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Lá fora chovia bastante, mas Miku pouco emportava-se em se molhar. Por que ele estava ali? Por que ele tinha que voltar? Essas perguntas rondavam a mente da jovem de longos cabelos verdes enquanto, descontroladas, rolavam as lágrimos por seu rosto. Ela queria sumir. Queria que ele sumisse. Queria mais que o mundo se explodisse! Droga...

Parou de correr, subitamente, levando as mãos ao rosto vagarosamente e então agachando-se. Havia percorrido vários quarteirões e, além disso, o fato de estar chorando não contribuía em nada para seu fôlego, portanto naturalmente estava cansada. As gostas percorriam seu corpo modelando a roupa no mesmo, estava verdadeiramente ensopada.

Foi neste momento que repentinamente parou de sentir a chuva em si. Ehh? Apenas então notou o par de pernas ao seu lado, naquela característica calça marrom... Olhou para cima, e lá estava ele. O sorriso bobo na cara, os cabelos azuis... Sempre tão despreocupado, era tão relaxante estar ao seu lado.

— K-kaito..?

— Shou ga nai kara haitte yaru. (Acho que vou ter que deixar você entrar.)

Onde ela já havia escutado esta frase?

— Me desculpe... Eu..

— Não se preocupe, vamos.

O garoto estendeu a mão e a ajudou se levantar, lhe abraçando logo em seguida. Andaram sem rumo por algum tempo, calados. Não era, porém, um silêncio constrangedor, mas reconfortante. Sentiam-se bem na companhia um do outro. Já haviam percebido isso há algum tempo.

Ele é tão quente...Pensou ela, apoiando a cabeça em seu ombro e fechando os olhos. Estava com febre, natural depois de toda aquela chuva, e isso a impedia de pensar, afinal, caso estivesse sã, provavelmente não se deixaria levar tão fácil pela situação. Ou talvez não.

— Miku?

— Sim...?

O garoto estranhou, separando-se dela e então colocando uma de suas mãos na testa da garota. - Meu Deus Miku, você esta ardendo em febre! Vem, nós vamos para casa!

— Ok.. Aaah!! Ka-kaito!

Ele a havia pego no colo e agora corria. Abraçada em seu pescoço e com o rosto enterrado no peito do mesmo, Miku não conseguia  fitar as pessoas na rua tal era sua vergonha. Definitivamente daria um jeito naquele idiota quando chegassem em casa! Antes dormiria, entretanto... Sim, iria dormir. Seus olhos foram serrando-se, a vista ficando abaçada e assim, antes que percebesse, ela já estava adormecida nos braços de Kaito.

Tão aconchegante e quentinho... Onde estou? Miku Abriu os olhos e deparou-se com seu quarto na casa dos Vocaloid. Ao lado da cama, Kaito dormia sentado. Idiota... Esta todo molhado.— Hey! kaito! - Nenhuma resposta. A garota pegou seu travesseiro e jogou no amigo.

— Waah!! N-nani! –Acorda em um pulo, agitando-se.

— Eu te chamei várias vezes, mas você não acordava e...

— Waah! Miku-chan! Você esta bem? Eu fiquei tão preocupado! - Ele havia se levantado e agora jazia a sua frente, os rostos tão próximos...

— E-eu estou bem - Falou virando a cara, corada.

— Iokataa... Demo, Miku-chan, me explique o que esta acontecendo! Eu estou do seu lado...

— Hum? O que quer dizer?

— Bem, você poderia começar me explicando o que há entre você e o seu Onii-san. o.ó

— Hahaha! do que você esta falando?! Não há nada entre nós! Nada! Hahahaha! - Ela ria nervosamente com gestos escandalosos - Waah! Estou com uma fome sabe? Vou pegar algo para comer! Você também quer? Só não me diga que quer sorvete assim todo molhado! - Ela já ia saindo do quarto, mas foi impedia, o jovem de cabelos azuis a havia segurado pelo braço. Ao virar-se para trás, não encontrou o mesmo sorriso bobo de sempre, mas um Kaito sério, determinado. Ela entendeu que não sairia daquele quarto até contar todos os detalhes de seu passado, mas de alguma forma sentiu como se pudesse confiar nele. Suas pernas tremeram e Miku caiu sentada no chão, abraçando as pernas, enquanto caiu sentava-se ao seu lado.

— Ok, você venceu.

Tudo começou a muito tempo atrás, quando eu e Mikuo ainda éramos crianças pequenas. Temos dois anos de diferença, mas apesar disso éramos muito próximos. Eu era uma criança muito tímida e de saúde frágil, então ele estava sempre me protegendo de tudo e todos, tentando me animar. Afinal eu queria brincar na rua com as outras crianças, ainda mais que morávamos no interior, mas não podia devido à minha saúde. Isso acabou por criar um laço muito forte entre nós, algo maior que um simples amor fraternal.

Então, quando eu tinha por volta de dez anos ele disse que me amava, mas não como uma irmã, mas como mulher. – a jovem fechou os olhos, tomando fôlego – Nós começamos a ter um "caso", coisa de criança, porém com o tempo tornou-se mais sério. Onii-san começou a me sufocar, ele já não me permitia sair com mais ninguém, conversar com mais ninguém... Eu vivia para ele! E apesar disso eu o amava tanto que sequer o culpava... e ele sabia disso.

Foi nesta época que ele me pegou cantando e disse que eu era boa, que deveríamos nos tornar uma dupla no futuro. Eu achei muito divertido e concordei. Então nós escrevemos Romeo e Cinderella para cantarmos em dueto. Eu passei a escrever outras músicas também, sem ele, e as pessoas voltaram a se aproximar de mim, porém isso só o fez me trancar ainda mais dentro de casa.

Então, um dia que ele estava fora eu fugi de lá e fui me encontrar com algumas amigas, mas no meio do caminho eu... Eu...

Dor, uma lágrima rolou pelo rosto alvo, ou melhor, mais uma

— Ela me viu beijar outra garota néh? E então fugiu nós brigamos e Miku-chan fugiu de casa como uma criancinha assustada. – Mikuo encontrava-se em pé, escorado no arco da porta. Fui realizar meu sonho! – A garota levantou-se raivosamente, a voz já falhada. – eu bem sei que você nunca iria permitir que eu realmente me tornasse uma cantora se ficasse lá!

— Ora vamos imouto-chan, nós dois sabemos que você fugiu porque não agüentou me ver com outro – Ele deu um passo à frente.

O quanto um coração machucado pode suportar?

— Também! Você me mantinha isolada do mundo enquanto tinha a todos! Não faz idéia de como me senti traída!

Quantas palavras grossas pode perdoar sem ruir?

— E você pensou que com apenas isso se livraria de mim não é?

— Obviamente, mas você sempre me perseguia, não importava aonde eu ia, você sempre me achava... – os olhos arregalados de loucura, os braços abraçavam o próprio corpo.

— E então você conseguiu este trabalho e se mudou novamente sem avisar a ninguém, mas eu a encontrei, certo? Como sempre... – Ele já estava próximo demais e ela sem forças para reagir. Então o jovem de cabelos verdes água levantou o queixo da irmã e selou um beijo forçado.

Se um único gesto pode fazer uma sólida montanha cair, um coração já machucado se torna um alvo ainda mais fácil... e quebra-se. Terá volta?

Um som alto de estalo é ouvido, alguém cai no chão.

— Toque novamente em Miku-san e eu o mato seu canalha!

— E o que pensa que pode fazer contra mim? Eu sou o IRMÃO dela e tenho o direito de vê-la quando quiser, não se intrometa. – limpa um filete de sangue que escorre do canto de sua boca com as costas da mão.

Outro soco, desta vez em Kaito.

— Dane-se! Podia ser até o pai que eu nem ligava! Ela NÃO É SUA PROPRIEDADE! –Kaito avança, mas é parado por Miku que se põe entre os dois.

— Chega! Kaito, obrigada, mas eu posso me defender sozinha. – Ela o fitou com um rosto muito mais sereno do que o Kaito esperava, como se um grande peso houvesse sido tirado de cima do coração da garota. Ela o abraçou forte, e então se voltou para o irmão. – Quanto a você... – Mais um soco é desferido, de Miku em Mikuo, que o derruba no chão. Ela posiciona um de seus pés no peito do mesmo. – Eu não sou mais a criança indefesa que você conhecia, Onii-san! Espero tenha entendido isso e não volte mais aqui.

Miku virou-se e deixou o recinto, seguida de Kaito que olhou o jovem de cabelos verdes com desprezo.

Isso terá uma revanche Miku. Você ainda irá correr para os meus braços como nos velhos tempos, mas então já será tarde demais. – Pensou aquele estirado, antes de perdera consciência.