Keybringer Pirates escrita por Kardio


Capítulo 13
Capítulo XIII


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos! Aqui estamos nós mais uma vez, como estão vocês? Espero que bem apesar de tudo que têm acontecido, queria agradecer por todo o carinho que tenho recebido desde que comecei essa história, isso tem me motivado muito a continuar, e nada melhor que esse capítulo para expressar como me sinto, então aproveitem:



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Capítulo XIII – Salvação.

— - Zodick - -

Avanço ferozmente contra um dos homens do Naja, ainda pareciam atônitos com o que ocorrera, acho que eles não devem ver homens destruindo canhões e portões de ferro com um soco com muita frequência. Desfiro um poderoso golpe contra seu ombro, minhas “garras” rasgam a carne espirrando o sangue e liberando seu grito. Ouço um tilintar e ergo meu braço em defesa quando vejo uma corrente se aproximar, provavelmente alguém tentara me açoitar com ela, mas tudo o que ocorre é ela envolver-se em meus braços. Olho dentro dos olhos deles, todos demonstravam um medo quase primitivo, provavelmente nunca estiveram em uma batalha antes. Que pena. Seguro a corrente com as duas mãos, puxando-a com ímpeto. 

O pobre homem na outra extremidade é arrastado junto, caindo a meus pés, um chute em sua bochecha é o suficiente para fazê-lo desmaiar, aquele a qual rasguei-lhe o ombro arrastava-se para um canto, todos os outros pareciam intimidados de mais para atacar. É então que ouço dois gritos, um vinha da mansão e demonstrava completo desespero, o outro vinha do lado de fora e esbanjava irritação.

— Ei seus idiotas. – um dos piratas gritava com seus próprios homens. – Vocês estão todos se cagando de medo para um cara só? Que porra de homens são vocês? – os homens demonstravam um misto de feições, não pareciam querer avançar, mas tinham ainda mais medo daquele que com eles gritava, tratava-se de um homem por volta de seus 1,80m de altura, caucasiano, não usava sapatos e tinha calças escuras, em sua cintura tinha um cinto negro onde pingentes de prata estavam pendurados, balançavam quando ele andava, um tecido verde-jade estava preso na parte da frente de sua cintura, descendo até pouco acima de seus joelhos, ele possuía longas unhas roxas, não usava camisa, em seu pescoço havia uma espécie de gargantilha com os mesmo pingentes prateados presos a ela, linhas negras estavam tatuadas sobre seu peito, costas e ombros, seus olhos emitiam um verde-jade ameaçadores, em suas mãos trazia um cantil a qual bebia quase que viciosamente, provavelmente deveria ser um dos oficiais do bando. – Francamente, estou cercado de imprestáveis. – ele se aproxima vagarosamente, mantenho minha postura de luta, não desviando o olhar mesmo por um instante. 

Esse cara é diferente dos outros, não posso me distrair com ele.

— Torui. – chamo o loiro, não preciso nem mesmo virar-me para saber que ele observava a tudo esperando por uma chance. – Eu cuido das coisas aqui, veja como estão as coisas lá dentro. – ouço o som de passos se afastando e vejo os olhos do homem se estreitarem, parando um passo à minha frente, estávamos tão perto que eu conseguia claramente ver as veias de seu corpo, não que fosse difícil, a cor da pele dele não as esconderia mesmo.

— Hein? Parece que temos alguém se achando aqui! – o homem exclama, posso ver seus subordinados encolherem-se, receosos. – Não gosto de pessoas que se acham. – ele afasta-se um passo, erguendo sua mão acima da cabeça. – Será que você consegue mesmo cuidar das coisas por aqui? – sua mão descreve um arco e suas unhas se cravaram violentamente nas costas de um dos homens que derrubei, o mesmo grita em agonia, arregalo meus olhos com a cena. Ele atacou um dos aliados dele sem tirar os olhos de mim nem por um segundo. Quem é esse cara? – Não se preocupe, ele não está morto. – ele retira a mão do corpo perfurado, suas unhas pingavam sangue. – Ainda. – seus olhos desviam-se para os homens atrás de si. – Sumam da minha frente. – sem esperar uma segunda ordem, os piratas correm em debandada, seguindo cada um pelo primeiro caminho que achasse, os olhos dele voltaram-se novamente para mim. – Não perfurei nenhum órgão vital, seria muito chato. – ele passa a língua por sobre os lábios, percebo que ela era bifurcada. – Perfurei uma de suas artérias, ele não morrerá de imediato, mas não conseguirá transportar ar e sangue suficiente pelo corpo. – um sorriso sádico abre-se em seus lábios. – Para tentar suprir essa falta, o coração tentará bombear mais sangue com mais força, mas a cada batida, maior será o déficit por todo o corpo. – uma risada ressoa de seus lábios, ele parecia deliciado com as próprias ações. – Eventualmente o corpo dele vai começar a desistir e o próprio coração entrará em colapso, e aí sim este homem morrerá. – seus lábios fecham-se em um sorriso de canto. – Mas até que isso aconteça, ele ainda vai sofrer muito. – trinco os dentes, esbravejando.

— Quem diabos é você?

— Me chamo Condy, sou conhecido como o Anaconda. – já ouvi falar nele, um pirata cruel que faz questão de torturar suas vítimas física e psicologicamente, seu método preferido é asfixia, assim como o animal que sua alcunha é baseada. – E qual será o nome do homem que tem dado tanto trabalho a esses inúteis?

— Me chamo Zodick. – murmuro entredentes. – O que querem com esse lugar?

— O que queremos? – ele ri em deboche. – Ah, viemos tomar um chá, talvez comer uns biscoitos. – sua língua bifurcada novamente sai de sua boca, semelhante à de uma cobra. – Nós não gostamos da surra que vocês deram em nossos homens, então viemos retribuir, espero que estejam preparados. – Merda, isso está prestes a ficar bem ruim.

— - Luke - -

— Você foi parido por uma cobra? – fecho os punhos enquanto encaro o bizarro ser a minha frente, a velha Kaya parecia respirar melhor agora que ele afrouxou um pouco o aperto sobre si, pelo tamanho, provavelmente foi essa coisa que abriu os buracos pela mansão, deve ter vindo até aqui em busca de vingança, ótimo, isso poupa meu tempo, vou quebrar a cara dele.

A cauda robusta do ser se move velozmente, acertando-me e prensando meu corpo contra a parede, tive sorte de, por reflexo, segurá-la, dessa forma diminuindo o dano, a parede em minhas costas parece ceder um pouco com o impacto.

— Você deve ser um dos vermes que atacou meus homens na cidade. – a língua bifurcada novamente dá o ar das graças, lambendo o ar antes de recolher-se novamente. – E pensar que um fracote sem recompensa como você ousa me afrontar. – um sorriso perverso surge nos lábios do mesmo. – Talvez eu deva castigá-lo por isso, ou... – seus olhos lentamente viram-se para Kaya, a velha não parecia amedrontar-se apesar de tudo, mas ela também não estava necessariamente tranquila. 

— Solte ela. – exijo com voz firme, sinto a cauda dele parecia pressionar-me ainda mais, mantenho minhas mãos a segurá-lo com força. – Isso é entre mim e você. – afirmo e ele gargalha.

— Entre mim e você? Não me faça rir. – seus olhos mais uma vez focam-se em mim. – O que você acha que pode fazer contra mim? – a corpulenta cauda recua um pouco, apenas para em seguida chocar-se de novo contra mim, ergo uma defesa colocando os braços a frente de meu corpo, mas é inútil pois, logo quando meu corpo se choca contra a parede, a mesma cede.

Sou arremessado para fora da mansão e entro em uma vertiginosa queda livre. Hum... Será que se eu cair de cabeça eu morro?

Um forte impacto acertou meu ombro ao cair, mas não parecia ser o chão, não era tão duro quanto, mas mesmo assim meu corpo ainda estava dolorido. 

Giro para o lado e observo sobre o que desabei, notando se tratar de um corpo, provavelmente um dos piratas do bando do Naja, ele tinha ferimentos em forma de cortes profundos, mas ao mesmo tempo pequenos e precisos, provavelmente fora obra de Sofie, desta vez eu tive sorte, muita mesmo.

— LUKE! – uma voz me chama com urgência, ergo-me cambaleante, procurando de onde terá vindo aquele chamado e acabo por ver um emaranhado de fios rubros se aproximar, os orbes azuis de Sofie me fitavam com urgência. – Luke, o que aconteceu com você? Onde você estava? – os questionamentos da ruiva me confundiam, talvez tivesse sido por causa da queda do segundo andar da mansão, mas provavelmente eram os questionamentos dela.

Cambaleio para o lado, obrigando Sofie a me segurar, o mundo parecia instável abaixo de meus pés, mas isso não me impede de escutar o grande estrondo que se fez ouvir quando o tal Naja começou a agir, telhas e tijolos começam a cair à medida que o buraco no topo do telhado começa a se abrir, de lá, o imenso corpo se espreme para atravessar, derrubando mais uma dúzia de telhas no processo, a velha Kaya ainda era mantida refém em sua cauda.

— Que droga é essa? – Sofie murmura, olhando a besta no topo da mansão.

— Né? O cara foi parido por uma cobra. – afasto-me um pouco, já conseguindo manter-me de pé sem ajuda.

— Ele deve ter comido uma fruta do modelo Zoan, assim como Lenny. – levo meus olhos na direção dela.

— Assim como Lenny? Mas ele não deveria ser um macaco? – vejo a navegadora revirar os olhos.

— Você já se esqueceu, né? Cada fruta concede um poder diferente, esse cara provavelmente comeu uma fruta que o transforma em uma serpente.

— Vejo que você é bem informada. – o grande homem-minhoca fala em tom áspero. – De fato, comi uma fruta com o poder da serpente, mas eu não fui o único. – o corpo dele começa a se desfazer de sua forma de cobra, retornando a forma de um humano normal, quer dizer, quase normal, ele possuía cerca de dois metros e meio de altura e isso era basicamente tudo o que dava para ser visto de tão grande distância, além do que, ele parecia segurar Kaya suspensa no ar com apenas uma de suas mãos. – Eu comi a fruta da serpente modelo Naja-Rei, me tornando um homem-naja. – a voz dele ecoava pela entrada da mansão que a neste momento mais parecia um campo de guerra, me lembro que existe uma base da Marinha neste lugar, mas como a mansão é relativamente afastada do resto da cidade, talvez eles nem ao menos saibam de toda essa situação.

— Maldito! Desse aqui para eu quebrar essa sua cara feia! Tá com medo que eu te deite na bicuda? – provoco-o, mas o homem-minhoca não parece se importar.

— Luke, tome cuidado, ele está com a Kaya como refém, não podemos nos precipitar. – Sofie murmura, falando em baixa voz para que o Naja não escutasse.

— Você é um moleque bem insolente mesmo. – constata Naja, sua voz era um misto de fúria e divertimento. – Todos vocês são na verdade. Mas além de insolentes, são tolos. – ele solta uma longa gargalhada. – Acharam mesmo que sairiam impunes depois de atacar e humilhar meus homens? Que tolos! – sua transformação inicia-se novamente e ele volta a ser uma imensa cobra. – Pela ingenuidade de vocês, essa mulher pagará com a vida. – sinto um misto de fúria e indignação quando vejo-o cravar suas presas repletas de veneno no ombro de Kaya. A velha senhora grita de dor e se debate, tentando afastar-se daquele que a mantinha em cárcere. Naja, já satisfeito com o que fizera, desenrola Kaya de sua cauda, deixando-a em um estado de queda livre.

— - Zodick - -

É Condy que realiza o primeiro ataque, avançando impetuosamente em minha direção, seus olhos demonstravam um brilho sádico e doentio, ele não possuía nenhuma postura enquanto avançava, um sujeito descuidado e agressivo pelo que percebo. Ele salta, descrevendo um soco de cima para baixo contra mim, assumo rapidamente a postura do leão, dou um passo para o lado e uso o antebraço direito para desviar o golpe dele para o lado, giro meu corpo, acertando um golpe em suas costas usando o braço esquerdo.

Condy cambaleia dois passos para frente, logo após virando-se furiosamente em um chute giratório, agacho-me e deixo sua perna passar por cima de minha cabeça, avanço logo em sequência, visando acertar seu peito com minhas garras, mas o Anaconda segura meu braço com sua mão esquerda enquanto a direita desliza por baixo de minha guarda e acerta-me um uppercut que joga minha cabeça para trás. Logo após ele emenda com mais três golpes rápidos contra meu tórax e inicia a rotação para acertar um poderoso chute em meu peito. Ergo a guarda e ele acerta meus braços, o impacto do golpe me empurra uns cinco passos para trás, a distância me dá tempo para respirar enquanto Condy ria.

— Eu já ouvi falar disso. – fala o pirata enquanto rotaciona o braço, estralando o ombro. – O estilo do Leão da Marui. – um sorrisinho de canto se abre em seus lábios. – Não é tudo o que as lendas dizem. – ele fecha o punho, avançando novamente. Ele pretende mesmo avançar de frente dessa forma contra o meu estilo do Leão?

Lion’s Paw.  – jogo meu golpe poderosamente contra Condy que choca seu punho contra minha “pata”. O choque do golpe é o suficiente para gerar um estrondo e uma pequena cortina de poeira se ergue, ouço também o som de ossos quebrando.

Vejo que o punho de Condy ficara visivelmente machucado, era notável que seu cotovelo e antebraço estavam quebrados e seus dedos foram revirados até ficarem em uma estranha posição, o oponente nem ao menos esboça sinais de dor, a adrenalina deve estar inibindo-a de tal forma que ele nem ao menos notou que está machucado.

Dou um passo para o lado e deslizo, segurando o braço dele e girando-o até escutar um “crec” angustiante de ossos quebrando. Com as duas mãos incapacitadas, ele não poderá fazer nada. Ou era o que eu achava. Ele travou sua perna atrás da minha e usou-a como alavanca para erguer a minha, caio de costas no chão e sou obrigado a rolar para o lado antes que outro chute me acertasse. Previ bem. Uma onda de poeira se levanta com o impacto do golpe de Condy, o que me dá tempo de me afastar.

— Ora, ora. – a voz de Condy era possível ser ouvida de dentro da cortina de poeira, mas ela parecia mais... gutural. – Parece que subestimei você. – sua forma era disforme dentro da cortina, ele parecia mais... alto. – Não irá acontecer novamente, agora, permita-me mostrar por que eu sou conhecido como... – a poeira abaixa e deparo-me com um Condy, suas pernas haviam se transformado em uma longa, corpulenta e escamosa cauda que se estendia por aproximadamente seis metros. – Condy, o Anaconda.

 - - Torui - - 

— NÃO! – era tudo que eu conseguia dizer, o grito rasgava a garganta e ecoava pelo átrio, muitas pessoas ficam paralisadas diante de seu maior temor, mas foi diante de meu maior medo que minhas pernas se moveram. 

Kaya fora envenenada e agora caía em queda livre, não havia nada que Luke e Sofie, atônitos, pudessem fazer, mas eu posso, e eu vou.

Vamos lá, pernas. 

Corram mais rápido.

Vamos lá, fôlego.

Não me deixe agora.

O que é isso? 

O que é esse aperto no meu peito?

Eu não posso deixá-la cair.

Eu não posso deixá-la ir.

Ela é tudo que ainda tenho.

Eu não posso.

Vamos lá, calcanhares.

Não vacilem agora.

Vamos lá meus braços.

Estiquem-se como nunca antes!

 

Me vejo novamente com nove anos, a chuva caía e meu estômago grunhia. Arrasto-me fracamente pelo chão. Faz dias que eu não sabia o que era comer. Banho? Há meses não tinha um. As pessoas dizem que alguns nascem com caráter e outros não. Os valores são diferentes entre aqueles que nunca conheceram a fome e aqueles que nunca viram um pedaço de pão. Para aqueles que não tem nada, tudo o que resta é o esforço para fazer do nada alguma coisa, mas.... Quanto esforço é necessário afinal?

Arrasto-me, quase definhando, ao grande depósito onde o lixo do restaurante era jogado. Ergo-me com dificuldade sobre as pernas trêmulas. Meus olhos averiguam, minhas mãos reviram, meu nariz sente e minha boca engole, sem mastigar, a fome não permitia tal capricho. O lixo dos ricos às vezes é o banquete dos moribundos. Quando a recordação de alguns anos atrás me alcança, lembro-me da minha família e me pergunto: Como alguém pode chamar isso aqui de vida?

Ouço um som estranho, viro-me ainda com uma maçã imunda em minhas mãos e me deparo com um cachorro, ele rosnava e mostrava os dentes, suas costelas em osso vivo. Tinha fome, provavelmente tanto ou mais que eu. Quando a fome e a inanição chegam, não existe nenhum tipo de compaixão e companheirismo. Apenas fome. Insaciável e Incontrolável. Não havia o que dividir, nem ao menos pensava-se nisso, toda a comida que pudesse ser encontrada era suficiente apenas para si e ninguém mais.

Enfio a mão nos bolsos largos, saco uma faca. Minhas mãos e pernas tremiam. Fome? Medo? Não sei. Não quero saber. Nessa condição, de que importa o que é afinal? Treme-se por que se treme, ponto.

A luta pela sobrevivência foi intensa. A morte a nos paquerar a cada instante, não que aquele que saísse vivo fosse sobreviver muito tempo após. Mas enquanto há esperança, os seres simplesmente se apegam a ela. É muito mais fácil achar que você pode ser um Escolhido. Um ser especial e superior. Alguém que fará alguma diferença importante no mundo e por isso merece viver mais que os outros. Mas adivinha? Não é assim que são as coisas. Somos todos apenas “mais um”. Não somos especiais. Não somos escolhidos. Não fazemos diferença. Somos apenas mais um que, egoistamente, luta para sobreviver enquanto machuca tudo e todos ao seu redor. Era nisso que eu acreditava. Mas eu estava errado. Naquele momento, eu era um Escolhido.

A chuva castigava impiedosamente, o sangue do cachorro encharcava o chão e meus lábios. A faca, já praticamente cega, buscava, retalhava e separava cada minúsculo pedaço de carne. Ah, esqueci de mencionar, a fome também não te deixa escolher como os alimentos devem ser preparados. São simplesmente comidos. Ouço o som de passos. Mais alguém querendo insultar-me? Os donos do restaurante não gostam que eu fique zanzando por aqui. Eu não gosto de passar fome. Cada um com seus problemas.

Viro-me de súbito, as mãos tremendo, a ponta dos dedos branca contra o cabo da faca. Uma senhora estava parada à minha frente. Um homem de preto e óculos escuros segurava-lhe um guarda-chuva sobre a cabeça, naquele momento eu poderia ter qualquer reação imaginável, mas eu tive a mais inesperada de todas. Eu congelei. Estático. Parado. Eu já havia visto muitas coisas, mas nunca vi tamanha bondade nos olhos de alguém. Aqueles eram os olhos de alguém que prezava por tudo e todos ao seu redor. Bem diferente do monstro que eu havia me tornado.

Naquele dia, minha vida começou de novo, Kaya me resgatou, cuidou de minhas feridas, deu remédio pra minhas doenças, me alimentou, me banhou, me deu um lugar para dormir e me contou histórias todas as noites, histórias de um grande atirador chamado Usopp, um bravo guerreiro que desafiou e venceu todos os mares ao lado de seu capitão, um homem que tinha um coração tão grande quanto sua habilidade com o Kabuto. Tudo que ainda sou devo a Kaya. Eu faria tudo por ela. Mas meu tudo não foi o suficiente.

O sangue encharcou o chão, Kaya descansava em meus braços, ossos quebrados pela queda, corpo arroxeando-se pelo veneno, mas mesmo assim, ela ainda me olhava com aqueles olhos, olhos que expressavam a mais pura bondade e amor deste mundo. Seu sorriso era fraco, mas era para mim. Reconfortar-me? Não, creio que não. Algo mais... Talvez...

— Torui. – a voz de Kaya sai fraca, aproximo meus ouvidos de seus lábios, almejando escutá-la com maior clareza. – Eu estou tão... feliz... – ela ofegava, talvez tivesse tido o pulmão perfurado pela queda, mexo-me inquieto, tentando acomodá-la melhor, ela me para, sabia que seria inútil, eu também sabia, mas como eu sempre soube, as pessoas se agarram a toda ínfima esperança que tem, mas naquele momento a esperança se esvai e definhava diante de meus olhos. – Eu estou morrendo... Eu sei..., mas eu fiquei feliz... Em criar você... É uma pena... – ela abriu novamente um grande sorriso. Lágrimas quentes desciam pelo meu rosto. Minhas mãos novamente tremiam, como naquela primeira vez em que Kaya me encontrou.  – Eu não poderei ver o homem que você vai se tornar, mas... – sua mão trêmula se ergue, tocando meu rosto. – Mas eu sempre vou estar... ao... seu... lado...

Aqueles foram os segundos mais longos de minha vida. E os mais cruéis também. A mão deslizou pelo meu rosto, as lágrimas inundaram minha face, o grito ecoou na garganta. Os olhos ardiam, as mãos tremiam, o fulgor surgia, mas as forças se iam. Eu não tinha força nem ao menos para me levantar. Meu mundo inteiro desabara diante de meus olhos. E não há nada que eu possa fazer quanto a isso.

Existe um velho ditado na ilha que nasci, na verdade, as pessoas o encaravam como uma profecia. ”Quando o sol se tornar negro e as ondas se levantarem, o salvador aparecerá. ” O sol está negro para mim e sinto-me sufocando abaixo de um oceano profundo, então tudo o que me resta é apelar para o único que pode ser meu salvador...

— LUKE! – ergo o olhar, as lágrimas embebiam meu rosto, meus olhos queimam como brasas vivas, no topo do telhado havia o Naja e seu sorriso debochado e um Luke de aspecto sereno, porém sério, ele rapidamente subira a macieira para chegar ao teto e agora me fitava, como se fosse um soldado apenas esperando a última ordem de seu general. – SALVE-NOS! SALVE A TODOS NÓS, LUKE! – um sorriso reconfortante se forma em seu rosto e ele responde em alto e bom tom.

— É PRA JÁ!

— - Continua - -

 


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Notas finais do capítulo

Primeiramente, obrigado a todos que chegaram até aqui, deixem suas reviews/opiniões/pensamentos e o que mais quiserem, estarei aqui para ler cada um deles com muito carinho. Segundo, estou passando por um momento de mudança de residência, então a história pode acabar sendo afetada com tempos maiores entre as postagens. Isso não vai acontecer na próxima semana, pois o capítulo 14 já está pronto, mas não sei ao certo quando as coisas por aqui vão se normalizar para eu poder voltar a escrever, mas vou me esforçar para ser o mais breve possível, sem mais delongas, até mais!



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