Bloqueio criativo escrita por Aislyn


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Achei esse capítulo bem divertido, talvez porque eu sei o quanto meu personagem pode ser irritante quando quer, mas também sabe ser um amorzinho.
E teremos mais um chegando... leitores antigos de outras histórias podem gostar disso.

Boa leitura! Não deixe de me contar se gostaram!



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Encontrar uma boa ideia e conseguir se concentrar para escrever a história já era difícil em uma situação normal, mas Hayato se viu encurralado a partir do momento que passou a ter Takeo do seu lado, opinando e reclamando a cada mísera linha.

 

Hayato conseguiu ignorá-lo após a primeira conversa, onde perdeu sua caneca favorita, e também durante todo o dia seguinte, contudo, naquela manhã ele estava insuportável. A pior parte era não poder culpá-lo, afinal de contas, era uma criação sua; estava agindo exatamente como foi descrito a fazer. Takeo era comunicativo, espontâneo e sincero ao ponto de doer. Ele dizia exatamente o que queria dizer, na cara, sem amenizar verdades. Outro ponto complicado era sua hiperatividade. O rapaz não conseguia ficar parado muito tempo, sem nada para fazer ou distraí-lo. Então, enquanto conversava e dava sugestões, intercalava entre sentar no sofá às suas costas e caminhar por toda a sala, mudando suas fotos e livros de lugar.

 

Esfregando as têmporas, Izumi tentou ignorar o sermão que já durava pelo menos meia hora, onde Takeo criticava a própria personalidade, o que era bastante bizarro, justamente por fazer sentido. Ele parecia saber o quanto podia ser irritante! Izumi, que estava sentindo na pele as consequências de um encontro com seu personagem, ficou com pena da mocinha que criou para par romântico.

 

— Por que eu tenho que chegar cumprimentando todas as mulheres assim? Você não sairia correndo se alguém que não conhece te dissesse isso? – Takeo saiu de seu lugar no sofá, sentando ao seu lado, em frente à mesinha de centro – Já falou com alguma mulher assim?

 

— Ok, vamos esclarecer as coisas: eu nunca convidei uma mulher para sair. – Hayato parou de digitar, virando-se para o rapaz e explicando pausadamente, como se falasse com uma criança – Não tenho intenção nenhuma de ter um relacionamento amoroso com qualquer uma delas. Entendeu?

 

— Ah, estamos chegando em algum lugar! Por que você é gay e eu não?

 

— Não disse que sou! Eu só… você me cansa. – Izumi suspirou, voltando a atenção para seu notebook. Não adiantava discutir, pois só acabaria mais contrariado, o que aumentaria seu bloqueio. Ele precisava relaxar e focar.

 

Desistindo de escrever, fechou o notebook após salvar o trabalho, se dirigindo até o banheiro, onde deixou a banheira enchendo enquanto ia até o quarto separar a roupa que usaria. Depois do comentário sobre receber sua revisora de pijama, Izumi decidiu se arrumar pelas manhãs, mesmo que não fosse ver ninguém. Voltou para o banheiro, colocando a toalha e as roupas nos ganchos da parede, mas parou de se despir ao notar que alguém o observava.

 

— Você não precisa ficar atrás de mim o tempo todo! – Hayato ralhou irritado, esperando que Takeo saísse do cômodo, mas ele apenas se moveu para o lado, levando a parte de ficar atrás no sentido literal.

 

Evitando gritar com seu personagem, Hayato tentou encará-lo reprovador mas, provando o quanto podia ser folgado, Takeo usou a tampa do vaso como assento, decidido a esperar.

 

— Saia!

 

— Mas…

 

— Espere do lado de fora! – era impossível não se irritar. Era como se ele fizesse de propósito!

 

— Por que a vergonha? Mesmo de pijama dá pra ver que você é gostoso. – Takeo resmungou enquanto saia, a porta sendo batida com força às suas costas.

 

— Isso é coisa para se falar?! – foi possível ouvir Hayato reclamando enquanto se afastava para o outro lado do banheiro e Takeo só conseguia pensar em ‘de quem era a culpa?’ por conta de seus comentários.

 

Ele não conseguia evitar!

 

O pedido para sair não se mostrou eficaz quando ouviu-o cantarolar, identificando a música do ‘elefante incomoda muita gente’. Afundando na água, Izumi pensou que, se ficasse do lado de dentro, pelo menos o rapaz inventaria algum assunto para conversarem.

 

Demorou na água o tempo que achou necessário para colocar as ideias no lugar, só notando o silêncio quando saiu do cômodo e não encontrou seu invasor sentado ao lado da porta. Todos sabem que, quando uma criança fica quieta demais, é por estar aprontando, então Hayato não pensou duas vezes antes de sair procurando pela casa, pensando no que ele estaria colocando fogo.

 

A primeira vez que o viu mexendo em suas coisas e tirando tudo do lugar foi um susto e tanto, levando em conta que Takeo era algo da sua cabeça e não poderia tocar em nada. A resposta que obteve àquela dúvida foi que seu subconsciente estava tão desesperado por companhia que o fez o mais real possível.

 

Hayato não concordava com aquela afirmação, mas preferiu não discutir. Sempre que ele dava corda para debates, acabava ouvindo verdades que era melhor não encarar no momento.

 

Olhou pelo quarto, cozinha, lavanderia e enfim a sala, onde o encontrou parado no meio do cômodo, encarando alguém sentado no sofá que fumava despreocupadamente.

 

— Você abriu a porta pra um estranho? – Hayato se aproximou desconfiado, pensando que, mesmo que Takeo atendesse a porta, ninguém o veria, então o errado seria o visitante, por invadir ao notar a porta se abrindo ‘sozinha’. Virando-se para a visita, o escritor tentou sorrir gentil – Posso ajudar?

 

Recebendo um olhar de descaso e sendo analisado de cima a baixo, o visitante pareceu não querer lhe dar muita atenção, sendo possível ouvi-lo murmurar um ‘medíocre’ que deixou o escritor indignado. Quem aquele cara pensava que era?

 

— Está procurando por alguém? Acho que entrou no apartamento errado…

 

— Ele é como eu. – explicou Takeo, deixando Hayato confuso num primeiro instante, mas então a ficha caiu e ele percebeu alguns traços familiares. Puxando da mente a lista de personagens e analisando a aparência do homem; vestido com um terno, cabelos claros, estatura mediana e fumante, Izumi conseguiu adivinhar quem era, ou quase isso. Não o havia nomeado ainda…

 

— Ah… você é o diretor da empresa…

 

— Que conclusão óbvia. E você é o escritor fracassado.

 

— Hei! Eu criei você! Um pouco de gratidão faria bem!

 

— Uma criação pelas metades não é motivo de orgulho.

 

— Eu posso terminar de preencher sua ficha, se é esse o problema. – Hayato caminhou até o notebook, abrindo-o e procurando as fichas de personagens, parando em uma nomeada como ‘CEO’. Realmente não havia do que se orgulhar, visto que havia muitos espaços em branco e cheios de interrogação. Ele estava lidando com um personagem em construção – Vejamos… que nome gostaria de ter?

 

— Eu preciso escolher por você? – o empresário encarou-o indignado, cinzas do cigarro caindo no tapete branco, deixando Hayato incomodado.

 

— Ah… ok, eu escolho. Mas poderia não fumar aqui dentro?

 

— Isso, coloca ele pra fora. – Takeo, que até aquele momento estava estranhamente quieto, apareceu atrás do escritor, batendo o pé em sinal de nervosismo.

 

— Você sabe que eu não posso me afastar, seu punk!

 

— Punk?! – com poucos passos Takeo se aproximou do novo visitante, segurando-o pela frente do blazer – Quem você pensa que é pra me chamar assim, seu engomadinho?

 

— Meninos, chega! Sem brigas, por favor! Eu vou ajeitar tudo pra vocês dois, vamos entrar num acordo, tudo bem?

 

— Então manda esse imbecil sair do meu lugar! – Takeo soltou o empresário, mas não sem antes chutar seu pé – Eu cheguei primeiro.

 

— Eu não vou mover um músculo daqui e quero ver você me obrigar.

 

Takeo estava pronto para arranjar briga quando Hayato se colocou entre os dois, arrastando o ruivo para longe.

 

— É só um lugar no sofá, por que faz tanta questão? – antes que Takeo tomasse fôlego para retrucar, Hayato interviu novamente – Você pode ficar com a poltrona do quarto, o que acha?

 

— Posso ficar na sua cama com você? – o sorriso do rapaz era muito bonito, mas estava repleto de segundas intenções. Hayato não queria nem imaginar até onde ele iria chegar se desse liberdade.

 

— Vou pensar no seu caso, até lá, comporte-se e trate bem o seu colega. Vocês vão trabalhar juntos.

 

— Por juntos você quer dizer conviver enquanto estamos aqui ou…

 

— Eu estava pensando em colocar você para trabalhar com ele na empresa, Takeo.

 

— Nem morto que vou contratar um punk! – o visitante se intrometeu, encarando os dois com desprezo. Ele só aceitava os melhores.

 

— Como se eu quisesse. Imagina ter que me vestir mal igual a você só pra ter um emprego?!

 

— Ok, já entendi, nada de trabalharem no mesmo local. Satisfeitos? Vou pensar em um lugar diferente e que combine com você, Takeo. E o… diretor, ahm… você vai ter um funcionário à altura.

 

— Vai ficar chamando ele assim, como se fosse o maioral?

 

— Certo, um nome. – Hayato empurrou Takeo até o sofá de dois lugares, onde ele se sentou a contragosto, depois parou em frente ao notebook, voltando a atenção ao arquivo do ‘CEO’ – Vou escrever isso agora. E a cena com o emprego a seguir, mesmo que só vá acontecer mais a frente.

 

O escritor se pegou encarando o empresário por mais tempo do que era considerado educado e, quanto mais o olhava, menos um nome parecia combinar com ele. O que combinaria com um cara mal humorado e de educação duvidosa? A pior parte, mais uma vez, foi pensar que ele foi criado assim. Ainda havia buracos na descrição mas, num geral, a ideia era um homem inflexível e seguro de si. Não adiantava argumentar com aquele ali. Enquanto Takeo apenas contestaria suas decisões, fazendo-o notar que estava errado, o outro se colocaria na posição como o único correto presente.

 

Aquele seria um longo dia…


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!



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