Fazia uma semana desde que havia terminado o meu noivado, desde então não vi mais Dante o que me deixava preocupada e saudosa, ao ponto de não conseguir me concentrar em nada, por isso havia decidido acordar mais cedo hoje e correr um pouco antes de ir para o escritório. Correr sempre me ajudava a pensar melhor, não importasse o problema que rodasse a minha cabeça e foi impossível não me lembrar do meu pai, afinal havia aprendido a gostar de corridas com ele, já que meus irmãos mais novos nunca gostaram de correr a não ser quando estavam na forma de lobo.

De repente todas as memórias que tinha dele, que represei durante meses depois que sai de casa vieram à tona como uma enxurrada, me fazendo perder o ritmo da corrida, enquanto as lágrimas caiam dos meus olhos me impedindo de ver por onde andava. Soluçando sem parar e com problemas para respirar, me apoiei em um tronco de árvore ali perto tentando me manter de pé, o que não adiantou e logo fui parar no chão, encolhida como uma bola tentando suportar a dor que estava me consumindo.

Era como se todos os erros que cometi nos últimos meses me dilacerassem ao meio, mostrando que não poderia ir contra o destino para qual havia nascido. Sem forças para lutar contra a dor, me deixei levar até que ouvi passos se aproximando me deixando assustada, pois se fosse alguma ameaça não conseguiria me defender, mas assim que senti o cheiro que se tornou tão familiar para mim nos últimos dias, meu corpo relaxou de imediato.

—Princesa, é você? - a voz de Dante soou ao longe e logo o senti perto de mim, me puxando para o seu colo e passando minhas pernas em sua cintura me abraçando, enquanto respirava com dificuldade, sendo consumida por meus próprios erros. -Kyra, por favor, tente se acalmar e respirar devagar, prometo que irá ficar tudo bem, mas preciso que tente acompanhar a minha respiração.

Fechei meus olhos e me concentrei no sobe e desce do seu peito, tentando acompanhar seu ritmo, enquanto sentia o cheiro de alecrim e cravo que emanava dele, assim que minha respiração se normalizou adormeci de exaustão em seu colo, devido ao desgaste emocional e físico pelo qual passei nos últimos dias.

—Tenho certeza, não precisa se preocupar. - ouvi a voz de Dante garantir ao longe e abri os olhos confusa, encarando o teto de madeira do meu apartamento, mas assim que me sentei no sofá percebi que os moveis distribuídos pela sala não eram meus. - Preciso desligar, depois conversamos.

—Que bom que acordou princesa, me deixou preocupado. - Dante disse desligando o celular, deixando-o em cima da bancada e se sentando ao meu lado, enquanto me olhava preocupado como se estivesse em busca de alguma explicação para o meu mal estar. - O que aconteceu Kyra? Porque estava sofrendo daquela forma na floresta?

Suspirei e balancei a cabeça em negativo, pois não queria falar sobre os meus problemas familiares com o meu imprinting, ainda mais quando mal nos conhecíamos e ele nem tinha ideia do que eu era. Perceber que estava mentindo, para a única pessoa que deveria falar a verdade fez uma nova onda de choro me dominar, sem dizer uma palavra Dante me puxou para os seus braços me deixando chorar em seu peito, enquanto acariciava meus cabelos de leve.

—Obrigada por ter me trazido de volta. - agradeci com a voz rouca, assim que parei de chorar e me separei dele.

—Tem certeza que está tudo bem? Você me deixou preocupado, quando a encontrei na floresta praticamente desacordada enquanto estava correndo, por isso decidi trazê-la para o meu apartamento, sem nenhum tipo segundas intenções. - Dante disse e sorri do seu comentário, por perceber que ele estava nervoso ao meu lado, não se parecendo em nada com o homem que sempre me paquerava quando tinha oportunidade.

—Tenho, não precisa se preocupar. - disse sincera olhando em seus olhos e ele sorriu com carinho para mim, antes de acariciar meu rosto com o polegar.

—Sempre vou me preocupar com você, Kyra. - ele admitiu sincero e meu corpo se arrepiou, diante do seu olhar e do seu carinho.

Seguindo meus instintos, que imploravam desesperadamente para estar novamente nos braços do meu macho, me sentei no colo de Dante sem desviar os olhos dos seus e acariciei a ponta do seu nariz com meu, sentindo seu cheiro de alecrim e cravo descendo até o seu ombro, intercalando meus carinhos com beijos que o faziam gemer de prazer em meus braços, mas antes que pudesse beijá-lo, ele me afastou me deixando frustrada por sua ação.

—Por mais que esteja gostando disso e Deus sabe o quanto estou, não podemos fazer isso. Isso é tão errado...Mas ao mesmo tempo, parece tão certo...- Dante disse torturado e o silenciei com um beijo carinhoso, me afastando em seguida para olhar seus olhos cor de avelã.

—Por favor, não se sinta culpado por estar sentindo algo por mim, sei que não começamos de uma maneira tradicional, mas eu gosto muito de você, Dante. Se o fato de que estou noiva esteja lhe incomodando não precisa mais se torturar por isso, porque terminei meu noivado com o Pietro a uma semana atrás. - expliquei e ele arregalou os olhos surpreso o que me fez rir, afinal, sabia que seu Bartolomeu havia espalhado a novidade pelo prédio inteiro e seria difícil esse assunto não ter chegado ao conhecimento de Dante.

—Me perdoa, se não tivesse te beijado... - Dante disse culpado e balancei a cabeça negando, enquanto segurava seu rosto em minhas mãos.

—Você não teve culpa de nada, Dante. Meu relacionamento com o Pietro, jamais daria certo e sabe porquê? - questionei com a voz suave sem deixar de olhar nos seus olhos.

—Porque? - ele sussurrou baixo enquanto seu coração acelerava, comprovando que ele estava tão envolvido quanto eu no momento.

—Porque ele não era você...E esperei muito por você, Dante. - segredei para ele antes de beijá-lo de forma lenta, provocando-o em alguns momentos e sorrindo ao ouvi-lo gemer de prazer, entregue aos meus carinhos.

Pela primeira vez na vida me senti completa, como se o vazio que sempre existiu em mim, o qual sempre busquei preencher com meus relacionamentos anteriores, finalmente tivesse achado a peça certa para preenchê-lo, da qual jamais queria me separar agora que a havia encontrado, mas antes que pudesse aproveitar mais os seus beijos ele se separou de mim me deixando confusa.

—O que foi? Por acaso te deixei desconfortável com algo? - questionei confusa, afinal seu corpo dizia uma coisa e o seu rosto outra, me deixando sem saber o que pensar sobre o que devia estar se passando em sua mente e no seu coração.

—Não, você não me deixou desconfortável, é só que...Isso que está acontecendo entre nós, está indo rápido demais, nós mal nos conhecemos. Não acha que deveríamos colocar o pé no freio um pouco? - Dante pediu e meu coração se partiu com suas palavras, como se ele estivesse rejeitando a ideia de ficar comigo.

Magoada e ofendida, me levantei do seu colo disposta a sair do seu apartamento o mais rápido possível, pois não daria a ele o prazer de me ver chorar por ter sido rejeitada.

—Princesa, onde você vai? - ele questionou se levantando do sofá e segurando minha mão, me impedindo de caminhar em direção a porta.

—Vou para casa. Obrigada por ter me ajudado e não se preocupe Dante, pois não irei mais insistir em termos qualquer tipo de envolvimento. -assegurei com a voz embargada e ele me olhou culpado.

—Kyra, não foi isso o que quis dizer, por favor, me deixa...- Dante começou a dizer e balancei a cabeça negando, enquanto me soltava dele.

—Adeus, Dante. - disse com a voz rouca e caminhei apressada para fora do seu apartamento.

Assim que estava na segurança da minha casa, me encostei na porta da frente e comecei a chorar de dor, por tudo que havia acontecido na minha vida. Por todas as escolhas erradas que fiz, mesmo que elas tivessem me levando em direção a Dante, só que o meu imprinting não estava nem um pouco interessado em ter algo comigo e saber disso partia o meu coração de forma esmagadora.

Depois que consegui parar de chorar, me levantei do chão do meu apartamento e tomei um banho para ir ao escritório, no qual trabalhei de forma mecânica, sem prestar atenção em nada, pensando apenas em tudo que havia acontecido hoje. Sem perceber olhei para a foto que estava em cima da minha mesa, na qual estava com meus pais e meus irmãos mais novos comemorando o último aniversário de Zoe, minha irmã caçula, e senti uma vontade esmagadora de vê-los...De poder abraça-los, dizer o quanto sentia a falta deles e o quanto os amava, e principalmente pedir perdão por tudo que havia feito no passado.

Decidida me levantei da cadeira que estava, peguei minha bolsa colocando todos os documentos nos quais estava trabalhando, antes de pegar meu casaco e sair da minha sala parando perto da mesa de Jane, minha secretária.

—Jane, estou indo para La Push, provavelmente não voltarei mais hoje. Se Steve perguntar por mim, diga a ele que estou no celular e que assim que chegar em casa, enviarei os contratos revisados para o seu email. Se quiser, pode ir para casa, pois não precisarei mais de você por hoje. - expliquei a ela, pois não poderia sair no meio do expediente sem deixar uma justificativa para o meu chefe se o mesmo perguntasse por mim, enquanto estava fora do escritório.

—Claro, Kyra, não se preocupe. Está tudo bem, com a sua família? - ela questionou preocupada, afinal, Jane sabia que La Push era a minha cidade natal e que minha família ainda morava lá, ela só não sabia que havia rompido relações com eles, depois que aceitei a ideia estupida de ficar noiva de Pietro.

—Sim, só fiquei com saudades deles e decidi vê-los. - disse sincera e ela sorriu concordando, me desejando um bom almoço e fiz o mesmo, antes de sair do escritório de advocacia Colin & Associados onde trabalhava, andando em direção ao local onde havia deixado meu carro.

—Você consegui, Kyra. - sussurrei para mim mesma e respirei fundo ligando o carro, entrando em seguida na rodovia que me levaria em direção a La Push.

Como não estava no horário de pico a estrada estava livre, me permitindo chegar mais rápido ao meu destino, assim que estacionei na porta da minha casa, meu coração acelerou enquanto descia do carro entre lágrimas. Com o coração acelerado, caminhei em direção a entrada e logo ouvi sons de risadas conhecidas vindas do jardim nos fundo da casa, decidida caminhei até lá passando pelo portão de ferro que havia ali e sorri emocionada ao ver meu pai, correndo atrás da minha irmã caçula que se escondia atrás das árvores, me fazendo lembrar de quando ele fazia o mesmo comigo. Até que ele me viu e parou de correr, provavelmente surpreso em me ver ali.

—Kyra? -ele sussurrou sem acreditar que estava na sua frente.

—Oi, papai, será que poderíamos conversar? - supliquei entre lágrimas olhando em seus olhos.