Capitulo 1 – O concerto 

"As melhores coisas da vida acontecem por acaso." 
Procurando Dory 

No campus não se falava de outra coisa a não ser esse concerto do tal Edward, duvido muito que ele seja tudo isso que dizem. Provavelmente mais um garotinho rico, que foi estudar fora e por ter um rostinho bonito agora ficou famoso. Esqueci isso Bella, você tem mais problemas pra se preocupar do que a  babação de ovo pra um artista qualquer. Me sentei em uma dar arvores no gramado do campus em busca de uma sombra enquanto espero Alice sair da aula dela. 

Meu celular não parou de tocar desde que sai de casa, já perdi as contas de quantas ligações perdidas de minha mãe tem. Olho para visor onde tem algumas mensagens que ela não para de mandar. 

Bella por favor me ligue. Temos um jantar marcado nesse fim de semana. Jacob vai estar lá, é uma ótima oportunidade pra vocês ficarem mais próximos. A mãe dele está muito feliz com a ideia do nosso arranjo, vocês formaram um casal lindo. Me ligue assim que der pra gente combinar os detalhes do jantar.  

Mamãe. 

Jacob é meu primo de quarto ou terceiro grau eu acho. Apesar de passarmos muito tempo brincando quando criança, na adolescência Jacob se mudou com sua família pro exterior onde seu pai tinha aberto uma empresa também do ramo financeiro, e então nos víamos raramente em festas e eventos que meus pais davam, os qual eu depois de um tempo parei de ir. Soube pelos meus pais que fizeram questão de me dizer que ele está se formando em administração com méritos e bla bla bla.  Não tenho nada contra ele, mas somos diferentes, e ele é meu primo, jamais o vi de outra forma. Sei que ele será um ótimo marido e bem-sucedido no mundo dos negócios. Mas eu absolutamente não estou pronta pra me casar, e ser uma boa esposa. Não sei nem se quero. Eu tenho apenas 21 anos, ele não é muito mais velho do que eu, acho que ele tem uns 24 anos, ele ta se formando, eu ainda to no meio do meu curso, quero viajar, quero conhecer e fotografar lugares que eu nunca fui, ou revisitar com outros olhos.  

Vou pensar em alguma outra desculpa pra faltar a mais um desses jantares, alguma outra doença, ou que eu comi algo estragado deve funcionar. Já estou ocupada demais com os trabalhos da faculdade, o meu emprego de meio período que quase não da pra me sustentar e pagar minha parte do aluguel. Não que eu fizesse questão, mas meus pais cortaram toda a ajuda financeira numa tentativa de me fazer voltar pra casa. Mas isso me motivou ainda mais a não voltar, e buscar minha independência.  

—Bella, vamos logo você precisa se arrumar e nós temos de comer algo também. -  Alice me tira do transe. Ela me estende a mão e eu aceito me levantando do chão. - Que cara é essa? Demorei tanto assim? 

—Não, é só minha mãe com mais um de seus jantares.  

—E qual vai ser a desculpa dessa vez? Intoxicação duas semanas seguidas? - Alice diz em tom de deboche. 

—Já usei demais essa né? - Digo dando um sorriso torto. - Precisarei de novas desculpas. - Nos duas rimos.  

E fomos o caminho até em casa comentando sobre as aulas de hoje.  

Em casa Alice não me deu escapatória foi até o meu guarda-roupa e o que já tava uma bagunça ficou ainda pior, Alice quase ficou soterrada no meio das roupas. Não demorou muito e ela puxou um vestido mullet azul marinho que eu havia ganhando a um tempo da minha mãe para um desses jantares dela.  

—Será este, e deixe seus cabelos soltos. Vou me trocar rapidinho e já volto pra fazer sua maquiagem. - Anuncia Alice já correndo em direção ao seu quarto não me dando tempo de contestar. 

Eu coloco o vestido e quando me olho no espelho acabo ficando surpresa, nunca tinha usado o vestido, ele era realmente lindo. O vestido não é tão curto, o tecido é bem leve, ele é ombro a ombro, com uma manga bem curtinha como se fosse uma braçadeira. O fato de ele ser um pouco mais comprido na parte de trás, traz muita elegância. Fico por um tempo me admirando no espelho. 

—Uau! - Alice entra no meu quarto vestindo um vestido longo na cor vinho com um decote em V e detalhes em dourado, e nós pés um salto também na cor vinho, e sua bolsinha dourada. Uma maquiagem leve completa seu visual. - Você está linda Bella. Agora me deixe arrumar seu cabelo e fazer sua maquiagem. - Alice vai ate meu armário e pega um estojo de maquiagem e uma escova de cabelo. 

—Alice pra que tudo isso? É apenas um concerto. - Eu reclamo enquanto ela passa a base em meu rosto. 

—Como eu Alice estudante de moda posso ir pra algum lugar de qualquer jeito? Jamais, e você tem que estar deslumbrante assim como eu. -  Diz ela sem olhar nos meus olhos.  

—Alice... - Eu a pressiono. 

—Ta bom, só me prometa que não vai desistir de ir se eu contar. 

—O que você está aprontando pequena? 

—Prometa. 

—Okay, okay, eu prometo agora me diz. - Eu prometo. 

—Os ingressos que eu consegui dão acesso aos bastidores e nós poderemos trocar algumas palavras com Edward e tirar uma foto com ele. - Diz Alice muito rápido. 

—Alice! Você sabe que eu não gosto disso, eu não sou fã dele como você, não quero ficar em fila com outras fãs enlouquecidas esperando pra tirar uma foto com ele. - Resmungo. 

—Por favor Bella, você já prometeu. E além disso quero ser uma das primeiras a pegar um autografo dele hoje. Você me deve tanto que eu mereço. -  Diz ela já fazendo sua carinha de cachorro abandonado  

—Ta bom, ta bom, só para de fazer essa cara. Mas depois dessa estamos quites. 

—Oba! Agora fica quieta e me deixa terminar. - Alice continuou fazendo minha maquiagem que assim como a dela foi bem leve, ela usou tons nude e dourado.  

Ela prendeu meu cabelo em um coque bem alto e deixou uns fios enrolados em cada lateral da minha cabeça. Vesti meu sapato de salto nude, que eu quase nunca usei, por detestar salto, mas Alice fez questão que eu usasse, pedimos um uber e fomos em direção ao concerto. 

Apesar de termos chegado relativamente cedo o teatro já estava lotado. No palco apenas um longo piano de calda preto estava posicionado no meio. Os lugares que Alice conseguiu eram realmente bons, estávamos na terceira fileira da frente, bem no meio, teríamos uma ótima visão dali. 

As Luzes se apagam, um rapaz entra. Edward eu presumo, realmente ele é muito bonito como Alice diz, apesar de vestir um smoking muito bem arrumado, seus cabelos ainda estão um pouco rebeldes, e com um reflexo acobreado devido a luz, o que o deixa ainda mais bonito. Ele vai até a frente do palco, faz uma reverencia e então se senta no piano. E então seus dedos deslizam sobre as teclas e uma melodia frenética começa, Liszt – Mazeppa  eu reconheço. Seus dedos cada vez mais frenéticos sobre as teclas conforme a música avança. Ele fecha os olhos em alguns momentos e realmente se entrega a música, ele é rápido e preciso e então suave quando a música pede. O que acaba me transportando junto, e quando a música acaba todos aplaudem, eu fico sem palavras. Alice vendo minha reação me cutuca. 

—Eu te falei que ele era bom. - Alice me provoca. - Ta vendo aquele broche que ele ta usando? - Pergunta Alice, eu afirmo com a cabeça enquanto observo um broche dourado com um desenho de uma clave de sol. - Foi dado pelo seu primeiro instrutor de piano, desde então ele sempre usa seu broche em todas as apresentações. 

Mas antes que eu pudesse falar alguma coisa outra melodia invade o cenário, ela não é tão frenética como a primeira, ele está tocando Clair de Lune, sem dúvida uma das minhas favoritas, eu fecho meus olhos e deixo a melodia doce e calma me invadir, e naquele momento pra mim só existe eu e a música. Quando abro meus olhos eu poderia jurar que Edward está olhando diretamente pra mim, e como um imã não consigo parar de encarar seus olhos, como se eu estivesse em um transe. Quando ele desvia o rosto para o piano eu finalmente consigo olhar pro outro lado. Eu prometo a mim mesma olhar somente pro chão a partir de agora. O concerto continua, eu evito olhar pra ele.  

Sons de aplausos frenéticos tomam conta do teatro depois da música final, Edward vai a frente do palco e faz reverencia. 

—Quero agradecer a todos que vieram aqui está noite me prestigiar. E espero que assim como eu, vocês tenham gostado da apresentação de hoje. Mais uma vez obrigada. -Edward se despede, faz mais uma reverencia e antes que as cortinas se fecham tenho a impressão que ele olhou em minha direção mais uma vez. 

—Bella vamos, vamos, antes que a fila cresça. -Alice apressada se levanta e puxa meu braço. 

—Calma Alice. - Encaro a fila que começa a se formar, e um grupo de garotas gritando. -Aff, já tem muitas fãs aqui. 

—E parabéns você é uma delas agora. - Alice retruca.   

—O quê? Não sou não. - Alice só pode ter pirado. 

—Eu vi sua cara durante o concerto Bella, você o amou. 

—Só porque eu apreciei o talento dele não significa que eu sou apaixonada por ele como você é. - Respondo. 

Eu olho em volta e muitas das fãs estão com os braços cheios de presente.  

—Estou surpresa que você não tenha trazido nada pra ele. - Eu suspiro aliviada.   

—Quem disse que eu não trouxe? - Alice arqueia uma das sobrancelhas. Ela abre sua bolsa e tira uma pequena estatueta do Edward tocando um piano. - Não é adorável? 

—É.… muito fofo Alice. - E de fato é, mas com certeza será só mais um presente que ele vai jogar no meio de tantos outros em um quartinho. 

—Eu consigo até imaginar o pequeno Edwardzinho em cima do Piano do Edward enquanto ele toca. - Sonha Alice admirando sua estatueta. 

—Claro, com seus outros milhares de presente. - Eu resmungo. 

—Nós não somos apenas fãs pra ele, não importa o que você pensa. - Alice responde.  

—Eu duvido muito... - Alice me gira, fazendo me olhar para Edward. 

Ele comprimente cada fã, e agradece pela presença no show, de uma maneira muito fofa. Okay, eu não esperava que ele fosse tão gentil. Edward então se vira para as câmeras. Ele definitivamente ama a atenção. 

—Somos a próxima, eu acho que vou morrer – Diz Alice histérica. 

—Por favor não, não quero ter que dizer pros seus pais que você morreu por causa de uma celebridade. -  Digo em meio a risos. 

—É a nossa vez, vamos Bella. - Alice saí me arrastando em direção ao Edward que se vira em nossa direção pra nós receber. 

—Calma Alice. - Eu peço, e tento me soltar de seu braço e acabo perdendo o equilíbrio e tropeço em um piso que estava solto. 

—Bella cuidado! - Alice grita. 

Então em um gesto rápido Edward me segura, mas acabamos caindo os dois no chão, eu por cima dele. Ele me olha com seus olhos dourados arregalados, estamos tão próximos que posso ver cada cílio dele. Eu posso sentir seu coração que assim como o meu bate freneticamente sob minha mão, sinto também uma coisa afiada e uma leve ardência.  

—Você está sangrando. - Edward me tira do transe.  

—O quê? - Olho pra minha mão que está pressionando seu peito e para seu broche agora partido no meio e com uma das partes cortando minha mão, o cheiro de ferrugem sobe e eu começo a ficar enjoada.  - Desculpa, você está bem? Eu não queria que isso acontecesse. Eu... - Começo a falar sem parar desesperada. Lembrando do que Alice disse sobre o broche. 

—Você quebrou meu broche. - Edward fecha os olhos e comprime a boca. 

—Eu sinto muito, muito mesmo, foi um acidente. - Eu me explico. 

—Droga, sua desastrada... - Edward respira fundo. - Aqui me deixa te ajudar. - Edward fica de pé, pegando minha mão que não está machucada e me ajudando a me levantar. 

—Bella você está bem? - Ouço Alice gritar.  

E então a vejo em meio a uma multidão de fãs que estão gritando e as câmeras estão apontadas pra nós. Edward coloca um braço a minha volta escondendo meu rosto. 

—Ela machucou a mão quando caiu... pode ser uma torção. - Ele explica pra multidão e para as câmeras. - Vamos pegar um gelo pra você, parece que isso está muito ruim. 

Eu olho pra minha mão, o sangramento praticamente parou e não me parece que esteja tão ruim assim, já me machuquei muito pior na minha infância. 

—Sério, eu não acho que seja grande coisa, eu estou... - Eu nem tenho tempo de terminar, Edward me puxa e sai andando comigo pela parte de trás do teatro segurando minha mão. A multidão enlouquecida cada vez mais longe. - Você não precisa fazer isso, eu estou bem. - Tento me soltar. 

Edward não me responde ele continua a me levar pelo corredor dos camarins, ele abre uma das portas e então entramos, ele me coloca sentada em um dos sofás. 

—Vou pegar o kit de primeiros socorros. - Ele caminha até o outro lado do camarim. Mas então ouvimos uma multidão de reportes batendo incansavelmente na porta. - Você fica aqui, eu vou dar um jeito neles. 

Edward saí e fecha a porta me deixando sozinha, eu observo o camarim a minha volta, eu nunca estive em um camarim de uma celebridade, mas seguro ao maximo minha curiosidade de sair por aí fuçando tudo e espero pacientemente Edward voltar.  

—Ela não está acostumada com a atenção da mídia, e ela acabou de se machucar. - Ouço a voz de Edward do outro lado da porta. - Por favor deem espaço a ela. Eu quero me certificar que ela está bem. Eu odiaria que algo acontecesse com uma de minhas fãs em um concerto meu.  

Eu me pego tentando dizer se ele está realmente sendo sincero ou se está apenas fingindo para as câmeras, e ainda não sei dizer qual das duas opções está certa. Edward entra novamente no camarim e fecha a porta. 

—Olha eu realmente agradeço a preocupação, mas eu preciso ir, minha mão nem está tão ruim assim. - Ergo minha mão mostrando o machucado. 

—Eu não me importo com sua mão. - Diz Edward rudemente.  

—Hãn? - Ele parece uma outra pessoa totalmente diferente agora que estamos sozinhos, o que me faz crer que ele estava apenas fingindo.  

—Eu me importo com a divida que você tem comigo. 

—Divida? Que divida? - Eu pergunto sem entender. Edward estende a mão mostrando seu broche partido ao meio. 

—Você sabe quanto isso custa? - Ele pergunta. 

—Está cheio de lembranças, isso não tem preço. - Eu respondo um pouco chateada comigo por ter quebrado algo assim. Ele arregala os olhos e da um passo pra trás atordoado com minha resposta.  

—O que você quer dizer? - Ele pergunta tentando se recompor. 

—Esse não foi um presente que seu instrutor de piano te deu a alguns anos? Por você sempre o usar acredito que seja algo muito especial pra você. - Eu respondo. 

—Então você deve saber o quanto ele é valioso, e que não tem como substitui-lo. - Diz Edward olhando tristemente pro broche em sua mão. - Você quebrou, você me deve. 

—Mas eu... -Tento arrumar uma desculpa 

—Então você nega a sua culpa? 

—Não... Bem... eu... 

—Então você tem uma divida comigo. 

—Mas eu não tenho dinheiro, estou na faculdade ainda, trabalho meio período e mal da pra pagar o aluguel e comer. -  Digo desesperada. - Eu nem tenho dinheiro pra vir a um concerto desses, eu só vim porque minha amiga Alice conseguiu os ingressos. Mas eu posso dar um jeito, eu posso arrumar um dinheiro... - Começo a tentar bolar algum plano pra conseguir algum dinheiro extra, mas as chances são mínimas. E pedir dinheiro pros meus pais está fora de cogitação. 

—Ah não se preocupe eu não quero o seu dinheiro. - Diz Edward com um sorriso torto 

—Então o que você quer? - Pergunto confusa. 

—Eu quero que você se case comigo.