Prato frio escrita por Nyne


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos leitores, tudo bem com vocês?
Aqui vai uma one fresquinha, espero que gostem.
?“tima leitura ♥



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Mesmo após oito anos de relacionamento, sempre que olhava para aquela jovem pequenina, de pele clara e olhos grandes, tinha a certeza de que ela era a mulher da sua vida. Foi essa convicção que fez com no seu aniversário de vinte e cinco anos, a pedisse em casamento, um dos maiores sonhos de Shinobu. Agora lá estavam eles, há poucos meses do tão sonhado dia.

Todos se mostravam empolgados com cada um dos preparativos, as famílias, os amigos, isso sem contar a própria Shinobu, que por não caber em si de tanta felicidade com a aproximação da data, não sabia falar de outra coisa.

- Finalmente todos os convites foram entregues, as flores já foram decididas também, assim como o cardápio, as músicas, a ordem de entrada dos pais e padrinhos, mas ainda tenho a sensação de que falta alguma coisa – dizia com o dedo indicador sobre os lábios – será que são os votos? Eu já fiz os meus, já fez os seus, Doma?

- Ainda não.

- Como assim, ainda não? – pergunta com as mãos na cintura enquanto encarava o rapaz esparramado no sofá da sala – Você não pode deixar isso pra última hora! Quero que tudo seja perfeito no nosso grande dia! – dizia com um sorriso de orelha a orelha.

Por mais que tentasse, Doma não conseguia sentir a mesma empolgação da noiva, na verdade, nos últimos tempos estava é de saco cheio de tudo aquilo. Não aguentava mais ouvir sobre preparativos e nada ligado a casamento. Tentava mudar de assunto algumas vezes, mas quando menos esperava, lá estava Shinobu dando um jeitinho de colocar o casamento como temática da conversa.

- Não preciso fazer votos, você sabe o que sinto por você não sabe?

- Claro que sei, por isso mesmo quero que faça os votos! Todo casamento tem que ter os votos, se não, não tem graça! Acho uma das partes mais lindas da cerimônia.

- Tá bom Shinobu, como quiser. Aliás, já vou indo.

- Mas já? Ainda é cedo.

- Você não quer que eu faça os benditos votos? Pois então, é isso que vou fazer.

Shinobu dá um enorme sorriso e se joga sobre o noivo, o abraçando com força.

- Obrigada meu amor! Sei que toda essa correria está sendo estressante pra você, mas vai passar logo, você vai ver.

- Vai, tenho certeza que vai. – responde sem emoção, querendo acreditar que Shinobu tinha razão, mas com o passar dos dias, Doma não via qualquer tipo de mudança, pelo contrário, Shinobu estava a cada dia mais insuportável e irritante. Não aguentando mais todo aquele clima de cobrança sobre ele, chamou um de seus melhores amigos e futuro padrinho de casamento para sair e espairecer um pouco.

- Pra uma despedida de solteiro, imaginei mais gente aqui. Onde estão os outros? – pergunta Akasa enquanto dava uma golada em seu chopp.

- Isso não é uma despedida de solteiro.

- Não? Você me chamou pra beber faltando uma semana pro seu casamento, imaginei que fosse.

- Nem sei se vai haver casamento, Akasa. – diz Doma desanimado, vendo o exato momento em que o rapaz a sua frente se engasga com a bebida.

- O que disse, Doma? Como assim não sabe se vai haver casamento? – pergunta incrédulo.

- É isso cara, não sei! A Shinobu está insuportável, não tem outro assunto que não seja casamento, alianças, festa, convidados, vestido, está irritante!

- Ah cara, relaxa, isso é normal. Mulheres costumam ser mais afobadas com isso, tenho certeza que ela está tão estressada quanto você. Mas assim que o casamento passar, ela volta ao normal.

- Será mesmo? Acho que com isso de casamento a Shinobu está se mostrando verdadeiramente quem ela é e, se realmente for isso, estou prestes a me amarrar pro resto da vida a uma megera!

- Não exagera, Doma, veja por mim, cara. A Koyuki é um doce, mas durante os preparativos pro nosso casamento ela também ficou um porre! Quando algo dava errado, jogava a culpa em mim e muitas das vezes eu nem sabia o que estava acontecendo! Mas assim que toda a correria passou, ela voltou a ser a Koyuki de sempre. É tudo questão de tempo, Doma, tempo e paciência.

- Mas a Koyuki sempre foi meiga, a Shinobu tem um gênio difícil.

- Você está com ela há oito anos, só viu isso agora? – pergunta cruzando os braços e arqueando uma sobrancelha – Tenha paciência, isso logo vai passar, vai por mim.

- Não Akasa, não dá. Sei lá, estou realmente achando que fiz uma grande burrada ao pedir ela em casamento. Estávamos ótimos como estávamos, foi só falar em casamento pra tudo desandar.

- Doma, relaxa. Se você está tenso e inseguro assim, imagina a Shinobu! Se pra nós é difícil, para as mulheres é muito mais. Pensa positivo, só falta oito dias a contar de hoje pro casamento acontecer, depois disso tudo volta ao normal e a Shinobu volta a ser sua borboletinha, tenha paciência!

Doma levou as mãos à cabeça, tentando esconder a frustração. Quando chamou Akasa para beber, imaginou que o amigo de longa data iria entende-lo, mas não, o que aconteceu foi exatamente o contrário e ele acabou ficando do lado de Shinobu. Ele não precisava de mais alguém falando que aquilo ia passar, precisava de alguém que mostrasse que o que ele estava prestes a fazer era o melhor, não apenas para Shinobu, mas principalmente para ele. Mostrando impaciência, leva uma das mãos ao bolso pegando a carteira, de onde tira uma nota de alto valor e joga sobre a mesa.

- Vou pra casa, estou com dor de cabeça.

- Quer que eu te leve? Você não parece estar em condições de dirigir. – pergunta Akasa preocupado.

- Não, estou bem. Depois nos falamos.

- Está certo, me ligue se precisar de alguma coisa.

Doma apenas faz um sinal positivo com a cabeça enquanto se afasta. Ele precisava de algo, algo que nem mesmo o próprio amigo entendia. Precisava de paz e somente ele mesmo poderia se dar tal sensação.

Ao chegar em casa, tomou um banho frio e se jogou na cama, mas não conseguiu pregar os olhos durante toda a noite. Não tirava Shinobu da cabeça, mas principalmente, não conseguia parar de pensar no casamento. Sete dias, uma semana até que ele e Shinobu fossem oficialmente marido e mulher. Amava demais Shinobu, mas não estava brincando ou apenas falando da boca pra fora quando confessou a Akasa na noite anterior que estava prestes a desistir daquele casamento. Tinha certeza que se casar com ela seria o mesmo que jogar fora os oito anos que passaram juntos, que ao invés de fortalecer os laços deles, aquele casamento teria efeito contrário. É isso, estava decidido, colocaria um fim naquilo tudo enquanto havia tempo.

O dia mal havia clareado quando ele tocava a campainha da casa de Shinobu, que o atendeu toda descabelada e com os olhos inchados, mas ainda assim, estava linda aos olhos dele.

- Doma? O que aconteceu? – pergunta ao bocejar, esfregando os olhos.

- Precisamos conversar Shinobu.

- Agora?

- Sim, o quanto antes.

- Tá, tudo bem, entra. – diz ao abrir mais a porta, dando passagem ao noivo – Já tomou café? Quer comer alguma coisa?

- Não, não quero nada, apenas conversar.

- O que foi, é algo sério, pelo visto.

- Sim, muito sério – diz segurando as mãos da jovem, trazendo-a para junto de si, fazendo com que sentasse ao seu lado no sofá – é sobre o casamento.

- Ah, já sei, também tem dormido mal, né? É normal amor, isso também tem acontecido comigo, mas pensa pelo lado positivo, já na próxima semana vamos poder dormir em paz e juntinhos, já que o casamento terá passado e – dizia quando foi interrompida por Doma.

- Eu não quero mais casar, Shinobu.

- Às vezes bate uma insegurança né? Mas eu conversei com a Kanae e a Koyuki e as duas disseram que é normal.

- Não Shinobu, não é insegurança, eu falei sério, não quero seguir adiante com o casamento, eu não quero me casar e não vou me casar.

A jovem pareceu não entender e apenas ficou estática enquanto olhava para Doma, que parecia aliviado por ter tirado um caminhão das costas. Levou alguns segundos até que as palavras voltassem novamente a sua boca.

- Você está brincando, não é? Pois saiba que é uma brincadeira de muito mal gosto!

- Não estou brincando, nunca falei tão sério em toda minha vida! Todas essas cobranças em cima de mim, festa, viagem, convidados, tudo, isso não é pra mim, Shinobu, não é!

- Então por que diabos me pediu em casamento? – pergunta alterada ao se levantar do sofá, ficando frente a frente com ele.

- Porque eu te amo, minha borboletinha, você é a mulher da minha vida! – diz com um sorriso que transbordava tristeza.

- Se é assim, por que quer desistir do casamento logo agora? Você tem noção que a contar de hoje falta uma semana, Doma, uma semana e você quer jogar tudo pro alto, assim, do nada?!

- Não é do nada, eu tenho pensado nisso há meses.

- Meses? E por que nunca me falou sobre isso?

- Porque você estava tão empolgada com o casamento, com os preparativos, não quis te deixar preocupada. Achei que era uma fase e ia passar, mas não passou. Desculpa, Shinobu, mas se esse casamento acontecer, nós dois seremos infelizes.

- Você está se ouvindo, Doma? Não tem a menor coerência nas coisas que está falando! Diz que me ama e por isso me pediu em casamento, mas logo depois diz que se nos casarmos seremos infelizes. O que deu em você? – pergunta já não se esforçando para segurar o choro.

- Eu percebi que vai ser melhor assim, Shinobu, pro seu bem e pro meu.

- Pro seu bem e pro meu? Doma, uma semana, uma semana! Convites enviados, buffet, floricultura, festa, tudo pago!

- Eu não me importo com isso, prefiro perder dinheiro do que perder minha vida, minha liberdade.

- Você fala como se depois do casamento eu fosse te trancar em casa, algo que nunca fiz e você sabe disso. Nesses oito anos, quantas vezes eu te privei da sua liberdade, me diz?

- Nenhuma, mas todos sabemos que isso muda depois do casamento e eu me dei conta que não estou pronto pra essa mudança, Shinobu, me desculpa.

A jovem levou as mãos à cabeça e começou a andar em círculos pela sala. Doma levantou e foi ao encontro dela, que em um ato desesperado, caiu de joelhos diante dele, as lágrimas rolando de forma abundante.

- Por favor, Doma, pensa direito, você só está assustado, com medo, eu também estou, mas agora falta tão pouco pra isso acabar, meu amor, tão pouco, não joga nossa relação e nosso amor no lixo, eu te imploro!

Doma sentiu-se péssimo não apenas por ver o estado em que deixara Shinobu, mas principalmente por estar decidido a não voltar atrás. Segurou a até então noiva pelos ombros, ajudando-a a levantar, secando as lágrimas insistentes dela com as mãos.

- Me desculpa, Shinobu, mas eu estou decidido. Não vai haver casamento.

Shinobu não diz nada, apenas se afasta dele e volta a sentar no sofá. Seca o rosto com força, deixando até mesmo o rosto vermelho tamanha a força que usou. Doma queria se aproximar dela, abraça-la, mas sabia que seria pior se fizesse isso.

- É isso mesmo o que quer, Doma? – pergunta com a voz fria.

- Sim.

- Está certo então, pode ir embora. – diz sem olhar pra ele.

- Eu vou ligar para todos os fornecedores e convidados e contar tudo.

- Não, eu mesma faço questão de fazer isso, assim a ideia vai aos poucos se tornando mais real na minha cabeça e eu paro de desejar que tudo isso tenha sido apenas um pesadelo.

- Shinobu...

- Tchau Doma, não há mais nada pra você fazer aqui. – diz sem encará-lo, ainda esfregando os olhos.

- Espero que você fique bem.

- SAI DAQUI, AGORA! – berra, ordenando que ele saísse, algo que não demora a fazer. Já do lado de fora, é capaz de ouvir os gritos e choro desesperado de Shinobu, mas não se permitiu comover. Estava certo que aquela foi a melhor decisão a ser tomada.

XXXXXXXXXX

Aquela havia sido uma das semanas mais difíceis para Doma. Assim que chegou em casa, logo após ter saído da casa de Shinobu, seu celular toca e ao verificar o identificador, soube que levaria um esporro assim que falasse alô. Dito e feito.

- A Shinobu ligou aos prantos aqui em casa, disse pra Koyuki que você terminou tudo com ela, isso é sério?

- Eu te disse que ia fazer isso, não sei porque o espanto.

- Disse, mas achei que estava bêbado! Você não pode fazer isso, Doma!

- Não só posso como já fiz e não vou voltar atrás, Akasa.

- Meu Deus, cara, coloca a mão na consciência! Você e a Shinobu foram feitos um para o outro, você não pode acabar tudo assim com ela, ainda mais faltando a porra de uma semana pro casamento! – dizia Akasa aos berros do outro lado da linha.

- Exatamente por amar a Shinobu que fiz o que fiz.

- Sua forma de amar é muito estranha então! Cara, se não queria casar, por que deixou as coisas chegarem a esse ponto? Tem noção do quanto ela está sofrendo?

- E eu, acha que não estou sofrendo? Estou destruído!

- Então esfria essa cabeça, vai atrás dela, pede perdão de joelhos e diz que estava bêbado quando falou essa asneira pra ela, tenho certeza que ela vai te perdoar, mesmo que possa quebrar um vaso na sua cabeça antes disso!

- Ela já fez isso, Akasa.

- O que, quebrar um vaso na sua cabeça?

- Não, mas ela se ajoelhou diante de mim, chorando e implorando pra eu não terminar com ela, mas ainda assim eu fiz.

- Ah cara, você é meu amigo e te considero muito, mas você é um grandíssimo filho da puta!

- Eu sei, não precisa me lembrar. Vou desligar, minha cabeça está estourando!

- Desligar? Doma, você precisa consertar a merda que fez, está me ouvindo? A Shinobu não merece isso, não merece!

Mas Akasa não teve resposta, pois Doma desligou o celular e tirou o telefone fixo do gancho. Não queria que ninguém falasse o que ele já sabia, que era um filho da puta e que Shinobu não merecia passar por tudo aquilo.

Conforme os dias foram passando, a culpa só foi aumentando, mas em momento algum Doma voltou atrás. Tentou conversar com Shinobu algumas vezes, ligar pra ela e saber como estava, mas ela não o atendia. Quando teve cara de pau o suficiente para ir até a casa dela, deu de cara com Inosuke, que não perdeu tempo e lhe deu um certeiro soco no olho.

- O que você fez com a minha irmã não tem nome, seu arrombado! Sai daqui antes que deixe o outro olho igual a esse!

Doma sequer tentou revidar, fosse com palavras ou força física, sabia que estava errado, ao menos era assim que era visto por Shinobu, os amigos e a família dela, na verdade até seus amigos não concordaram com sua decisão. Ele era visto como um monstro por todos, mas isso não o abalava. Soube que Shinobu havia realmente cancelado tudo com os fornecedores e avisou a cada um dos convidados. Era oficial, o casamento não aconteceria mais. Mas mesmo sabendo disso, quando o dia que até então Doma e Shinobu seriam marido e mulher chegou, ele sentiu algo diferente do que havia sentido durante todos aqueles dias. Uma ansiedade incomum tomou conta dele, que até mesmo teve dor de barriga e ânsias de vômito durante todo o dia. Abriu uma das gavetas de seu guarda-roupa e tirou de lá a caixinha que continha as alianças de casamento e ficou olhando pra elas por horas a fio. Imaginou que se ele estava daquela forma, Shinobu deveria estar muito pior. Pegou o celular e ligou para ela, mas foi encaminhado direto para a caixa postal, imaginando que ela preferiu desligar o celular e assim evitar maiores aborrecimentos naquele dia. Suspirou pesadamente ao levantar da cama, colocando a caixinha com as alianças no bolso. Pegou a chave do carro e saiu, inicialmente sem rumo. Passou diante daquele que seria o local de sua cerimônia e festa de casamento e se deparou com o lugar fechado. Realmente, não haveria casamento e tudo por culpa dele. Socou o volante e saiu cantando pneus, parando no primeiro bar que encontrou. No dia seguinte, não sabia como havia saído de lá, tão pouco como chegou em casa e havia uma mulher nua deitada ao seu lado na cama. Levou as mãos à cabeça, com ainda mais certeza de que tomou a melhor decisão em não se casar com Shinobu, pois acabaria por faze-la sofrer, mais cedo ou mais tarde.

XXXXXXXXXX

Havia se passado um mês desde o dia do casamento que não aconteceu e Doma sentia muito a falta de Shinobu. Soube através de Akasa que ela estava um pouco melhor, já mais conformada com tudo o que havia acontecido e finalmente parecia seguir em frente. Doma ficou feliz, mas ao mesmo tempo se sentiu frustrado, afinal, enquanto ela que foi ferida por ele já conseguia caminhar com as próprias pernas, ele, que foi o causador de tanto sofrimento, agora não via mais graça em sua vida miserável, mesmo saindo a noite e até mesmo ficando com algumas mulheres. Não era aquela vida que ele queria, não era aquelas mulheres em sua cama que ele queria, ele queria Shinobu, estar ao lado dela, formar uma família com ela. Ele queria Shinobu de volta e estava decidido a reconquistá-la.

Sem qualquer tipo de aviso prévio, pegou o carro e dirigiu apressado até a casa da ex noiva. Tocou a campainha e novamente foi atendido por Inosuke, que se preparava pra lhe dar um novo soco, quando Shinobu apareceu.

- Não faço isso, Inosuke, não precisa.

- Mas tenho certeza que ele veio até aqui pra te deixar mal, logo agora que você está se reerguendo de novo, mana, não posso ver isso quieto!

- O que quer aqui, Doma? – pergunta Shinobu de forma fria, mas ainda assim, lhe dirigindo uma educação que ele não esperava.

- Quero conversar com você, podemos?

- É claro que não! – responde Inosuke nervoso, sendo acalmado pela mais velha.

- Está tudo bem, eu vou falar com ele.

- Mas Shinobu... – diz o menor indignado.

- Não se preocupe, maninho, sei me cuidar. Vai ficar tudo bem.

Inosuke dirigiu um olhar raivoso a Doma, mas voltou para dentro de casa, deixando a irmã e o ex noivo a sós. Shinobu cruzou os braços e se apoiou na porta fechada, olhando de forma cansada para Doma.

- Nossa, você está péssimo! – diz com desdém e o jeito azedo que o rapaz conhecia tão bem. Como sentia falta dela, meu Deus.

- É, eu sei. Já você está ótima.

- O que esperava, encontrar a Shinobu que se humilhou pra você, implorando pra não cancelar o casamento e ainda assim você o fez? – diz com um ar de superioridade que fez Doma se sentir menor que uma formiga – Essa Shinobu morreu, Doma, então se é por ela que veio procurar, pode ir embora.

- Não, eu vim procurar a minha Shinobu, a Shinobu que eu amava e ainda amo, com todas as minhas forças.

Shinobu levou as mãos ao rosto, tentando esconder o leve rubor que se formou com as palavras de Doma. Por que ele estava lá, por que estava fazendo aquilo com ela, afinal?

- Diga o que quer de uma vez, Doma, não tenho o dia todo.

- Certo, serei direto. Quero uma segunda chance, borboletinha, quero que me perdoe e me deixe ficar com você mais uma vez, por favor.

- Está brincando, não é? Dessa vez você realmente está brincando comigo, é isso?

- Não, não estou brincando. Eu quero uma segunda chance, quero voltar de onde paramos, quero - ele dá uma pausa, como se estivesse criando coragem para falar – quero me casar com você, borboletinha, mas dessa vez é pra valer.

- Doma, você – diz piscando várias vezes, totalmente desacreditada do que acabara de ouvir – não está falando sério, não pode estar falando sério.

Foi então que ele repetiu a mesma atitude de Shinobu semanas antes e se colocou de joelhos diante dela, bem ali, pra quem quer que passasse pelo rua pudesse ver.

- Estou falando sério sim. Eu te amo, Shinobu e esse tempo longe de você me fez ver o quanto fui estúpido e mesquinho com você, com seus sentimentos. Eu fui um covarde, te magoei, mas acredite em mim, estou muito arrependido de tudo o que fiz. Me dá uma segunda chance pra eu provar o quanto te amo, te dou minha palavra que vou fazer valer a pena.

Shinobu não esperava por aquilo, mas diferente de Doma meses atrás, ela não o ajudou a se levantar, apenas ficou olhando pra ele ajoelhado diante dela, se humilhando como ela mesma fez tempos atrás. Doma viu quando ela mordeu o lábio inferior e ameaçou chorar, mas logo em seguida levantou a cabeça e suspirou.

- Eu preciso de um tempo, tempo pra pensar.

- O tempo que quiser, minha borboletinha. – diz animado, ainda ajoelhado diante dela.

- Certo, agora é melhor você ir embora, ou não vou impedir o Inosuke mais uma vez. – diz de maneira fria, mas Doma sabia que ela estava preocupada com ele.

- Certo, como quiser. Bem, como faremos então? Quer dizer, você disse que precisa de um tempo, mas como vou saber o que decidiu?

- Quando tiver uma resposta te ligo. Agora vai.

Doma fez o que ela disse, voltou pra casa e esperou pela decisão dela, que veio quase uma semana depois. Shinobu aceitou voltar com ele de onde haviam parado, mas impôs suas condições. Ela escolheria todos os preparativos para o casamento, Doma não opinaria em nada, nem mesmo o lugar da viagem de lua de mel, em contrapartida, ele seria o responsável por todos os gastos, ela não ajudaria com nenhum centavo, nem mesmo no vestido de noiva. Apesar daquilo não agradá-lo, ele aceitou, afinal, Shinobu perdeu muito dinheiro com o cancelamento do primeiro casamento, então aquilo era o mínimo que ele poderia fazer. Como dinheiro para Doma nunca foi problema, não se importou por Shinobu ter contratado os fornecedores mais caros da cidade e em três meses tudo estava pronto. Finalmente chegou o dia tão esperado. Estava aflito no altar, aguardando pela entrada de sua borboletinha.

- Ela não está demorando muito não? Será que desistiu? – pergunta a Akasa, que estava ocupando o lugar de padrinho juntamente com Koyuki.

- Não creio que ela faria isso, não é a cara da Shinobu. Seria mais fácil ela – dizia quando é interrompido pela marcha nupcial, o que faz Doma sorrir de orelha a orelha enquanto aguardava a porta da igreja ser aberta.

- Tem certeza que vai fazer isso, mana? – diz Inosuke, que estava de braços dados com Shinobu, aguardando a hora de entrar no salão.

- Tenho. – diz decidida.

- Está certo, se é isso mesmo o que quer, saiba que vou te apoiar.

- Eu sei, muito obrigada, maninho. – diz ao dar um beijo no rosto do mais novo exatamente quando a porta se abre.

Ela e Inosuke seguem até o altar, vendo Doma com cara de bobo enquanto a admirava. Assim que o menor entrega Shinobu a Doma, ele lhe dá um beijo na testa, dizendo o quanto ela estava linda. Shinobu não diz nada, apenas sorri e olha para cima, evitando chorar e estragar a maquiagem.
A cerimonia não demorou mais do que quarenta minutos e assim que chegou o momento da troca das alianças, Shinobu pediu ao celebrante para fazer uma pequena mudança, já que queria que os votos dos noivos fossem lidos antes disso. O homem concordou, assim como Doma, que se lembrou que aquele era um dos momentos mais aguardados pela noiva. Assim sendo, ele foi o primeiro a falar, tirando um pequeno pedaço de papel do bolso do terno.

- Minha borboletinha, finalmente o nosso dia chegou! Contamos os dias e as horas para essa celebração e a ficha ainda não caiu de que estamos nos casando. Foram tantas semanas preparando tudo com tanto carinho. Quero aproveitar esse momento único para dizer que você é incrível e o quanto eu tenho sorte em ter te encontrado. Amo você, Shinobu.

Os olhos da mais nova brilharam a cada palavra, mas sem comparações ao momento em que ela começou a declarar os seus votos. Doma estranhou por Shinobu não ter um papel assim como ele, mas sabia que a garota sempre fora boa com as palavras, então certamente tinha tudo decorado.

- Tenho certeza que nenhum de vocês está entendendo nada, não é mesmo? Afinal, nosso casamento foi cancelado faltando sete dias pra acontecer e agora aqui estamos nós de novo, meses depois. Realmente, tudo está diferente, o lugar, a data, meu vestido as flores, as músicas, mas principalmente eu, a noiva. Ouvir do meu noivo aqui presente, Doma, sete dias antes do casamento que ele não queria mais se casar acabou comigo, que fiz questão de ligar pra cada um de vocês aqui presente e dar a notícia que jamais imaginei, que meu casamento não iria mais acontecer, pois meu noivo não queria mais se casar, mesmo eu tendo caído de joelhos diante dele e pedido pra não fazer isso comigo. Mas ele fez.

Doma já não tinha o mesmo sorriso nos lábios, que a essa altura mal tinham cor.

- Perdi as contas das noites que chorei, dos calmantes que tomei para conseguir ter ao menos uma noite de sono tranquilo, enquanto meu já ex noivo, saia pela noite, curtindo a vida que segundo ele, perderia ao se casar comigo. Mas como não são as coisas, quando eu me reergui, quem apareceu diante da minha porta, acabado e pedindo meu perdão, juntamente com uma segunda chance? – diz ao olhar para Doma e sorrir, um sorriso que lhe causou frio na espinha – Sim, o homem que acabou de dizer que me ama, Doma!

Todos cochichavam naquele momento, até mesmo Akasa e Koyuki. Doma por sua vez, desejou cavar um buraco no chão e se enterrar nele.

- Foi tão lindo, vocês deveriam ter visto, ele ajoelhado diante de mim, implorando como eu implorei. Foi uma cena que jamais irei esquecer. Mas ao contrário dele, eu lhe dei a chance que ele tanto quis e por isso estamos aqui essa noite.

- Shinobu, por que está fazendo isso? – questiona Doma baixinho, sendo ignorado por ela, que continua, agora olhando diretamente pra ele, com um sorriso artificial, sem qualquer sentimento.

- Doma, aprendi tantas coisas com você, entre elas como se brinca com os sentimentos de alguém e depois agimos como se nada tivesse acontecido. Aprendi também que não devemos ter a menor responsabilidade afetiva por alguém, mesmo quando estamos em um relacionamento de oito anos com essa pessoa. Mas a lição mais importante que aprendi e graças a você, é que a vingança é um prato que se come frio.

Doma não tinha palavras, não teve qualquer reação, nem mesmo quando viu Shinobu arrancar o véu e a grinalda e largá-los sobre a mesa diante deles, batendo forte o buquê de orquídeas em seu peito. Em seguida lhe deu as costas, saindo do salão com a cabeça erguida, sendo aplaudida pela maioria dos convidados, enquanto outros filmavam boquiabertos. Doma sentou diante do altar, trêmulo e envergonhado. Akasa se aproximou, sentando ao lado dele.

- Como eu imaginava, a Shinobu não desistiria desse casamento, mas seria capaz de fazer dele a oportunidade perfeita pra se vingar de você e foi exatamente o que ela fez.

- Sabe o que é o pior nisso tudo, Akasa? Não consigo ter raiva dela, afinal, foi eu quem provocou tudo isso. – diz desolado.

- Pois é, meu amigo, você colheu o que plantou e é ótimo que tenha consciência disso. E também devemos admitir que a Shinobu está certa, a vingança é um prato que se come frio e ela soube esperar até o último minuto pra degustar. Sua borboletinha se mostrou uma aranha viúva negra! – diz Akasa dando leves batidinhas no ombro de Doma – Quanto a você, vai superar com o tempo, tenho certeza. – fala tentando animar o amigo, a única coisa que poderia fazer naquele momento.


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Notas finais do capítulo

E vocês, o que teriam feito no lugar da Shinobu? Acham que ela foi muito radical?
Espero que tenham gostado da fic, foi feita com todo o carinho do mundo pra vocês.
Beijos e até a próxima ♥



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