Revoada escrita por Lily A R


Capítulo 3
Sem direção


Notas iniciais do capítulo

OLHEM SÓ QUEM AINDA ESTÁ VIVA! Gente do céu, que loucura para postar esse capítulo. Fazer uma escrita corrida é muito mais difícil que eu pensava, principalmente quando a meta é terminar uma história que mal se desenvolveu e que possui muitas lacunas em menos de 20 capítulos. Porém, é um desafio que eu ainda continuo assumindo.
Enfim, gostaria de me desculpar pelo atraso e agradecer pelos favoritos e comentários dos últimos capítulos, vocês são demais!
Nesse, teremos a narração de Jacob, como foi combinado anteriormente. Espero que gostem!



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Jacob

Meus olhos vagavam pelo ambiente, à procura da chave de roda. Nunca fui conhecido como a pessoa mais organizada do mundo, mas ainda conseguia me surpreender com a desordem que eu era capaz de fazer. As ferramentas se espalhavam pelo piso da oficina, de modo que me questionasse seriamente se eu as havia arremessado ou elas criaram vida. Depois de esquadrinhar cada canto que eu podia, finalmente acabei por encontrar em um lugar nem tão óbvio: debaixo da caixa de ferramentas.

Suspirei, tentando não me estressar com minha lerdeza e voltando a dar atenção na caminhonete de Sam. Eu queria dizer que aquilo era um caso isolado, porém não era realidade. Tudo tem estado uma bagunça e mesmo que eu quisesse controlar tudo, incluindo meus próprios pensamentos, era uma tarefa praticamente impossível. Quando eu não estava na oficina consertando um ou outro veículo para ganhar uma graninha, eu estava em casa, cuidando do meu velho. Quando não estava cuidando dele, ou seja, quando minhas irmãs assumiam esse papel, eu estava coordenando a matilha, minha principal função. Era um dia completamente exaustivo, mas eu gostava dessa sensação de mente tão ocupada a ponto de pesar, pois quando eu me dava a oportunidade descansar, era a imagem dela que vinha a minha mente.

Anos se passaram e eu sentia sua presença no vazio deixado pela ausência cravado em mim, de tal forma que mesmo que eu cogitasse pensar em arrancar esse sentimento que continuava a me consumir, dia após dias, a parte que me dominava se recusava, pois sentir sua falta era lembrar de sua existência e eu me recusava veemente a esquecer Renesmee. Todo esse mar de sentimentos que me submergia poderia ser efeito do imprinting, porém eu não me aprofundava muito nessa ideia, pois há muito tempo minha ligação com Nessie havia deixado de ser apenas fruto de um fenômeno de ligação.

Sempre que tinha escutado sobre o imprinting, seja por meio dos meus amigos que viveram o mesmo ou pelos ancestrais que contavam nas rodas de fogueira, era sempre descrita como algo que transcendia qualquer compreensão humana — como se a nossa existência por si só não fizesse isso. No entanto, até viver aquilo, eu era incapaz de compreender 100% do que falavam. E foi com a pequena meia-vampira, filha da minha antiga melhor amiga e meu ex-rival, que eu soube o significado de ficar à deriva, sendo segurado apenas por uma fina corda, que trazia razão à minha existência.

E essa corda era controlada pela garota que havia sumido do mapa há sete anos.

Talvez eu estivesse mentindo para mim quando dizia que Renesmee ocupava meus pensamentos à noite. Sua imagem, sua voz, seu cheiro, sua risada… tudo era constantemente trazido à tona nas minhas lembranças, a todo instante, como um castigo e, estranhamente, um conforto. Se eu não a tinha por perto fisicamente, tinha que me contentar com as memórias da pequena Cullen, ainda que fossem insuficientes.

Às vezes, eu tentava ligar para ela, ou para alguém da sua família, mesmo que soubesse que não seria atendido ou que eles teriam mudado de número. Era uma droga não saber onde ela estava, como estava, tampouco o motivo que a levou a se afastar de mim de uma hora para outra. Estava tudo bem, nossa relação era boa, como sempre. De repente, eles simplesmente partiram, sem deixar nenhum rastro.

Ainda mantinha as esperanças de conseguir alguma informação com o avô de Nessie, Charlie, e a única coisa que era capaz de arrancar dele era que ela estava bem. Duvidava também que ele soubesse de alguma coisa e mesmo que soubesse, o homem era bem reservado, principalmente se assunto era sua família.

Então, ocupar minha mente com outras responsabilidades era a única forma de me convencer que eu ainda estava vivo e que existia mais além do meu martírio que necessitava da minha atenção. 

— Você ao menos conseguiu dormir hoje? — a voz arrastada feminina chamou a atenção de Jacob. Observei minha irmã mais velha escorada no portão de entrada da garagem.

— Sim. — respondi brevemente, voltando-me para o trabalho.

— Quando eu falo “dormir”, não estou falando de pregar os olhos por duas horas, Jake. 

— Rachel, eu estou bem, ok? Eu só ando muito ocupado. — resmunguei.

— Sim, durante todos os dias dos últimos sete anos. — retrucou. Tive que fechar os olhos por alguns segundos, para não explodir com ela. 

— Você não tem filhos para cuidar? Um marido para amolar? 

— Paul levou os gêmeos até Forks, para escolherem os presentes de aniversário deles. — deu de ombros.

—  Então quem está com o nosso pai? — questionei. Aparentemente, Rachel achou minha pergunta estúpida, visto que a revirada de olhos que deu não deixava margem para outra interpretação.

— Não sei se você se lembra, mas Rebecca chegou ontem à noite. 

Na verdade, não me lembrava. Sabia que minha outra irmã passaria uma semana na reserva para poder ficar com o velho Billy, mas nem tinha me tocado que já havia chegado, ainda que provavelmente ela estivesse na casa dele. Geralmente, eu aproveitava as noites para fazer meu turno, enquanto dividia os resto da matilha nos demais períodos e naquela manhã não foi diferente. Quando terminei, ao invés de ir para casa e descansar, aproveitei para finalizar mais um serviço. Não era saudável, admito, mas era o que me impedia de surtar.

— Eu nem reparei. — falei, assim que terminei com o carro de Sam. Comecei a catar ferramenta por ferramenta, para guardar na caixa e não ficar que nem um maluco procurando por elas no dia seguinte.

— Claro que não. — murmurou Rachel de volta. 

Encarei os olhos escuros de minha irmã, tão iguais aos meus, mas ao mesmo tempo tão diferentes, pois neles só refletiam a preocupação. Caminhei até ela, tomando cuidado para não tocá-la com minhas mãos sujas de graxa. 

— Você quer deixar seu irmãozinho feliz? — foi engraçado ver ela bufando, mas não retrucando, como normalmente faria. Aquilo significava um “sim” para Rachel Bla...Lahote. — Eu sinto falta de comer suas famosas panquecas com calda de morango. 

— Eu faço para você se… — o dedo em riste serviu apenas para deixar a pausa de sua fala mais dramática. — tomar um bom banho e descansar um pouco depois de comer. Você está horrível! — ela fez uma careta, tampando o nariz.

O pingo de consideração que eu tinha por ela foi por água abaixo com o gesto dela. Como um bom irmão, apertei seu corpo em um abraço de urso, tomando cuidado para não machucá-la, mas fazendo questão de deixar meu fedor resultado de quase 24 horas sem banho.

— Arg! Me solta, seu fedelho! — esperneou e eu esperei alguns segundos para enfim libertá-la. Rachel me encarava com ódio e se não tivesse certeza que sairia machucada, provavelmente teria meu enchido de socos, como fazia quando éramos crianças. — Você me paga, Jacob! — gritou, já marchando para casa, comigo em seu encalço.

Uma das únicas partes interessantes do meu dia, eram os momentos de descontração que ainda tinha com a minha família e alguns amigos, ainda que esses momentos não fossem tão frequentes quanto eu gostaria.  Às vezes, eu saía para beber com Seth e Embry, mas, infelizmente, ficar embriagado não era algo fácil para um transfigurador e isso era uma droga quando a perspectiva de apagar por causa de um porre era tão tentadora. Mas, na maioria do meu tempo livre, eu passava em casa, fazendo companhia pro meu velho.

Desde a descoberta do câncer de próstata , há dois anos, tudo vinha desandando. Mesmo com o tratamento, a doença degenerativa já estava em um estágio avançado, a ponto de Billy não mais responder aos tratamentos. Em decorrência das diversas viagens que tinha que fazer para Seattle, em busca de um tratamento adequado, meu pai, teimosamente, decidiu que, se era para morrer, preferia fazer isso em suas terras. Obviamente, Rachel e eu fomos veemente contra, mas ele conseguiu o apoio de Rebecca e, ironicamente, Paul, e acabamos sendo voto vencido. 

Desde então, apenas tentamos passar o máximo de tempo com velho, nunca deixando-o sozinho e sempre fazendo questão de programar alguma atividade com ele, mesmo que isso se resumisse a jogar cartas com Charles ou assistir futebol na tv do quarto, lugar de onde quase não saia por causa da debilidade.

— Olha só quem veio me recepcionar! — brincou, ironicamente, Rebecca, assim que pus os pés em casa.

— Foi mal. — abracei minha irmã brevemente. Não nos víamos há um mês e comparado ao tempo que ela ficava sem nos visitar antes da doença do papai, sua última visita era até recente . — O velho está dormindo?

— Acabou de comer. Deve estar assistindo a alguma reprise de jogo enquanto resmunga do meu caldo. — falou, revirando os olhos enquanto ia pra cozinha.

Caminhei até o quarto do meu pai, encontrando-o deitado na cama, com as costas apoiadas em uma montanha de almofadas, que deixava seu corpo quase sentado. Encará-lo tinha se tornado uma tarefa difícil para mim. Como qualquer pessoa, nunca lidei muito bem com a ideia de perder alguém importante e vê-lo naquele estado, com fundas olheiras se destacando no rosto magro, de cor contrária aos lábios pálidos e ressecados, era algo que não conseguia me acostumar.

— Não entendi qual é a lógica de me livrar das comidas do hospital para comer a mesma em casa. — resmungava enquanto revia o jogo da semana anterior dos Red Sox vs. Giants, que levou o segundo à semifinal que seria exibida naquela tarde.

— Você tem sorte que é a Becca cozinhando e não o Paul novamente. — simultaneamente, nós dois fizemos caretas ao lembrar do gosto de sola de sapato do último ensopado feito pelo marido de Rachel. — Charlie não vinha hoje assistir a Liga com você hoje?

— Ele teve que ficar em casa hoje, parece que Sue não estava se sentindo muito bem. Contei pra você ontem. — estreitou os olhos.

Eu me recordava vagamente sobre isso, mas não foi um ponto que me prendeu a atenção. Não que eu fosse insensível à saúde da Sue ou algo do tipo, mas se fosse algo grave, teria percebido uma mudança de comportamento de Seth e Leah. Talvez eles estivessem mesmo preocupados e em meus momentos de egoísmo não tivesse me atentado. Isso seria algo que eu teria que procurar saber depois de terminar o jogo com o meu velho, já que ele não teria a companhia do melhor amigo para isso. 

— Vou só tomar um banho e já trago umas cervejas pro jogo.

— Tá falando isso para me causar inveja? — retrucou sério e se eu não o conhecesse tão bem, poderia acreditar que tinha ficado chateado. Apenas balancei a cabeça, rindo da sua fala. Antes que pudesse sair, ele me chamou. — Eu realmente nunca vou entender qual a sensação de perdê-la para você, mas posso ter uma noção. 

Suspirei. Falar de Renesmee não era um problema para mim, na verdade era bom. Só não era agradável quando por trás do nome dela vinha todo um discurso de compaixão e conselhos não solicitados sobre o que eu devia fazer agora que ela não vivia mais por perto. 

— Eu não duvido do seu amor pela mamãe, pai, nem a dor pela partida dela. O senhor sabe disso. Mas, não é a mesma coisa. Mamãe partiu para sempre, Nessie não.

— Talvez não da mesma forma, Jake, mas ela também partiu, para sempre.

Neguei. Eu não acreditava na hipótese de Nessie aparecer do nada de volta e retomar nossa relação antiga, como se nada tivesse acontecido. Não sei nem se eu era capaz de fazer isso, contudo a esperança óbvia que nutria em vê-la novamente um dia era notório. Me deixava chateado que pessoas como o meu pai, que sabiam exatamente que minha ligação com ela era algo muito maior que nós, incontrolável, viesse com discursos como aquele.

— Você tem que seguir em frente, filho. — respirei fundo, no desejo de conter a irritação que começava a despontar.

 Eu não era idiota a ponto de não reconhecer que o que eu fazia comigo era prejudicial, de que me prender às minhas lembranças com ela na mesma medida que me trazia alento, me causava dor, mas simplesmente não dava para seguir em frente. Renesmee era meu início, meio e fim e abrir mão dela, mesmo que não a tivesse, era inconcebível.

— Eu só não quero partir deixando você aqui, desse jeito. — admitiu. Toda a raiva que estava surgindo, dissipou-se assim que meu pai falou. Sua morte não era um tabu em casa, mas ainda machucava ser tragado por essa realidade a todo momento.

Fui até ele, debruçando-me para deixar um beijo em sua testa, em um dos raros momentos que demonstrámos carinho físico. O cheiro de remédio invadiu minhas narinas, apenas como um lembrete de seu estado.

— Vai ficar tudo bem. — murmurei, não sei se para ele ou para mim.

— Filho. —  chamou baixinho. Preparei-me para um novo discurso. — Só entre nesse quarto novamente depois de acabar com todo o vidro de sabonete. 

Seu comentário me fez gargalhar e esfreguei minha cabeça fedorenta propositalmente em seu pescoço, ouvindo-o me xingar assim que corri do quarto. Passei rapidamente pelo meu, pegando uma muda de roupa, já que não me sentia mais confortável em passear de toalha pela casa com minhas irmãs por lá, e rumei para o banheiro. 

Não gostava de passar mais tempo que o necessário lá dentro, pois, por algum motivo, quando a água do chuveiro caia pelo meu rosto, era como se a melancolia tomasse conta de mim. Meus pensamentos ficavam mais negativos que o normal e já era um sacrifício tentar os manter em ordem. Por isso, fiquei pelo tempo certo para voltar a ficar limpo e ter um cheiro aceitável novamente, o que demorou uns bons 15 minutos. 

Assim que saí, já vestido, ouvi o meu estômago em protesto pelo falta de café da manhã e atraso do almoço. Instintivamente, fui até a cozinha, encontrando duas tagarelas conversando. 

— O frango está no forno, faço suas panquecas mais tarde. — avisou Rachel, sem que sequer tivesse falado algo. Elas voltaram a conversar sobre algo relacionado a decoração da festa dos gêmeos.

Antes que eu pudesse tirar o embrulho que cobria meu almoço, um uivo se fez ouvir. Era o som distante, mas não o suficiente para que não fosse nítido até mesmo para minhas irmãs. Logo em seguida, outro surgiu e depois mais outro. Para qualquer um, aquilo poderia ser de um lobo distante, cantando dentro da mata fechada e fria. Todavia, eu conhecia muito bem aquele som, o bastante para saber que não era um lobo solitário cantando por aí, mas sim três, que pelo soar, estavam afoitos.

— Eu nunca gostei desse som. — resmungou Rebecca. As vezes eu esquecia que ela era a única pessoa daquela residência que desconhecia sobre a natureza dos quileutes. 

— Jacob, pode dar uma passada em casa para pegar a compota de morango para a geleia? Esqueci que não tinha mais aqui. — pediu Rachel, sabendo tão bem quanto eu que aquilo não eram só simples uivos.

— Agora? Ele ainda nem comeu nada. — reclamou minha outra irmã.

— Não, tudo bem. Eu esqueci meu celular na oficina mesmo. — falei, lembrando muito bem que este se encontrava em cima da minha cama. — Já volto. — disse, saindo rapidamente porta à fora.

Ao invés de tomar o caminho rumo à casa dos Lahotes, segui para a floresta que cercava a reserva, quase esquecendo de arrancar os sapatos antes de me transformar. Infelizmente, minha roupas não tiveram a mesma sorte. Assim que assumi a forma de lobo, os pensamentos conturbados dos outros começaram a invadir minha cabeça, ao mesmo tempo que ouvia os passos apressados deles até mim. Contudo, não demorou muito para que um nome se destacasse no meio de tanto tumulto: Renesmee.

Tentei focar em um só pensamento e foi quando minha mente se ligou a de Seth, que estava mais afobado que os demais. Foi quando eu a vi, não mais em uma memória antiga da matilha ou minha, mas em uma lembrança recente, muito recente.

Nessie estava de volta.

 


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Notas finais do capítulo

Ufa! Vou revisando ao longo da semana.
Beijinhos!



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