Past Life escrita por Isa G


Capítulo 3
Aparentemente, essa sou eu


Notas iniciais do capítulo

Um ~oi~ chocolatudo diretamente desse domingo de Páscoa!! Gostaria de agradecer os novos acompanhamentos e espero que não tenham desistido da história, e que todos estejam bem, seguros EM CASA. ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/797697/chapter/3

A bolsa ridiculamente linda, uma Louis Vuitton, continua ao meu lado. E estou finalmente cogitando a ideia de que ela é minha e resolvo bisbilhotar sem vergonha alguma. Dali, saco uma carteira de couro sóbria e lustrosa. Assim que abro, arfo, dando de cara com uma foto minha, em um documento de identidade que não lembro de ter renovado.

Mas a questão é: essa não sou eu.

Quer dizer, sou eu. Se tivesse sido escolhida para o Esquadrão da Moda ou algo do tipo, claro.

Meu cabelo está vibrante, em um tom de vermelho jamais visto antes, com um corte reto, ao contrário do repicado médio. Minha pele parece bumbum de neném, como se eu tomasse três galões de água por dia.

Eles agora mandam para o photoshop antes de emitir os documentos?

Eu preciso de um espelho agora. O banho prometido por Poppy não ocorreu ontem, sendo obrigada a me satisfazer com um banho francês — pano úmido nas partes que importam, totalmente grogue, deitada na cama.

Ignoro a tontura assim que me ponho de pé. Esfrego as têmporas e tento me acalmar. O meu coração está acelerado e preciso ensinar as minhas pernas como se caminha de novo.

Um passo. Isso, muito bem. Agora outro, segurando na borda da cômoda.

Cambaleando, chego na porta ao lado. Como o quarto, essa peça seguia o padrão de elegância, mas isso não importa, pois agora meus olhos cravam o espelho.

Eu...

Em que momento coloquei silicone? Isso aqui não é meu, definitivamente.

Tem uma cicatriz embaixo. Hum.

E esses dentes? Alinhados e brancos, a abertura entre os da frente não está à vista.

Em desespero, começo a passar as mãos por todo meu corpo, aquele avental estranho somente suspenso pelos ombros.

— Caramba... eu estou gostosa — a voz sai um sussurro.

Começo a pensar se ganhei algum sorteio ou vale para isso. Qual era mesmo o prêmio máximo do bingo que o vovô Arthur estava organizando? Não consigo lembrar, mas o segundo colocado levava uma panela de pressão, disso eu sabia, estava de olho.

Alguém bate na porta do banheiro semiaberto. Era a enfermeira, a Sra. Pomfrey.

— Lembrei agora que a senhorita não pediu nada para comer e precisa se alimentar direito, mocinha. O que gostaria?

Paro para pensar o quanto mais me custaria um lanche nesse lugar. Bom, um sanduíche não ia me deixar mais quebrada do que já estou, certo?

— O que vocês têm por aqui? Sopa? — pergunto sem segurar uma careta.

Ela sorri, achando graça.

— O que você quiser, Rose. Temos dois chefes disponíveis e convênio com restaurantes. Nunca se sabe qual vai ser o pedido de um magnata rabugento retirando uma pedra nos rins, não é?

— Bom, se for assim, vou querer um filé de peixe com batata frita. — Digo animada. — E uma coca-cola.

Ela parece hesitar, mas assente e pede para que eu volte para a cama, pois mesmo que eu provavelmente ganhe alta logo, estou fraca.

O médico entra no instante seguinte, e muito simpático, me examina.

— Acredito que esteja tudo certo agora, foi apenas um susto, principalmente seu ataque de asma quando a tiramos da indução. Talvez o corte na cabeça continue ardendo por causa dos pontos, e preciso que retorne no final da semana para ver se está tudo bem — dizia ele. — Vou prescrever alguma coisa para dor, mas nada que dê muito sono, não é, Rosie? Sabemos que detesta se sentir cansada e improdutiva.

Considerando que eu acabei de conhecer esse homem, não tenho tanta certeza se ele sabe o que eu gosto ou deixo de gostar, mas respondo educadamente:

— Muito obrigada.

Ele sai e a comida chega. A porção de batatas foi caprichada. Vou pescando algumas enquanto analiso o celular, ele é muito diferente. Tudo bem que meu Motorola primeira geração não é uma das sete maravilhas do mundo, mas esse modelo aqui eu nunca vi na vida.

É um apple. Nunca vi essas bolotas salientes em forma de câmeras na traseira, mas tudo bem. Nunca tinha chegado perto de um mesmo.

Assim que ele liga, pede-se impressão digital.

Super bacana.

Mas fico desanimada. Não tem chance alguma que esse celular seja meu, mesmo com algum dinheiro sobrando, não me imagino gastando uma grana preta em um telefone. Estou esperando Poppy Pomfrey entrar a qualquer minuto para avisar o equívoco.

Tenho uma desculpa na ponta da língua caso acontecer.

Pressiono meu dedo indicador mesmo assim. Vai que.

Aceitou. Aceitou.

A tela abre, uma outra foto minha surge — isso está ficando perturbador já —, vestida com roupa de academia. Espera. Não. Parece que eu estava competindo em uma maratona (alô, pessoa asmática?). Tem meu nome e uma numeração colada no top branco.

Que piada. Como se eu conseguisse correr mais de um quarteirão sem estatelar no chão.

Não tenho tempo de digerir ou mesmo avançar nessa busca, pois a porta é aberta mais uma vez, e da fresta, uma pessoa que quase não reconheci. Quase.

— Alô, Rosileine. Posso entrar?

Hugo? — Engasgo.

Ele entra em todo caso.

Mas tenho certeza. É ele, o próprio. O olhar travesso em meio às covinhas, o jeito despretensioso de andar, igualzinho ao do nosso pai. Mas, definitivamente, três anos mais velho. Algo como uma barba, muito rala, enfeitava seu rosto fino.

— Como você está? Mamãe ficou para falar com o médico no corredor.  

Ele se aproxima, chegando na beirada da cama, sentando-se.

— Ótima. Na medida do possível para alguém que bateu a cabeça — resmungo.

Hugo ia falar alguma coisa, mas me vê pescando outra batata, e arregala os olhos para a bandeja.

— Bateu tão forte que esqueceu que não come carboidratos? — Seus olhos pairam na mesinha do meu lado — E açúcar?

Reviro os olhos.

— Não seja ridículo. Eu nunca abandonaria minha coca gelada.

Ele continua me olhando estranho, mas tenho coisas mais importantes para me preocupar agora.

— Hugo, — começo, sem muito tato. — O que anda acontecendo? Eu... meio que preciso de algumas atualizações aqui.

— Como assim?

Pego todo o ar que consigo para levar aos pulmões antes de responder.

**

Mal havia explicado a situação, e sem qualquer ajuda de Hugo, a porta abre novamente e minha mãe entra.

— Rose, querida!

Mãe — digo, em um fio de voz, e acho que ela não chegou a ouvir. Hermione Granger-Weasley está... impecável. Roupas ajustadas, salto médio, exalando loção de banho cara. E mesmo aparentando cansaço, os costumeiros cabelos revoltosos não estavam à vista.

— Ah, Rosie, vim assim que pude. Foram dias de terror absoluto sem boas notícias, com você aqui inconsciente — mamãe pega com cuidado minha cabeça, e deve estar inspecionando os pontos que levei de perto. — Está sentindo alguma dor? Não parece bem para mim.

Me olha, procurando qualquer resquício de denúncia no meu rosto. Seus olhos também passam pela minha comida, não parando muito tempo, no entanto. Ela agarra minha mão e praticamente expulsa Hugo da cama.

— Ronanld vem amanhã, ficou preso em Brighton resolvendo alguns problemas. Nada importante — completa ela, rápido.

— O que papai está fazendo em Brighton?

Era uma cidade litorânea e turística. Demasiadamente cara — e nunca visitada por mim, apesar de ficar a poucas horas de Londres.

— Checando todos os preparativos para a abertura, sabe como Greyback não é lá muito confiável. Mas me fale de você.

Franzo o cenho. Não tenho ideia do que ela está falando.

— Estou me sentindo melhor que ontem.

— É um começo — suspira ela. — Agora, preste bem atenção, não sei exatamente como serão as coisas a partir de agora, mas vamos fazer o possível para te manter acolhida. Consegui agendar fisioterapia e um acompanhamento psicológico já para a próxima semana. E Matt pediu licença do trabalho para ficar com você — Hermione checa o relógio de pulso — E por falar nele, ele já deve estar chegando.

Acabo me desvencilhando do abraço.

— Quem é Matt?

Minha mãe engasga, dando alguns passos para trás, e Hugo bate a mão na sua própria testa com um estalo.

— Meu Deus, Rose. Matt é seu noivo.

Hã?

...

Ah, certo. Eu havia esquecido desse pequeno detalhe dentre tantas enxurradas de informações jogadas em mim nas últimas 24 horas. Ela começa a andar de um lado para o outro, torcendo as mãos e me deixando mais e mais nervosa.

Hermione chega a balbuciar algumas coisas, Hugo também tenta ser prestativo, mas falha quando elabora suas costumeiras piadinhas na hora errada.

Tento chamar a atenção dos dois, que estão neste momento discutindo aos sussurros ao lado da janela.

— Mãe, acho que quero ficar um pouco sozinha agora.

Ela se vira em um sobressalto, mas parece entender meu pedido, pensando que preciso de tempo para assimilar as coisas, e o pior, me preparar para ver (conhecer) a pessoa que está aceitando dividir uma vida comigo, — por um motivo que ainda me é um mistério.

Mas o que quero mesmo é correr para a privada e vomitar a gelatina de tangerina do dia.

Acabo não fazendo nenhuma das duas coisas.

Ao invés, acho um bom momento para ler os cartões dos arranjos de flores esquecidos na frente da cama. Percebo que houve trocas de água, mas isso não impediu as margaridas de estarem agonizando entre as rosas e as petúnias, recebendo pouca luz. Começo a pensar o porquê de não haver um urso gigante ou uma dúzia de balões coloridos das minhas duas melhores amigas — tal qual fizemos quando Alice convenceu um webnamorado indiano a pagar suas próteses nos seios um ano atrás. Bem, quatro anos atrás.

Avanço para a beirada da cama, e um mix de lírios com rosas, ambos brancos, chama minha atenção primeiro. Era o maior arranjo, mais imponente e com cara de dinheiro jogado fora — sério, quem se empenha tanto em algo assim? Não sou do tipo garota-das-flores para dizer a verdade.

Saco o cartão perdido entre os ramos, um envelope verde escuro imitando veludo, lacrado em cera. Confesso que fiquei com pena de violá-lo.

 

Nossos sinceros desejos de melhoras para a colega, chefe e amiga Rose Granger-Weasley, de todos nós do departamento.

Malfoy & Co sente sua falta e aguarda seu retorno.

 

Scorpius H. Malfoy, diretor-chefe, dep. direito criminal.

 

MeuDeusMeuDeusMeusDeus.

Eu…

Scorpius H. Malfoy.

Meu queixo caí. Leio tantas vezes, que além do cartão estar amassado e nojento (malditas mãos suadas, obrigada pela herança, pai), as palavras não fazem mais nenhum sentido.

Scorpius. Malfoy.

E tudo bem. Eu faço estágio na empresa da família dele. Mas não é como se eu visse os figurões a cada virada de corredor. E devo confessar, nunca sequer pisei no décimo sétimo andar do arranha-céu que a Malfoy & Co aluga cinco andares inteiros.

Na verdade… 

Eu fazia estágio na empresa da família dele. Agora, somos colegas de trabalho. Pois eu sou chefe. Não sei de quê, mas aparentemente estou chefiando algo com ele, não é? Juntos.

Em pensar que o mais próximo que cheguei desse homem foi quando a Forbes publicou sua mais nova lista de destaques Under 30, e eu o recortei, colando na minha geladeira azul.

Com certeza, uma saia lápis da Macy’s não parece mais uma ideia tão genial para minha volta ao trabalho-

Hum.

Que inferno. Alguém está batendo na porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ai, ai. Esse cap está escrito tem muuuito tempo, mas como precisava de ajustes e revisão, e eu estou 100% focada no meu outro fandom gringo, ficou difícil demaaaais terminar. Mas aí, sentei ontem para reler tudo, até os rascunhos da história completa, e meu deu O GÁS necessário ~amém.

Comentários me deixam super feliz, além de novos leitores ♥ sjaijhsuiashs



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Past Life" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.