Reinado das flores escrita por Isabella Cullen


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por mais uma recomendação cheia de palavras lindas. Obrigada por lerem.



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— Bom dia senhor. – Harry entrou no escritório com as cartas em mãos. Eu já tinha tomado café sozinho mais uma vez, em dois dias era difícil ver Isabella apesar de sempre saber onde ela estava. Eu lembrei da conversa que tivemos e tentei não ser muito insistente com minha presença, ela tinha seus próprios hábitos e penso que eram incomuns.

— Notas e felicitações. – ele entregou os pequenos envelopes e percebi que haviam outras em suas mãos.

— E esses?

— São para a condessa. – eu o olhei. Eram bastantes cartas. Papéis e tamanhos diferentes.

— Ela recebe muitas cartas? – perguntei me ajeitando na cadeira. Era nova, percebi isso ontem quando Harry comentou que o escritório também havia sido reformado. Estava muito mais confortável, tinha bebidas e charutos de ótima qualidade com um sabor muito único.

— Esses dias tem chegado mais, penso que ela tenha informado a atual residência aos seus amigos.

— Sim... posso ver?

Ele me entregou e vi cartas das maiores universidades do mundo. Me surpreendi como eles conseguiram a achar tão rápido, mas pelo nome ela não tinha ainda informado o casamento.

— Black não é um sobrenome francês. – comentei lendo o nome dela completo Isabella Marie Black.

— Marie é.

— Mas esse é o nome dela. – falei frustrado. – Ela tem parentes na França?

— Não chegou nenhuma carta vinda de lá senhor.

Me deparei com uma então que muito me chamou atenção.

— Quem seria George Eliot? – era uma carta de Rosehill. Progressistas moravam lá. Ideias muito modernas e um centro de muito debate, isso não soava bom.

— Peça para Isabella vir.

Harry saiu imediatamente e respirei fundo querendo acalmar algo em mim que se agitava, ela estar envolvida com progressistas não poderia ser visto com bons olhos. Talvez antes... Jacob não se importava com quem sua esposa se correspondia? Com sua reputação ou até mesmo seus amigos? Ele era um homem inteligente demais para deixar Isabella se envolver com pessoas de má reputação. Ela vinha de uma família tradicional, como ela conheceu esse George?

Ela entrou com um vestido mais uma vez sem qualquer volume, apenas era um tecido mais pesado devido ao clima. Sua cor era de um amarelo claro, mas tinha detalhes bonitos nas bordas, ela parecia estar um pouco ofegante.

— Me chamou? – ela estava com seus cabelos com aqueles coques que não prendiam direito seus cabelos. Me deu vontade de perguntar de onde ela vinha.

— Gostaria de conversar sobre um assunto.

— Oh sim.. vou lavar as mãos. Estava trocando as plantas de vasos. – disse animada – Elas cresceram tão rápido que teremos que encomendar maiores mais rápidos do que imaginei.

— Imagino que isso seja bom. – falei tentando não sorrir de sua alegria.

— Isso é excelente. Os novos compostos...

Então ela parou. Me olhou e sorriu contida.

— Vou lavar as mãos.

E saiu. Isso foi no mínimo estranho. A mudança radical de uma Isabella animada e feliz para a Isabella contida e comedida. A Isabella que eu conheci com mamãe, a viúva de bons modos e educada.

Olhei a carta mais uma vez querendo que a conversa não se transformasse em algo péssimo, por que eu não queria isso? Ela entrou claramente mais composta, seus cabelos mais arrumados e Leah vinha atrás com uma bandeja.

— Vou servir chá para a condessa senhor.

— Claro...

— Ela precisa se alimentar melhor, trouxe uns biscoitos que Lauren fez com muito cuidado.

— Agradeça a ela e diga que amo esses biscoitos.

Leah sorriu satisfeita e saiu com um ar muito satisfeito. O conjunto de chá era muito diferente, tinha diversas flores e pintada com esmero.

— Bonito esse conjunto de chá.

— Foi um presente. – disse servindo de forma diferente.

— Tem um cheiro muito agradável.

— É uma mistura de especiarias indianas. Esse cheiro é de canela. Muito bom para diversas funções do nosso corpo.

— E você toma sem nada? – falei a vendo tomar um pouco.

— Sim, o açúcar estraga o gosto.

— Sim. Imagino que sim.

Esperei ela comer pensando como Leah falou em seu tom de preocupação, ela tinha modos impecáveis. O cheiro era muito agradável.

— Os charutos que estão no escritório são muito bons.

— Don Jaime Partagas abriu uma fábrica e me enviou amostras. Que bom que gostou.

— Partagas?

— Sim, um espanhol muito desbravador devo dizer.- disse tomando mais chá – Abriu uma fábrica em uma parte do que antigamente chamamos Novo Mundo.

— Nas Américas? – perguntei surpreso.

— Sim, são charutos muito naturais e muito menos agressivos aos pulmões. Ele mesmo tem muito um artigo muito bom falando sobre a qualidade do fumo.

— E você o conheceu...

— Na Índia. Ele foi conversar um pouco sobre ervas e nós tínhamos algumas amostras.

— Então ele foi estudar sobre o que queria para sua fábrica?

— Sim, ele queria que o fumo fosse uma arte e não apenas um hábito. Quanto mais natural, mais sabor e menos o cheiro incomoda. Não se incomoda com o cheiro forte desses charutos?

Ela pareceu de repente muito interessada no assunto.

— Não. Mas cresci sentindo esse cheiro... posso ter me acostumado de alguma forma.

— Talvez... temos a tendência de nos acostumar com aquilo que fomos criados. – deu os ombros – O que queria falar?

— Oh sim. Chegaram suas correspondências. Devo dizer que olhei.

Ela me olhou estranhando.

— Eu vi que eram muitas e pedi a Harry para ver.

— Devem ter finalmente ficados aliviados por terem me encontrado. – disse divertida.

— Sim... imagino... E me surpreendi com a quantidade de universidades.

Mostrei a ela algumas e ela as pegou abrindo e lendo rapidamente. Fiquei admirado com sua facilidade de ler cada uma com interesse e rapidez.

— Oh sim... alguns estudos estão comigo.

— Estudos?

— Tenho alguns estudos de Jacob comigo, eles foram informados desses artigos, estudos e amostras de novas plantas que chegaram. – pela primeira vez não via a viúva. Parecia que isso não estava relacionado ao luto, mas não deveria?

— Imagino que não seja fácil lidar com isso. – perguntei, mas ela lia agora uma carta vinda da Alemanha.

— Preciso apenas de mais tempo para organizar tudo, são muitos estudos diferentes e visões complemente distintas das que existem. Precisarei de pelo menos mais alguns meses para colocar tudo de maneira que possa enviar para comunidade biológica para análise.

Eu a olhei. Ela não parecia triste, era como se fosse comum a ela.

— Então Jacob deixou muitas coisas.

— Sim, para uma vida inteira devo dizer. – ela disse distraída, dessa forma ela soltava palavras sem pensar muito.

— Ele era muito bom no que fazia pelo que soube.

— Diziam isso, mas estudos anteriores não podem ser descartados. – disse olhando outra carta – A ciência é uma progressão. Não podemos apenas descobrir, é necessário ler e estudar muito para termos base para uma nova descoberta, todos que vieram atrás de nós tem a mesma importância que você. Sem eles não seria possível nem ao menos ter do que discordar.

Isso parecia quase uma fala ensaiada. Como se ela falasse isso cotidianamente.

— Sim. E ele estava focando em qual área?

— Ervas medicinais. Na Índia, tudo é por meio natural. – ela lia uma com mais interesse – As mulheres detêm um conhecimento muito antigo sobre ervas naturais, suas formas e maneiras de fazer. A mesma erva, especiaria ou flor tem uma função e uma forma de fazer com objetivos com objetivos completamente diferentes. É algo espetacular.

E então ela estava ali novamente. A Isabella das flores, plantas e ervas. Ela abria outra carta e não percebia a que estava na minha mão.

— Ficou muitos anos na Índia?

—Não o suficiente. – disse sorrindo.

— Sente falta?

Ela parou e me olhou. Seus olhos azuis brilhando mais do que nunca. Então voltou a tomar seu chá.

— A Índia é tão magnífica com suas cores, cheiros e sabores Edward que não consigo imaginar um lugar tão mágico.

— Difícil de ser cristianizado pelo que soube por um amigo.

— Por que precisam mudar as pessoas? Por que não podemos simplesmente aceitar que elas são como são?

— Suas almas não precisam ser salvas? – perguntei nem mesmo acreditando naquilo.

— O que é salvação? Na Índia tinham lendas sobre outras vidas, sobre a vida ser um renascimento constante e que tudo era parte de um todo. O branco simbolizava o luto. Tinham verdadeiros hábitos impressionantes, mas costumes assustadores. Deuses e deusas milenares que até hoje mesmo depois de toda modernidade eram adorados. Por que não podemos aprender com eles em vez de mudar uma cultura milenar?

— Porque talvez como mesmo disse esses hábitos fossem assustadores.

Ela sorriu.

— Matamos cristões, expulsamos católicos, criamos uma nova Igreja, queimamos mulheres as chamando de bruxas. Tivemos um período de ignorância dominado pelo medo de um demônio que possuía crianças e mulheres. Vivemos por anos com medo de banhos e desavenças sobre o prazer. – isso não era uma fala de uma mulher – Na índia o prazer é venerado, são presente dos deuses ao homem e a mulher que ao se amarem com tanto prazer geram uma criança feliz e muito saudável. Me diga Edward, também não fomos medievais queimando mulheres e expulsando nossos supostos inimigos religiosos para as colônias?

— Deus Isabella como aprendeu isso?

— Isso se chama história Edward, nunca leu nenhum livro sobre história antes?

— Claro que sim.

— Mas não está acostumado a pensar sobre isso ou ouvir uma mulher falar sobre isso?

Como ela tinha esse poder sobre mim? Poder de me desconsertar e ao mesmo tempo me deixar mais curioso. Ela estava tomando o chá com calma como se entendesse todo o meu dilema interno.

— Recebeu outra carta. – eu a olhei antes de entregar. Ela pôs a xícara delicadamente sobre o pires. Entreguei a ela e ela dessa vez não abriu. Apenas leu o nome e colocou em seu colo.

— Pessoal demais imagino. – meu tom deve ter sido firme para ela se ajeitar e me encarar como se estivesse preparada para uma batalha.

— Sim, muito pessoal. – disse apenas.

— É de Rosehill.

— Sim. – respostas curtas.

— Não preciso explicar como é importante não termos envolvimentos com progressistas que podem causar verdadeiros alvoroços em nossa convivência.

Pronto, nesse momento ela abriu um sorriso de alguém tão maduro e experiente.

— Não precisa, eu sei meus deveres.

— E esta carta não afetaria isso?

— De forma alguma coisa. É apenas uma carta.

— De um homem.

— E isso o incomoda?

— Um homem progressista que pode nos causar...

— Garanto que não causará.

— Não pode afirmar isso Isabella.

Ela então abriu a carta para minha total surpresa.

 

 

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