Querida Hermione,

Depois de todos esses anos acredito que já tenha percebido que não sou (na verdade nunca fui) muito bom com as palavras. Deixo todas elas para ti, porque sei o quanto é apaixonada por elas e também o quanto elas combinam com você.

Mas desde de fevereiro voltei a lhe escrever. Foi como relembrar aquelas cartas que trocávamos quando você voltou para Hogwarts e eu resolvi fazer o treinamento para Auror. Quantas decisões importantes tomamos depois de uma guerra. De todas elas nosso amor foi a certa, talvez a única certa.

Faz tempo que busco as palavras certas para voltar a te dar explicações, para voltar a te fazer sorrir. Voltar a escrever a você é como um pedido de desculpas por todos os tempos que deixei de escrever, por todas as palavras que deixei de lhe dizer e finalmente por todo o tempo que deixei de te beijar. Se pudesse voltar no tempo, seria eu a lhe puxar pela cintura e depositar em seus lábios todos esses beijos desperdiçados.

Quando somos jovens temos tantos medos bobos. Medos do que os outros iram dizer, pensar, sobre quem somos e quem amamos. Você me ensinou dia após dia que eu era merecedor de todo o nosso amor, que de fato eu era tão nobre e importante quanto qualquer outro. Lhe agradeço por isso, senão talvez acabasse me tornando outro Ronald Weasley, e acho que aprendi a gosta muito desse que sou.

Não entendo muito sobre essa tal de bodas de esmeralda, mas você parece muito empolgada com a comemoração, deduzi que certamente é algo especial para trouxas, para ti.

E apesar de não entender essa tradição, entendo o nosso viver. Nunca me esqueço do momento em que percebi que era você meu primeiro amor. Nunca poderei esquecer. E mesmo que o tempo passe, volta o vento que me fez segurar a respiração. Enquanto você adentrava o salão com o vestido azul de braços dados com outro. Eu soube ali, mesmo que negasse com todas as forças.

Dizem que os jovens não querem aceitar constatações óbvias. Eu era um grande negador. Mas veja estamos aqui, certamente com você achando que me esqueci dos momentos que nunca irei me esquecer.

Ele sempre esteve aqui. O amor. Por você.

Mesmo quando lhe deixei para trás, quando fugi por medo de ficar. Eu sempre estive aqui. Eu nunca te esqueci. Porque um amor tão grande nunca vai embora, não se foi. Lembro-me de andar pelas areias, pedras, pensando o quanto mais uma vez fui um tolo. Hoje, tantos anos depois, percebo que foi uma sorte ter você apaixonada por mim, por um garoto desajeitado, medroso, com a alto estima baixa. Por isso tento sempre mostrar o quanto Rose é grandiosa, incrível, para que ela nunca fuja do amor achando que não o merece por ser quem é, porque é exatamente por isso que merecemos o amor. Por sermos quem somos. Obrigado por todos os perdões dados a mim, porque eu sempre estive aqui, eu nunca me afastei. Porque meu coração sempre estará onde você estiver.

Quantas vezes eu voltei? Quantas vezes implorei para voltar? Nós nunca fomos tranquilidade, nunca fomos brisa. Somos tempestade, furacão. Gritos. Portas batendo. Choros. Objetos voando. Ao mesmo tempo somos, sorrisos, abraços, canções esquisitas, comidas. Somos livros, piadas, beijos e vida.

Quando ler essa carta vai lembrar desse momento, provavelmente entrará em um modo de repetição. Se perguntando porque não lhe entreguei antes, porque guardei tantas cartas, tantas palavras escondidas em papéis, no fundo de uma caixa laranja toda esfarrapada. Mas eu lhe disse no começo que não sou bom com as palavras. Eu escrevo e depois acho melhor fazer um jantar, implorar para que me desculpe, te encher de beijos e massagens. Sei que tudo isso ficará em sua alma. Nas lembranças boas e ruins. Deixo-lhe as cartas como algo concreto, como uma possibilidade de chegar até mim. Até nós.

Então Feliz Bodas de Esmeralda. Ou talvez seja outra bodas, nunca vou entender os rituais trouxas. Feliz. É isso que desejo que você seja, sempre. Seja Feliz com nossas lembranças. Feliz com nossos filhos. Feliz com nossos netos. Feliz consigo.

Lembre-se que eu sempre estive aqui. Sempre estarei. Não importa de qual forma. Porque meu coração sempre estará onde você estiver. E sei que seu coração também estará comigo. Espero que não esteja chorosa. Prefiro quando está com raiva, dizendo o quanto sou insensível, o quanto meu emocional é do tamanho de uma colher de chá. Prefiro quando me atira pássaros na cabeça, quando me encara com ar de surpresa. Você está com o ar de surpresa? Eu espero que sim.

Soube dos meus resultados há alguns dias. Depois da festa finalmente lhe contarei, primeiro quero ver seu sorriso, sua alegria. Nada de preocupação. Quero os dias mais felizes que poderemos ter e ao mesmo tempo os dias mais tempestivos. Será como voltar ao começo.

E você sabe muito bem o quanto voltar no tempo pode salvar vidas. Não preciso que salve a minha, ela já foi salva inúmeras vezes, em todas as chances que nos demos. Vou dizer obrigado. Obrigado por me amar.

Sei que nunca irá me esquecer. Sei que está abrindo uma carta atrás da outra. Aproveite cada uma delas. Não são muitas, mas são tudo o que posso lhe oferecer agora. Vou começar a me despedir. Está na hora de escrever um discurso, não sou bom com palavras. Usarei piadas que você detesta, farei todos rirem, certamente vou constranger nosso genro doninha albina. Finalmente vamos conhecer a namorada trouxa de Hugo. Tudo será como somos.

Também deixarei o discurso aqui. Depois que a raiva passar o leia, lembre-se mais das festas do que das lágrimas.

Hermione, minha Mione, meu pesadelo, melhor amiga, sabe-tudo irritante. Você sempre foi meu primeiro e único amor, sempre foi uma luz me ajudando a me enxergar da forma mais bonita. Continue sendo o sol. Sendo todas as estrelas. Sendo o que nós somos.

Com todo amor do mundo.

Ronald Weasley.