Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 33
Hospital


Notas iniciais do capítulo

E aqui estamos nós para mais um capítulo!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799284/chapter/33

O caminho para casa foi estranho, era ruim saber que entraria naquele lugar e que não tinha a perspectiva de Alex aparecer para a noite. Por sorte, eu não me perdi e lá dentro foi como uma corrida de obstáculos. Comecei dando carinho para o trio, tadinhos, eles tinham ficado sozinhos durante todo o dia, nada mais justo do que dar um pouco de atenção agora.

Depois, servi as porções de razão e subi para o quarto com duas coisas em mente, tomar um banho rápido e fazer a mala.

— Parece que tudo o que faço nos últimos dias é uma mala. – Murmurei infeliz antes de entrar para o banho mais rápido que já tomei na vida, afinal, não havia motivos para tentar relaxar, meu namorado estava internado e eu nem tive a oportunidade de chegar perto dele...

Me troquei, colocando uma roupa mais simples e uma sapatilha que não faria barulho dentro do hospital, depois coloquei o que eu iria precisar dentro da mala, assim como roupas para Alex. Saí do quarto, fechando a porta com trinco, afinal, eu não precisava de uma reprise de minha cama toda estraçalhada por conta dos nossos animais de estimação.

Arrumei minha bolsa, colocando algumas coisas que certamente eu precisaria, e, depois de colocar os cachorros para dentro, tranquei a porta da cozinha, me despedi com um abraço dos três e voei para a garagem, dessa vez indo no meu carro.

Minha saída não levou uma hora, e logo eu descia do corredor na ala onde Alex estava, ao passar perto do posto das enfermeiras, a Enfermeira Chefe me olhou novamente, mas dessa vez não fez cara feia.

Praticamente corri até o quarto e, parando em frente à porta, tive que respirar fundo. Dei uma leve batida para anunciar a minha presença e depois girei a maçaneta.

Os olhos de Alex pousaram imediatamente em mim e quando eu o fitei ele os desviou. Não gostei disso.

Dona Amelia me passou as recomendações que as enfermeiras já haviam explicado e, depois de beijar a testa do filho e a minha, saiu do quarto, foi fácil de ver na sua expressão de que ela queria ficar ali, cuidar do filho como se ele ainda fosse um bebê totalmente dependente dela.

Will acenou para Alex e me deu um abraço antes de sair, falando em meu ouvido:

— Qualquer coisa que acontecer durante a madrugada, me avise. Eu aviso aos dois.

Assenti calada e ele foi dar o braço para mãe se apoiar.

Senhor Pierce ficou por último, deu uma olhada no filho, se despediu dele e depois parou na minha frente.

— Obrigado, Kat. Qualquer coisa, não hesite em ligar, mesmo que Will tenha dito o contrário. Boa noite, filha. – Deu um beijo na minha testa.

— Boa noite, Sr. Pierce. – Falei quando ele fechou a porta.

Respirei fundo e encarei meu namorado. Ele, deliberadamente, estava com os olhos fechados.

Resolvi que o deixaria assim e comecei a preparar a minha cama, me lembrando, quando vi o celular de Alex na minha bolsa, que o Senhor Earl me pediu notícias.

Olá, Sr. Earl. É a Katerina, namorada do Alex. Só te avisando que ele já está acordado, e tem previsão de alta ainda para este final de semana. Alex está relativamente bem, algumas fraturas, mas ele vai se recuperar. Obrigada por se importar. Tenha uma ótima noite! – Terminei e enviei.

— Está mandando mensagem para quem? – Finalmente Alex me dirigia a palavra, mas quando eu levantei a minha cabeça, ele desviou o olhar.

— O Senhor Earl, o porteiro do estúdio. – Informei.

— Foi você quem foi pegar as minhas coisas?

— Sim. Seu empresário me ligou, depois que eu mandei uma mensagem para você...

Alex continuava a fitar o teto.

— Eu sei como aconteceu. Não precisa ficar assim. – Falei de uma hora para outra, me levantando do sofá e voltando a arrumar a minha cama.

E o quarto caiu em um silêncio pesado, até anormal, tendo em vista que um de nós estava sempre falando de algo. E tal situação só foi começar a melhorar quando saí do banheiro com uma calça de moletom e uma camisa da seleção finlandesa de hockey, já que quando abri a porta, Alex olhava fixamente nesta direção e não teve tempo de fingir que estava dormindo.

— Bonito pijama. – Ele falou quando dei as costas para ele, indo me sentar no sofá. – Personalizado...

— É. – Murmurei sem fitá-lo e nem adiantaria, pois tenho certeza de que ele fecharia os olhos ou evitaria os meus.

— Tem algum significado? O número? Seu irmão também joga com o 25 nos Blackhawks.

— Sim. A data de nosso aniversário. – Respondi.

— Eu também faço aniversário no dia 25. – Comentou e se calou.

Quando eu me sentei no sofá, virada na sua direção com um livro nas mãos, reparei, sem levantar a cabeça que ele encarava o teto.

O silêncio continuou, eu não tentei quebrá-lo, não adiantaria. E foi estranho quando a enfermeira entrou. Pois ela claramente notou o clima pesado que estava dentro do quarto, mas estava toda falante e sorridente ao conversar com Alex. Ele, por sua vez, murmurava como estava, sem encará-la propriamente.

— Se precisar de qualquer coisa, Alex, é só chamar. E... – Ela parou, fingiu ficar acanhada e soltou. – Eu sou muito a sua fã! -  Disse medindo meu namorado de cima abaixo.

Juro por Deus que eu quis arremessar o meu livro sobre as Grandes Navegações e a América Espanhola na cabeça dela.

— Nenäkäs![1]— Murmurei por baixo da respiração.

Alex ficou todo sem graça com o comentário e suspirou alto quando ela saiu do quarto.

— Eu... – Ele começou.

Levantei a minha cabeça.

— Kat... eu...

Continuei calada. Eu não tinha o que falar, não ainda. Deixaria para dar o sermão sobre responsabilidade quando ele estivesse bem e não tivesse nenhuma enfermeira atrevidinha por perto.

— Será que você pode falar alguma coisa?! – Ele estourou.

— Eu?! – Fiquei de pé antes que eu percebesse e o encarava furiosa. Eu sabia que estava com raiva, e que demonstrava o meu estado de espírito, pois sentia meu rosto arder.

— Sim! Você mal conversou comigo! Conversou com o meu irmão, mas não comigo! – Ele me acusou.

— Você que nem se dignou a me olhar, Alexander. Desde o momento em que eu entrei nesse quarto, você não olhou para mim. E é você quem tem explicações para dar!— Sibilei friamente.

— Você que não falou nada quando apareceu aqui mais cedo. – Soltou.

Meu rosto ardeu de forma duplicada.

— Eu jamais passaria na frente da sua mãe, jamais. Por respeito a ela e ao seu pai, e por ter visto em primeira mão como eles estavam enquanto esperavam por notícias suas. Eles estavam realmente preocupados com você.

E aqui ele me encarou pela primeira vez na noite. E eu continuei falando.

— Sua família tem prioridade sobre você! Eu permaneci no meu lugar, enquanto eles buscavam saber como você estava. E, quieta no meu canto, eu fui tendo as respostas que eu buscava através das perguntas que eles faziam. Eu esperei a minha vez para poder conversar com você, só não sabia que você não queria conversar comigo. – Explodi de vez, porém, ao contrário de sair gritando, a minha voz ficava cada vez mais fria, mais baixa e meu sotaque finlandês mais pronunciado. Tanto que no final, eu trinava cada um dos “r”.

— Quem te falou que eu não quero conversar com você? – Ele retrucou e tentou se levantar.

Dei um pulo e impedi o seu movimento, deitando Alex novamente na cama.

— Seus olhos falaram. – Tornei a falar e ia tirar minhas mãos de seus ombros, quando ele levantou o braço direito e apoiou a mão na minha bochecha, secando uma lágrima que eu nem tinha sentido que tinha caído. Olhei para seu pulso direito, que estava enfaixado, e depois para seus olhos. Alex me encarava de volta, seus olhos azuis demonstravam todos os seus sentimentos. Vi raiva ali, claro, ele tinha estourado com o meu rompante, mas vi outra coisa.

Culpa.

Senti a sua mão escorregar da minha bochecha para meu pescoço, quando dei por mim, ele me puxava para si. Eu não tive forças para impedi-lo e quando seus lábios encontraram com os meus foi como o último beijo das nossas versões vikings. Um misto de desespero, paixão, remorso e dor.

Nós nos separamos quando os monitores que acompanhavam os sinais de Alex começaram a apitar alto demais. E eu tive que ter muito cuidado ao me afastar dele, para que não me apoiasse em nenhum de seus ferimentos.  

 - Você mentiu pra mim. – Me vi soltando quando me afastei dele.

— Desculpe por isso também. – Ele murmurou, dessa vez me olhando, estendendo a mão para me tocar.

— Por quê? – Afastei a sua mão.

— Você iria ficar preocupada...

Eu fiquei preocupada com o estado que você chegou em casa, Alex. Você acha que me enganou, mas eu vi você disfarçando até a sua forma de andar. Sem contar que quando você se deitou estava sentindo muito mais dor que me falou. Não me contar foi um erro. – Expliquei.

— Foi coisa besta. – Ele tentou desconversar.

— Duas costelas trincadas? Um chute enorme na barriga? Você estava todo roxo e fez piada! Alex, o que eu te disse naquela noite é verdade. Eu quero cuidar de você, mas se continuar a me esconder as coisas... – Deixe a frase no ar.

Alex tornou a estender a mão e dessa vez eu a peguei e apertei junto ao meu peito.

— Por favor, não me esconda nada disso. Pode ser algo muito pior do que você imagina.

— Não vou, Katerina. – Ele disse sério.

— E como você está? De verdade!

— Todo estourado. Todo doendo. Me lembro da queda e sei o porquê caí.

— Quem errou a coreografia?

— Colin. Aí... ele acertou a minha cabeça e não pude fazer mais nada.

Coloquei a minha mão sob a faixa em seu o rosto. O roxo da cena de quarta ainda mais evidente.

— Quantas vezes isso já aconteceu?

— Sério assim?

— Sim. Tombos são normais, todos tomam. Um soco errado, um tapa mais forte, um chute, isso acontece. Mas para te trazer até o hospital...

— Sério assim, é a terceira vez.

— Em quantos anos?

— Nos últimos três.

— Não era dublê antes? – Perguntei inocentemente.

— Algumas vezes... dependendo de qual estúdio era. E se a equipe de dublês era a mesma com quem eu treino. Mas me concentrava mais em fazer as minhas próprias cenas de ação.

— E o que mudou? – Tentei novamente. Sei que era errado me aproveitar do excesso de remédio que estava no sistema dele, mas eu precisava de respostas.

E a expressão dele mudou.

— Me disseram que eu não era talentoso para ser ator. Que vivia da fama e do sobrenome dos meus pais. – Disse amargurado.

— Sabe que é mentira.

— Você não me viu atuando! Não teve tempo.

— Não preciso ter visto. Você me pregou uma peça se fingindo de morto na minha frente. Tudo no improviso, e eu quase que morro de susto. Quer maior prova do que essa?

Alex me encarou.

— E então... só dublê e propaganda de carros agora?

— Nos últimos dois anos sim.

— Não apareceu nada ou você não quis? – Forcei um pouquinho.

— Isso importa?

— Importa para mim. Não gosto de ver as pessoas desistindo dos seus sonhos. Não importa quais sejam.

Ele deu uma risada sarcástica.

— Você é o oposto dela.

— Não diria isso. Ela é loira também. – Fiz piada. Mas ele não caiu na minha história.

— Você brinca assim porque não a conhece.

— Ela anda com a minha irmã, tenho uma ideia do tipo que é. E ela não tinha direito de dizer o que disse. – Completei.

— Ela se achou no direito.

— E você não falou nada? Só aceitou e deu um tempo na carreira...

— Ainda bem que você é desligada do mundo das celebridades, Kat. Ou você saberia o que aconteceu.

— Mesmo assim, Alex. Você fez exatamente o que ela queria que fizesse. O relacionamento acabou, você foi para um trabalho que não te dá tanta visibilidade assim, e ela continuou desfilando para as grandes grifes, nas Semanas de Moda mais importantes do mundo. Na cabeça dela, ela venceu, porque falam dela, não de você. E digo por experiência própria, Mia precisa estar no foco, é uma narcisista clássica. Presumo que sua ex deva ser a mesma coisa.

— E ela é.

— Posso te pedir só uma coisa e prometo que encerro esse assunto?

— Vá em frente.

— Só não desista. Dê o tempo que precisar, mas me prometa que nunca vai desistir!

— Eu tenho 33 anos, Kat.

— Morgan Freeman ficou famoso depois dos 50 anos. Isso não é desculpa.

— Você me disse que não entendia nada da indústria cinematográfica! – Ele me acusou.

— E não entendo. Mas amo os trabalhos do Morgan Freeman. Você vai ver quando meus filmes chegarem.

— É hoje, né? Como você vai fazer?

— Pedir para entregarem outro dia... eu posso fazer isso.

— Claro... é a poderosa do escritório.

— Isso mesmo. Eu sou. E você não vai trocar de assunto antes de me responder.

Ele tentou respirar fundo, mas as costelas quebradas impediram.

— Respira devagar e de forma curta. Não vai doer tanto.

— Como sabe? – Me olhou descrente.

— Lembra que te falei que fui atropelada?

— Sim.

— Todas as minhas costelas do lado esquerdo foram quebradas no impacto. Levou quase dois meses para que eu respirasse sem doer. – Informei.

— E era uma vez a sua carreira na patinação... é por isso que você não gosta de ver as pessoas desistirem?

E ele tinha acertado em cheio. Algo que ninguém descobrira.

— Exatamente. Eu fui obrigada a parar com a minha maior paixão, por conta da irresponsabilidade de uma pessoa que eu nunca conheci, não gosto de saber que outros desistiram pelo mesmo motivo. Ainda mais se ainda dá para lutar.

Ele não me respondeu, apenas fez um sinal para que eu me juntasse a ele na cama do hospital.

— Você está todo machucado... precisa do espaço.

Ele olhou para cima, como se estivesse pensando.

— Preciso mais da minha garota do meu lado do que de espaço nesse momento.

Me levantei da cama, peguei mais um cobertor e me juntei a ele na desconfortável cama do hospital, logo ele me aninhou do seu lado direito, que era o menos ferido.

— Aposto que em nenhum hotel cinco estrelas que você se hospedou mundo afora, você teve esse conforto todo! – Brincou.

— Nunca tive companhia melhor! – Garanti, olhando-o nos olhos.

— Me desculpe. – Ele falou novamente. - Por hoje, por não ter te contado a verdade na quarta.

— Eu te perdoo, Alex. Só não minta mais para mim, por favor.

— Eu não vou.

— Assim espero.

— E não vou desistir, Kat.

Abri um sorriso. Não me importava o que ele fizesse. Se era um blockbuster que arrecadaria milhões e o colocaria nos holofotes ou um filme ruim. O que me importava era que ele iria fazer o que ele queria, o que ele nasceu para fazer.

— Eu já te falei que te amo hoje? – Perguntei.

— Ontem eu tenho certeza, hoje não. – Ele me deu um mínimo sorriso.

Ya tebe lyublyu.

Alex só levantou uma sobrancelha.

— E isso é...

— Ucraniano.

— Que idioma que você não fala? – Perguntou espantado.

— Um monte. Mas não sou fluente em ucraniano... como é meio parecido com o russo, arranho algumas frases.

— Arranha, sei. Eu estou começando a achar que eu arranho o inglês!

— Exagerado... – Comentei.

Ele só deu uma risada que resultou em um gemido de dor.

— Quer que eu chame a enfermeira para te dar um remédio? – Perguntei.

— Dessa vez você vai bater nela? – Alex brincou.

— Você viu?!

— Não sei que palavrão você falou para ela, mas eu vi o seu rosto ficar muito vermelho. Diria vermelho Ferrari, já que você gosta tanto de Fórmula 1.

— Não era um palavrão.

— Então admite que xingou e que estava com ciúmes?

Me apoiei em um cotovelo e olhei para o meu namorado.

— Eu não disse isso. Apenas admiti que a xinguei.

Ele abriu um sorrisinho presunçoso.

— Estava com ciúmes.

— Não estava. – Respondi sem pensar.

— Respondeu rápido demais... – Deu um peteleco no meu nariz. – E está ficando tão vermelha quanto ficou quando ela estava aqui.

— Eu... eu...

E a cada segundo que eu lutava com as palavras, mais arrogante o seu sorriso ficava.

— E ela é ciumenta! – Alex comemorou.

Me joguei na cama, balançando-a um pouco demais.

— Fica quieto! - Mandei.

— Devia ser eu falando isso. Se mexa devagar, porque isso doeu.

— Me desculpe. – Murmurei sem olhá-lo.

— Tudo bem, Ciumenta.

Grunhi qualquer coisa contra o travesseiro, o que só fez Alex rir ainda mais.

— Mas eu aceitaria um remédio... tá incomodando bastante.

— Eu vou chamar a Enfermeira-Chefe. – Murmurei me levantando e colocando um moletom.

— Vai direto nas instâncias superiores... coitada da moça.

Parei na porta e antes de abri-la, soltei.

— Não sei por que coitada... ainda não fiz nada! – Me virei e saí para o corredor em busca do posto das enfermeiras.

Quando cheguei lá, só a Atrevida estava no posto. Tive que usar de todo o meu autocontrole para não falar nada, porém, não consegui controlar a minha feição de desgosto.

— Boa noite, precisamos de mais analgésicos no 1455. – Informei.

— Já estou indo. – Ela disse toda feliz, andando na minha frente. Mentalmente eu desejei que ela escorregasse, porém isso não aconteceu.

Quando abri a porta, Alex ainda tinha um certo ar de deboche em suas feições e, apesar de ter mantido uma expressão neutra enquanto a enfermeira administrava uma dose do analgésico na bolsa de soro, seus olhos me encaravam divertidos, rindo da minha expressão de total desprezo pela moça.

A enfermeira, que era, ou muito alheia aos arredores ou não se importava realmente com a minha presença, decidiu por verificar o acesso no braço de Alex, demorando muito mais tempo do que seria necessário ao levantar o braço dele e analisar o local, subindo com a mão do pulso enfaixado até o tríceps dele e voltando. Com a demora, cheguei mais perto da cama e a olhando de cima – como eu faria com um concorrente que achava que poderia roubar um cliente meu. – perguntei:

— Algum problema?

Ela se assustou com a minha voz tão perto, já que eu estava do outro lado da cama.

— Ahn... não. Só verificação de rotina. – Tentou me explicar.

Eu levantei uma sobrancelha.

— Está tudo bem. – Ela soltou o braço de Alex e deu um passo atrás. – Agora ele vai poder descansar melhor. – Os olhos dela vagaram de Alex para mim e depois ela abaixou a cabeça e saiu murmurando. – Se precisar de algo, pode chamar no Posto. Ramal 02.

— Obrigada. – Falei e mal esperei que ela saísse para fechar a porta. E assim que o fiz e me virei para a cama, Alex sorria abertamente.

— Não comece. – Adverti.

— Ela quase saiu correndo. E você só olhou para ela.

— Que bom, não acha?

— É assim que você espanta a concorrência? Com esse ar superior e essa pose de: “Vença-me se for capaz”?

— Vamos dizer que o que é meu, ninguém encosta.

— Tudo bem, Senhorita Ciumenta. Agora volta pra cá, que esse remédio já está fazendo efeito.

Me deitei ao lado de Alex, de maneira que ele acabou escorado em mim e eu passando a mão em seu cabelo.

— Assim eu vou dormir rapidinho. – Ele falou e depois de alguns minutos ressonava ao meu lado.

Eu não consegui dormir, primeiro por conta da posição, mas Alex estava confortável o bastante e eu não quis movê-lo, segundo porque fiquei repassando o dia e a noite e cheguei a duas concussões:

Eu teria que me acostumar com o fato de que Alex adorava se meter em qualquer coisa em que a descarga de adrenalina fosse alta, fosse como dublê, ou com os seus hobbys.

E segundo e mais importante.

Eu teria que ser mais controlada com relação ao meu ciúme. Porque, eu querendo ou não, ele é um ator, e sempre haverá os pares românticos e as cenas de beijo e... bem... eu teria que me acostumar com isso também. E só Deus sabe como seria difícil....

E olha que eu nem queria pensar nas fãs ainda!

Definitivamente eu estava encrencada! E Alex parecia gostar muito mesmo de que eu agisse assim.

Essa minha reação ainda iria render muito.

—-----------------------

Alex dormiu a noite inteira, a certa altura da madrugada, ele se virou e saiu do meu colo, me permitindo um pouco de espaço, assim eu desisti de fingir que dormia e me levantei para pegar o meu livro, resolvendo por passar o tempo lendo e vigiando o sono do meu namorado, que toda vez que respirava mais forte, fazia uma careta.

— Vão ser dias dolorosos pela frente, Surfista. – Dei um beijo nele e murmurei quando ele se virou para o meu lado e até se encolheu de dor. E para a minha surpresa, Alex falou o meu nome. De início achei que ele estivesse acordado, porque foi muito claro, mas depois de prestar atenção, vi que ele ainda dormia. E, para me deixar ainda mais espantada, ele tornou a falar e buscou por mim, sussurrando um “eu te amo”, quando eu segurei a sua mão boa. – Também te amo. – Murmurei de volta e beijei a sua cabeça.

As horas passaram pingando, eu podia ouvir cada som do corredor, o que não era nada agradável e assim que o dia amanheceu, uma enfermeira, que não era a Miss Atrevidinha, entrou no quarto.

— Bom dia! – Ela me saudou.

— Bom dia!

— E como nosso paciente passou a noite?

— Dormiu o tempo todo, mas sentiu dor, principalmente quando se mexia. – Informei enquanto ela analisava as máquinas.

 - Conversou muito com ele à noite?

— Até certa hora, sim, por quê?

— E ele estava coerente? Não gaguejou ou se esqueceu de palavras simples, ou do seu nome?

— Não. Conversou normalmente, estava um pouco mais falante, mas só isso.

— Isso são os remédios. Perguntei por conta da concussão. Vamos monitorar hoje, e se tudo continuar normal, como parece que está, podemos pensar na alta já amanhã.

— Seria ótimo. – Falei.

— Quanto menos tempo se passar dentro de um hospital é melhor. Acredite em mim, sei o que estou falando! – A enfermeira, uma senhora já, me falou. – Não vou acordá-lo, ele parece bem descansado. Mas, assim que ele despertar, me avise, que venho.

— Pode deixar. – Afirmei e ela saiu. – Deveria ter pedido um relaxante muscular para mim. – Falei sozinha enquanto tentava alongar o pescoço.

Não deu cinco minutos e meu celular começou a vibrar, olhei no visor era Dona Amelia.

— Bom dia, Dona Amelia! – Saudei minha sogra.

— Não te acordei, não é, minha querida?

— Não, pode ficar tranquila. Já estava acordada, a enfermeira acabou de passar aqui.

— E como Alex está?

— Ainda dormindo. Dormiu a noite inteira, creio que melhor do que eu e a senhora. Mas, mesmo medicado, sentiu dor. A boa notícia até agora é a de que, se tudo permanecer como está, ele terá alta já amanhã.

— Isso é bom, muito bom. E ele conversou com você sobre o acidente?

— Disse que foi um erro da coreografia da cena... – Resumi o que sabia.

— Mais nada?

— Não.

— Katerina. – Dona Amelia começou séria e eu previ que teria que convencer Alex de fazer alguma coisa.

— Sim?

— Preciso que me ajude em convencer Alex a ir para a fazenda quando ele tiver alta.

— Para a fazenda?

— Sim. Eu não o quero sozinho durante o dia. Sei que você tem que trabalhar, mas não quero que ele fique zanzando pela casa sem ninguém por perto. Ainda mais do jeito que está. Sei que ele vai ser contra a ideia, principalmente porque vai afetar a você, porém...

— É o melhor para ele, eu entendo. Vou conversar com ele. – Olhei para o dorminhoco do meu lado e passei a mão na sua cabeça.

— Sim, vai ser. E, claro, você é bem-vinda para vir para cá, porque eu sei que ele vai bater o pé exatamente nesse ponto.

— Sei que sou. Mas primeiro vamos esperar pela alta, depois conversarmos sobre isso. – Comentei.

— E você, minha querida, conseguiu ao menos cochilar? – Ela trocou de assunto.

— Não... passei a noite lendo. Mas não tem problema. Vocês vão vir visitá-lo que horas?

Minha sogra riu do outro lado.

— Previsível assim?

Foi a minha vez de sorrir.

— Não. Só estão sendo pais... os meus fariam a mesma a coisa.

— Precisa que façamos algo antes de ir?

— Bem... – Comecei, mas mordi a língua. – Na verdade, eu resolvo isso quando vocês chegarem.

— O que é, Kat? Sabe que pode nos contar...

— Sim, eu sei. Só pensando no Trio Peludo... – Soltei sem querer. – Mas vocês não conhecem os meus cachorros e Loki tende a ser um tanto imprevisível... assim, deixa que eu dou uma virada em casa e trato deles.

— Se você prefere. Saiba que não será problema.

— Pode ter certeza de que prefiro, mais seguro para todo mundo. – Garanti.

— Bem, só liguei para saber como vocês passaram a noite. Daqui a pouco chegamos aí. Vou desligar antes que Jonathan chegue e me xingue, para ele era cedo para te ligar. – Dona Amelia falou, porém tarde demais, pois pude ouvir com clareza.

— Amelia... acordou a Kat!?

— Nos vemos daqui a pouco, filha. Um beijo.

— Beijo, Dona Amelia. – Desliguei a chamada e quando olhei para Alex ele estava com os olhos abertos e me fitava curioso. – Te acordei, não foi?

— Até que não... – Ele esfregou o rosto com a mão livre. – Bom dia, Kat.

— Bom dia! Como está se sentindo?

— Como se eu tivesse caído de um prédio. E culpado, porque você não dormiu nada. – Levou a mão ao meu rosto, passando o polegar debaixo dos meus olhos.

— Não se preocupe comigo, maquiagem esconde isso. Vou chamar a enfermeira para vir te olhar.

— Já quer demonstrar que é minha dona tão cedo? – Ele brincou.

— Não sou sua dona, sou sua namorada. E pode ficar tranquilo, já é outra enfermeira. – Garanti e peguei o telefone para ligar para o Posto. Logo depois que avisei que Alex já estava desperto, desliguei a chamada e olhei para ele. – Só para te dar uma boa notícia, continue bem assim, e amanhã você terá alta.

— Então mais uma noite no Hilton, hein?

— Não reclama, você dormiu a noite inteira! Até roncou.

— Eu não ronco! – Ele protestou.

— Não só ronca, como fala também. – Comentei dando um beijo nele.

— Falei o que?

— Isso você nunca vai saber. – Provoquei-o e logo a enfermeira entrou, interrompendo a nossa brincadeira, trazendo o café da manhã de Alex e fazendo centenas de perguntas que ele respondeu sem nenhum problema.

— E como está o nível da dor? – Ela questionou, anotando as respostas anteriores na prancheta.

Ele parou para pensar, olhou para mim e falou.

— Está doendo bastante, mas, se puder, gostaria que começasse a reduzir os analgésicos.

— Posso saber o motivo de tal pedido?

— Uma hora eu vou ter que conviver com isso, não vou? Que eu comece agora, antes que meu sistema fique dependente.

A enfermeira olhou para a bolsa que estava ao lado da cama e fazendo um cálculo rápido, respondeu:

— Aqui tem soro para mais duas horas, junto com os analgésicos. Eu vou diminuir a velocidade de passagem do analgésico e do soro para menos da metade do que está agora, assim você terá quase seis horas de dosagem mínima. Vai te deixar confortável, mas a dor não vai passar totalmente. Qualquer mudança me avise.

— Sim, senhora. – Ele respondeu olhando a enfermeira fechar a passagem do analgésico.

— Seu médico deve passar agora pela manhã. E te dar um prognóstico certo sobre sua alta e os remédios que você vai ter que tomar quando estiver em casa. Tenham um bom dia e se precisarem, Ramal 02. – Disse se encaminhando para a porta.

— Muito obrigada. – Falei para ela. E assim que a porta foi fechada, me virei para Alex.

— Eu tenho um amigo que é viciado em remédio para dor. – Ele me explicou. – Não é nada bonito quando ele tem que ser internado para desintoxicação. Eu já o vi de abstinência... e disse para mim que jamais chegaria a ficar daquele jeito.

— Mas 24 horas de analgésicos não vão te fazer mal, creio que até te ajudariam a se curar... – Argumentei.

— Eu ainda vou ter que tomar mais quando for para casa... melhor ir reduzindo agora. – Bateu o pé.

— Mas se a dor piorar, Alex, a um nível que você não esteja suportando, por favor, deixe que a enfermeira e o médico decidam...

— Se isso acontecer, tudo bem. – Ele aceitou a minha proposta. – E então, acabou esse livro? – Perguntou olhando para a minha mão.

— Quase lá. E o senhor, vê se come... está há quase 24 horas sem nada no estômago!

Ele puxou a bandeja para perto de si e fez uma careta para o mingau de aveia.

— E é sobre? – Resolveu se concentrar em meu livro ao invés do que estava comendo.

Virei a capa e ele fez uma cara engraçada quando leu o título.

— O que tanto te interessa nesses temas? Outro dia era sobre As Cruzadas. Hoje As Grandes Navegações e a América Espanhola...

— Eu já te falei, adoro história! Se você está reclamando desses, que estão em inglês... quero ver sua cara quando os meus livros sobre Mitologia Nórdica, as viagens Vikings e a história da Escandinávia chegarem...

— Nenhum deles em inglês? – Perguntou um tanto desnorteado.

— Não mesmo.

— Vou nem passar perto desses...

— Mas você está aprendendo finlandês... uma hora vai poder ler. Ou vai esperar sair o filme?

Ele deu uma risada.

— Essa foi boa! Acha que eu tenho cara de Viking?

Cruzei os braços e comecei a analisá-lo.

— Se descolorir o cabelo para loiro platinado e deixa-lo crescer assim como a barba, até que dê para fazer tranças, sim.

— Então eu creio que posso me candidatar para o papel. Serei melhor de vilão ou mocinho? – Ele continuou com a brincadeira.

— Aí depende? Quem vai sofrer menos?

— Por que essa pergunta?

— Mocinho sempre sobrevive no final, mas pena durante o filme inteiro. Já o vilão... aí depende do roteiro.

— Vilão.... ele só vai morrer nos últimos cinco minutos do filme.

— Que seja o vilão! – Tive que rir. – Ultimamente é o papel que está dando mais destaque mesmo.

— Você só fala isso por conta dos filmes de super-heróis... – Alex desdenhou do meu comentário.

— Olha aqui, Traseiro da América, não critique as minhas nerdices! – Avisei.

— Será que dá para não me chamar de...

E ele teve que parar, pois meus sogros bateram na porta, para, logo em seguida, abri-la.

— Bom dia! – Minha sogra nos saudou assim que pôs o pé dentro do quarto e depois analisou ambiente.

— Bom dia! – Respondemos.

— Vejo que você está bem mais falante que ontem, Alex! – Ela disse passando por mim e me dando um abraço e um beijo na bochecha e depois indo ver o filho.

Meu sogro entrou logo em seguida, e que Deus o abençoe, ele tinha um copo de chocolate quente e um pacotinho que cheirava a croissants.

— Bom dia, Sr. Pierce! – Saudei-o.

— Bom dia, Kate! – Ele me deu um beijo na testa e me estendeu o copo e o saquinho de papel. – Para você. Sei que deve estar com fome. Como foi a noite desse aí? – Olhou para o filho que tentava explicar para a mãe o que estávamos fazendo.

— Dormiu a noite inteira. E pediu para reduzirem a medicação. – Informei e abri o saquinho, meu olfato estava certo, eram croissants. – Muito obrigada! – Agradeci de coração.

— Não há de que, filha. – Ele me sorriu e eu notei que o sorriso de Alex era idêntico ao do pai. – Alguma novidade no quadro. – Me questionou. – Eu nem vou perguntar para ele, porque Amelia não vai me deixar nem chegar perto de Alex.

Eu ri.

— O médico, Doutor Nixon, deve passar agora de manhã. Mas a Enfermeira-Chefe já avisou que se tudo correr bem, ele terá alta amanhã.

Meu sogro balançou a cabeça e colocou a mão no meu ombro, me mandando sentar,

— Coma e vá me informando.

Senti meu rosto corar na hora.

— Não tem lá muitas novidades. – Falei depois de dar uma golada no chocolate quente – que estava quente pra caramba e queimou a minha língua! – Só ele ainda está com dor e se recusa a tomar os analgésicos como uma pessoa comum. – Completei e abri o saquinho com os croissants, o que chamou a atenção de Alex.

— Ela ganha croissants e eu esse mingau ruim! O doente aqui sou eu, não a Kat. – Protestou quando eu mordi um.

— Ela passou a noite em claro tomando conta de você, tem o direito de comer melhor do que você. – Meu sogro me defendeu.

E eu, que estava com a boca cheia só concordei com ele.

— Me dá um? – Alex me pediu.

— Não. – Falei. – Sua dieta tem que ser balanceada.

Ele me lançou uma encarada daquelas.

Fingi que não vi e voltei para o meu café da manhã.

— Isso é café?

— Não, é chocolate quente. – Sr. Pierce respondeu por mim.

Alex grunhiu qualquer coisa que eu não entendi e voltou a conversar com a mãe, já eu, continuei a comer.

— Lendo isso? – Meu sogro puxou conversa.

— Sim.

E ele levantou uma sobrancelha e foi ler a contracapa.

— Sei que é estranho. – Tentei me explicar. – Mas eu sempre gostei de história.

— É formada em História também? – Quis saber.

— Não, senhor. Mas eu queria. Porém agora me falta tempo. Quem sabe mais para frente...

— Katerina... – Ele começou e eu mordi a língua, diante do seu tom de voz sério.

— Senhor?

— Nós te falamos na semana passada, estamos em família, nada de me chamar de senhor.

Eu só soube arregalar os olhos e pedir desculpas.

— É... que... bem... – Parei de gaguejar palavras sem nexo, pois Dona Amelia e Alex nos olhavam, o que resultou em meu rosto pegando fogo de tanta vergonha que eu fiquei.

— Ah! Pai! – Alex falou, chamando a atenção do pai. Algo que eu agradeci mentalmente. – A Kat tem algo para te pedir. – Agora eu matava o meu namorado mentalmente.

— Tem? O que é? – Dona Amelia perguntou curiosa.

— Nada importante, podemos conversar mais para frente. – Falei.

Alex ria do meu desespero interno.

— É sobre o escritório dela. – Alexander tinha que dar a notícia completa.

— Vai ser naquele cômodo vago da casa de vocês? – Meu sogro falou como se eu morar com Alex fosse a coisa mais banal do mundo.

— Sim. – Respondi, já que ele olhava para mim.

— Já pensou no que vai querer pôr lá? – E eu percebi que ele parecia animado em poder fazer algo.

— Mais ou menos. Eu não sou decoradora, mas tive uma ou outra ideia.

— Que é?

Levantei meus olhos para o quarto e três pares de olhos azuis me fitavam em expectativa. Sr. Pierce feliz que eu, finalmente, estava tendo uma conversa com ele e que incluía algo que ele realmente gostava de fazer. Em Dona Amelia, pude ver duas reações, curiosidade com o que eu tinha planejado e alegria, já que seus olhos iam e vinham do meu rosto para o de Alex. Já esse último, tinha um sorriso aberto, enquanto eu tropeçava com as palavras e tentava explicar o que eu já tinha imaginado.

— Deixa eu resumir isso... – Alex me interrompeu e começou a replicar o que eu já tinha explicado para ele.

— Isso vai ficar muito bom, filha! – Meu sogro me olhou. – Quando quer começar?

— Não precisa ter pressa. Quando o senhor tiver tempo!

— Pai, é o escritório dela. Tem que ser o mais rápido possível. – Alex deu o pitaco errado.

— Alex!!! – Cortei-o. – Não é urgente assim. – Tentei consertar o estrago.

Dona Amelia começou a rir.

— Kat, você vai fazer a alegria do Jonathan nas próximas semanas. Ele já estava desesperado para começar um novo projeto. E agora ele tem o que fazer.

Eu não sabia onde enfiava a cara... e nem o que dizer.

— Mas não vai atrapalhar o senhor em nada? De verdade? – Perguntei sem graça.

— Não, minha filha. Não vai. Eu só vou precisar que você venha comigo para escolher algumas coisas.

— Claro. – Respondi com um sorriso.

E eu ia continuar a falar, quando fomos interrompidos por uma batida na porta e um batalhão entrou dentro do quarto.

— Ah que merda! Você não morreu! – Matt falou assim que pôs os pés dentro do quarto. – E bom dia para o restante de vocês! – Nos cumprimentou.

E logo o restante da turma de surfistas entrou, deixando o quarto claustrofóbico.

Emilly apareceu e deu uma boa conferida no rosto de Alex.

— Quero ver ser garoto propaganda de qualquer coisa agora! – Benny gritou ao ver o roxo na bochecha de Alex. – Diz aí Garota que Veio do Norte, ele não tá mais tão bonitão assim, né?

— Benny, pode parar. – Will entrou acompanhado de Pepper e eles foram logo cumprimentando meus sogros e a mim. Pepper se espremeu no sofá ao lado do Sr. Pierce e começou a folhear o meu livro.

— Oi para você também, Benny. – Cumprimentei o mais louco dos amigos de Alex.

Um por um eles entraram e sei lá como se fizeram confortáveis dentro de um quarto de hospital. Quando dei por mim, meus croissants tinham desaparecido.

— E aí, como foi esse tombo? Porque o outro todo mundo sabe que você caiu de velho mesmo... – Grant falou e vi que ele tinha surrupiado meu café da manhã.

Alex ficou meio sem graça, afinal, pelos olhares que seus pais trocaram e pela cara de Will, ninguém ali estava sabendo do outro tombo.

— Eu não lembro. Bati a cabeça.

— Que conveniente! – Benny soltou.

Vi meu sogro se remexer desconfortável com essa frase. Pepper notou isso também e foi logo mudando de assunto.

— Você não me enviou as fotos que tirou na praia no último sábado! – Falou alto o bastante para que todos prestassem atenção em mim. Quando me virei para ela, pude ver que Alex respirou aliviado.

— Me desculpe, semana louca. Envio até segunda à noite, pode ser? Ou posso abrir uma conta em uma nuvem e todos terem acesso... creio que seria mais fácil...

— A segunda opção! – Bradaram e logo estavam falando de como estava a praia hoje. Mudando completamente o foco da conversa, que logo ficou alta quando falaram que Benny tomou aquele caldo e como o mar estava agitado – em virtude da frente fria que chegara durante a noite – a prancha dele tinha ido para o espaço.

— Eu não caí... me jogaram. – Benny contradisse.

— Sei... quem te jogou da prancha foi aquela surfista morena... – Matt deu uma risada.

— E lá vamos nós de novo... Benny está apaixonado. Pelo menos essa sabe surfar, né... – Grant falou e eu fiquei toda sem graça.

Alex fechou a expressão na hora e Will deu um chute no amigo.

— Mas tem uma coisa boa a Miss Inverno aí não surfar... ela tira fotos! E fotos muito boas, viu, Sueca.

— Finlandesa. – Me peguei corrigindo, sem querer.

— Que seja, só neva por lá mesmo. – Ele deu de ombros e eu tive que morder a língua para não falar nada de errado.

A conversa continuou para Benny e a vergonha que ele passou.

— Já que estão rindo tanto, estou precisando de uma prancha nova, podem fazer a vaquinha para me comprarem outra.

Todo mundo fez uma careta para o que ele disse. Mas vi que Alex não era de todo contra. Levantei uma sobrancelha para ele. Quando meu namorado entendeu a pergunta, só olhou para o próprio soro no braço.

Então Benny era o viciado em remédios para dor...

— Sério?! Ninguém quer me dar uma prancha nova? Então eu vou roubar a de alguém...

— Para de reclamar, Benny. – Alex falou. – Eu entro na vaquinha.

— Sabia que podia contar com o você, por isso é o bonitão da turma. – Benny brincou.

— Eu também. – Continuei.

— Garota Que Veio do Norte! – Benny veio para perto de mim e deu um beijo na minha mão. - Eu tinha o sentimento que ia gostar de você! E eu estava certo. Eu gosto de você! E das fotos que você tira!

— Vou fingir que isso não tem nada a ver com a vaquinha por uma nova prancha... – Falei.

Ele riu.

— Cara, ela é muito mais gente boa que a outra! – Benny falou e deu um tapa no ombro deslocado de Alex. – Esse aqui é o ferrado, né?

Alex só balançou a cabeça.

— Foi mal!

— Sem problemas, cara.

— Vai ficar bem? – Benny perguntou preocupado e seu olhos vagaram para o soro e os analgésicos.

— Alex só está sendo manhoso... nem dói tanto assim. – Intervi para atrair a atenção de Benny.

— Não dói!? – Alex entendeu a minha ideia e entrou na conversa. E o cômodo olhava para nós.

— Não. Eu sobrevivi a isso, e estava muito mais quebrada do que você está agora e era muito mais nova. – Desdenhei.

— Você estava em coma, Kat... não se lembra de nada.

— Epa! O que aconteceu? Bateu a cabeça em uma árvore? – Matt perguntou.

— Não. A pseudo piloto ali. – Alex começou. – Perdeu o controle de uma Ferrari e bateu em um guard rail.

— Eu nunca disse que estava pilotando uma Ferrari. E o que aconteceu foi que a barra de direção quebrou e eu virei passageira. Conte a história toda. Ou eu vou sair como a roda dura aqui. E nós sabemos muito bem quem dirige mal entre nós dois, não é mesmo?

A risada foi geral, por conta dessa frase e o intento de distrair Benny foi alcançado com sucesso, pois logo a todo mundo estava comentando seus dias de desastre a bordo de um carro. E, com isso, o volume da conversa aumentou, e não demorou para a Enfermeira-Chefe entrar e expulsar todo mundo do hospital e garantir que nenhum deles voltasse ali.

— Garota que Veio do Norte, nos mande notícias, e depois conta com detalhes essa do carro! – Benny saiu gritando pelo corredor.

— Eles são completamente malucos... – Pepper comentou rindo baixinho.

— Nem falo nada! – Will comentou acompanhando a namorada. – Mas essa história do carro é verdade?

— Pode apostar que é...

— Achei que você pilotava.

— E piloto. Mas quando o carro quebra... qualquer um vira passageiro. – Terminei o assunto no momento em que Doutor Nixon entrava no quarto.

— Bom dia! – Ele olhou para a família inteira e um tanto sem graça, pediu que déssemos licença para que ele examinasse o paciente.

Saímos do quarto e acabamos na sala de espera, a Enfermeira-Chefe nos lançava um olhar raivoso a cada trinta segundos, e nós ficamos esperando por mais de uma hora e meia, até que ela permitiu que nós voltássemos para o quarto.

Assim que entramos, Doutor Nixon se levantou e deu a boa notícia de uma única vez.

— Eu iria segurá-lo até amanhã, mas os resultados dos exames que realizamos agora me dão tranquilidade o suficiente para liberar o Sr. Pierce já agora. – Disse ao assinar os papéis da alta. – Mas aviso. Qualquer coisa anormal nas próximas 48 horas, tragam-no direto para cá e peçam para me ligarem. No mais, para você, Sr. Pierce, nada de trabalho de dublês pelos próximos dois meses. Em duas semanas você volta e, muito provavelmente poderá se ver livre da bota ortopédica e da tipoia.

Alex balançou a cabeça e o médico se despediu e a Enfermeira-Chefe entrou, empurrando uma cadeira de rodas, para retirar a intravenosa do braço do Alex. Tive que virar o rosto para não ver a agulha. Ela, que já tinha voltado ao bom humor da manhã, apenas falou antes de fechar a porta:

— E não quero te ver e nem os seus amigos barulhentos tão cedo.

— Eu vou ter que me sentar nisso aí? – Alex meneou a cabeça na direção da cadeira.

— Você tem um tornozelo imobilizado e um ombro também. Não tem como se apoiar em muletas. – Dona Amelia disse calmamente.

Eu acabei de juntar as coisas, conferi tudo e logo em seguida, começou outra discussão.

Para onde Alex ia...

Seriam longos dias os próximos.

 

[1] Atrevida!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, é isso. Espero que tenham gostado!
Muito obrigada por lerem!
Até o próximo capítulo.
xoxo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Presos Por Um Olhar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.