Fred POV

Eu precisava me afastar de Hermione. Não sabia exatamente o que aconteceria se ficássemos sozinhos novamente em um quarto. 

Hermione poderia ser madura para sua idade em muitos aspectos, mas eu não desejava que ela perdesse essa parte boba da juventude de se apaixonar e namorar alguém em Hogwarts. Também não queria que ela tivesse isso com algum babaca sem me ter por perto para cuidar dela… Agora é claro para mim que Rony devia ser essa pessoa. Se mesmo após ter sua chance com sua primeira paixão e se… Bem, não morrermos até que ela complete seus estudos em Hogwarts, então neste momento eu iria até onde quer que ela estivesse e prometeria nunca mais sair do seu lado. Mas até lá, por mais que me doesse e tenho certeza que ela não aceitaria se soubesse o motivo, eu teria de enganá-la, quem sabe até partir seu delicado coração.

Meu trabalho com Jorge continuava. Os últimos a desaparecer foram Florean Fortescue e Olivaras. Depois que contratamos Vera para ajudar na loja, ficou mais fácil sairmos para nossas investigações.

—É realmente um excelente imóvel, não é, Senhor Weasley?

— Só posso concordar, Senhor Weasley! Quase posso ver uma cascata de poção do amor no lugar dessa estante. Temos um mês para fazer uma oferta, certo, senhor…

— Epsyn, senhor WeasLey. Se a oferta dos senhores cobrir a dívida da família Olivaras, Gringotes passaria a escritura diretamente a vocês, caso contrário, levaremos o lugar a leilão. 

— Senhor Epsyn, podemos dar uma olhada com mais privacidade? Temos certos critérios que não podemos revelar… Tem a ver com o desenvolvimento de certos logros espaciais ainda não lançados… Você entende, certo?

—Claro! Senhor Weasley, Senhor Weasley! Será  um prazer fazer negócios com vocês futuramente.

O duende saiu da loja.

No instante seguinte, fomos procurar pistas.

Assim como na loja de artigos esportivos e na loja de logros, encontramos livros  numa estante no canto com estranhas runas entalhadas na primeira página. Haviam também marcas de garras de lobisomens por toda parte, principalmente próximo à estante, como se alguém estivesse próximo a ela quando o ataque aconteceu. 

Nem mesmo Hermione encontrou relações entre as runas. Tonks foi enviada para nos dar suporte e levou os traços para uma bruxa da Ordem analisar, mas nada foi descoberto, exceto que pareciam ser feitas pela mesma pessoa, mesmo que os livros onde se encontravam as runas não parecessem ter qualquer ligação, todos de autores diferentes.

Fomos em seguida na sorveteria do Florean. 

Neste ficamos ainda mais indignados, pois não ouvimos movimentação a  noite, mesmo dormindo tão próximos. Soubemos apenas pela manhã que a sorveteria estava também revirada e o senhor Florean foi “levado” ou no pior dos casos, morto.

A sobrinha do Florean, Charlote Fortescue, era uma medibruxa que trabalhava em Bruxelas e voltou para Londres a nosso pedido para que pudesse permitir nossa entrada na loja.

—Os senhores realmente pretendem comprar essa loja?

—Claro, senhorita Fortescue! É realmente um excelente imóvel, não é, Senhor Weasley?

Foi a vez de Jorge falar e em seguida respondi:

— Só posso concordar, Senhor Weasley! Quase posso ver uma cascata de poção do amor no lugar dessa estante. Então, Charlote, sua família realmente preferiu vender a loja ao invés de, bem, esperar notícias?

— Não me levem a mal, senhores Weasley, mas só meu tio que já era meio senil para insistir em abrir a loja sabendo dos ataques. É óbvio que ele estava correndo risco e até o ministério já deu o caso como encerrado. Não há mais nada a se fazer, exceto tentar recuperar um pouco do gasto que tínhamos em ajudar o velho Fortescue em manter aberto essa sorveteria. Tudo está à venda, senhores!

—Inclusive os livros? - Inclusive os livros?

Perguntamos simultaneamnete.

—Certamente! São velharias do vovô e seu saudosismo desnecessário… Desculpe a intromissão, mas vocês não parecem leitores ávidos. Com um negócio tão próspero, o que poderiam querer com esses livros velhos?

A moça a nossa frente parecia caçoar de leitores. Gostaria de ver o que minha querida sabe-tudo diria nessas cirscunstâncias.

—Sabe de uma coisa, senhorita Charlote? Vamos querer todos os livros. Acredito que estes galeões sejam mais que suficientes por essa “velharia” - Respondi ríspido e lhe joguei as moedas - Podemos olhar o local sozinhos? Acredito que sua presença atrapalharia nossos negócios. 

Charlote me olhou a contra-gosto, mas concordou em sair. Era uma moça bonita, se fosse o Fred de outra época, não perderia a oportunidade de flertar com uma beldade dessas, mas depois que se conhece Hermione Granger, alguém com falta de…. Inteligência e respeito ao conhecimento já não consegue mais chamar minha atenção.

Recolhi todos os livros e Jorge ficou me olhando zombeteiro.

—Pelo visto aprendeu com Hermione sobre esse apego aos livros. Tem certeza que já conseguiu superar a amiga do nosso irmãozinho? Se ela te ver com esses livros em mãos, é capaz de te dar um beijo instantaneamente.

— Apesar da ideia tentadora, eu passo, Jorge.

Folheei os livros e praticamente todos estavam marcados de runas, definitivamente em maior quantidade que nas demais lojas. Além disso, as quantidades de marcas de  garras pareciam nitidamente estar em maior proporção. Jorge também achou isso suspeito, mas teríamos de analisar depois. 

Papai avisou que esta tarde trariam Harry para o Beco Diagonal e é claro que iríamos receber nosso grande patrocinador!

Hermione deveria estar com ele e isso me deixava ligeiramente nervoso. Não nos vimos desde que quase transamos e não fui a pessoa mais comunicativa com ela sobre o assunto, na verdade, aquela possibilidade me deixou sem palavras e pensei que seria mais fácil deixar Hermione se eu não falasse mais sobre isso. Claramente isso não foi uma boa ideia.

***

Logo vimos uma movimentação incomum na entrada da loja. Como conseguimos deixar nosso feitiço anti-roubo menos chocante (os ladrões não são mais enfeitiçados com levicorpus), a explicação mais provável é a chegada do “Eleito” em nossa loja.

Jorge foi falar com papai sobre alguns pontos com maior incidência de amuletos falsificados que detectamos e eu me dirigi até onde Harry e Hermione se encontravam. Ela estava com cabelo solto, de costas para onde eu estava, mas podia imaginar seus olhos atentos lendo a embalagem do Feitiços Patenteados para Devanear,lembro como é irresistível o jeito que acaba mordendo os lábios enquanto concentra sua atenção em algo.

—Um encantamento simples e você entrará em uma Devaneio altamente qualificado, fácil de usar, compatível com a lição média de escola e praticamente indetectável, efeitos colaterais incluem expressão vaga e talvez baba. Permitido somente para maiores de dezesseis...Sabe, Harry, isso realmente é uma magia extraordinária!

—Já que é assim, Hermione, pode ter um de graça.

Nossos olhos se encontraram, foi como se todo o ar a minha volta desaparecesse por um instante. Dezenas de pensamentos passaram por minha mente, dos mais obscenos ao mais constrangedores, logo fui obrigado a desviar o olhar.

—Como vai, Harry? - Falei estendendo a mão para o bruxo e em seguida, como se um Lembrol se iluminasse, olhei novamente para Hermione e notei seu rosto machucado - O que aconteceu com seu rosto, Hermione?

— Bati no seu telescópio.

Ela respondeu com um olhar magoado, não parecia estar magoada apenas com o machucado, com toda a razão.

—Nossa, esqueci eles na Toca! - Peguei no bolso um potinho com nossa receita especial de removedor de machucados, parecia uma pasta amarela viscosa, mas muito eficiente. - Passe no seu olho e o machucado desaparecerá em uma hora. Pense nele como uma versão melhorada daquela essência que fizemos ano passado. Jorge e eu testamos nossos produtos em nós mesmos, então tivemos que dar um upgrade em produtos de primeiros socorros.

— ...Posso confiar em você?

Ela definitivamente estava magoada.

—Claro, Hermione… Venha, Harry, temos uma seção especial para te mostrar!

Saí de lá o mais rápido possível, acho que não aguentaria ouvir Hermione falar assim comigo sem poder falar francamente com ela. Levei-o para a seção de produtos trouxas que parecem com magia.

—Fraudes de magia de Trouxas! Para os esquisitos, como Papai, você sabe, que amam materiais de Trouxas. Não tem uma grande venda, mas nós podemos manter alguns produtos e realmente tem pessoas que estão comprando artefatos trouxas.

—Harry! Aí está você! - Foi Jorge quem apareceu - Você precisa ver nossa seção aqui nos fundos, é uma linha mais séria de produtos mágicos, basicamente Defesa contra Artes da trevas.

— Não são como aqueles amuletos fajutos que estão vendendo nas ruas.

— Aprendemos muito com você, Harry. Só tivemos que dar um toque especial Weasley para fazer algo que desse para vender.

— Colocamos feitiços de escudos em chapéus, capas…

— Escudos, luvas….

— Você não tem ideia de quantos pedidos o Ministério da Magia fez para pode equipar o pessoal de apoio! Aliás, Fred, será que pode ir lá em cima e ver se acha os recibos da última compra? Precisamos enviar pelo papai pro Ministério…

Considerando que eu já havia entregado o recibo pro Jorge essa manhã, soube instantaneamente que aquela fala era uma desculpa para me dispensar e eu poder falar com uma certa morena com um olho roxo…

Me despedi do Harry, disse que poderia levar qualquer coisa da loja de graça e saí em busca de uma cabeleira no meio da multidão. Encontrei-a do lado de Gina, perto das poções do amor. Gostaria de dizer a ela que não precisa de nem um mililitro de poção para encantar qualquer garoto de sua escolha, mas me contive.

—Interessadas em poções, senhoritas?

—Funcionam?

Foi Gina quem perguntou cética.

— Com certeza! Podem funcionar por até 24 horas, dependendo do peso da pessoa enfeitiçada… E os encantos da menina - olhei de relance para Hermione que estava corada - Mas pelo que fiquei sabendo, você não precisa de poção, Gina. Já está com 5 caras no seu pé.

— O que o Rony disse é uma mentira idiota, Fred. O que é isso?

Gina falou apontando para um pontinho cor de rosa.

—Produto anto-espinhas. - Olhei novamente para Hermione e desta vez me encarava, ambos viramos o rosto na hora - Mas você está saindo com Dino Thomas?

— Sim. E essas coisinhas fofas?

— São Sopros de Pigmeu, quase não precisam de comida… - mais uma olhada para Hermione-... E Miguel Corner?

— Eu dei um fora nele, era um perdedor.

— Você não acha que troca de namorado muito rápido, Gina?

— E VOCÊ NÃO ACHA QUE DEVERIA ESTAR CONVERSANDO COM HERMIONE AO INVÉS DE ME ENCHER O SACO, FRED? Subam vocês dois, eu dou uma desculpa se Harry e Rony aparecerem te procurando….

Hermione fez uma expressão de desagrado, mas fez o que a amiga sugeriu. Segundos depois, estávamos no quarto acima da loja.

Hermione fechou os olhos e respirou fundo, seu habitual gesto para se acalmar.

—Hermione… - Fred, eu…

Sorri.

—Pode falar, Hermione…

— Na verdade eu quero ouvir você falar. Falar sério. Você mudou, começou a me tratar de um jeito… distante, como se… Como se… -“Como se não te amasse mais” foi o que imaginei, mas o que o ouvi foi-  Como se quisesse fingir que nada aconteceu entre nós. É isso mesmo, Fred? Eu que não me toquei que era para agir como se nada tivesse acontecido, ou pior, nada aconteceu mesmo e eu que sou boba de achar que signifiquei algo para você…

— Não, Hermione. Você não é boba ou insignificante. Você é maravilhosa, o ser mais extraordinário que já conheci! - “foco, Fred” disse uma voz em minha cabeça - mas nós já prolongamos demais nossas despedidas. Aquela foi a última, de verdade. Terminou na hora certa, sem que eu  - “chegasse em um ponto em que eu morreria de saudade se você estivesse longe por um minuto” - fizesse algo com você que poderia fazer você se sentir mal…

— Fred, se afastar assim foi que me fez mal! Eu passei tanto tempo pensando que havia algo de errado comigo, que você… Tinha se enganado em achar que gostasse de mim...Comecei a fazer listas sobre coisas que poderiam ter feito errado…

— Hermione. - Coloquei as mãos em seus ombros, a morena estava quase chorando e eu não suportaria vê-la chorando por eu fazer besteira - Você não fez nada de errado. Eu fiz. Eu não conversei direito, eu fui o babaca e você não merecia isso… Você merece alguém para te fazer se sentir bem, alguém que esteja em seu lado, que te faça sorrir - toquei delicadamente em sua bochecha formando um sorriso, o que arrancou uma risada dela - viu? Bem melhor assim, sorrindo ...

Hermione me encarou, como se transmitisse todo o sentimento guardado em seu peito.

—...Mas eu não sou esse cara, Hermione. Não com você em Hogwarts e eu aqui. Eu estou procurando um jeito de passar a página e eu deveria ter sido sincero com você, dito para você fazer o mesmo… Quem sabe… Quem sabe devesse dar uma chance a certos sentimentos que eu sei que você guarda com você. Por outro… - quase engasguei para dizer isso - por outro Weasley.

— Rony? Mas ele não… Ele não…

— Sente o mesmo? Hermione… Nós dois sabemos que sim. Ele só precisava amadurecer. Talvez devesse começar a cogitar essa possibilidade. Ele gosta de você… E um passarinho idêntico a mim disse que ele está procurando dicas de como pedir uma certa morena em namoro… Do jeito certo. No tempo certo. A gente começou tudo ao contrário, você merece ter uma experiência de uma adolescente normal. Com um rapaz interessado, que te chame para sair.

— O clássico Hogsmead - dedos de mel - Madame Puddifoot?

— O clássico. Você merece experimentar o clássico. Como uma princesa.

Ela sorriu, viajando nas memórias como eu.

—Na verdade, não gosto de títulos monárquicos sem valor democrático.

— Como devo lhe chamar então? Minha cara ministra? Minha presidente?

— Hermione está bom.

— Combinado, então. Hermione.

Eu não disse “minha Hermione”, o que conseguiu diminuir seu sorriso. Com muito esforço, dei-lhe apenas um beijo na bochecha. Disse para descer e dizer que estava no banheiro, eu desceria depois.

Hermione também me deu um beijo na bochecha e pediu que eu não fingisse ser outra pessoa nas nossas conversas. Que ela falaria sobre Rony se eu achasse que está tudo bem. Que podemos ser amigos. 

Amigos.

Pensar em Hermione apenas como amiga me dava uma sensação amarga nos lábios, mas é isso que adultos fazem, tomam decisões amargas.