Eclipse Lunar escrita por jujuba


Capítulo 18
O que os lobos sentem


Notas iniciais do capítulo

Gentee, como estão?
Estou inspirada, hahaha, então resolvi postar logo mais um capítulo! Espero que gostem!



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Nem Jacob e nem Finn me pressionaram para saber o que tinha acontecido há alguns dias. Eu procurei seguir a minha vida como se nada tivesse acontecido. Com a chegada dos meus pais na cidade com o resto da mudança tive alguns dias bem atarefados, principalmente porque agora meu pai fazia parte do Conselho da Tribo, um cargo que eu percebi que ele relutava muito. Fiquei imaginando se o fato do meu pai nunca ter morado em La Push tinha algo a ver com a relação estranha dele com o meu avô ou se era só um sentimento de não querer ficar para sempre em uma cidade pequena.

Minha mãe estava inconsolável pelo silêncio a respeito do desaparecimento de Chuck. A maioria das pessoas de Seattle pelo menos tinham uma resposta quando se encontrava um corpo. No caso de Chuck, tudo isso continuava um grande mistério. Ninguém sabia onde ele estava depois de ter sido visto na praia. Era como se ele tivesse sumido do mapa.

A chegada dos meus pais também trouxe a seriedade do que estava acontecendo em Seattle. A gente acompanhava pelas notícias — Vô Quil mais do que qualquer um —, mas o quadro de pânico e desolação foram os meus pais que trouxeram. A maioria das faculdades tinham fechado e começado com aulas online, os campeonatos, tudo que envolvia aglomerações e vida noturna tinha sido suspensa por um toque de recolher. Quando perguntei aos meus pais sobre Veronica, eles não souberam me dizer. Não tinham mais entrado em contato com a livraria e ela também não tinha entrado em contato, mas eles suspeitavam que a família dela tinha se mudado por segurança.

Eu esperava que sim. Esperava que ela e os meus colegas da escola estivessem bem, por mais que eu tivesse sumido de suas vidas.

Como eu estava de férias escolares, minha mãe não ficou mais tanto no meu pé por conta da escola, ela parecia satisfeita com as notas altas que fechamos o ano letivo. Por isso eu conseguia escapar com frequência para ficar perto de Jacob. Nos dias que se seguiram ficamos mais em sua casa do que na minha, embora minha mãe já tinha deixado no ar convidar Jacob e Billy para um jantar qualquer dia desses (com certeza tentando me emboscar para falar algo).

— Quando você vai falar com os seus pais sobre nós? — Jake perguntou um dia quando estávamos em sua garagem. Eu o via trabalhando no Rabitt nos últimos dias, ajudando mais como macaco hidráulico do que qualquer outra coisa. Os garotos às vezes passavam pra ajudar também, mas Jacob não os deixava ficar tempo demais.

Eu me perguntava se não estivéssemos com esse problema com o visitante e a tensão dessas visitas indesejadas como que seriam as nossas férias de verão de fato. Algo mais suave, imagino.

— Logo. Eu só não quero preocupar minha mãe desnecessariamente —falei — Ela já tem passado por tantas preocupações, não quero que fique preocupada com a gente também.

— E por que ela ficaria? — a voz dele abafou um pouco quando ele forçou uma peça e a apertou.

— Ela não quer que eu me apegue a cidade. A minha perspectiva de futuro pode ter mudado, mas a dela não. Faculdade ainda é uma prioridade para ela e eu estar namorando não a deixaria tranquila em relação a isso.

Jacob deslizou para força do carro e eu gentilmente o abaixei. Ele se ergueu e limpou a mão em um pano encardido enquanto se encostava ao meu lado.

— A sua prioridade mudou a respeito da faculdade? — ele parecia surpreso com isso.

— Não é uma mudança de prioridade, é mais a realidade. Não tem como eu ir para a faculdade, não desse jeito e com tudo o que tem acontecido. É algo que eu já aceitei — dei de ombros.

— Mas ir para a Yale era tudo o que você queria.

Eu sorri para ele e o abracei pelo pescoço. — Era antes disso tudo acontecer.

Jacob franziu o cenho para mim por mais que me abraçasse pela cintura. Ele parecia chateado, mas eu não conseguia entender o motivo.

— O que foi, Jake?

— Não quero que você desista do seu sonho. Essa situação não vai ser para sempre, eu te falei. Vai ficar tão monótono por aqui que você vai estar puxando briga só para ter algo para fazer. Faculdade ainda pode ser uma realidade.

— Claro. E aí eu me irrito e me transformo em um grande lobo na frente de todos. Tenho certeza que irão ver isso como algo poético. Vão escrever livros sobre mim — eu disse rindo.

— Se é isso o que está te segurando eu posso te ajudar. É só uma questão de controle. E você sempre soube se controlar muito bem, está mais difícil agora porque você está sofrendo muita pressão.

Eu dei de ombros, sem me deixar abalar. Eu já tinha feito as pazes com o fato de que não iria para Yale ou nenhuma outra faculdade.

— Mas você deixaria La Push? Você é o segundo em comando, afinal de contas — comentei — Não vou ficar em um lugar onde você não está.

— Nada me prende aqui além da escola e do bando nesse momento. Quando as coisas se acalmarem, se você quiser, irei com você. Provavelmente não sou esperto o suficiente para Yale, mas estarei logo ao seu lado.

Eu sorrio e o beijei. — Vamos ver como as coisas vão ficar.

Jacob me segurou próximo por mais um tempo, aprofundando o beijo. Eu tinha certeza de que se a gente não estivesse com esse monte de pressão dentro do bando em caçar vampiros as nossas férias de verão seriam perfeitas e ensolaradas, mesmo que o tempo não contribuísse. Eu ri divertida quando ele nos virou e me içou para sentar no capô do carro. A intenção dele era muito clara, mas as rodas de Billy quebraram o momento. Billy não conseguia descer até a garagem, mas nada o impedia de gritar por Jacob.

— Sério, ele precisa melhorar nesse timing.

Subimos para almoçar, algo que tinha virado quase uma rotina naqueles dias. Billy sempre parecia feliz e animado em me receber e cozinhar para nós. Ele fazia uma macarronada como ninguém, mas dessa vez era bife, purê de batatas e legumes.

O final do dia caminhou para um acalorado jogo de canastra com Billy, mesmo com Jacob tentando encerrar o tempo todo jogando errado de propósito para que a gente tivesse um tempo juntos à sós. Porém, eu gostava de jogar jogos com Billy, ele era competitivo, engraçado e um pouco espertão demais, o que fazia com que eu nunca soubesse se ele estava contra as regras ou não.

Quando escureceu, Jacob finalmente conseguiu demover Billy de uma revanche (eu ganhei uma rodada de três) alegando que precisava me levar de volta. Ele parecia um pouco emburrado enquanto dirigia, mas eu estava de bom humor. Antes de entrar na entrada da minha casa, Jacob parou o carro no acostamento. A estrada estava escura pela falta de iluminação, mas isso não era um problema para nós.

— Finalmente um tempo com você — ele disse sorrindo de canto. Era uma atitude mimada dele, já que nos últimos dias a gente tinha passado muito tempo juntos, mas eu entendia o que ele queria dizer. Nenhum tempo do mundo parecia ser o suficiente.

Eu soltei o meu sinto e me movimentei para o banco dele. Era apertado, mas encontramos um jeito. Jacob segurou meu rosto e me olhou atentamente antes de me beijar cheio de vontade. Agarrei sua nuca enquanto pressionava o meu corpo ao dele. As mãos dele vagaram para a minha cintura e apertaram a carne, me fazendo ofegar. Então deslizou até o meu quadril de forma possessiva.

Jacob pressionou meu quadril e suavemente empurrou meus quadris, criando uma fricção com ele. Pude ouvir o coração dele voar assim como o meu, os vidros do carro ficando mais embaçado conforme nossa temperatura aumentava ainda mais.

— Eu nunca vou me cansar disso, sabia? — ele murmurou em meus lábios — Nunca vou me cansar de você.

— Eu te amo — sussurrei de volta.

Minhas coxas apertaram a cintura dele quando, novamente, aquela fricção foi feita. Jake agora beijava o meu pescoço, uma de suas mãos subindo para o meu seio... Então o movimento errado fez com que meu quadril pressionasse a buzina, que soou alta demais naquela estrada vazia.

Eu ri e desacelerei um pouco. Com certeza os meus pais ouviram isso, estávamos ao lado da entrada da casa. Jacob suspirou e desacelerou também.

— Droga de carro apertado.

Eu ri de novo e o puxei para um último beijo. Estava para sair de seu colo quando ele me segurou, o rosto agora estava mais sério.

— O que foi, Jake?

— Fiquei pensando... — ele começou me fitava com atenção — Fiquei pensando quando que você decidiu que não ia mais para a faculdade... E se isso tem a ver com aquela noite.

Eu senti a temperatura do carro esfriar um pouco, minha bolha de bom humor sendo esvaziada. Eu achei que ele tinha esquecido de vez aquela noite, ou pelo menos a estranheza da noite uma vez que ele nunca falou nada mais a respeito e nem pensou, pelo menos não nas rondas em que corremos juntos — que são quase todas.

— Eu sabia que você ia reagir assim — ele disse dessa vez me olhando.

Eu desviei o olhar, mirando o peito dele. Eu tinha enterrado aquele sentimento em relação a Bella Swan o máximo possível, tanto que consegui passar por aqueles dias sem sentir nada de ruim.

— Mas observando você agora, vejo que não tem nada a ver com a faculdade. E mesmo assim você não quer me contar — ele continuou quando eu não respondi.

— Jake... — eu sussurrei, incapaz de dizer nada além disso.

Ele levantou meu rosto, me fazendo olhá-lo. — Eu quero te ajudar. Posso ver como você estava... diferente naquela noite. Machucada. Mas tinha algo a mais também.

— Não quero falar sobre isso. É passado — eu disse soltando o meu rosto de sua mão.

— Foi alguma coisa que eu fiz?

Meu peito se apertou em desespero sufocado. — Não! Não tem nada a ver com você...

— Então o que é, Raven? Você está diferente... Não sei, alguma coisa mudou.

Eu suspirei e encostei a minha testa na dele. Testei o meu humor a respeito desse assunto, checando se eu não cometeria nenhum deslize na frente de Jacob. Eu nunca poderia negar nada a ele, não quando eu via que a minha atitude o estava machucando. Talvez se eu contasse uma parte da verdade... Talvez faria com que ele desistisse do assunto.

— Por favor, Raven. Deixe-me te ajudar.

— Como que eu posso negar quando você me pede assim? — eu grunhi — É bobagem, já passou.

— Mesmo assim, quero saber.

Joguei as mãos para cima em exasperação. Eu não podia olhar em seus olhos enquanto falava, qualquer movimento em falso e ele veria que tem mais escondido sob a superfície. Então contei apenas o básico, o fato em si.

— No dia que Bella Swan veio te visitar da última vez, eu vi que ela te beijou. Eu estava na praia com os meus irmãos. — falei e controlei muito a minha voz ao falar o nome dela — Só fiquei irritada com isso. Foi só.

Ele ficou em silêncio por um tempo e então ergueu novamente o meu rosto. Eu controlei minha expressão o máximo que pude. Falar sobre aquilo me deixava irritada, lembrar dela indo até ele me deixava em ponto de fúria.

— Bella não me beijou — ele disse quando eu finalmente o olhei — Eu não deixei que ela me beijasse. Jamais faria isso com você. Mesmo assim, sinto muito.

O fato dele não ter deixado atenuou um pouco da raiva que eu sentia ao lembrar da cena, mas não o meu sentimento em relação a ela. Bella sabia que ele tinha namorada, ela mesma tinha o namorado dela. Eu não tinha a pretensão de entender a confusão que ela sentia, mas o jogo que ela estava jogando era perigoso. Pra ela e para aqueles ao redor dela. Fazer isso de forma consciente ainda me irritava.

— Tudo bem — eu disse sorrindo para Jacob.

Ele me segurou por mais um tempo — Sabe que eu nunca faria e nem deixaria ninguém fazer nada para te machucar, certo?

— Eu sei disso. Eu só não esperava isso, é só.

Jacob me beijou suavemente, mas não durou muito quando ouvimos passos na entrada de carros. Agilmente a gente saiu do carro bem a tempo de ver a cabecinha da minha mãe espreitando na rua. Quando ela percebeu que nós a vimos, ela cruzou o braço e veio na nossa direção.

Jacob manteve uma mão de apoio entrelaçada na minha, mas ele parecia relaxado.

— Boa noite, Sra. Ateara — ele disse animado.

Não tinha como uma pessoa não se animar com o tom e o jeito de Jacob, ele conseguia fazer qualquer situação desconfortável se tornar suportável.

— Boa noite, Jacob. Raven — minha mãe disse. — Está tarde já.

— Sim, eu já estava entrando.

— Eu vejo você amanhã — Jacob disse e trazia uma graça na voz que só eu podia ouvir (ou assim esperava). O fato era que a gente ia se ver dali algumas horas na ronda noturna.

— Na verdade, Jacob, gostaria de convidá-lo para jantar amanhã conosco — minha mãe interveio — O namorado de Camille, Theo, também chegará na cidade amanhã.

Ah, que ótimo.

— Claro — Jacob disse sorrindo para minha mãe. Depositou um beijo em minha testa e então entrou no carro. Ele parecia divertido com a minha reação, mas eu ainda podia ver uma sombra de tristeza em seu olhar por nossa conversa anterior.

Observei da calçada ele fazer a volta e então dirigir em direção à La Push. Suspirei.

— Que sutil, mãe — falei rolando os olhos ao passar por ela.

— Eu teria sido mais sutil se soubesse mais claramente o que há entre vocês dois — ela disse.

— Como se você não soubesse.

Catherine segurou suavemente o meu braço antes de entrarmos em casa. Ela me olhou severamente, mas havia preocupação mais do que tudo. Isso era o que eu menos queria. Ela já tinha tantas preocupações, eu não queria ser mais uma delas.

— Mãe, não precisa se preocupar. A gente só está saindo... Sabe como é, logo passa.

— Vocês parecem... Sérios.

Respirei fundo e tentei trazer mais naturalidade na minha voz ao falar sobre Jacob. Eu sabia que quando falava sobre ele podia soar mais intensa do que as pessoas estavam acostumadas.

— A gente está se conhecendo. Ele é muito legal e me ajudou com a transferência de escolas — dei de ombros — Ninguém aqui está propondo em casamento, mãe. Então relaxa um pouco.

Ela não teve tempo para falar mais nada, pois eu abri a porta de casa e entrei. Segurei a porta para ela passar. Catherine não parecia muito convencida disso, mas não falou mais nada naquela noite. Não que isso fizesse alguma diferença, os olhares que ela me lançava por cima da mesa de jantar já diziam muito. Ela não ia largar o osso até entender em que pé Jacob e eu estávamos.

Droga. Como deixar as coisas casuais para ela não se preocupar sendo que nosso relacionamento não era nada casual?

Eu não estava particularmente ansiosa para o dia seguinte. Como íamos receber visita e uma delas passaria alguns dias com a gente, minha mãe colocou todo mundo para fazer faxina e tornar a casa habitável — o que envolvia também toda a parte do jardim e entrada de carros. Nós passamos o dia inteiro varrendo, limpando e organizando. Finn estava quase caindo de sono enquanto a gente finaliza juntos as folhas da entrada de carros. Eu não estava em melhor estado também, pois tinha dormido pouquíssimo.

Não via a hora do dia acabar e eu ir para a casa do Vô Quil. Finn e eu ficaríamos lá até Theo, o namorado de Camille, ir embora. Não tinha quarto para todo mundo (isso porque meus pais se recusavam a deixar Theo e Camille dormirem no mesmo quarto, mesmo eles morando juntos em Seattle). Jesus, se ela soubesse então quem tinha o costume de dormir no meu quarto e escapulir pela manhã todos os dias... E o que a gente fazia...

Theo chegou junto com o pôr do sol. Eu estava me arrumando quando ouvia Camille animada no andar de baixo recebendo o namorado. Coloquei um vestido azul claro com pequeninas flores brancas, ele era justo na cintura e no busto quadrado. Calcei meu All-Star e então joguei um cardigã branco por cima. Como sempre não tinha muito o que fazer a respeito do meu cabelo, mesmo tendo lavado, ele estava indomável. No entanto, isso parecia tanto comigo que eu nem me importava mais. A ponta do meu cabelo batia no início da cintura, os cachos caindo definidos por todos os lados.

Escutei o carro de Jacob virando a entrada da casa e então decidi que estava na hora de descer. Eu só tinha visto o namorado de Camille nas duas vezes em que ele tinha jantado conosco em Seattle. Theo era... Engomado. Tinha o cabelo loiro curto penteado com gel para um lado, olhos castanhos claros, pele rosada e uma roupa... Engomada. Era o tipo de cara que usava camiseta polo e calça cáqui — nada contra, eu só achava estranho roupas tão formais em um jantar tão informal. Theo fazia alguns trabalhos como modelo, mas como não dava muito dinheiro, ele administrava em paralelo junto com o seu pai uma concessionária de carros importados em Seattle.

— Oi, Theo.

Ele estava sentado no sofá ao lado de Camille, quando me viu, algo brilhou em seus olhos. Eu não gostei muito da forma como ele me olhou, como se de repente ele percebesse que eu era mulher e que era atraente... Como um pedaço de carne. Fechei a cara para ele.

— Oh, você cresceu Raven! — ele disse rindo.

— Nem tanto assim — comentei fria. A campainha tocou — Deve ser o Jake.

— Jake? — meu pai perguntou confuso para a minha mãe.

— O namorado casual dela — Catherine respondeu de volta com humor.

— Mãe! — eu disse entre dentes antes de abri a porta, a olhando irritada.

Eu nunca me cansaria de olhar para Jacob, admirar suas linhas fortes, mas como a suavidade do olhar o deixava mais atraente ao invés de severo. Seus cabelos continuavam a crescer, estavam agora na altura da clavícula, mas desgrenhados como sempre, o que lhe dava um ar um tanto... Indomável. Ele me olhava com ternura e amor, mas seus olhos se transformaram em duas chamas quando olhou para as minhas pernas e o vestido levemente justo. Jake vestia uma calça jeans simples e camiseta preta. De alguma forma ele conseguia usar só isso e parecer... Quente.

— Boa noite — ele disse e então me deu um leve beijo nos lábios.

Eu sorri animada para ele e dei passagem para que ele entrasse. É claro que minha mãe estava pronta para interroga-lo no momento em que a gente se sentasse, então tentei prolongar um pouco as introduções.

Os trigêmeos estavam estranhamento silenciosos, mas isso se devia as ameaças severas que mamãe fez caso eles não se comportassem. E como medida de segurança ela trancou a casinha de ferramentas, então eles não poderiam continuar a construção da cabana se não se comportassem.

— Ah. Jacob Black — meu pai disse em compreensão, então o seu rosto se fechou em uma carranca por um momento.

Bom, ele estava no Conselho agora. Ele era o único da nossa família além de Finn e eu que sabia sobre a existência do bando. E ele sabia que Jacob era o segundo em comando..., mas será que ele sabia sobre o imprinting?

— Sr. Ateara — Jacob disse firme, mas com um sorriso de sol para todos.

— Sentem-se Jacob. A comida ficará pronta em alguns instantes — minha mãe disse um pouco afobada (devia ser a taça de vinho que ela terminava em alguns goles).

— Obrigado — ele disse e eu o puxei para se sentar ao meu lado, no oposto de onde Camille e Theo estavam.

— Bom, você é um cara grande — Theo disse o observando — É uma boa altura para modelar.

Eu prendi a risada, mas não consegui disfarçar o suficiente para que as pessoas interpretassem como um acesso de tosse. Jacob? Modelando? Rá! Eu pagava para ver isso.

— Raven comentou que você é modelo. Deve ser uma profissão difícil — havia um sarcasmo e preconceito na voz de Jacob que foi muito mal disfarçado. Eu lhe dei uma acotovelada. Não que ele estivesse errado em usar esse tom com Theo, porque o cara realmente não levava a profissão a sério e nem tentava, mas mesmo assim.

— Ah sim. É um mercado muito competitivo, sabe — ele disse com tom importante.

— Não seja modesto, querido! — Camille disse sorrindo para o namorado — Theo conseguiu fechar um comercial para a Audi.

Theo soltou uma risada que era para ser modesta, mas não deu muito certo. Eu queria rir de novo e sentia que Jacob também, mas a gente se manteve firme.

— Audi, hein? — meu pai disse e eu sabia que ele estava tentando se interessar pelo assunto, mas para o meu pai não havia nada mais trivial do que o mundo da moda.

— Sim. Eles são um cliente da minha agência e quando surgiu a oportunidade logo pensei no Theo. Assim, ele era perfeito pro papel! — Camille disse.

— Um momento, é essa nova campanha do modelo esportivo deles? — Jacob perguntou e assobiou. — Mas não me lembro de ver você na campanha.

— Theo é modelo de mãos da campanha — Camille disse um pouco seca para Jacob.

— Modelo... De mãos? — eu perguntei um pouco surpresa.

— Sim, Raven. Só as mãos dele aparecem, porque o cliente precisava de mãos fortes para aparecer na campanha — Camille disse.

— Você tem um rosto torto — Lorelai disse para Theo. Ela tinha passado a última meia hora encarando ele.

Jesus. Eu precisava ajudar minha mãe na cozinha antes que eu fosse rude o suficiente para cair dura de tanto rir. Com essa desculpa eu me levantei, mas foi a desculpa perfeita para Camille se levantar também e dizer algo como: “vamos deixar os homens conversando”.

Rolei os olhos enquanto ia até a cozinha. Encontrei minha mãe olhando para o livro de receitas dela com os olhos marejados. Franzi o cenho e cheirei o ar. Eu sentia cheiro de camarão, tomate, azeite e arroz... Ah. Ela estava fazendo arroz com camarão. Era o prato preferido de Chuck. Meu coração se apertou.

— Precisa de alguma ajuda, mãe? — perguntei suavemente.

— Oh! O que? Ajuda? Não, querida, não precisa — ela disse fungando e se virando para mexer o arroz. — Ah, esqueci de perguntar se Jacob gostava de camarão. Acha que ele vai se importar?

— Jacob come de tudo, mãe. Não se preocupe.

Ela sorriu um pouco entristecida enquanto mexia o arroz e misturava os ingredientes.

— Achei que seria uma boa ideia... A família inteira está aqui e você e Camille trouxeram os namorados... Achei que seria uma boa ideia ter... Sabe...

Eu sabia. Ter um pouco de Chuck entre a gente, mesmo que ele não estivesse presente.

— Deixe-me mexer o arroz para você poder fritar o restante do camarão — falei e então assumi gentilmente o seu lugar.

Catherine cedeu, mas antes de puxar a frigideira, ela me olhava de canto.

— Você está diferente — ela disse.

— É só impressão, mãe. Meu cabelo está enorme.

— Não, não quero dizer isso. O seu rosto está diferente... Mais maduro. Parece que você envelheceu.

Eu franzi o meu cenho. Eu parecia mais velha? Não tinha reparado nisso.

— Isso não é algo ruim — ela se apressou em dizer, interpretando erroneamente a minha reação — É bom. Você amadureceu aqui em La Push.

— Hm... Acho que sim — falei.

— Isso tem algo a ver com Jacob? — ela perguntou

Eu parei de mexer no arroz só para olhá-la exasperada. Catherine riu.

— Estou só tentando entender o que aconteceu na minha ausência. Ele não parece ser algo casual para você. Devia se olhar no espelho quando ele chegou. Seu rosto se iluminou.

Eu senti minhas bochechas corarem e voltei a mexer no arroz. Catherine riu de novo e me abraçou pelos ombros, deitando sua cabeça em meu ombro por um momento.

— Gostaria de saber o que você sente. Quase nunca sei onde o seu coração está.

— Você ficaria brava se soubesse.

Ela levantou a cabeça e me olhou por um tempo, ainda me abraçando. — É isso o que acha?

— Ouvi a sua conversa com o Vô Quil da última vez que veio. Não quero que fique preocupada comigo.

Catherine suspirou — Eu só estava sendo superprotetora. É claro que acho você muito nova para se envolver tão intensamente assim com qualquer pessoa, mas se é o que seu coração quer, como posso ser contra? Você nunca me deu nenhuma preocupação, Raven. E muito disso acho que foi culpa minha. Sempre priorizei os seus irmãos desde que eles nasceram... Deus sabe o quanto eles demandam atenção. Seria natural você agora precisar mais de mim. É o seu primeiro relacionamento. Quero estar aqui por você.

Minha garganta se fechou momentaneamente de emoção e meus olhos lacrimejaram. Eu amava a minha mãe profundamente e entendia a vontade dela de saber o que estava acontecendo na minha vida ao mesmo tempo em que pensava que era um pouco tarde, eu realmente aprendi a me virar desde que Sarah e os trigêmeos nasceram.

— Obrigada, mãe.

— Então... É sério você e Jacob?

— Hm. Sim? — soou mais como uma pergunta do que uma afirmação. Eu não sabia como transmitir a profundidade do nosso relacionamento para ela.

— Ele sabe dos seus planos para a faculdade?

Procurei não me encolher com isso — Sabe, sim. Ele apoia.

— E quais são os planos dele para a faculdade?

Bom... Como eu poderia ser honesta com a minha mãe sem descredibilizar Jacob na visão dela? Catherine era uma mulher que valorizava profundamente a educação. E isso não era exatamente uma prioridade para Jacob.

— Ele não sabe ainda — me esquivei.

— Bom, ele tem o próximo ano para se decidir de qualquer forma — minha mãe comentou e então me soltou para fritar os camarões.

Camille entrou na cozinha alguns minutos depois segurando Lorelai pelo braço enquanto brigava com ela pelo comentário maldoso sobre Theo. Lorelai não deu muita importância.

— A mamãe diz que é feio mentir, Camille. Eu só estava falando a verdade — Lorelai disse de nariz em pé — Se ele fosse bonito como o Jacob eu falaria, mas ele não é.

De repente eu foquei mais no arroz ao sentir o olhar irritado de Camille nas minhas costas. Sentia o rosto quente também.

Quando o arroz com camarão ficou pronto, fui ajudar a colocar a mesa. Jacob me encontrou no meio do caminho, ele parecia divertido, com um humor um pouco sombrio. Imagino que ficar ouvindo o namorado de Camille falar sobre sua vida de modelo exige muito da paciência alheia.

— Quer me ajudar a colocar a mesa? — perguntei e fiquei na ponta dos pés para lhe dar um beijo suave.

— Por favor — ele disse sorrindo um pouco de canto.

Escutamos passos vindo em nossa direção e quando me virei, era Theo. Ele sorria arrogante e um pouco convencido, como se tivesse pego a gente fazendo algo errado.

— Você é o primeiro namorado que Raven apresenta para nós — ele comentou, mas seus olhos deslizaram para a barra do meu vestido.

— Sou um cara de sorte — ele disse com a voz fria, distante.

Eu o puxei pela mão até a sala de jantar para evitar mais conflitos. Bem na hora que estávamos colocando a louça na mesa, os trigêmeos resolveram despertar e correr ao redor de nós em um pega-pega um tanto violento (quem era pego levava um soco nas costas). Se eu fosse uma pessoa levemente desastrada já teria derrubado todos os pratos no chão. Enquanto eu tentava organizar os trigêmeos, observei Jacob pelo canto do olho. Ele sorria na minha direção, mas tinha o olhar um pouco distante e levemente preocupado. Fiquei imaginando se ele ainda estava pensando na conversa de ontem a noite. Tentei repeti-la em minha mente para ver se tinha cometido algum deslize, se alguma expressão muito sombria tinha escapado... Não me lembrava, mas como Jacob conseguia me ler com tanta facilidade não seria uma surpresa ele ter captado alguma coisa.

Eu esperava sinceramente que não. Não queria ser a pessoa entre a amizade dele com Bella Swan — embora amargasse a minha boca toda vez que eu pensava nela. De qualquer forma, eu estava contando com que essa reação fosse algo passageira. Talvez um acúmulo de sensações nas últimas semanas causadas pela existência dela que indiretamente envolviam a minha vida. Esperava do fundo do meu coração que eu não tivesse me tornado uma pessoa que odeia com tanta profundidade.

— Se vocês não pararem de correr vou demolir a cabana! — eu usei como último recurso. Os três pararam e me encararam — Estou falando sério. Vou até lá no meio da noite com uma marreta enorme e vou destruir tudo o que vocês construíram. E então vou jogar todas as ferramentas fora para que não construam mais nada.

— Calminha, calminha... — Luke disse com as mãos para cima, o rosto pequeno e redondo suplicante — Não vamos nos exceder aqui. Não precisa de tudo isso, a gente já ia parar de qualquer jeito.

Enquanto isso, Lorelai se inclinava para Brandon e sussurrava — Vamos esconder as ferramentas hoje de noite, assim eles param de usar isso contra a gente.

— E nem adianta tentar esconder as ferramentas, Lorelai — eu a avisei.

Surpresa por ter sido pega, Lorelai arregalou os olhos e então saiu correndo da sala de jantar junto com Luke e Brandon, que cochichavam entre si como eu tinha ouvido aquilo. Jacob riu atrás de mm e me abraçou quando me levantei.

— Eles são uma figura — comentou por cima da minha cabeça.

— Para os visitantes, tenho certeza de que sim — falei, mas a doçura em minha voz me traiu e a frase não saiu como deveria. Eu realmente amava aqueles três.

Eu me virei para abraçá-lo pela cintura. Tombei a cabeça para trás para poder olhar para Jacob. Ainda havia uma pequena sombra de preocupação no canto de sua boca que não parecia anuviar. Eu a toquei com a ponta de meus dedos.

— Qual o problema?

O rosto de Jacob suavizou um pouco, mas imaginei que existia um esforço por trás daquilo. Ele não respondeu, apenas se debruçou e me deu um beijo suave nos lábios. O anúncio que o jantar estava pronto fez com que todos se encaminhassem para a sala de jantar. Ele pressionou seus lábios nos meus por um momento e então me soltou.

O arrastar de cadeiras e a falação dominaram o ambiente por um momento. Eu particularmente estava faminta, poderia devorar a comida toda e ainda ter espaço para a sobremesa, mas isso seria algo muito estranho de fazer na frente da minha família. Finn tinha chegado alguns minutos antes de todos se sentarem à mesa e tomado um rápido banho para estar mais apresentável.

Ultimamente ele andava bastante com Quil e Embry na casa deles, curtindo as férias de verão.

— Antes de iniciarmos, só gostaria de dizer que estou muito feliz por todos estarem aqui hoje... — minha mãe começou, mas sua voz embargou — As últimas semanas não têm sido fáceis para a nossa família, temos tido poucas razões para celebrar, mas ter todos... Bom... Quase todos... — e fugou um pouco —Ter a minha família aqui hoje me deixa muito feliz.

Ela se sentou e foi acalentada por meu pai, que trazia uma expressão profundamente triste no rosto. Eu não sabia muito o que dizer, não tinha ideia do que minha mãe estava sentindo naquele momento.

— Sirvam-se, por favor — minha mãe disse depois de um tempo.

O ambiente se encheu de sons de talheres batendo nos pratos, mas para quem era da minha família não estava com um sentimento tão feliz mais. Todos nós sabíamos como Chuck amava o arroz com camarão que Catherine fazia. Comer esse prato sem ele parecia errado.

— Qual o problema, anjo? — Jacob sussurrou em meu ouvido quando me viu encarando o prato um pouco amuada.

— Era o prato favorito de Chuck — expliquei.

Jacob apertou minha mão por baixo da mesa e me deu um beijo na têmpora. Eu tentei empurrar a melancolia de lado e aproveitar a refeição. E, como sempre, os trigêmeos não deixavam muito espaço para a gente pensar. Brandon começou a contar pra Theo como era o processo de pesca e limpeza dos camarões, como a cabeça era cheia de nutrientes, mas também por onde eles defecavam — o que fez com que Theo empurrasse discretamente o camarão para o lado.

Depois disso o ambiente voltou a suavizar e os trigêmeos continuaram sendo o centro das atenções — boas e ruins. Sarah conversava animadamente com Jacob sobre esportes enquanto Finn tentava iniciar um papo com Theo, mas rapidamente perdia o interesse.

O jantar transcorreu mais tranquilo do que eu imaginava e quando percebi minha mãe estava servido a sobremesa, que era brownie com sorvete. Todo mundo riu quando Luke tentou surrupiar alguns brownies para dentro do bolso de sua calça e sujou tudo de chocolate quando o brownie desmanchou e ele começou a chorar.

Camille ajudou minha mãe tirar a mesa e a cuidar da louça enquanto eu levava os trigêmeos para o segundo andar para se limparem — chocolate e sorvete sempre causava uma bomba de meleca em seus dedos e rostos. Jacob me ajudava carregando Luke e Brandon em cada braço ao mesmo tempo que ria e tentava se esquivar das mãos grudentas deles, que em contrapartida riam tentando passar a mão em seu rosto.

Lavei o rosto e as mãos de Lorelai com sabão, então Jacob me entregou os dois pequenos pestinhas.

— Hoje foi legal, né Raven? — Luke disse com um sorriso.

— Cara, eu comi tanto chocolate que vou ficar acordado a noite inteira — Brandon disse animado.

— Podemos fazer uma festa do pijama se Jacob dormir aqui! — Lorelai sugeriu da porta, agarrada agora na perna de Jacob enquanto ele brincava de levantá-la.

— Mas só a gente. Nada de Theozinho-meu-amor — Brandon disse e fez sons de beijos.

— Pare com isso! — eu o adverti, mas segurei o sorriso.

— Você é sortuda. Vai ficar na casa do Vô Quil esse tempo todo e a gente vai ter que lidar com o Theozinho-meu-xuxu — Luke disse emburrado — Quero ir pra casa do vovô também!

— Ah, parem de reclamar. Como se vocês não fossem fazer a vida dele aqui um inferno só pra se divertirem — eu disse secando o rosto de Brandon.

— E daí? É mais legal com mais pessoas vendo — Lorelai replicou e então gritou animada: “mais alto, Jake!”.

— Sumam daqui, vai — eu disse os liberando.

Os trigêmeos saíram correndo escada abaixo gritando que estavam limpos e queriam mais chocolate. Eu terminei de lavar a minha mão, que estava melecada de doce.

— Sua mãe concordou numa boa em você e o Finn ficarem no Velho Quil?

Eu fiz uma careta para ele — Mais ou menos. Ela não pode argumentar muito quando meu avô veio aqui para “tomar um café” — fiz aspas com os meus dedos — e dizer o quanto se sentia sozinho de novo e como sua tosse tinha piorado desde que a gente saiu da casa dele.

Jacob riu — Ele e o meu pai deviam ganhar um Oscar por boa atuação. Nunca vi dois velhos tão bons mentirosos.

Isso era verdade. Se havia alguém que pudesse inventar mentiras e desculpas em um raio de segundo era Billy e Velho Quil. Eles pareciam até sincronizados algumas vezes. Nada escapava aqueles dois.

Fomos até o meu quarto para que eu fizesse uma bolsa grande para passar alguns dias na casa de meu avô. Por mais que ele tivesse inventado essa desculpa para que a gente ficasse mais tempo na reserva e sem o estresse de uma casa movimentada como a nossa, o que seria muito perigoso para eles, eu também sentia muita falta de morar com ele. Esse não era o melhor momento de dizer isso para a minha mãe, mas o meu plano era quando essa crise toda com Chuck passasse eu anunciaria para a minha família que moraria com Vô Quil. Finn tinha o mesmo pensamento que eu.

Não era que eu não amasse minha família. Eu os amava demais. E era esse amor que encarava o fato de que talvez nunca seria totalmente seguro para a minha família se Finn e eu continuássemos a morar com eles. Tudo era sempre tão intenso... Eu tremia só de imaginar machucando qualquer um deles.

Jacob estava deitado na minha cama com os braços cruzados atrás da nuca. Ele comentava sobre a visita iminente de sua irmã, Rachel, nas férias de verão. Seria complicado para eles. Billy e Jacob não tinham segredos em sua casa, mas com Rachel chegando eles teriam que pisar em ovos e essa falta de privacidade e segurança seria um problema. Eu sabia muito bem o que ele ia passar. Ter que tomar cuidado para não levantar suspeitas, e mesmo assim seria impossível não causar estranheza quando ela percebesse as peculiaridades do dia a dia.

— Quanto tempo ela vai ficar? — perguntei fechando a grande bolsa e me deitando ao lado dele.

— Algumas semanas eu acho. Ela nunca fica por muito tempo — ele disse.

— E a sua outra irmã? Rebecca.

— Ela nunca mais voltou para La Push — ele me abraçou — Sinceramente, é algo bom. Quanto menos gente longe dessa loucura por enquanto, melhor.

Eu ri.

— Charlie passou lá na reserva hoje — Jacob disse depois de um momento em silêncio. Foi instintivo os meus músculos se tensionarem, principalmente porque eu não estava esperando que ele entrasse nesse assunto.

— Aconteceu alguma coisa?

— Hm, não. Não exatamente. Ele queria que Billy fosse com ele na formatura de Bella amanhã — Jacob disse com uma voz casual. — Meu pai está querendo ir, mas ainda não confirmou.

— Por que não? — questionei confusa. Billy e Charlie tinham brigado de novo?

— Bom... Ele não pode ir sozinho até Forks, não com todo o clã estando na escola também. Eu teria que ir com ele.

Ah.

Fiquei um momento em silêncio digerindo o fato de que ele a veria de novo, dessa vez com todos os Cullen ao redor. Seria perigoso para ele? Tínhamos estabelecido uma boa trégua com os Cullen, estávamos trabalhando juntos na proteção da casa dos Swan, mas isso podia não significar nada se Bella fizesse algo impensado, certo? Eu não sabia se Edward era um cara ciumento ou não...

— Não ficaríamos por muito tempo. Assim que a cerimônia na escola acabar a gente viria embora, até para não ter problemas com os Cullen por lá.

— Você sabe que não precisa me pedir permissão pra nada, certo? — eu falei um pouco incomodada com a situação.

Jacob bufou e eu podia jurar que ele tinha revirado os olhos — Não é sobre pedir permissão, mas eu fui sincero quando disse que jamais quero te machucar. Se você não estiver confortável com isso...

— Deixe de besteira, Jake — eu o cortei — Seu pai e Charlie são amigos há anos. É claro que você tem que ir com seu pai. Só tome cuidado, por favor.

— Vai ser só no final do dia, bem rápido — ele disse.

Eu me apoiei em seu peito e o olhei séria. Não queria que Jacob ficasse me pedindo permissão para estar perto dela. Era uma situação desconfortável para mim, principalmente porque eu sentia que tinha o poder de barrar isso se essa fosse a minha vontade — intimamente era.

— Deixe de besteira — eu falei.

— Venha aqui — ele disse baixinho, sua voz quente fazendo cócegas em mim.

Jacob me beijou por um longo momento, seus dedos se infiltrando por entre meus cabelos, a língua provocando a minha, os lábios roçando nos meus. Eu costumava me perder em momentos assim. Era difícil pensar em qualquer outra coisa que não fosse ele, o calor de seu corpo, a firmeza de suas mãos, o cheiro de terra molhada tão característico dele... Entrelacei minhas pernas nas dele, aproximando mais o meu corpo. Jacob se virou, ficando parcialmente por cima, o beijo agora mais profundo e ardente.

Sua mão desceu pela lateral de meu corpo provocando arrepios. Puxei sua nuca para mais perto de mim, querendo diminuir qualquer espaço entre nós.

Um pigarro da minha porta nos pegou de surpresa. Eu me separei de Jacob só para ver Theo na porta do meu quarto. Ele tinha um olhar de humor que eu não gostava.

— Sua mãe pediu para te chamar. Finn já está de partida para o seu avô.

— Hm... Ok. Já estou descendo — falei puxando para baixo a barra do vestido, que tinha subido.

— Não gosto desse cara — Jacob disse quando Theo saiu e voltar para o andar debaixo. — Ainda bem que você não vai ficar aqui.

Eu rolei os olhos. Como se Theo representasse qualquer perigo para mim...

Jacob puxou minha bolsa e descemos de mãos dadas. Minha mãe tinha tomado muito vinho, então estava com um olhar meio sonolento e passou algum tempo para conseguir me dizer para cuidar bem de Quil.

— Não se preocupe, mãe. Ficaremos bem com o vovô — eu disse rindo.

Meu pai fez um movimento um pouco súbito quando eu falei e eu o olhei confusa.

— Não sabia que vocês estavam tão próximos assim — ele comentou desviando o olhar de mim e então abraçando minha mãe pelos ombros.

Eu o olhei confusa. Não entendi o que ele quis dizer.

— Ah, deixe de besteira, Elan! E dai que eles chamam Quil de vovô? É o natural, não é? — minha mãe disse e balançou a mão para reforçar o que queria dizer.

Ah... Eu nunca tinha percebido isso, para ser sincera. Entrei no carro de Jacob um pouco surpresa ainda. Tentei puxar desde quando eu chamava o Velho Quil de avô, desde quando via com mais carinho... Não conseguia me lembrar. O que chamava a minha atenção mesmo era o motivo do incomodo do meu pai.

— Você fica se questionando às vezes o que aconteceu com o papai e o Vô Quil para eles não se gostarem? — perguntei para Finn, que estava sentado no banco de trás.

— Não muito. Deve ser coisa antiga deles dois — Finn disse — Eu tentei perguntar ao vovô um dia, mas ele fugiu do assunto como o diabo foge da cruz.

— Mas é estranho, certo? Se não fosse toda essa coisa com o bando a gente provavelmente nunca teria vindo para cá — analisei — E papai pareceu realmente desconfortável que eu falei ‘vovô’. Parece até que ele não gostaria que a gente se aproximasse dele.

— É... Isso foi estranho. — Finn concordou — Sabe de alguma coisa, Jake?

— Nope — ele disse — Sei o que vocês sabem, que eles nunca se deram bem. Nem com o tio de vocês.

Era estranho. Para ser sincera, eu só fui saber sobre Vô Quil quando tinha uns onze anos de idade ao ver uma foto antiga do meu pai com ele. Se não fosse por isso, nunca teria descoberto que tinha um avô paterno. Minha curiosidade queimava para saber o que é que tinha acontecido com eles.

***

Eu estava correndo pelo Norte com Leah naquela tarde. Havia algo de diferente no ar enquanto a gente corria pela vegetação densa da floresta. Era um sentimento estranho, como se algo estivesse para acontecer a qualquer momento. Paramos a corrida quando chegamos em um penhasco. A tempestade que eu senti chegando naquela tarde na praia parecia mais próxima, provavelmente nos próximos dias ia cair com força. Porém, não era só isso que deixava o ambiente elétrico. Era quase como uma premonição.

Dizem que os lobos sempre sabem quando o perigo está se aproximando, Leah sussurrou para mim enquanto absorvia o que eu estava sentindo, embora ela não tinha tido a mesma sensação.

Estranho, não? O perigo já mora na cidade ao lado. Eu respondi.

Talvez esse seja maior, ela disse e cheirou o ar buscando identificar de onde a minha sensação vinha.

Empurrei a sensação sinistra para o lado e voltamos a correr tarde adentro. Havia outra coisa que me perturbava hoje também. Eu tentava não pensar a respeito, mas é claro que era impossível manter sentimentos tão recentes longe do bando: a formatura de Bella. Leah e ninguém do bando comentou nada a respeito, Quil e Finn continuaram a correr pelo sul e Seth e Embry pelo oeste, enquanto Sam fazia a ronda com Jared ao leste.

Não era só a ida de Jacob e Billy que me deixava preocupada. Era o que esse evento representava. Ela tinha dito a Jacob que seria logo após a formatura, certo? Quão logo? O que isso representaria para nós? Faríamos algo a respeito? Eu me sentia temerosa se a gente de fato ia fazer algo. Pior ainda, me sentia temerosa por Jacob, como ele ia reagir.


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