Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 36
Confiança


Notas iniciais do capítulo

Domingo é dia de atualização! Atrasada na verdade, mas aqui estamos!
Uma boa leitura!



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Duas horas e meia depois de muito xingamento sendo murmurado, de muito passar raiva e ainda ter que aturar os comentários fora de hora de Alex no meu ouvido, a corrida acabou.

E olha o resultado nem foi tão ruim assim.

Teve McLaren no lugar mais alto do pódio. Um milagre que só uma corrida de rua poderia proporcionar. Kimi chegou entre os cinco primeiros, carregando a sofrível Alfa Romeo nas costas e os aspirantes ao título se encontraram pelas curvas do circuito de Cingapura e abandonaram a prova.

E mesmo assim eu quase passei mal de nervoso quando o estrategista da Alfa Romeo quase me perde a janela ideal de pit stops. E nem vou falar nas voltas finais para a McLaren... eu estava tão nervosa quanto os integrantes da equipe ao assistir às investidas de Bottas para cima de Lando Norris.

E cada vez que eu dava um pulo, gesticulava em direção à televisão ou só abraçava o travesseiro em sinal de frustração, Alex abria um enorme sorriso e soltava uma enxurrada de perguntas sobre o que ele tinha visto ou o que tinha me deixado assim.

— Isso foi interessante. – Ele comentou quando a cerimônia do pódio acabou.

— Posso te garantir que nem todas são animadas assim!

— A corrida também foi boa. Estava falando das suas reações. Você se transforma na torcedora mais engraçada que já vi. Você xingou um piloto e o mandou fazer uma tangência diferente para não ser ultrapassado, como se ele fosse te ouvir!

Enterrei meu rosto no travesseiro que eu havia socado, abraçado e amassado nas últimas duas horas e grunhi de raiva.

— Você fica fofa quando está torcendo! – Alex continuou rindo. – Me pergunto se ao vivo é assim. - Ele me abraçou de lado e me levou ao seu encontro e eu, de muito bom grado, me ajeitei no seu colo.

— Você quer saber no autódromo? – Questionei.

— Sim. – Abriu um sorriso ao me fitar.

— Depende de onde eu estou.

E uma sobrancelha foi levantada, me pedindo para explicar melhor a frase.

— Se eu estou no paddock, onde a Pietra assistiu à corrida, eu me policio para não ficar tão nervosa, ou não demonstrar que estou nervosa.

— E você fica muito lá?

— Não. Por esse motivo. Foram duas vezes. Uma no GP da Inglaterra, que eu fiquei no box da McLaren e outra no GP da Itália, que eu fiquei na área VIP da Ferrari, junto com a Pietra e a Nonna Agnelli. Não dá para aproveitar a corrida se você não pode torcer.

— O que nos leva ao seu lugar favorito.

— A Arquibancada. Geralmente onde se pode ver a largada e a primeira curva. Lá eu aproveito a corrida, eu xingo, eu pulo, eu torço de verdade. Muito parecida com você torcendo para o Seahawks.

— Eu não fico assim assistindo à NFL! – Ele foi logo se defendendo.

— Porque você nunca se viu torcendo. E eu já vi. E sim, você fica nervoso, gesticula e fala com o quarterback como se ele fosse te ouvir! – Repliquei o que ele tinha falado.

Meu namorado bufou.

— Você só está tentando virar a conversa para mim e deixar que eu me esqueça o seu lado torcedora nervosinha. – Retrucou.

— Eu ainda vou te gravar torcendo. – Garanti.

— Isso é desculpa sua. Você só quer um vídeo meu no seu celular! – Brincou, me beijou e se levantou.

— Mas é convencido! – Arremessei um travesseiro nele.

— Ei! Não faz isso, eu ainda estou doente! – Reclamou.

— Para encher a minha paciência está bem, agora para ter o que merece não?? Mas é um bebezão mesmo! – Falei e corri para o banheiro com o intuito de me arrumar antes dele.

— Trapaceira! – Escutei ele murmurar quando fechei a porta! – Só ganhou de mim porque...

— Você está doente! – Abri a porta e remendei o que ele estava adorando falar.

Meia hora depois, nós dois entramos na cozinha, nos bicando. Ele falando sobre a minha maneira de torcer e até me imitando. Já eu reclamando que ele era manhoso demais e estava usando da sua temporária condição para tirar vantagens de todos. Chamamos a atenção não só dos meus sogros, que já estavam sentados à mesa, como dos três cachorros que estavam espalhados pelo chão.

— Bom dia para vocês! – Dona Amelia veio nos abraçar. – Por que tão agitados assim?

— Bom dia! – Respondermos juntos e Alex continuou:

— Porque a Kat tem que ser a torcedora exagerada que fala com a televisão.

— Você também fala com a televisão, filho. Você e seu pai. – Minha sogra disse e eu dei um pulo ao lado de Alex.

— Vai fazer o que agora? Dizer que ninguém pode contar as verdades sobre você, porque você está doente?

Alex fez uma cara feia e foi mancando até a geladeira atrás de água.

— Bom dia, Kat! O que vocês estavam vendo para o Alex falar isso? – Meu sogro perguntou depois de encher a caneca de café.

— Bom dia! – Dei um abraço nele, já que ele tinha aberto os braços. – Fórmula 1. Parece que Alex tinha que saber se as conclusões que ele tirou sobre o piloto que eu torço eram verdade ou mentira.

— E o veredicto? – Dona Amelia questionou, olhando para o filho que se escondia atrás de uma caneca de café.

— Responda à sua mãe, Alexander. – Cutuquei.

— O cara marcou pontos. Mas não venceu. O que não me fala nada.

— Até porque você não entende muito, também... então sua conclusão ainda seria muito errada. – Provoquei e comecei a comer o waffle. Alex só me deu uma encarada.

— Você não entende nada sobre a NFL. – Retrucou.

— E foi por isso que não fiquei dando pitacos na semana passada. – Expliquei.

— Isso é o que eu penso. Se você não entende nada, não precisa opinar. – Minha sogra concordou comigo.

Alex levantou a mão para o ar, como se rendendo e se sentou ao lado da mãe, de frente para mim, só para ficar me chutando por baixo da mesa e quando eu o olhei de cara feia, teve a cara de pau de sorrir para mim.

Sr. Pierce então perguntou como ele estava e a conversa foi enveredando para outros assuntos, mesmo quando todos já tinham tomado o café e tudo já estava arrumado. Minha sogra, depois de um tempo escutando ao filho e ao marido conversando sobre a temporada de futebol, me convidou para conhecer a área externa da fazenda.

Não recusei e só corri no quarto para escovar os dentes e por uma bota.

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— Ah! Vejo que veio pronta para cavalgar. – Ela abriu um sorriso quando me viu.

— Minha esperança! – Respondi.

— Fico feliz que você gosta de cavalos. Alex adora, mas você sabe como.

— Com muita emoção e nenhuma responsabilidade! – Eu ri.

— Exatamente, minha querida. Agora, escolha um para chamar de seu temporariamente, já que você tem cavalos.

— Alex contou?

— São dois, não?

— Sim. E tem muito tempo que eu não monto! – Confirmei. E escolhi o primeiro cavalo que vi. Um belo Mustang preto que só pela sua pose me lembrou muito meu Filho do Perigo. Para a alegria de Dona Amelia.

— Bela escolha. Furia de la Noche é o cavalo de Alex.

Até nisso!

— Bem... vamos ver se eu vou conseguir domar esse aqui. – Comentei.

Foi aí que Dona Amelia riu mais ainda.

— Você já domou o dono, o cachorro do dono, o cavalo vai ser fácil. – Disse me entregando uma cela. – Não é feita para você, mas isso podemos arrumar ainda nessa semana.

Selei Furia de la Noche, conversando com ele, para que se acostumasse comigo e com muito cuidado montei.

Lógico que o cavalo estranha quando quem o monta não é o seu cavaleiro de costume. Então Furia logo deu um trote para trás e empinou, relinchando alto.

— Calma garoto! Calma. – Me segurei na sela e comecei a acariciar a sua crina. – Isso. Bom menino. – Falei quando ele se abaixou. - Muito obrigada por me deixar te montar!

Furia se acalmou o suficiente para que eu desse o primeiro comando e logo estávamos trotando lentamente na frente do estábulo. Minha sogra apareceu, montando uma égua malhada, chamada Pandora.

—  Isso foi impressionante. Qualquer um teria sido derrubado. – Ela me elogiou.

— Para quem conseguiu domar Filho do Perigo... esse aqui até que está manso. – Comentei já trotando ao lado dela.

Filho do Perigo?! – Ela estranhou o nome.

— Sim. Meu puro-sangue árabe. Ele tem uma linhagem e tanto, e seus pais não eram lá os mais dóceis cavalos...

— E como você conseguiu um cavalo desses?

— De curiosa. Estava em uma viagem pelo Egito. E acabei passando por um haras. Na hora vi que tinha um leilão de cavalos. Não resisti e entrei. Perigo era um dos potros a serem leiloados no dia, mas era tão arisco, tão bravo e mordia todos, que desistiram de colocá-lo à venda. Mas eu me apaixonei por ele e por toda a sua atitude de rebelde. Quando o leilão acabou e só ele ficou dos cavalos, corri até o dono do haras e perguntei quanto ele queria pelo potro. Ele me olhou desconfiado e acabou por jogar o preço lá em cima.

— E você começou uma negociação daquelas, imagino.

— Pode apostar que sim. Comprei Filho do Perigo e sua linhagem estelar, de um corredor vencedor de Ascot e uma saltadora campeã olímpica, por cinquenta mil euros. Isso porque o dono do Haras queria trezentos mil...

— Me lembre de nunca tentar barganhar nada com você, Katerina! – Ela riu e começou a me mostrar o lugar.

Levamos quase duas horas dando uma volta pela propriedade. Sim, era grande a esse ponto e posso garantir, eu ficaria cavalgando por ali pelo resto do dia de tão lindo que era.

— Só faltou um lugar, mas creio que o Alex vai querer te levar lá quando ele melhorar.  – Ela disse quando desmontamos já na porta do estábulo.

Fiquei curiosa, Alex tinha mencionado esse mesmo lugar.

— É muito longe? – Tentei cavar alguma informação útil.

— Não vou falar, ou meu filho vai ficar ainda mais emburrado.

Guardei o Furia na baia, tirei a sela e comecei a escová-lo enquanto ele se refrescava.

— Muito obrigada! – Murmurei assim que ele já estava apresentável. – A senhora precisa de ajuda? – Perguntei ao parar na frente da baia de Pandora.

— Já que perguntou... ela me jogou a escova e passou a trançar a crina da égua.

— Tudo bem. – Falei e começamos a trabalhar, acontece que minha sogra não é uma pessoa que fica calada por muito tempo. E eu sabia que não era curiosidade, era apenas ela querendo me ajudar quando disse:

— Eu sei que Alex praticamente me mandou trocar de assunto ontem, mas a sua vinda para cá não foi só uma promoção, foi?

Estava escovando a pata de Pandora, o que me deu tempo para recompor a expressão.

— Quando eu cheguei, achei que era. Mas descobri na semana passada que não foi com essa intenção que me transferiram para cá.

E Dona Amelia puxou o banquinho que estava no canto da baia e se sentou, olhando para mim, como se me dissesse que estaria me ouvindo quando eu estivesse pronta para falar.

Respirei fundo e estava decidida a deixar por isso mesmo, mas ao olhar para ela, eu simplesmente contei a história toda. Eu voltei no início do ano, na cerimônia fracassada de casamento. Contei o que meu avô tinha planejado, o que haviam me contado, nas insinuações nos portos há oito dias até chegar no dia de hoje. No fim do relato, eu estava sentada ao lado de Pandora, que tinha se deitado no feno, e mordia o lábio tentando entender os motivos de terem brincado tanto comigo.

— E foi isso. – Terminei limpando uma lágrima. – Alex caiu de paraquedas na minha vida e toda essa bagunça sobrou para ele. Eu juro, não queria dar todo esse trabalho. – Afirmei.

— Você já sabe de tudo o que aconteceu? Entre ele e Suzanna?

— A senhora me contou... – Respondi.

— Te contei o que eu fiquei sabendo. Eu não sei como a briga começou... Alex nunca tocou no assunto. Então, Kat, você não é a única com uma bagagem e tanto nesse relacionamento, pode acreditar no que digo.

— Estive pensando. – Comecei. – Se não é demais para ele. Todo esse jogo político e armações que rondam o meu posto e, agora, o nome dele. Eu tenho medo de que prejudiquem Alex por minha causa. E eu não quero isso.

— Kat... você está namorando um ator. Você vai ser jogada no olho do furacão mais cedo ou mais tarde. As poucas fotos que saíram de vocês não são nada. Quando descobrirem quem você é, o que você faz, onde trabalha. Vai ser a hora de eu te perguntar: Você aguenta isso por amor ao meu filho, Katerina?

— Sim. Eu vou, porque é fácil ignorar as fofocas. Mas problemas como os meus...

— Você não conhece esse mundo, minha querida. Eles vão revirar o seu passado. E isso vai ser doloroso. Eles vão comentar de você, vão te julgar, vão te medir, vão inventar histórias. E tudo o que eu te peço é que seja forte.

Meneei a cabeça concordando.

— Esse lugar. – Ela levantou a mão, como que para exemplificar o que falava. – Esse lugar foi a minha válvula de escape por muitas vezes. Primeiro durante a gravidez de Will, depois quando Jonathan ganhou o papel principal em uma série e começaram a seguir os meninos. Eu achei que não aguentaria a pressão de ser mãe, atriz e ser a esposa de um ator no auge da carreira. E, assim como você, minha família e melhores amigas estavam longe. Elas me ouviam quando eu ligava, mas não entendiam o que eu passava. Não sei quantas vezes me sentei nessas baias e chorei escondida dos meninos, e posso te garantir, me lembro da última vez que fiz isso.

Tombei a minha cabeça, tentando acompanhar a história de minha sogra.

— Há três anos, quando infernizaram tanto Alex que ele falou em desistir. Falou em sumir daqui. Eu tinha que ser forte por ele e apoiá-lo no que ele fosse fazer, mas me doía ver o que falavam dele. As amigas de Suzanna, a própria Suzanna, jogavam invenções nas redes sociais só para serem o centro das atenções. E, no meio de tudo isso, tinha o processo que um paparazzo moveu contra ele por conta de uma foto de Suzanna tirada quando ela descia uma escada. A vida dele virou um inferno e quando ele, para tentar preservar o que restava, declinou o papel principal em uma série, depois de ter tido um papel recorrente em uma série recém cancelada... A melhor amiga de Suzanna comemorou.

Engoli em seco, eu sabia quem era essa pessoa.

— Eu achei que o comentário dela seria o prego no caixão da carreira do meu filho, Kat. E, por uns dois anos, foi, ele só atuava como dublê. Ele voltou a fazer propagandas há um ano. Começou com uma campanha de relógio. Nada de atuação, só fotos, mas ajudou que o publicitário o conhecia e veio conversar com ele pessoalmente, para que ele aceitasse o trabalho. Depois apareceu mais uma, de um perfume. Agora essa do carro. Ele está voltando aos poucos, mas as feridas ainda não cicatrizaram totalmente. E só Deus sabe o quanto eu sofri com ele, Alexander na casa dele, no mundo dele, e eu aqui. Nem Jonathan sabe o tanto que eu me desesperei ao ver meu filho praticamente desistir de algo que ele tanto ama. E eu estou te contando isso, minha filha, porque quero que saiba. Você tem uma pessoa que vai te ouvir quando você precisar. Eu estou aqui para isso. Não quero que você passe pelo que eu passei no início dos anos 90 e muito menos que sofra em silêncio.

— Muito obrigada. E... bem, sei que não é a mesma coisa, mas se a senhora precisar, eu também estou aqui. Minhas amigas sempre me disseram que sou uma excelente ouvinte.

— Não, Kat. Você é uma pessoa boa que pensa primeiro nos outros depois em você. – Ela me garantiu dando um tapinha no meu joelho. – Agora, vamos voltar, antes que tanto Jonathan quanto Alexander resolvam vir nos resgatar. – Me abriu um sorriso.

E, mais uma vez, eu precisei contar a verdade, mesmo sabendo que isso poderia arruinar a pouca confiança que nós estávamos construindo.

— Eu sinto muito, Dona Amelia.

— Não estou de entendendo, Kat. – Ela se virou na minha direção, com os olhos intrigados pela minha fala.

— Peço desculpa por tudo o que o comentário da minha irmã causou na sua família.

— Você é irmã da Mia Spencer?

— Ela usa o sobrenome de solteira da minha mãe, para não ter ligação nenhuma com a empresa. – Expliquei. – Alex me contou quem ela era, e eu já pedi desculpas a ele. E estou fazendo o mesmo com a senhora e pretendo fazer com o Sr. Pierce e Will. Eu sinto muito. Já senti na pele o que Mia pode fazer, mas nunca imaginei que ela pudesse ser tão... não vou dizer o palavrão que me veio à cabeça, porém, a desculpa é sincera.

— Mas como você pode ser irmã dela? Eu não vejo como! – Exclamou.

— Sei que parece estranho, mas é verdade. E eu quero que a senhora saiba, eu nunca soube de nada e não sou nem um pouco parecida com Mia.

— Sua irmã herdou a maldade do seu avô? – Me questionou.

— Nunca tinha feito essa ligação, até porque não penso muito em Mia. Nós não nos falamos há anos... contudo, é bem provável que sim.

— Quem diria, que a mulher que iria ajudar o meu filho seria irmã daquela que ajudou a afundá-lo! E eu sei, minha querida. Você não se parece com a sua irmã. – Ela me abraçou. – E antes que você fique desesperada, eu não tenho ódio de você, e nem da sua irmã. Dela, eu tenho pena, que precisa ser tão baixa para conseguir conquistar algo. De você, tenho orgulho, pois você é capaz de dizer a verdade, mesmo sabendo que isso pode afetar a sua felicidade! – Encerrou me dando um beijo na testa. – Alex finalmente teve sorte. E olha que ele nem estava procurando por um relacionamento. – Riu.

Fechamos a baia de Pandora e minha sogra apenas disse.

— Me desculpe a sinceridade, mas sua irmã é realmente insuportável, agora me pergunto, como uma pessoa que foi bem criada, pode sair daquele jeito?

Olhei para ela.

— É fácil de ver que você teve uma excelente educação, assim como seus irmãos. Não os conheço, mas só pelo vídeo de sua sobrinha, sei que o mais velho é tão bom quanto você...

— Mia sempre foi um caso à parte. Movida pela beleza.

— Um dia a beleza acaba, todo mundo envelhece. Quero ver o que ela vai fazer.

— Mia não merece ser o centro das preocupações de ninguém, Dona Amelia. Não fique pensando nela. Não vale a pena.

— Você tem razão. Eu vou pensar nas pessoas que se importam comigo e que são importantes para mim. E no fato de que vou ficar quase quatro meses sem ver o meu caçula. – Ela fez uma cara de drama, para depois sorrir. – Ah, filhos! Você quer que eles vivam a própria vida, mas detesta só o pensamento de vê-los ficando longe! Ser mãe é complicado, Kat. – Terminou o discurso quando pisamos no degrau de acesso à casa.

— Aí estão vocês! – Meu sogro apareceu e ajudou a esposa a se ver livre das botas, eu já tirava as minhas também. – Mostrou toda a fazenda para Katerina e já a convenceu a trazer os cavalos para cá, Amelia?

— Uma coisa de cada vez, Jonathan. Primeiro a fazenda, depois os cavalos. – Ela deu um abraço no marido. – E você não ouviu essa segunda parte, ainda! – Disse na minha direção.

Tive que rir diante da cena.

— Ouvi sobre? – Me fiz de desentendida.

— Ótimo! É assim que se cai nas graças da sogra! – Dona Amelia disse rindo ao entrar.

Segui os dois, contudo não andei muito, logo o trio peludo veio para perto de mim, para farejar onde eu estive e com quem eu estive.

— Pronto? Posso entrar ou vocês vão me barrar? - Questionei fazendo um carinho nas orelhas deles.

Stark latiu feliz e saiu correndo, creio que atrás de Alex, para avisar que eu tinha voltado. Thor se jogou, literalmente, aos meus pés, clamando por carinho e Loki me olhava desconfiado, ainda me cheirando.

— É um cavalo, Ruivo. Não estou te trocando por nenhum outro cachorro!  - Falei com ele.

— Já está conversando com o cachorro? Creio que vou te internar no mesmo hospital psiquiátrico que vão internar aquela sua amiga maluca que usa óculos escuros à noite! – Alex falou ao entrar no hall.

— Pelo que vejo, é fofoquito! – Apontei para Stark.

— Alguém tem que avisar para o pai que a mamãe voltou para casa. – Disse sério e olhou para os outros dois. – Porque se depender desses dois aí... – Olhou para os meus peludos com um ar de desgosto.

Me levantei do chão e fiquei na ponta do pé para poder sussurrar na orelha dele.

— São meus filhos. Devem lealdade a mim. – Disse. – E, pelo visto, seu cavalo não vai mais querer saber de você.

— Até o meu cavalo, KitKat?? – Perguntou injuriado.

Comecei a rir. E estava pronta para mais uma rodada de provocações.

— Estou longe dos meus, tenho que ter um por aqui. E sua a mãe me deixou escolher.

— Mãe!! Por que fez isso? – Ele reclamou igual a uma criança.

Dona Amelia pediu que o filho parasse de agir como um bebê e que fosse um bom namorado. Até porque eu tinha era feito um favor de ter domado o Furia.

Alex estava pronto para entrar na guerra de provocações, quando meu sogro passou por nós e, me olhando seriamente, disse:

— Katerina, você prometeu que faria a sobremesa!

— Mas é claro que você iria se lembrar desse detalhe, não é Jonathan?! – Dona Amelia passou por nós, indo para a cozinha. – Mas a responsabilidade de adoçar o nosso almoço e o jantar é sua, Kat.

— Sim, senhora!! Já estou indo! – Respondi e saí correndo até o quarto, depois de passar tanto tempo na companhia de cavalos, era sempre bom tomar um banho antes de começar qualquer atividade na cozinha.

Decidi por fazer um Merengue de Morango, fácil, bonito e que eu poderia colocar em vasilhas separadas para que ninguém ficasse tentado em testar o sabor do chantilly. E que arrependimento me deu quando Alex começou a zanzar atrás de mim, querendo saber para que serviam os ingredientes e, assim que acabei de colocar o chantilly na última vasilhinha, roubou a bacia da batedeira e saiu de perto de mim, só para ter o objeto de seu furto, tirado de suas mãos pelo Sr. Pierce.

A discussão que se seguiu só foi terminar quando a minha sogra, pegou a bacia e ela própria comeu o restante. Sozinha! E nem se importou com as reclamações do marido e do filho! Eu, que não sou boba nem nada, fiquei caladinha, só observando a cena.

E depois da guerra do chantilly, o restante do domingo foi tranquilo, praticamente ficamos na cozinha a tarde inteira, conversando, comendo e Dona Amelia me presenteou com vários casos engraçados envolvendo Alex e até mesmo Will.

Quando o fuso-horário permitiu, resolvi parabenizar meu pai, meu irmão e Mel pela vitória da McLaren. E, claro, zoar com a cara da Pietra um pouquinho, já que a Ferrari não terminou a corrida com nenhum dos carros. A resposta que recebi?

Eu estou começando a achar que sou pé frio. Eu piso no circuito e os dois carros abandonam. Eu fico na Itália e a coisa vai bem!! E pensar que tantos anos atrás eu era considerada o pé de coelho da equipe. Tudo começou a desandar quando você foi para a Califórnia! Pode voltar agora mesmo para a Europa e traz o Surfista Tatuado junto, apesar de que aqui ele vai ser só o Tatuado mesmo!

Eu acho que você precisa se benzer, isso sim. E sinto te informar, não vou voltar tão cedo!­ – Respondi.

Ela só me mandou o vídeo do Mike Wazowski falando: “mimimimi…Sebosa”. É outra criança na minha vida.

À noite, Will apareceu, não para ver como Alex estava, mas para tirar vantagem ao contar como estava a praia e o mar. Contando com detalhes cada manobra que ele e a turma fizeram durante o surfe da tarde. Alex fingiu que nem tinha se importado com o relato minucioso do irmão. Mas só a forma como ele olhava para Will me dizia que sim, ele tinha sentido falta da praia e do mar. Will, se jogou no sofá, ao lado de Alex e, depois de dar um chute de leve no pé imobilizado do doente da casa, simplesmente falou:

— Eu vim jantar também!

— Que novidade! – Meu sogro murmurou.

— E onde está Rebecca? – Dona Amelia perguntou ao abraçar o filho por trás e dar um beijo no alto de sua cabeça.

— Arrumando as malas. Ela vai comigo para Atlanta por um mês. Conseguiu antecipar as férias. – Disse feliz.

Will, obviamente, deu a sua colaboração para as histórias vexatórias de Alex, e me prometeu que se esforçaria para lembrar de mais algumas para me contar futuramente. E ele se foi até bem tarde, se despedindo dos pais e de mim com um abraço apertado.

— Cuida bem desse maluco aí, Kat... não posso abandonar um filme no meio para vir ao funeral dele. – Brincou.

— Pode deixar! – Abracei meu cunhado de volta.

— E você, Alex. Tente ficar inteiro. Kat não merece passar um susto por semana. – Gritou já quase no carro.

Todos sabíamos que ele iria, que era o trabalho dele, mesmo assim, o clima foi outro quando o mais novo dos Pierces entrou no carro e fez seu caminho de volta à Los Angeles.

Logo em seguida, pedi licença para ir dormir, eu teria que acordar cedo para ir trabalhar. Disse meus boas-noites, fiz um cafuné nos cachorros, que estavam adorando se deitar aos pés do meu sogro e fui para quarto.

Como na noite passada, assim que abri a porta do banheiro, Alex estava sentado na cama.

— Seus serviços de enfermeira são requisitados novamente. – Disse sem animação nenhuma.

Desenfaixei o meu namorado, observando a evolução de sua melhora, pelo menos os hematomas já estavam começando a descolorir nas bordas. O do rosto, mesmo com o corte que ele ostentava, começava a desaparecer. Fiz um carinho ali e dei um beijo por cima. Ele entrou para o banho, sem se preocupar em fechar a porta e quando saiu, mais molhado do que seco, se jogou na cama e disse:

— Tenho que ficar enfaixado até quando?

— Duas semanas. No mínimo.

E lá estava a careta.

— E mais tempo sem fazer loucuras. – Completei.

— Por que eu tenho a sensação de que você vai me monitorar de perto?

Porque eu vou, Alex. Não quero tomar outro susto como o de sexta-feira nunca mais. Agora posso? – Estendi a faixa.

— Fique à vontade. Sou todo seu. – Ele disse sem animação.

— Não fale assim. Você pode não gostar do que eu vou fazer com você. – Brinquei e roubei um beijo.

— Vai se levantar que horas? – Me perguntou quando passei a enfaixá-lo nas costelas.

— Cinco. Até que me arrumo para sair são uns quarenta minutos, e a viagem dura quase duas horas... e, eu vou trocar o carro, porque aquele Jeep nem passa na garagem do prédio!

Ele riu depois se inclinou para me dar um beijo. E um beijo levou a outro até que...

— Meu ombro. – Alex murmurou quando ele tentou se deitar sem tipoia e me levar junto ao mesmo tempo.

— Não vai demorar tanto. – Garanti e dei outro beijo. – Agora posso colocar a tipoia?

— Por favor. E pode dar um beijinho para sarar também. – Pediu.

Quando Alex já estava quase que mumificado do meu lado, nos deitamos.

E eu tive a nítida impressão de que essa semana não seria nem um pouquinho fácil para mim.


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Notas finais do capítulo

Bem é isso. Espero que tenham gostado. Muito obrigada a cada um de vocês que estão lendo essa história!
Domingo que vem tem mais.
Até lá!
xoxo



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