Sequin Smile escrita por Chloe Less


Capítulo 2
Capítulo Dois


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá! Primeiro queria pedir desculpas pra minha amiga secreta por demorar tanto pra postar a segunda parte, mas revisar esse capítulo foi difícil hahaah.

Boa leitura! Converso com você lá embaixo ;)



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2008

Eu estava errada, Edward não voltou como eu imaginei que ele faria. É engraçado o como ele não fez nenhuma promessa, mas eu as criei na minha cabeça, baseadas no que eu conhecia dele. Eu só não o conhecia tão bem quanto pensava.

Esperei por meses que ele me ligasse, mandasse uma carta, um sinal de fumaça ou qualquer coisa, mas ele não o fez. Primeiro eu imaginei que ele estaria ocupado com seu novo cargo na empresa da família, eu sabia o quanto sua relação com o seu pai era complicada e que Sênior exigiria o máximo dele.

Mas depois de um ano sem notícias diretas dele, eu comecei a pensar que talvez ele não quisesse mesmo falar comigo.

Continuei vivendo a minha vida, saindo com meus outros amigos, trabalhando no jornal, me envolvendo no coletivo. Me aproximei ainda mais de Angela, Jasper e Rosalie, beijei outras bocas — principalmente Peter, que parecia estar sempre no lugar certo quando eu queria ficar com alguém —, porém nada era igual. Eu sentia tanta a falta dele, que parecia que um pedaço de mim tinha ido embora para sempre.

Sentia falta do carinho, dos beijos, da maneira delicada que seus dedos percorriam meu corpo como alguém que o conhecia. Mas eu sentia ainda mais a falta da nossa conexão, das conversas sem fim sobre qualquer assunto, de vê-lo concentrado enquanto tocava, do silêncio confortável, da sua voz entusiasmada falando sobre algo que gostava, da maneira que ele sorria fácil.

Eu sentia falta do meu melhor amigo, sentia falta dele.

Um pouco antes da minha formatura foi quando eu recebi o seu convite de casamento com Lauren, então eu tive a certeza de que ele havia ido para sempre. Quando ele finalmente me ligou na semana seguinte, mais vezes do que eu esperei durante todo esse tempo, eu não atendi nenhuma vez.

Saudade me transbordava, mas as ligações que eu esperei receber por dois anos não amenizaram todo o sentimento, só deixaram tudo pior. Ele poderia ter ligado uma semana antes, que o atenderia e as coisas ficariam bem, mas eu não ia aceitar ser sua última aventura antes de se casar, não era assim que as coisas funcionavam.

Eu podia estar com o coração partido, poderia sentir a falta dele a ponto de doer, mas nada no mundo poderia fazer com que eu me sujeitasse a isso.

Então quando finalmente me formei e o New York Times me convidou para fazer parte do time de jornalistas deles, eu não pensei duas vezes antes de aceitar. A vaga era para uma jornalista que faria coberturas internacionais e aquele simplesmente parecia o momento certo para uma decisão como aquela.

Eu fiz matérias sobre guerra, como a do Congo e a de Kargil, cobri desastres ambientais como o terremoto Kobe, fiz a cobertura de eventos globais como a assinatura do protocolo de Kyoto, cobri escândalos políticos como a separação de Charles e Diana, além da morte precoce da Princesa. Fiz a cobertura até de eventos esportivos, mesmo que política, economia e relações internacionais fossem minha especialidade. Ganhei um Pulitzer por uma das minhas matérias.

O período no coletivo estudantil me ensinou a agir, a conquista por direitos e mudanças na sociedade acontecia de maneira muito mais efetiva com diálogo, algumas coisas funcionavam melhor na conversa suave do que no grito intenso. Mas é claro, era sempre necessário se fazer ouvir. Enquanto trabalhava ao redor do mundo, conheci novas culturas e entendi melhor as lutas pelas quais eu lutava na universidade, o teórico era importante, mas a vivência e o contato abriram meus olhos, me dando base para lutar com propriedade.

Participei das manifestações e manifestos que podia, tentei conscientizar as pessoas através das minhas matérias para o NYT — dentro do limite para manter meu emprego —, me envolvi em projetos que davam visibilidade as minorias e usei meus contatos para que mudanças fossem feitas. Eu não podia dizer que eu havia mudado o mundo, aquela ideia era utópica demais até para a Bella de 20 anos, mas gostava de pensar que eu não havia deixado a sociedade matar a ativista que havia em mim.

Depois de 10 anos morando fora do país e trabalhando como correspondente internacional, pedi transferência de volta para os Estados Unidos. Adorava meu trabalho, mas sentia que eu precisava me reconectar com o que eu havia deixado para trás.

Com um novo cargo como correspondente nacional e uma coluna de opinião com um pseudônimo no The Progressive, voltei a morar em New York.

Não tinha voltado fazia muito tempo, quando reencontrei Peter. Nos anos fora eu havia perdido o contato com muita gente da faculdade, principalmente aqueles que eram do mesmo círculo de amigos que Edward fazia parte, não por ele, mas porque a vida costumava afastar algumas pessoas mesmo. Mantive contato apenas com Jasper, Angela, Rosalie, Laurent e um contato escasso com outras pessoas do coletivo e do jornal.

Eu estava representando o jornal em um evento de caridade, ele estava representando o banco de investimento que ele trabalhava.

Peter elogiou o meu sorriso e disse o quanto o tempo me fez bem, depois de meia hora relembrando as partes que eram adequadas de nosso passado, trocamos telefones e combinamos de nos encontrar para beber em homenagem aos velhos tempos.

Tanto tempo longe de Peter me fez esquecer o quanto ele era suave, com aquela cara de menino bom e inocente, e suas palavras doces, além de como combinávamos na cama. Foi muito fácil dizer sim para um novo encontro, então um outro depois desse, até que estivéssemos em um relacionamento.

Nossos empregos exigiam demais de nós, o que fazia com que a quantidade de encontros que tivemos não fossem o usual para um casal. Mas quando ele me pediu em casamento, eu disse sim, mesmo que eu não achasse que o conhecia de verdade.

Com o casamento veio uma convivência maior, Peter se esforçava para passar um tempo comigo em meus horários malucos de jornalista, mas isso só serviu para que eu tivesse a certeza de que não o conhecia tão bem. Nem quando estudávamos, nem depois de nosso reencontro.

Eu sabia que ele esteve em meu grupo de amigos porque dividia o apartamento com Jasper, mas era um pouco chocante para mim, descobrir que ele estava mais próximo da geração Yuppie que eu tanto critiquei do que dos meus ideais um tanto quanto revolucionários. Para ser sincera, eu conseguia enxergar além, conseguia ver Royce — que eu nunca gostara de verdade e que se mostrou um péssimo pai e marido pelo tempo que ele e Rose estiveram juntos —, mais próximo dele do que Jasper.

Ele não era abertamente preconceituoso, racista ou machista, mas eu conseguia ver alguns traços de um conservadorismo intrínseco a sua personalidade. Quando estávamos com seu grupo de amigos de Wall Street eu me sentia deslocada, sem voz. Peter também destoava completamente do meu ciclo de amigos, mas o mais importante, era que destoávamos um do outro.

Nunca conversávamos sobre coisas além do superficial, caso contrário, discutíamos. Julgava que era impossível um casal sobreviver de sexo, mas quando eu olhava para nosso relacionamento, era o que preenchia os espaços designados ao diálogo.

Depois de um pouco mais de um ano de casamento, ele começou a me pressionar para ter filhos, mas gerar uma criança dentro de mim nunca foi uma coisa que eu quis. Perdi as contas de quantas vezes discutimos sobre isso, até que ele parou de trazer o assunto à tona.

Pensei termos chegado em um consenso, mas depois disso, nosso casamento morno, virou algo frio. Até que ele pediu o divórcio.

Ele tinha levado as coisas dele há mais de uma semana e na hora não fizera muita diferença, minhas coisas ocupavam tanto espaço que a casa não parecia vazia. Mas depois de encaixotar todos os meus pertences, a realidade me atropelou.

Meu casamento havia acabado.

Não houve discussão, não houve conversa, muito menos uma tentativa de consertar as coisas. Só as palavras dele antes de ir.

— Você é demais, Isabella. Inteligente demais, decidida demais, lutadora demais. Quer salvar o mundo — disse ele olhando em meus olhos. — Você sempre foi assim, intensa demais, porque estar perto de você é bom, você sabe sobre cultura e arte, consegue falar sobre qualquer coisa, e quando não fala sobre salvar o mundo, é uma das pessoas mais fáceis de se estar por perto. Eu sonhei que conseguiria suportar esse seu lado, mas a realidade é que eu não consigo. Alguns homens podem fingir, mas a verdade é que nenhum homem gostaria de ter uma mulher com você ao lado, tão cheia de opiniões.

Sempre soube das diferenças que eu e Peter tínhamos, mas nunca imaginei que ele pudesse dizer essas coisas para mim. Nunca imaginei que esses eram seus verdadeiros pensamentos. Nunca imaginei que por trás da cara inocente e da voz mansa pudesse existir tantas coisas ruins. Por que ele havia casado comigo no final das contas? Ele me conhecia desde a universidade, sabia dos meus ideais.

Só que eu provavelmente o ignorara também.

Na hora sua fala não pareceu me afetar, já havia escutado tantas coisas piores em toda a minha vida, que mais um comentário atravessado não devia fazer diferença. Mas suas palavras voltaram para mim durante toda a semana, pesadelos sobre ficar sozinha para sempre enquanto ele passeava com sua nova companheira, uma que se encaixava nos padrões que ele queria.

E depois de embalar todas as minhas coisas, comendo uma pizza sozinha com um champanhe que ele havia deixado para trás, me sentindo desprezada, eu não conseguia afastar os meus próprios questionamentos.

A culpa era realmente minha? Eu era tão ruim assim? Devia ter me esforçado mais para salvar nosso casamento? Deveria ter cedido aos seus desejos?

Uma das diversas caixas espalhadas pela casa guardava coisas da minha época na universidade. Meus diários daquela época, a primeira matéria que escrevi para o jornal da Columbia, os esboços da primeira reunião estudantil que participei, a câmera que Edward me deu quando consegui entrar para o jornal e uma camiseta dele que havia ficado para trás.

Eu não admitiria para ninguém, mas a partida de Edward havia me quebrado de uma maneira que me deixou receosa ao começar de novo. Inconscientemente aceitando Peter, porque estar com ele era raso e fácil, não me consumia. Era de se admirar que tivéssemos ficado casados por tanto tempo, mesmo tão distantes.

Edward fora meu primeiro amor e diferente da cicatriz que ficara no meu braço pelo acidente quando ele foi embora, as cicatrizes no meu coração pareciam não ter cicatrizado direito. E depois que Peter também partiu, as inseguranças voltaram.

Os ‘e se’ tomaram conta de minha mente. E se eu tivesse tomado outras decisões? E se eu não tivesse ficado com Peter? E se Edward tivesse tomado outras decisões? E se eu tivesse atendido o telefone? E se Edward tivesse escolhido ficar? Eu estaria feliz? Ele me aceitaria como eu sou?

Não havia mais o que fazer, as decisões que tomamos no passado formaram o agora e eu podia desejar milhões de vezes, mas nada ia mudar aquilo.

Havia sido inocência minha acreditar que Edward voltaria para mim, ele tinha medo demais de decepcionar os pais para se quer falar do que fazia, quem dirá de abandonar os planos que eles tinham para ele.

Depois de 20 anos eu consegui entender melhor as decisões que ele tomou. Meu coração tinha sido partido por ele, era culpa minha, era culpa dele, mas não tinha maneira alguma de que nós pudéssemos voltar ao passado e tornar o ‘e se’ a realidade.

 

*

2009

Todo mês de outubro a OCPT, Organização Comida Para Todos, costumava organizar um jantar para arrecadar fundos para a causa. Eu nunca havia participado de nenhum dos eventos por vários motivos, mas nesse ano apenas pareceu certo.

Era um bom lugar para achar novos contatos e eu gostava de conhecer as instituições que se envolviam com esse tipo de ação.

Eu arrumei minha agenda e avisei minha editora sobre a viagem, deixando claro que se ela precisasse de mim naquele final de semana, eu não estaria disponível. Então arrumei minha mala e reservei um hotel em São Francisco.

Depois da separação, minha auto estima foi para o espaço, eu diminui minhas saídas noturnas para zero e evitei todos os eventos em que eu precisava usar algo que não fosse um terninho. Mas depois de meses, eu fiquei animada o suficiente para me arrumar.

Escolhi um vestido preto, tubinho, com o decote quadrado e um scarpin da mesma cor, além de um casaco porque a temperatura não estava realmente agradável. Deixei o cabelo solto e passei uma maquiagem leve, mas com um batom vermelho. Eu tinha levado meu caderno comigo, mas na hora de sair percebi que ele não cabia na bolsa dourada que eu escolhi, o bloco de notas do celular teria que ser o suficiente caso eu precisasse escrever algo urgente.

Eu conhecia alguns dos organizadores do evento, mas não esperava encontrar muitos conhecidos, então coloquei uma expressão suave no rosto para que as pessoas não se sentissem intimidadas por mim. Assim que cheguei, esbarrei em Kate Denali, a filha mais nova do organizador.

Falei com a loira por alguns minutos e ela me apresentou para o presidente de uma empresa de tecnologia antes de se afastar para ir conversar com outras pessoas — já que estava dividindo o papel de anfitriã com seu pai —. A conversa durou um bom tempo, com ele contando-me sobre seu projeto de apoio as mulheres na tecnologia. Quando nos afastamos, eu senti que só com aquela conversa já havia valido a pena ir para o evento.

Enquanto ele se afastava indo conversar com uma conhecida que ele tinha reconhecido de longe, eu andei até a mesa de doces finos.

Estava parada tentando escolher um doce, quando escutei uma voz que não ouvia a anos.

— Bella?

Vinte anos sem vê-lo e eu ainda reconhecia a voz dele em qualquer lugar.

Eu me virei lentamente em sua direção e sorri com o que estava vendo. Seu cabelo sempre bagunçado, exibia um corte formal e arrumadinho. Seus olhos verde esmeralda agora carregavam marcas de expressão, mas tirando isso ele parecia o mesmo.

— Edward! Quanto tempo!

— Tempo demais — concordou ele. — É sua primeira vez nesse evento, não é?

— Sim, já faz algum tempo que ouvi falar sobre esse projeto, mas essa é a primeira vez que consegui conciliar minha agenda com a data — expliquei. — Você sabe como eu sempre gostei de me envolver em tudo que eu podia para que as pessoas tenham acesso a direitos humanos.

Ele sorriu com a minha fala, aquele tipo de sorriso conhecedor.

— Você costuma vir todo ano? — questionei.

— Sim. Eleazar é um velho amigo de família, desde que ele criou a organização e o evento eu venho todo ano.

— Você vem para representar a Masen?

Eu cresci com uma vida confortável, mamãe era vocalista de uma banda e papai era escritor. Nenhum deles nascera pobre e eu também não tinha passado nenhuma fase próxima disso. Mas a família de Edward era rica de uma maneira que apenas uma centena de pessoas no mundo conseguiria ser.

A Masen era uma corporação que era dona de algumas marcas de como comida. Além disso a família de Edward possuía investimentos em empresas de outros ramos, como aviação, hotelaria, tecnologia e energia.

— Sim e não. Eu vim por vontade própria, queria estar aqui e fazer algo relevante, mas é meio impossível estar em qualquer lugar e não representar a Masen.

Não falava com Edward desde a sua formatura, mas era meio impossível não saber nada sobre a empresa de sua família ou sobre ele.

Lembrava de todo o alvoroço na imprensa quando Sênior morreu no ano anterior e sobre como eu agradecia por não precisar cobrir esse tipo de matéria. Eu odiava cobrir matérias sobre corporações ou qualquer coisa do ramo empresarial, mas tinha um desgosto maior pelo ex-presidente da Masen.

A morte de Sênior significava que Edward precisou assumir a presidência da empresa mais cedo do que gostaria provavelmente.

— Ócios do ofício — comentei.

— Você veio sozinha? — perguntou.

Eu sabia que o casamento dele e de Lauren havia acabado, mas não sabia se ele sabia tanto de mim quanto eu sabia dele. Minha vida não ficava tão sob os holofotes quanto a dele.

— Poderia tentar fazer alguma brincadeira sobre eu ser a minha melhor companhia, mas eu não sou boa com piadas — falei dando de ombros.

— Se importa se eu te fizer companhia? — questionou.

Seu olhar estava carregado de insegurança, como se tivesse medo que eu recusasse seu pedido.

Eu não costumava me render a empresários, para eu dizer não para gente como ele era fácil como uma prova de matemática do primeiro ano. Mas mesmo que os anos tivessem passado, Edward costumava com a mesma cara que conseguia qualquer coisa de mim.

Isso provavelmente era um problema, mas dizer sim para ele naquele momento não poderia ser tão ruim.

— Se você conseguir me trazer um champanhe, pode me fazer companhia por toda a noite.

Ele nem pensou duas vezes, pediu licença e foi até a mesa de champanhe buscar um para mim, enquanto eu o observava andar elegantemente em seu smoking.

Quando ele voltou, embarcamos em uma conversa segura sobre os nossos empregos. Eu já sabia, mas ele me contou sobre ter assumido a presidência da Masen quando seu pai faleceu. Contou sobre o processo de adaptação e como as pessoas estavam o recebendo no cargo, 10 anos mais cedo do que o esperado.

Enquanto ele falava, não havia brilho algum em seus olhos, como se odiasse tudo relacionado a empresa da família como odiava quando nos conhecemos. Deveria ser imaginação minha, uma parte tola do meu ser que ainda queria ser a pessoa que mais conhecia ele.

Mas havia passado tempo demais.

Eu também contei sobre minha carreira nos últimos anos, falei sobre os países que morei, os projetos em que estava envolvida, o livro que eu tinha lançado três anos antes e o que eu estava trabalhando para lançar em breve.

O sorriso orgulhoso em seu rosto mexia com a garota de vinte anos que morava em mim.

— Eu sempre soube que você seria incrível em qualquer coisa que quisesse fazer — comentou ele.

Nós conversamos com outras pessoas durante a noite — Edward era muito conhecido, as pessoas nos interrompiam a todo momento para falar com ele —, mas ele sempre me apresentava a cada um que se aproximava.

Perdi as contas de quantas vezes o ouvi repetindo ‘Esta é Bella, jornalista do New York Times, escritora e uma velha amiga’, tudo com um sorriso no rosto. Ficar ao seu lado acabou sendo uma boa escolha e me permitiu conhecer algumas pessoas novas sem precisar me esforçar para iniciar conversas.

Entre taças de champanhe e conhecer pessoas novas, Edward me tirou para dançar algumas vezes e foi exatamente como costumava ser.

Nós ficamos até o final do evento, então Edward me perguntou se eu queria beber alguma coisa e nós fomos para o bar do hotel onde o evento estava acontecendo.

Fora do evento, nós passamos para a área um pouco mais pessoal de nossas vidas. Eu contei para ele sobre a minha separação recente e ele me contou a parte que não chegou aos holofotes.

— Nosso casamento nunca foi muito bom. Lauren sempre foi bonita e se esforçava para que eu gostasse dela, mas ela nunca foi v... — disse ele fazendo uma pausa. — Nunca foi o que eu queria. Em um momento acho que ela cansou de tentar dos meios tradicionais e partiu para uma nova técnica. Ela disse que estava grávida.

Ele olhava sério para seu copo enquanto falava, mas deu um sorriso irônico ao falar isso. Eu tentei pensar se havia deixado passar algo durante esses anos, mas eu não lembrava de Edward ter filhos.

— Mas eu não posso ter filhos — comentou com um sorriso ainda maior. — Foi a desculpa perfeita para pedir a separação, já que ela estava me traindo.

— E como isso não chegou em nenhum tabloide? — questionei.

— Você sabe que o dinheiro compra tudo.

Eu queria perguntar se seu coração não estava partido, se havia doido quando tudo acabou e o que ele tinha feito para que parasse de doer, porque o meu ainda doía mesmo depois de meses. Mesmo que eu soubesse que nunca amara Peter como amara Edward.

De divórcio, Edward me perguntou mais sobre o meu livro. Eu contei que era um livro sobre feminismo, mas sem a intenção de ser algo academicista e sim um livro que pudesse informar de um jeito desconstruído.

Diferente da expressão distante que Edward tinha enquanto falava sobre seu divórcio, ele tinha uma mão apoiada na bochecha enquanto olhava para mim com uma expressão orgulhosa. Eu adorava como ele sempre me ouvia falar.

— Eu sinto muito por sua mãe — disse ele depois de um tempo de silêncio.

Renée havia falecido fazia dois anos, infarto. Eu ainda sentia falta dela e seu jeito único, mas eu estava em paz com sua ida. Sabia que minha mãe não era o tipo de pessoa que gostaria que sua morte tornasse a vida de qualquer pessoa triste.

Eu sabia que Edward era um fã dela, mesmo antes de nos conhecermos já curtia o som de Inez and The Rumors, mas aprendeu a gostar mais depois da convivência comigo e de conhece-la pessoalmente.

— Eu sinto muito por seu pai — falei.

Ele desviou o olhar e riu seco para o copo antes de falar:

— Eu não sinto por ele.

Parecia haver tanta mágoa em sua voz que eu tive a certeza que certas coisas não tinham mesmo mudado.

De morte, nós mudamos de assunto para nossos antigos colegas, que era um assunto mais tranquilo. Como duas senhoras fofoqueiras, comentamos sobre a separação de Royce e Rosalie — e eu discorri por minutos sobre como eu não gostava dele desde a faculdade —, sobre o casamento de Jasper com uma garota chamada Alice, sobre a organização onde Angela trabalhava e todos os outros assuntos da vida dos outros que achamos interessante comentar.

Era fútil, mas naquele momento só queríamos continuar a conversar sobre qualquer coisa.

Quando eu comecei a sentir que todo o álcool que eu consumi durante a noite estava me deixando mais solta do que eu deveria estar, anunciei que precisava voltar para o hotel. Eu tinha ido de táxi, mas como não era muito distante, Edward se ofereceu para andar comigo até lá.

Nós pegamos nossos casacos na chapelaria do hotel e saímos para a rua iluminada, bem próximos ao outro, mas sem encostar. A garota que conhecia ele — muito desperta pelo álcool —, me dizia que não segurar a mão dele enquanto andávamos era errado, mas a parte racional em mim, sabia que não fazia sentido ser tão intima dele depois de tudo.

Enquanto andávamos, lembrávamos dos momentos que tínhamos passado juntos. As festas, as reuniões do coletivo que participávamos, os momentos sozinhos, tudo parecia vir à tona com tranquilidade.

— Eu sinto falta da sua voz — confessei sem vergonha. — Adorava quando você cantava para mim.

Eu o observei pelo canto do olho e o vi sorrindo antes de começar a cantar uma música pop que costumávamos dançar juntos no passado. Era incrível o quanto eu ainda preferia qualquer música na voz dele.

Completamente desinibida — não sabia se pelo álcool ou pela presença de Edward, tão familiar —, cantarolei junto com ele enquanto dançava.

No one can tell us we're wrong. Searchin' our hearts for so long. Both of us knowing. Love is a battlefield.

Animada como estava, dei alguns passos para rua e logo me arrependi, quando meu salto alto ficou preso na rua de paralelepípedos, quase me fazendo cair, mas Edward me pegou antes que eu fosse ao chão. Aproveitei esse contato, para tirar meus saltos e ficar descalça.

Quando me ajeitei e voltamos a andar, Edward ainda segurava minha mão, mesmo que eu estivesse dançando.

Ele emendou uma música na outra e quando vi, estávamos os dois dançando no meio da rua. Por sorte era tarde demais — ou cedo —, para que tivéssemos companhia.

— Por que você nunca me ligou? — indaguei de repente.

— Eu te liguei — afirmou ele.

— Dois anos depois de partir? Uma semana depois que o convite do seu casamento chegou?

— Eu nunca te mandei o convite do meu casamento — disse confuso.

Lauren.

— Era tarde demais, Edward.

Minha resposta trouxe o silêncio, mas mesmo assim Edward não soltou a minha mão. Chegamos no meu hotel e nenhum de nós queria dizer adeus, então Edward perguntou se podíamos continuar ali, sentados na escadaria do hotel.

A visão deveria ser no mínimo peculiar vista de fora, dois adultos com roupas elegantes demais sentados em uma escadaria. Mas assim como a cantoria no meio da rua, tudo era familiar demais, como o que fazíamos quando éramos jovens e achávamos que sabíamos de tudo.

— Quando eu voltei para casa, eu tinha um casamento arranjado me esperando — contou ele. — Sempre achei que o relacionamento com Lauren era uma opção que eles me apresentaram, mas eu não tinha uma escolha.

— Você não sabia?

— Eu te juro que não — disse olhando em meus olhos.

— E você não podia ter me contado? Eu esperei sua ligação por dois anos — falei.

— Falar com você era admitir o fracasso, que eu nunca poderia ter o que eu queria.

— Você sempre pode falar tudo comigo, eu era sua melhor amiga.

— Nós dois sabemos que você sempre foi mais do que isso.

— Eu sabia, mas você não parecia saber — apontei.

Ele me olhou confuso, então continuei.

— Pra você eu sempre fui Tinker Bell, sua melhor amiga, aquela que iria para aventuras com você. Mas eu também era Wendy, a garota que te amava e você não via — apontei.

— Eu sempre te vi, Bella. Algumas vezes você era a única coisa que eu enxergava — disse sem olhar nos meus olhos. — Eu sempre amei você.

— Então por que você não me ligou logo? Por que me ligou tão perto de casar?

Edward ainda segurava minha mão, desenhando padrões com a ponta dos dedos, mesmo que o clima não fosse tão agradável quanto à minutos atrás, com nós dois dançando na rua. Ele riu fraco enquanto balançava a cabeça.

— Eu queria fugir de tudo, ligar o foda-se, sabe? Liguei para saber se você me receberia, se me aceitaria.

— Mas eu não atendi.

— E eu apenas aceitei o meu destino.

Novos cenários se juntaram aos ‘e se’ que me assombraram nos últimos meses. O que teria acontecido se eu tivesse atendido aquela ligação? O que teria acontecido se Edward tivesse ligado antes?

— Se você tivesse ligado uma semana antes, eu teria atendido a ligação — confessei.

— Mas eu não liguei.

Eu achava que tinha o perdoado, mas depois de ouvi-lo entendi que eu precisava escutar a verdade sobre tudo. Tinha o amaldiçoado por anos por me fazer sofrer, por sumir, por não ligar, até que assumi que éramos jovens demais e que não valia mais a pena sofrer pelo que tinha acontecido e o que poderia ter sido. Então amaldiçoá-lo novamente depois que meu casamento acabou.

Porém ouvi-lo falar o seu lado da história, ao mesmo tempo que me trouxe novos cenários, também me deu uma paz que eu não sabia que precisava. Pensei por anos que eu não o conhecia o suficiente, imaginando que o sentimento que sentíamos fluía de um lado só, mas escutá-lo depois de anos fez com que minha dúvida fosse embora.

— Eu não liguei, mas eu escrevi — confessou ele depois de um tempo. — Comprei cadernos de couro como os que você costumava carregar para cima e para baixo, e escrevi como se falasse com você.

Eu poderia dizer que falar comigo seria mais fácil, mas ao invés disso perguntei outra coisa.

— Você continua escrevendo?

— Não com tanta frequência como naquela época. Nos dois primeiros anos e quando casei, escrevia todos os dias, estava tão perdido que só queria que as páginas tivessem a sua voz para me responder — contou. — Mas depois fui diminuindo, parecia bobagem continuar escrevendo pra você depois de tanto tempo, mesmo que doesse te deixar para trás.

Era reconfortante saber que não tinha sido só o meu coração a ser despedaçado.

Não sei por quanto tempo nós ficamos em silêncio, minha cabeça apoiada em seu ombro, ele segurando a minha mão, mas quando o dia começou a clarear, ele disse que precisava ir embora.

Nós levantamos e ele me levou até a porta do hotel, então beijou minha testa, se virou para descer as escadas, mas depois de descer o primeiro degrau, virou-se para mim.

— Por que Peter? — questionou.

— Pareceu certo na hora.

— Mas Peter? — insistiu indignado.

— Você não estava lá, você não pode julgar.

 

*

2009

Na semana seguinte eu estava na redação quando meu celular tocou, era um número desconhecido que eu logo descobrir ser Edward.

— Como conseguiu meu número? — questionei curiosa.

— Rosalie.

Nós cobrimos as questões de praxe sobre como estávamos e o que estávamos fazendo, então Edward me perguntou.

— Estou pensando em ir para New York no final de semana, quer fazer alguma coisa? — questionou.

— Pode ser, me diz qual o horário que você está livre e eu arrumo a minha agenda para fazermos algo.

— Eu estou livre quando você estiver livre — disse ele.

— É um encontro?

— É o que você quiser que seja.

Quando desligamos a ligação, eu tentei não me sentir como uma adolescente por causa da ligação e o encontro iminente. Edward estava vindo de São Francisco só para me ver! Eu não conseguia contar quantas vezes eu havia desejado isso em segredo, que ele viesse atrás de mim.

Nossa conversa no final de semana não havia sido perfeita, havia mágoa e coisas que ainda não tínhamos dito, mas estar com Edward era tão fácil como anos atrás e pela primeira vez desde que eu me separara, me sentia confortável em um ambiente que não fosse o trabalho.

Não tínhamos estabelecido o que faríamos, mas eu tentei achar um meio-termo na hora de escolher como me vestiria. Meia-calça, uma saia preta e um suéter.

Eu tinha me mudado para um apartamento desde a separação minha e de Peter, mas combinei de encontrar Edward na frente de seu hotel, querendo um pouco do controle da situação.

Assim que cheguei, Edward já me esperava na entrada. O cabelo tradicionalmente bagunçado, diferente de quando nos reencontramos, uma das mãos no bolso do jeans enquanto a outra segurava um cigarro. A cena era tão específica que não resisti e roubei o cigarro da mão dele e dei uma tragada.

— Certas coisas não mudam — disse sorrindo quando eu devolvi o cigarro.

Eu sorri de volta.

— Então, o que faremos hoje? — perguntei.

— Eu estava pensando em assistir uma peça e jantar, o que acha?

— É um encontro então.

Nós pegamos um táxi até a Broadway e escolhemos a peça que veríamos — Hamlet —, mas como estava muito cedo, caminhamos até uma lanchonete perto dali onde costumávamos comer quando íamos assistir alguma peça.

O lugar que era cheio de cores e letreiros neons quando costumávamos frequentar, agora exibia cores sóbrias da mesma cartela.

— Algumas coisas não mudam, mas outras... — comentei depois de nos sentarmos.

— Eu não posso dizer que sinto falta da explosão de cores — apontou Edward. — Com certeza está melhor assim.

— Realmente — concordei.

Apesar da mudança estética, o lugar continuava com o mesmo cardápio, então pedimos batatas e milkshake como fazíamos.

Depois de comer, fomos para o teatro e assim como tudo o que fizemos desde que nos reencontramos, tudo parecia familiar demais. O toque constante da sua mão na minha, o som da risada dele e o jeito que ele me olhava quando eu queria comentar alguma coisa.

Não parecia que tínhamos passado tanto tempo distantes, que tantas questões mal resolvidas ficaram entre a gente, que tínhamos nos visto, a primeira vez depois de anos, dias atrás.

Quando a peça acabou, desistimos de jantar em um restaurante e resolvemos comer em uma barraca de rua e caminhar em um parque próximo ao hotel onde Edward estava hospedado.

Nos sentamos em um banco meio afastado da entrada e eu apoiei minha cabeça no ombro dele, como tínhamos feito no dia anterior, com ele desenhando padrões no meu braço. Sua expressão séria enquanto fazia isso poderia dar a impressão de que estava zangado, mas eu sabia melhor.

— Eu nunca te perguntei o que tanto você desenha em mim — comentei.

— Estrelas.

— Por quê?

— Eu gosto de estrelas — deu de ombros.

Eu aceitei aquela resposta, mas ele continuou.

— ‘De alma e corpo me sinto a ela tão preso, que assim como não sai da órbita a estrela, sem ela não me mexo’. Shakespeare — disse ele. — Acho que já te falei uma ou outra vez sobre como as pessoas param para te ouvir, não importa o que esteja fazendo. É legal de observar, mas eu sei que não sou imune. Você é a grande estrela, como o Sol, nós, meros mortais, apenas orbitamos ao seu redor.

— Tanta profundidade em um só desenho — comentei tentando absorver suas palavras.

— É óbvio que não penso nisso cada vez que toco em você, seria piegas demais, falso até. A verdade é que sempre gostei das estrelas, então associei elas a você.

Eu não estava mais acostumada a isso, os elogios inesperados de Edward. Seus elogios eram quase sempre carregados de emoção, com detalhes da minha personalidade que eu mesma não percebia. Sempre faziam com que eu me sentisse grande e importante, mesmo que as vezes eu me achasse irrelevante.

Pensei no quanto sentia falta disso, de seu jeito de me tratar que sempre fazia com que eu me sentisse bem, não de uma maneira rasa, mas que tocava minhas inseguranças e fazia com que elas parecessem insignificantes.

Coloquei minha mão em seu rosto e o virei em minha direção, olhei seus olhos verdes por alguns segundos, cheios de expectativa, então o beijei.

Havia passado os dias anteriores pensando se o beijaria ou não, se seria estranho ou não, mas nenhum dos meus pensamentos conseguiu captar aquele momento. A sensação incrível, como se eu estivesse voltando para casa.

Nenhum de nós tentou apressar as coisas, apreciando o momento com leveza. Fazia tanto tempo desde a última vez que nossos lábios se tocaram, que eu apenas queria aproveitar cada segundo novamente, sem pressa.

— Eu senti sua falta — falei quando nos afastamos um pouco.

 

*

2009

Depois do primeiro beijo e do primeiro final de semana, foi muito fácil cair em uma rotina.

Edward saia de São Francisco assim que o expediente acabava, então pegava um voo para Nova Iorque e chegava próximo da meia-noite. Nos primeiros finais de semana, ia para seu hotel e nos encontrávamos no sábado na hora do almoço, até que eu ofereci meu apartamento para ele, então acordávamos juntos por dois dias.

Íamos para bares no centro — o apelo de baladas havia sumido para nós dois há algum tempo —, peças de teatro, jantares ou brunches, passeios no parque e o que mais nos desse na telha, mas também passávamos muito tempo em meu apartamento, deitados na minha cama ou sentados no piano antigo de Renée. Edward aceitava o que quer que eu propusesse, fosse ficar em casa, ir ao mercado ou fazer algum outro programa fora de casa.

No dia anterior eu precisei cobrir um evento para o NYT, Edward decidiu me acompanhar — como sempre fazia —, e quando a obrigação acabou, ele comentou sobre o quanto se orgulhava de mim e me admirava pelo meu trabalho.

Depois de um sábado de evento, decidimos passar o domingo no meu apartamento.

Edward estava sentado no piano e eu sentada em seu colo, tínhamos tocado Perfect Girl juntos — com o arranjo que ele havia feito anos atrás —, então eu tinha começado a tocar Pictures of You sozinha.

A música do The Cure havia sido lançada um pouco antes de Edward ir embora, quando escutei pela primeira vez havia achado uma boa música, mas sem nenhum outro apelo para mim, só que depois de sua partida, a letra ganhou um novo significado para mim. A melodia melancólica e a letra sobre lembranças e arrependimentos parecia falar direto comigo, me segurando para que eu mesma não rasgasse as fotos de Edward que eu tinha.

Estar nos braços dele enquanto tocava tinha um gosto agridoce, a alegria de voltar para onde eu me sentia bem e o medo de que ele fosse embora de novo e eu ficasse apenas com suas fotos novamente.

— Eu queria poder ficar com você a semana inteira — comentou com as mãos apoiadas na minha barriga, por dentro do meu suéter.

— Então fique — respondi simplesmente.

— Eu queria que fosse tão fácil — riu ele.

Eu sempre achara Edward uma pessoa fácil, ficava feliz por tudo, mas isso não era uma das coisas que continuavam iguais. Ele continuava rindo fácil e sendo agradável em todo momento, porém quando ficávamos em silêncio eu sentia que ele não estava 100%.

Odiava vê-lo assim, mas não sabia o que fazer.

— Quando eu estou aqui com você, é como se eu voltasse a ter 20 anos. Cheio de sonhos, querendo mudar o mundo — falou depois de um tempo. — Com a ilusão de que eu conseguiria ir contra o que meus pais queriam. O Edward que te conheceu teria vergonha de quem eu sou agora, o retrato do que eu nunca quis ser.

Sua voz parecia escorrer arrependimentos, então parei de tocar e fiquei de lado em seu colo, passando a mão em seus cabelos.

— A maioria das pessoas sente a falta dos pais depois que eles morrem, queria ter passado mais tempo com eles. Sabe o que eu queria do meu? Que ele tivesse tido outro filho, que não precisasse ser eu. Eu não sinto falta dele nem por um segundo, mas se eu pudesse ter apenas um pedido relacionado a ele, seria isso, que não fosse eu.

Seu olhar era perdido enquanto falava, mais como um desabafo do que um diálogo, então apenas deixei com que ele continuasse a falar.

— Eu queria gostar do que faço, nem que fosse um pouco, mas cada dia como presidente da Masen é como mais um dia no inferno.

— Também queria que você gostasse do que faz — disse passando a mão em seu rosto.

— Não odiar já seria o suficiente, mas é tarde demais.

 

*

2009

Indo contra nossos finais de semana em Nova Iorque, seguindo mais o roteiro da minha vida do que da dele, Edward precisava comparecer a um jantar oferecido por um conhecido, então eu voei para São Francisco para fazer companhia para ele.

Eu vesti um macacão tomara que caia de alfaiataria, preto. Prendi o cabelo em um coque sofisticado e passei uma maquiagem leve. Quando terminei de me arrumar, ajeitei a gravata de Edward que disse:

— Que saudade do seu batom preto, punk.

— Ele ficava bem em mim e em você — comentei rindo.

Nós fomos o caminho inteiro lembrando do passado, das roupas que usávamos e das roupas que eu roubara dele. O sorriso no rosto dele era tranquilo, como todas as vezes que lembrávamos de como éramos, mas assim que chegamos ao local do evento, seu sorriso desapareceu.

Assim que chegamos fomos abordados por um senhor de cabelos brancos — que eu descobri ser amigo antigo de Sênior —, Edward me apresentou como sua namorada com um breve sorriso, antes que ele começasse a falar. Quando descobriu nosso status de relacionamento, desatou a falar sobre como Edward era talentoso e havia mantido a empresa em pé.

Eu era uma jornalista, poderia não ser especialista em economia, mas entendia o suficiente para saber o que tinha acontecido em 2008 e o caos que gerou para muitas empresas, não apenas nos Estados Unidos, mas também no mundo. Mesmo que a Masen não estivesse no ramo imobiliário e não fosse uma empresa de capital aberto, quando a economia quebra daquela maneira, é impossível não respingar em outros setores além do que inicialmente fez tudo ruir. Edward havia assumido a empresa pouco antes do grande boom e mesmo assim conseguiu controlar as coisas.

Centenas de pessoas poderiam perder os empregos, era comum que as empresas sofressem com a mudança de liderança, seria ainda mais aceitável nessa conjuntura, mas Edward manteve tudo de pé. Ele podia odiar tudo o que fazia, mas ele realmente sabia o que estava fazendo.

Naquela noite, não tivemos um momento sozinhos, a cada movimento que dávamos, éramos abordados por uma nova pessoa.

Diferente da minha maneira usual, sempre falando com as pessoas e questionando, eu sorri e acenei durante toda a noite, observando tudo.

Edward claramente era o foco de toda a minha atenção e eu não consegui evitar a comparação dele em seu mundo e no meu. Quando Edward estava em algum evento comigo, parecia sempre leve, quase tranquilo. O contraste era um pouco assustador, do meu melhor amigo de sorriso fácil, para essa pessoa que quando ria, não chegava aos olhos.

Era doloroso ver o motivo de seus desabafos diante dos meus olhos.

Além disso, eu sentia que não me encaixava ali. Já havia participado de inúmeros eventos que eu não concordava com as pessoas envolvidas, sabia o momento de falar e de ouvir. Era jornalista afinal, tinha minha opinião, mas as vezes precisava deixar minhas convicções em espera, para não perder oportunidades.

Porém aquela festa com Edward não parecia a mesma coisa, não era trabalho. Era socialização com o inimigo.

Enquanto ouvia as pessoas falando sobre ações e sobre lucrar na crise, eu me questionei se poderia aguentar mais um jantar daquilo. Como alguém poderia falar positivamente da crise do ano anterior — que ainda estávamos nos recuperando —, quando pessoas haviam perdido suas casas? Não entendia como as pessoas podiam falar com tanta naturalidade sobre isso?

 

*

2009

Depois daquele primeiro jantar, vieram outros. Ainda passávamos mais tempo orbitando sobre a minha vida, do que a dele, mas começamos a ser convidados para mais eventos.

Era exatamente como os eventos que eu fora com Peter quando estávamos juntos, com pessoas tão diferentes de mim, que mesmo que eu pudesse manter uma conversa, sentia que estava no lugar errado, mas o que mais doía em mim quando estávamos na vida de Edward, é que eu não o reconhecia.

O sorriso brilhante sumia e sua expressão estava quase sempre séria demais, ele não ria das piadas machistas como Peter, mas também não fazia nada para mudar.

Quando era mais nova, achava sensual a maneira que Edward lidava com tudo, falando baixo, questionando pouco. Se queria alguma coisa, sabia ser persuasivo, mas falava mais por arte do que com as próprias palavras. Agora, toda a sensualidade de seu jeito calmo parecia conformismo e eu me pegava pensando, onde estava aquele Edward que queria mudar o mundo?

Nós sempre combinamos, não apenas nos gostos, mas em ideias e vontades. Enquanto eu falava alto, discursava com facilidade, Edward parecia sussurrar, mostrando sua opinião através do que ouvia, vestia e fazia. Mas a cada novo jantar, via o peso em seus ombros. Parecia que ele não existia mais.

Era tão diferente de quando eu e Peter estivemos juntos, porque eu sentia que conhecia Edward, mesmo vendo uma pessoa diferente na minha frente, ao mesmo tempo que eu sentia que tinha o perdido.

Era uma dualidade estranha, mas a cada final de semana — um em meu apartamento, outro em São Francisco —, eu me questionava o que estava fazendo. Eu estava enganando a mim mesma, enxergando o que eu queria ver em um Edward que já havia ido embora?

Aquilo começou a rodar a minha cabeça, me deixando sem dormir, então depois de alguns dias de dúvida decidi conversar com uma pessoa de fora.

Eu sempre me gabara do bom relacionamento que eu tinha com meus pais, desde quando era jovem, quando ouvia suas histórias e sonhava quando eu mesma viveria coisas parecidas com aquilo. Adulta, fui criando maneiras de não deixar com que nossa proximidade fosse embora e ligava para eles pelo menos uma vez por semana, além das visitas mensais sempre que possível. Não era fácil, com a minha vida de jornalista, mas o esforço valia a pena.

Quando Renée morreu, dois anos antes, foi como perder um pedaço de mim, mas as lembranças de todos os momentos e conversas que tivemos, mantiveram minha consciência tranquila de que eu havia aproveitado a vida com ela.

Éramos apenas eu e Charlie desde então, em nossos encontros mensais e ligações quase diárias.

Com a cabeça cheia de questionamentos sobre meu relacionamento com Edward — se ele estava comigo pela nostalgia ou porque realmente gostava de mim, se eu enxergava nele o cara que eu me apaixonei quando eu era jovem e por isso o amava, se aguentaria ficar com alguém que não vivia o que acreditava —. Eram tantos questionamentos, que eu sabia que só Charlie poderia me ajudar, então peguei um avião.

Não importava que era meio de semana, ou que eu tivesse o visitado em menos de quinze dias. Eu só precisava conversar com ele naquele momento e o telefone não era o suficiente.

Uma passagem de avião e três horas depois me levaram até Clearwater, onde Charlie morava. Quando bati em sua porta ele se surpreendeu, mas me abraçou apertado e me levou para a cozinha, para preparar um chocolate quente para mim.

Assim que ficou pronto, me entregou minha xícara favorita e se sentou ao meu lado em silêncio, esperando que eu falasse. Seu jeito quieto e observador era tão diferente de Renée, mas eles sempre combinaram tão bem.

— Como você sabia que amava a mamãe? — questionei.

Eu já havia escutado suas histórias diversas vezes, mas não lembrava de ser direta daquele jeito.

— O amor não é preto e branco, eu te ensinei isso — disse ele. — Existem pessoas que amam mais de uma pessoa ao mesmo tempo, como aquela amiga de sua mãe, Carmen, que tem dois maridos. Tem pessoas como eu e sua mãe, que amam com liberdade. Tem pessoas que não nasceram para compartilhar e tudo bem com isso, porque o amor não vem em um molde.

Ele abaixou os olhos em direção a xícara e sorriu ajeitando os óculos, provavelmente se lembrando do passado enquanto organizava as palavras.

— Nós éramos fruto da geração de amor livre, da liberdade de expressão. Paz e amor, sexo e rock’n’roll — contou Charlie. — Éramos melhores amigos e companheiros de luta, mas não tínhamos nada demais quando sua mãe disse que queria ter um filho comigo. Renée era uma coisinha única.

Nós dois sorrimos, Renée era uma força da natureza. Tinha opinião forte e não tinha medo de se fazer ouvir, ria alto, dançava sem vergonha.

— Parecia loucura, então eu aceitei. Nós resolvemos morar juntos porque eu também queria fazer parte da sua criação, mas nenhum de nós falou sobre um relacionamento de início. Ficávamos quando sentíamos vontade, mas não éramos exclusivos — lembrou ele. — Depois de um tempo, quando até nossos outros amigos começaram a estabelecer relacionamentos monogâmicos eu questionei Renée se ela não queria o mesmo, mas ela disse que gostava das coisas como estavam.

Eu lembrava de ver ambos os meus pais beijando outras pessoas, Renée inclusive teve um namorado. Quando era grande o suficiente para entender, meus pais me ensinaram sobre amor e sobre relacionamento, que cada pessoa tinha o direito de ser feliz como queria e que ninguém deveria ter o direito de opinar no relacionamento dos outros — se fosse um relacionamento saudável —.

Sempre foi muito natural pra mim, não só com meus pais, mas no meio artístico que eles viviam e com os amigos que eles traziam para casa. Estranho para mim, eram os pais de alguns colegas da escola, que torciam o nariz e os amaldiçoavam de longe.

— Sua mãe era minha melhor amiga e não havia algo mais natural do que estar com ela. Eu podia estar com quantas pessoas eu quisesse, mas nada se comparava a relação que eu e sua mãe tínhamos. Quando percebi isso, eu a pedi em casamento — disse sorrindo. — Eu não estava querendo que nos tornássemos exclusivos, nós dois gostávamos de nossa liberdade do jeito que era, mas eu queria o compromisso, a certeza de que era pra sempre, não importa com quem estivéssemos ou onde estivéssemos.

Mesmo depois que ela havia partido, a voz dele ainda transbordava amor e carinho.

— Nosso casamento não foi tradicional, nem mesmo com um papel na mão deixamos de ficar com outras pessoas, mas isso funcionava pra gente, não era um problema — explicou ele.

— O amor não vem padronizado.

— Não vem, minha Bella, cada um ama de um jeito — concordou ele. — Mas você precisa estar com alguém que te faça se sentir bem o tempo todo, uma pessoa que saiba o que quer e combine com você.

Eu encarei minha xícara de chocolate pensando se eu e Edward ainda combinávamos. Era amor ou nostalgia?

 — Posso te dar um conselho? — perguntou Charlie mexendo nos bigodes brancos.

— Sempre, pai.

— O amor romântico é uma coisa boa, seja como o meu e de sua mãe, o de Carmen e os maridos, ou o de qualquer outro, mas nada deve superar o seu amor por você mesma, querida — aconselhou ele. — Eu e Renée tivemos outras pessoas durante todo o tempo em que estivemos juntos, mas se isso machucasse qualquer um de nós, era hora de tornar nosso relacionamento fechado ou de nos separarmos. Você viveu um casamento que não era certo por anos e saiu dele machucada, não faça isso com você novamente. Nós te criamos para coisas extraordinárias, não aceite menos do que você merece.

 

*

2009

Depois de conversar com Charlie, algumas coisas ficaram mais claras para mim. Eu realmente amava Edward, gostava de sua mania de desenhar estrelas em mim, do jeito que ele sempre tinha os elogios mais inusitados, amava o jeito que ele segurava minha mão e como meu corpo se encaixava no dele. Amava as marcas de expressão que ele havia ganhado, seu novo corte de cabelo. Amava ele. Mas havia coisas na nova versão que não se encaixavam para mim.

A resignação com sua vida, mesmo que não agradasse ele, o contraste do que ele acreditava com o que ele vivia. Além da sensação constante de que ele estava preso no passado, que eu era a sua aventura, mesmo que estivéssemos namorando dessa vez e que nosso relacionamento fosse exclusivo.

Quando Edward chegou naquela sexta à noite eu decidi me dar uma última noite de ignorância, eu permiti que ele me despisse e me amasse. Por alguns instantes eu acreditei que aquilo poderia ser o suficiente, que tê-lo em alguns finais de semana poderiam me bastar.

Só que aquilo não era verdade.

Antes mesmo de falar, meu coração já estava partido, mas depois de pensar sobre isso durante toda a semana, eu não podia adiar mais. Eu sabia que essa conversa seria necessária e quanto mais tempo eu adiasse, mais difícil seria seguir em frente e juntar os pedaços. Eu não podia estar com alguém que vivesse pela metade.

Então no sábado de manhã, quando ele começou a distribuir beijos no meu pescoço como fazia toda vez que dormíamos juntos, eu falei:

— Eu não consigo mais fazer isso.

— Isso o que? — disse ele parando os beijos.

Sentei-me na cama e ele imitou meu gesto.

— Isso o que estamos fazendo, esses encontros de finais de semana onde passamos 90% do tempo vivendo a minha vida — falei. — Eu me sinto como uma amante, como alguém que você usa para escapar da vida que você odeia.

— Bella, eu não tenho ninguém além de você — respondeu sério.

— Você tem São Francisco, tem a Masen, tem reuniões intermináveis e jantares com pessoas importantes.

— É o meu trabalho — defendeu-se. — O que você quer que eu faça? Quer que eu largue tudo?

— Você sabe que não, eu nunca te pediria uma coisa dessas. Eu sei lidar com realidades diferentes, casei com Peter não foi? — comentei. — Quando nos conhecemos, você tinha Lauren e nós não namorávamos, mas eu sentia que eu tinha 100%, mas agora mesmo que sejamos só nós dois, eu sinto que só tenho um pedaço de você. E não é porque você não se doa por inteiro, mas é que você não é só uma parte.

A cada palavra eu sentia meu coração partindo um novo pedaço, quando Edward foi embora, eu fiquei em pedaços. Deixa-lo ir não era nem de longe mais fácil.

— Eu não quero estar com uma pessoa assim de novo, Edward. Que é exatamente o tipo de pessoa que criticamos tanto quando éramos jovens, que aceita seu emprego e não faz nada pra mudar. — falei. — Quando estamos sozinhos ou em algum evento da minha rede de pessoas, você é o cara sonhador que eu conheci, tão revolucionário quanto eu. Só que quando estamos com alguém da sua outra vida, a pessoa que eu gosto vai embora. Resta apenas aquele garotinho com medo de decepcionar os pais, que faz o que não gosta para que gostem dele.

— Este é o meu trabalho, Bella. Eu faço o que for preciso para manter as coisas no lugar.

— Você ama o que faz? — questionei. — Não apenas gostar, mas amar. Você olha para o que faz e sente orgulho, prazer?

Eu esperei que ele dissesse algo, mas ele apenas abriu a boca e fechou novamente.

— Exatamente — apontei. — Você está acomodado onde está, tem medo de fazer algo que realmente goste e acredite, se isso fosse o que você gosta de verdade, eu te apoiaria com todo meu coração, mas não é. Eu conheço você.

Segurei as mãos dele entre as minhas naquele momento, querendo um último toque antes que tudo desmoronasse.

— E eu não posso mais lidar com isso. Não posso ser sua amante aos finais de semana, a garota dos seus sonhos adolescentes — desabafei. — Eu tenho 41 anos, não posso viver com o mesmo ‘e se’ que eu vivia quando nos conhecemos. Seu pai morreu, você nem ao menos fala direito com a sua mãe, então do que você tem medo?

Cada palavra era um pedaço do meu coração que se partia novamente, não havia machucados físicos, mas eu me sentia sangrar.

— Não posso mais viver em um relacionamento com alguém tão resignado com a vida, mas que também não faz nada para mudá-la. Não posso ser a sua loucura da meia idade, porque eu sei que quando os caras cansam de seus carros esportivos, eles voltam para seus volvos confortáveis e eu não quero ter meu coração partido por você mais uma vez.

— Nunca foi minha intenção partir seu coração, Bella.

— Eu sei, mas você partiu e doeu tanto juntar os pedaços que eu sei que não aguentaria de novo.

— Eu não vou partir seu coração.

— Palavras bonitas são só isso, palavras. Não adianta falar e dizer que defende e perpetuar os mesmos padrões — apontei. — Queria que isso fosse verdade, que não vai partir meu coração, mas não é. Eu já assisti essa história e eu sei como ela termina.

 

*

2009

Terminar com Edward foi uma das coisas mais difíceis da minha vida.

Quando ele foi embora, por muito tempo eu ainda nutri a esperança de que ele pudesse me ligar a qualquer momento, que poderíamos ter algo a distância, que ainda existia a possibilidade de algo acontecer entre nós. Quando a ficha caiu, me rasgou em pedaços, mas ele já havia ido embora fazia tempo.

Mas aquela vez era diferente, parecia como um fim definitivo e quem havia dado havia sido eu.

Eu amava Edward, intensa e poderosamente, como eu nunca amara outra pessoa na minha vida e como eu sabia que nunca amaria de novo. Desistir dele, era a decisão mais dolorosa que eu já havia tomado.

Trabalhar nas semanas seguintes havia sido meu ponto de escape, mas toda vez que eu tinha um tempo livre, voltava a pensar nele. Os questionamentos voltaram a me assombrar, eu tinha sido dura demais com nós dois?

Duas semanas depois, eu estava sentada na minha cama com meus cadernos antigos, fotos da minha juventude espalhadas pelo edredom, pensando em escrever um artigo sobre ativismo no decorrer das décadas, quando recebi uma mensagem de Edward.

Edward: A gente pode conversar?

Algo que não tivemos a chance da primeira vez que nos separamos, diálogo. Eu não devia interromper meu processo de luto, mas não consegui dizer não a ele. Sentia tanta falta, queria vê-lo, então disse sim.

Edward apareceu na minha porta, próximo ao horário do almoço, com seus jeans e uma camisa colorida que eu tinha certeza que era de quando nos conhecemos, carregava um saco de papel que eu imaginei ter comida dentro.

Ele tinha olheiras debaixo dos olhos, parecia cansado, mas mesmo assim abriu um sorriso de canto quando abri a porta.

Deixei ele se sentir confortável, arrastei a mesa de centro da sala para perto do sofá e passei na cozinha para pegar uma cerveja para mim e uma para ele. Quando voltei, me sentei de frente para ele com as pernas cruzadas e esperei que ele começasse a falar.

— A última briga te tivemos, me fez refletir. Não, você terminando comigo me fez refletir — começou ele. — Quando eu era jovem, achava que sabia de tudo. E talvez eu soubesse mesmo de muita coisa. Mas eu não sabia do mais importante, que ir embora me destruiria mais do que qualquer coisa. Agora eu estou velho o bastante para saber que se eu te deixasse ir dessa vez, não restaria nada de mim, porque eu já tinha deixado tudo ir embora.

Ele respirou fundo e então olhou em meus olhos antes de continuar.

— Você tem razão, eu realmente estava acomodado. Tão sufocado em raiva e ressentimento, que nem ao menos notei todas as possibilidades que eu tinha. Passei tanto tempo querendo mudar o mundo só do meu jeito, que não me atentei as outras possibilidades.

Apenas aquela fala fez meu coração balançar.

— Eu aceitei a imposição dos meus pais, tenho uma empresa nas minhas mãos e não posso mais mudar isso. Então resolvi fazer dela a empresa que eu quero — contou abrindo um sorriso tranquilo. — Não sei se vou conseguir isso imediatamente, mas pretendo mudar os cargos de liderança até o próximo ano. Começar pelos cargos de diretoria que tem um acesso direto a mim. Quero pessoas que acreditem nos mesmos ideais que os meus. A intenção é equilibrar o número de homens e mulheres na liderança e equiparar os salários.

Edward continuou falando animado sobre seus planos. Queria abrir alguns novos departamentos, um que fosse voltado para a área de sustentabilidade e preservação do meio ambiente, e um outro focado em responsabilidade social, apoiando projetos para melhorar a qualidade de vida das pessoas.

— Pela primeira vez na vida eu entendi que eu não preciso seguir o caminho dos meus pais, eu realmente posso mudar a vida das pessoas — disse ele. — Mas eu também vou diminuir a carga de trabalho, vou contratar uma equipe maior para trabalhar comigo, pra ter tempo para fazer o que eu gosto. Eu não posso largar tudo agora e virar músico, tô velho demais pra isso, mas eu pensei em me voluntariar e dar algumas aulas.

O entusiasmo dele dava gosto, era como ver o garoto que eu conheci de volta para mim

— E antes que você me pergunte, eu estou fazendo isso tudo por mim. Uma parte de mim morria com cada vez que eu ficava em silêncio, mas realmente estava acomodado demais com toda a vida que eu não queria para mudar, a sua conversa abriu meus olhos. Eu sempre quero ser o cara por quem você se apaixonou.

Coloquei o hamburguer que estava comendo de lado e aproximei seu rosto do meu antes de beijá-lo.

Não o via daquele jeito fazia tempo, poderia estar falando sobre qualquer coisa, até que iria largar tudo pra seguir alguma vocação religiosa, que eu ficaria com feliz pela maneira que ele estava. Porque era isso que eu sentia falta, sua força de vontade, seu jeito meio rebelde e sonhador, sua felicidade.

Eu não era uma pessoa utópica, que sonhava com mudanças do dia pra noite, mas ver seus planos e a alegria que estava estampada em seu rosto era o suficiente. Quando nós éramos jovens, achávamos que sabíamos de tudo e queríamos mudar o mundo. Hoje, não erámos tão jovens e éramos conscientes de que não éramos oniscientes, mas continuar buscando saber seria o suficiente.

Era inevitável não pensar na nossa primeira separação, nos sonhos que tínhamos e da dor da separação. Pensei naquela Bella, vendo seu melhor amigo partir em um trem, com o coração aos pedaços mesmo sem ter noção do que viria, com a certeza de que ele voltaria. Ela não estava tão errada afinal e ele tinha voltado pra mim.

FIM.


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Notas finais do capítulo

Oi, oi, Jojo! O que achou da história? Espero que eu tenha conseguido corresponder às suas expectativas ou pelo menos que você não tenha odiado a história hahaahah. Não te conhecia ainda, mas adorei tuas escolhas! E você foi um anjo na #, dizendo que confiava em mim hahaah
Como você deve ter notado, eu escolhi o combo 1 para escrever (a música Cardigan da Taylor Swift com a foto dos dois dançando na rua). Amei muito o segundo combo, mas assim que olhei para Cardigan sabia que tinha que ser ela.
Eu sei que a Taylor fez três músicas contando uma história, mas eu resolvi escrever só com cardigan e minha interpretação pessoal dela hahaha. O que eu não consegui encaixar diretamente no plot, tentei fazer referências, como o batom preto da Bella e as camisetas dos anos 80 (vintage ;p). A imagem eu dediquei duas cenas pra ela, porque eu amei demais e encaixava perfeitamente com a história. E foi muito divertido escrever.
O nome da fic, Sequin Smile, é por causa da música, mas também porque eu amei o duplo significado de Sequin, que além de brilhante, também pode ser uma gíria para falar sobre uma garota legal, que todos querem estar por perto (essa é a Bella).
Enfim, espero muito que tenha gostado, fiz com muito carinho.

E as pessoas que não são a Jojo, me contem o que acharam da história ;) Amaram? Odiaram? O que acharam da Bella e do Edward? Gostam dessa música? Enfim, falem comigo hahhaha
Beijos e até mais!



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