O telefone da Jane acabou de tocar, acho que as mensagens não estão sendo suficientes, agora ela e Charles partiram para ligação. Jane atende e vai para a cozinha, minutos depois, retorna para a sala e me chama:

— Liz, se arruma. Nós vamos sair. - Afirma indo para o quarto.

— Acho que vou me arrepender de perguntar, mas... Sair para onde? - Questiono levantando a voz para ela me ouvir.

— Darcy chamou Charles para um barzinho na Augusta, e ele chamou a gente. - Responde alto também.

— Eu não quero sair e muito menos ver esse Darcy. - Falo ganhando a atenção dela.

— Nível hard essa sua antipatia em, Liz? - Inquiri curiosa. - Pelo o que Charles me disse Darcy só é um pouco reservado e tímido. - Tenta defendê-lo.

— Jane, no dia da festa ele disse que sou tolerável, que não tenho talento e ainda se recusou a dançar comigo. Sinal que não vai com a minha cara, né? - Pergunto retoricamente.

— Nossa! Você não me contou isso.

— Porque não vale a pena. - Dou de ombros.

— Ok, mas ele se ofereceu para te levar em casa, não? Talvez estava tentando se redimir. - Pondera com seu jeito doce de ser.

— A gente se redime pedindo desculpas e não foi o que aquele orgulhoso fez. Eu não quero olhar para a cara dele, amanhã vou trabalhar, preciso estar disposta. - Concluo enfiando um bolinho Ana Maria na boca.

A pipoca só atiçou minhas lombrigas.

— Liz, se eu for com o Charles, Darcy vai sentir que está segurando vela. - Me olha com os olhos suplicantes.

— Jane, amanhã você trabalha cedo. Por que tanta animação? - Respondo sem olhar naqueles grandes olhos pidões.

— Sim, mas eu não preciso viver para trabalhar! - Exclama voltando para o quarto.

— Palmas para o Charles, já te mudou em poucos dias. - Ironizo.

— Você está chata, Liz. Eu hein. - Começa a se trocar.

Reviro os olhos e levanto, ótimo!

— O que você não me pede sorrindo que eu não faço chorando. - Digo indo achar uma roupa para mim.

Visto uma calça jeans justa, cintura alta, um cropped de renda e um salto plataforma, é mais confortável. Hoje o dia não está frio, espero que não mude, só passo um batom vermelho e rímel, não fico sem.

Quarenta minutos depois, Charles está esperando e nós descemos.

— Oi, Charles. - Cumprimento sorrindo.

— Oi, Lizzie! - Diz animado. - Que bom que veio.

Jane da um beijo em sua bochecha e senta no banco do carona.

Seguimos para Augusta, então, eu sem um pingo de animação. Estava tão bom largada no sofá assistindo dorama.

— Acho que Darcy está meio pra baixo. - Ouço ele dizer à Jane. - Ele nunca sai sozinho.

— Entendo, mas por que acha isso? - Jane questiona.

— Darcy sente falta dos pais e como a irmã estuda no exterior, ele fica muito sozinho.

Sinto até uma dorzinha de leve no coração, mas logo passa. Se Darcy é tão solitário é porque tem um temperamento difícil e deve afastar as pessoas. Pelo menos foi o que demonstrou quando o vi pela primeira vez.

— Ele não tem uma tia? - Me enfio na conversa.

— Sim, só não é como se fossem muito próximos, ele também tem uma prima... - Charles deixa morrer a frase.

Algum tempo depois chegamos na localização que Darcy enviou. Entramos e logo o avistamos no balcão com um drink na mão.

— Ei! - Charles diz se aproximando dele.

Darcy levanta para lhe dar um abraço e olha na minha direção, percebo que ele congela por um momento.

— Oi Darcy. - Jane diz simpática como sempre.

Ele a cumprimenta e depois vem até mim. Sinto um beijo rápido na minha bochecha e dessa vez quem fica estática sou eu.

— Boa noite, Elizabeth. - Ele diz me encarando.

— Boa noite.

Escolhemos uma mesa e sentamos, o bar têm alguns ambientes. No canto direito fica uma sinuca com pessoas jogando, do outro lado tem uma escada que vai para o segundo andar, pelo que ouço agora deve ser onde fica um karaokê.

Pedimos algumas bebidas, uma porção e começamos a conversar. Aliás, Charles e Jane. Porque eu permaneço em silêncio e Darcy me acompanha.

— Então, Darcy. Por que resolveu sair? Às vezes não consigo te tirar do apartamento. - Charles pergunta obrigando-o a falar alguma coisa.

Noto que ele fica um pouco desconfortável, contudo, disfarça bem.

— Queria espairecer um pouco. - Diz sem emoção.

Eu levanto em seguida e os três me encaram curiosos.

— Aonde vai, Liz? - Jane inquiri.

— Jogar sinuca. - Vou em direção à mesa.

Haviam duas mulheres jogando, contraditoriamente, agora só restam os homens. Não consegui ver a expressão no rosto de Darcy, porque me virei rápido, ele que fique segurando vela.

— Oi. - Um dos caras jogando abre um sorriso de orelha a orelha.

— Oi, quero jogar. - Digo retribuindo o sorriso.

Pego um taco e aguardo minha vez, a rodada acabou de acabar, por isso me enfiei no jogo rápido. Consigo encaçapar uma bola, então continuo. Alguns minutos depois percebo que Darcy olha na minha direção e se levanta.

— Posso jogar também? - Ele pergunta após aproximar-se.

— Claro. - Outro cara responde. - Mas precisamos terminar essa rodada.

— Ok. - Ele concorda.

Continuamos jogando e vejo Darcy me observando, alguns minutos depois o jogo acaba. Eu não ganhei, mas fui bem.

— Você joga bem. - Ouço ele dizer.

— Obrigada. - Agradeço.

Olha que evolução, não me criticou, pelo menos não na minha cara.

— Costuma jogar? - Pergunta, enquanto os outros rapazes ajeitam a mesa novamente.

— Eu jogava com meu pai. - Respondo tentando entender a expressão em seu rosto.

O jogo inicia e não conversamos mais, ainda bem. Antes de ir embora cantamos um pouco no karaokê e eu vejo Jane e Charles bem próximos um do outro, acho que se não rolou nada ainda vai rolar em breve.

Chegamos em casa precisamente uma hora da manhã, para quem estará em pé às 8:00h. Me jogo na cama e Jane faz o mesmo, nem conversamos sobre a noite, porque estamos morrendo de sono, minutos depois, adormeço.