigiu uma piscadela —, apaixonada mesmo sou só pela comida.

▪️▪️▪️

Minutos mais tarde, quando adentrou a Sala de Música, Akaashi parou ao avistar a pessoa pela qual procurava. 

Bokuto estava quieto. Esticado sobre o banco do piano tapando os olhos com o antebraço, parecia a criatura mais desolada do mundo.

Ele compreensivamente continuava deprimido pelo ocorrido de mais cedo.

Mas, diferente de antes, Akaashi sabia o que fazer. Desde que saíra da presença de Yukie, tomou cada decisão de forma praticamente inconsciente.

Fechou a porta com cuidado, evitando atrair a atenção de Bokuto, ao menos por ora. Então andou a passos silenciosos até o piano e, parando de frente o homem deitado, pigarreou.

Bokuto ergueu-se na hora

— E-Era apenas uma pausa, vou continuar praticand…

Sua voz morreu quando Akaashi se abaixou, segurou-o pelo colarinho da camisa e uniu seus lábios.  

O corpo de Bokuto sofreu um solavanco. Em alguns momentos, suas mãos fecharam-se, desengonçadas, no rosto de Akaashi, e então ele começou a retribuir o beijo que se tornou rápido em questão de segundos. Akaashi sentiu um arrepio com os dedos que afundaram em seus cabelos, com a mão que desceu à sua nuca e o puxou para mais perto. O momento era um terreno desconhecido para ambos, afinal várias foram as vezes que imaginaram como seria se beijarem.

Por isso, deixaram a euforia guiá-los. Aos poucos, assumiram um ritmo lento mas vigoroso, lábios se saboreando e suspiros escapando. Enquanto sentia o coração derreter, Akaashi refletiu que era exatamente isso o que o amor deles fazia: dava-lhes a capacidade de usarem os corações com nobreza e estima e que lhes trazia luz e paz.

Em alguns minutos, separaram-se. O sorriso de Bokuto era gigante e o de Akaashi, envergonhado. Também choravam. Mas pela primeira vez eram lágrimas de alegria. 

Akaashi sentou-se no banco e esperou Bokuto se endireitar. Então olharam-se em silêncio. Era como se flutuassem no sonho mais extraordinário. Já não era possível extravasar tudo o que sentiam em palavras — o beijo de antes se encarregou disso.

A tempestade que os circundou por todos esses anos havia finalmente ido embora.

Akaashi perguntou:

— Não está interessado em saber o que aconteceu, Bokuto-san?

Bokuto retribuiu seu sorriso, olhos brilhando como os de uma coruja.

— Se você está aqui e chegou fazendo isso… bem, então não é preciso perguntar nada. Você já deve ter resolvido tudo, Akaashi. Como sempre resolve.

Olharam-se agradecidos.

Então voltaram aos braços um do outro.

▪️▪️▪️

— Parece animado hoje, Bokuto-san.

Akaashi se aproximou do trono no qual Bokuto estava acomodado. 

O rei, esfregando as palmas das mãos uma na outra, ergueu os olhos com expectativa.

— Finalmente receberemos as novidades que o Reino de Tori prometeu. A carta deve chegar a qualquer momento!

— E ela, no caso, acabou de chegar, meu rei — dizia Yukie, que adentrou o enorme salão com um envelope dourado. — Você não é o único curioso, sabia?

Os três jovens sorriram um para o outro. Era tão bom estarem juntos sem mais mentiras. Era exatamente com isso que Akaashi e Bokuto sonhavam desde a época em que descobriram que se amavam.

Bokuto pulava no lugar de tanta animação.

— Venha, Yukippe, vamos abri-la juntos! 

Ela entregou a carta ao rei, que na mesma hora desfez seu lacre. Yukie e Akaashi trocaram um olhar e pararam um de cada lado do trono, curvando-se sobre os ombros de Bokuto. 

Ao fim da leitura, um cenho foi franzido, outro, arqueado, e o último suavizado.

— Um casamento? — disse um desconfiado Akaashi.

— Casamento! — disse um impressionado Bokuto.

— Casamento… — disse uma sonhadora Yukie, provavelmente listando os tipos de iguarias que compunham um casamento.

Ela e Bokuto logo começaram a compartilhar suas animações enquanto Akaashi se mantinha calado pensando em uma coisa. Esse casamento seria grande. Não era qualquer um que iria se casar, mas o rei de Tori.

O jovem Kageyama Tobio.

— Isso vai ser divertido! — exclamou Bokuto. 

É, pensou Akaashi. Será bom participar ao menos uma vez de um evento que não será planejado por mim.


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Notas finais do capítulo

?… Para quem não lembra, Yukie Shirofuku é uma das regentes do time da Fukurodani, aquela que adora comida
O que acharam? Acho que essa foi uma das obras que eu mais amei escrever, achei a coisa mais linda ♥️ O fato de os dois terem lutado por tanto tempo para reprimir esses sentimentos, tudo visando não arruinar a amizade com a amiga de infância… Achei emocionante. E AINDA BEM que Yukie foi o cupido que deu luz e permissão para esse relacionamento acontecer ♥️

Espero de coração que tenham gostado, e preparem-se: se pegaram a dica nesse final de capítulo, já está ?“BVIO o próximo reino que entrará em cena; logo mais nossos destemidos corvos do Reino de Tori aparecerão, trazendo a perfeição que é o shipp KageHina ❤️ Bem, espero de coração que tenham gostado. Até o próximo
1° One-Shot: “O Amante do Rei” [Kuroken]:

https://www.spiritfanfiction.com/historia/o-amante-do-rei-kuroken-21667274



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