A linha tênue entre o amor e o ódio escrita por GomesKaline


Capítulo 5
Capítulo 05




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Eles foram à cidade. Foi um pouco desconfortável para ambos, foram levados por um dos seguranças de Aaron, o que significa que os dois foram no banco de trás. Lado a lado. E dessa vez ela não estava chorando por causa de fanáticos religiosos que queriam sua cabeça. Não, ela estava hiperconsciente de tudo, principalmente dele, no entanto, apenas a viagem foi desconcertante, o restante foi até divertido, essa não era uma palavra que qualquer um deles usaria. Quando eles passaram em um pequeno supermercado, enquanto Aaron comprava os itens necessários para abastecer seu armário, Emily enchia o carrinho com porcarias, como barras chocolate, saquinhos de M&m's, refrigerante, batata frita, cheetos, dois potes de sorvete e por aí vai.

— Você está envenenando seu corpo com isso, você sabe - disse ele e ela apenas deu de ombro.

Olhando para a quantidade de besteiras que ela estava colocando no carrinho, ele estava impressionado que ela não pesasse mais de oitenta quilos. Mulheres como ela que estão sempre em seus vestidos perfeitos, sem nenhuma gordura abdominal e com belas pernas não são obcecadas com a dieta? Ele olhou para as escolhas de refrigerantes dela, diet, pelo menos isso. Mesmo assim, aquela coisa tem bastante açúcar! Gritou com ele mesmo mentalmente.

Quando chegou a vez deles de pagar a conta, Emily sugeriu que eles dividissem, afinal ela colocou muita coisa no carrinho.

— Eu não vou deixar você pagar a conta - disse enquanto tirava a carteira do bolso.

— Eu coloquei coisas também, Aaron. Além do mais, é só a metade, não vai fazer falta de qualquer maneira.

— Teriam que me matar antes de eu deixar uma mulher pagar a conta, mesmo que essa mulher seja você. - ele entregou o cartão ao caixa que estava segurando uma risada, os dois eram um show legal de assistir - Minha mãe me criou melhor do que isso.

— Ah, por favor, Aaron, eu não preciso de um homem para salvar meu dia.

— Eu sei que você é uma mulher tradicional, Emily. Eu sei que você valoriza um homem que te acompanha até em casa, que abre a porta para você passar, que puxe a cadeira para você sentar, que te dê flores... - ele viu ela abrir a boca para contrariá-lo, mas ele continuou - eu vi suas escolhas de livro, eram todos romances de época. E eu não estou salvando seu dia, é apenas uma conta.

— E daí se eu gosto de romance de época? Não é como se existissem mais homens assim.

Apesar dela gostar de tudo que ele citou, ela realmente não idealizava mais seu homem ideal assim. Ela já havia beijado sapos demais para saber que nunca encontrará seu príncipe. Eles realmente fizeram ela parar de procurar por caras assim, que esse tipo de cara não existe mais. Há apenas caras que querem entrar em suas calças.

— Bem, - ele olhou para ela depois de ter pagado a conta - eu sou assim. - então dá a ela um piscadela e Emily revira os olhos.

Quando eles colocaram todas as compras no carro, ele resolveu brincar com ela. Ele abriu a porta do carro.

— Senhorita - disse ela enquanto segurava a porta.

— Você vai ter que fazer mais que isso.

— Ah, eu vou. - Ele piscou para ela novamente.

Nas três lojas de roupas que eles foram não foi diferente, algo que ele achava que iria ser um tédio total, acabou não sendo. Emily experimentava roupas ridículas e depois saía do provador desfilando e perguntava o que ele achava, apenas para os dois se desmancharem em risadas. Era como um mundo diferente, foi descontraído e natural, como se fosse assim que eles vivessem o tempo todo, sem carregar o peso de todos nas costas. Era um mundo em que tudo parecia possível, exceto que não era. Ele estavam vagando pela pequena cidade com óculos de sol e bonés de baseboll para não correrem o risco de serem reconhecidos. O mundo era o mesmo, eles, conscientemente, fingiam que não era.

— Vocês mulheres realmente usam tudo que compram? - ele perguntou quando saíam da terceira loja cheios de sacolas.

— Claro que sim - ela respondeu como se o que ele disse fosse um absurdo - Eu finalmente achei a saia que eu queria. - ela disse animada - Eu consegui também alguns vestidos ótimos e um jeans que realmente valoriza minhas pernas.

— Todos os jeans não são iguais? - ele pergunta meio confuso.

— Não. Ah, vocês homens - ela diz com um revirar de olhos.

— Vocês mulheres que complicam até o conceito de jeans. Eu nunca confiaria meu cartão de crédito a você.

Emily suspirou feliz com a declaração dele e fez uma cara de sonhadora.

— As coisas que eu poderia comprar.

...

Emily já havia voltado de sua manhã de lago e leitura. Ela se encostou no balcão da pequena cozinha de Aaron enquanto o observava terminar de preparar o almoço.

— Por que você fez isso? - ela perguntou, a raiva estava clara em sua fala.

— Fiz o quê? - ele perguntou olhando por cima do ombro para ver uma Emily claramente zangada.

— Por que você falou sobre meu aborto? - Aaron parou o que estava fazendo - Por quê? - ela perguntou novamente.

— Emily...

— Apenas diga, Aaron.

— Eu não sei, acredite em mim, eu realmente não sei porque fiz essa maldita coisa. Mas você pode me dá um soco se isso te fizer se sentir melhor. Meu abdômen é bem resistente, eu aguento.

Ela caminhou até ele cruzou os braços sob o peito e o olhou incrédula.

— Você está brincando comigo? - ela pergunta ainda com mais raiva.

— Não, é uma oferta genuína. - Quando ele viu que ela ficou ainda mais brava desligou o fogo e ousou segurar seus ombros com as mãos - Escute, alguns dias antes da entrevista ao vivo a equipe do meu pai veio até mim com aquela bomba e me disse para usá-la no programa, eu neguei imediatamente. Mas no dia, quando você estava indo super bem, em cada resposta, você era tão segura e eu já sabia que vocês estavam na frente das pesquisas e... eu não sei, acho que fiquei com ciúmes ou inveja, e quando me dei conta já estava falando tudo.

Ao ouvir todas as palavras seu punho fechou com força e antes que ela percebesse ela já estava socando-o forte no estômago. Ela o viu lutando para respirar e por um momento ela só ficou observando sofrer. Mas a parte boa e gentil dela não a deixou ficar assim por muito tempo, ela se aproximou dele e perguntou se ele estava bem.

— Não, eu não estou bem. Droga, Emily, por que diabos você tem um soco tão forte?

Ela foi até a geladeira para procurar algo gelado para ajudá-lo com a dor, ela ainda estava com muita raiva dele, mas ela não conseguia ficar parada vendo que ela o machucou. Ela encontrou um saco de ervilhas congeladas, se aproximou dele novamente levantando a camisa sua sem permissão e colocou sobre o local dolorido.

— Desculpa por isso, mas você foi um idiota. Pelo amor de Deus, Aaron, você fez o que fez porque estava com ciúmes do meus sucesso? Você percebe como isso é infantil?! Você sabe que colocou meu bem estar em risco? Sabem quantas pessoas morrem por apoiarem o aborto? - ela lançou o saco de ervilhas no peito dele, ela estava agressiva novamente - Você é igual ao seu pai! Me diz, ele ainda gasta todo o dinheiro dele com prostitutas e ainda bate na sua mãe? Foi com ele que você aprendeu a tratar as mulheres?

Ele agarrou os pulsos dela com força e a olhou com fúria ardendo nos olhos.

— Não me compare com ele, você não sabe do que está falando e você não me conhece! - ele gritou bem próximo ao rosto dela e aumentando seu aperto. Ele a soltou com o leve empurrão e saiu da cozinha. O almoço totalmente esquecido.

Olhando para os pulsos vermelhos, Emily ouviu a porta do quarto dele bater com força. Saiu na casa e também bateu a porta com força quando saiu.

— Senhorita, você não pode sair sozinha. - um dos seguranças de Aaron falou, Emily não deu atenção, apenas fez seu caminho para o lago novamente.

No quarto Aaron estava sentado na cama e com a cabeça entre as pernas na tentativa de se acalmar. Vendo que ele não estava prestes a se acalmar, ele foi até o banheiro e pegou o fraco de seu antiansiolítico e o engoliu em seco fechando os olhos. Com os olhos fechados, ele viu os olhos de terror de Emily e quando ela se contorcia de dor tentando se livrar das mãos dele. Talvez ela estivesse certa afinal, talvez ele fosse exatamente igual ao seu pai. Ele apertou os olhos e sentiu uma lágrima queimar seu rosto, depois outra. Não, ele limpou as lágrimas, ele não é igual a seu pai. Novamente ele só conseguia ver o medo de Emily. Ele lembrou de onde mais ele viu aquela expressão, naquela noite no bar, com aquele cara com que ele viu seu desconforto, então a compreensão veio a ele.

Hoje e naquela noite ela tinha a mesma expressão da sua mãe.

Ele tirou a roupa e entrou no chuveiro. Ele ajustou a água para o mais frio possível. Ele ficou lá sentindo a água fria molhar todo o seu corpo fazendo-o relaxar. Depois de sentir sua ansiedade desaparecer saiu do banho, vestiu-se e foi procurar Emily.

Ele a encontrou debaixo de uma árvore, sentada no chão abraçando os joelhos e olhando para o lago.

— Como estão seus pulsos? - ele perguntou sem se aproximar.

— Por que você se importa? - ela falou, sua voz claramente de alguém que estava chorando. Mesmo ela estando de costas, ele a viu limpar discretamente as lágrimas.

— Basta responder a pergunta, Emily - Aaron tentou soar pacífico, mas Emily não respondeu.

Ele travou uma guerra consigo mesmo, tentando decidir se era uma boa ideia se aproximar. Ele optou por se aproximar. Sentando-se ao lado dela, ele colocou a mão no seu ombro, mas ela estremeceu, ele tirou tão rápido quanto colocou. Ela se encolheu ainda mais. Ele ficou lá em silêncio, esperando, ele não sabia o quê.

— Aquele cara, - ele começou - naquela noite no bar, ele te machucava, não é?

Ela não respondeu, mas ele teve sua resposta quando ela se encolheu mais e escutou um soluço.

— Eu sinto muito se te machuquei, Emily.

— Não é isso que as pessoas que te machucam sempre dizem? Vai me dar chocolate também ou flores?

— Não. - Ele balançou a cabeça e deu um sorriso irônico - Não importa se eu quero ajudar você ou não, eu sempre encontro um jeito de te machucar, agora eu te dei o machucado literal. - ele levantou - Você realmente deveria colocar algo neles para não ficarem tão doloridos. - ele girou os calcanhares e saiu.

Ela olhou para ele e o viu desaparecer na trilha. Sim, ela acabou de receber um pedido de desculpas de Aaron.

...

Aaron olhou para cima e a viu parada na entrada da sala de estar, ela parecia hesitante.

— Precisa da minha permissão para se aproximar? - disse ele - Eu não mordo, - ele baixou o olhar para o desenho que estava fazendo - a menos que você queira.

— Muito engraçado - ela disse com ironia e sentou-se no sofá.

Ele rapidamente levantou e foi para cozinha voltando com dois sacos de milho verde congelados e uma tigela com frutas cortadas em pequenos pedaços.

— Pegue isso, - ele disse estendendo a tigela com frutas - você não comeu nada desde que voltamos da cidade. Ela pegou a tigela, enrugando as sobrancelhas ligeiramente, mas não falou nada - Me dê seu pulso esquerdo e tente acabar isso logo antes que o outro saco descongele.

Ele ficou colocando cuidadosamente o saco gelado no pulso esquerdo, alternando na parte de baixo e cima do pulso enquanto ela comia atrapalhadamente com uma mão só.

— Pelo menos não é uma fratura rotativa, elas são insuportáveis - ele falou sem nem mesmo perceber o que estava saindo da sua boca.

— Você já teve uma fratura rotativa? - ela perguntou cuidadosamente, havia empatia ali e também preocupação.

Ele congelou com a pergunta e engoliu em seco.

— Não, mas quem teve disse que é insuportável. - Ele mentiu, e ele sabia que ela não acreditava, mas ela não insistiu.

Ao invés disso, ela parou o que estava fazendo quando viu algo nos próprios pulsos dele. Com a mão direita, ela deixou a colher no colo para pegar uma das mão deles. Ela passou o polegar sobre a fina cicatriz branca, ela estava um pouco apagada, era quase imperceptível.

— Por favor...- ele disse baixinho - por favor me não pergunte sobre isso. - Ele baixou a cabeça não querendo olhar para ela e ver julgamento, ou pior, ver pena. Mas por que ela sentiria pena? Ela mais do que ninguém devia querer que isso tivesse funcionado.

— Okay.

Quando ela terminou com as frutas, ele colocou o outro saco de milho congelado no pulso direito. Ele não olhou para ela desde que ela tocou sua cicatriz, ele não aguentaria ver qualquer coisa nos rosto dela.

— Você vai querer ir embora depois do que aconteceu?

— É só um punho dolorido.

— Sinto muito. Quer me dar outro soco?

— Tentador, mas não. - Ele ainda não olhou para, entretanto, ele sabia que ela estava sorrindo - Você me perguntou por que eu tinha um soco tão forte. Eu fiz aula de autodefesa aos quinze.

Ele finalmente subiu os olhos para vê-la.

— Então por que você não usou em mim?

— Eu congelo, sempre que estou realmente em perigo eu congelo.

Algo acendeu nos olhos de Aaron.

— Você tem mudar isso - ele foi firme - Inicialmente nosso corpo congela com uma situação de risco, mas depois ele nos dá espaço para reagir, basta se concentrar. Você tem que reagir, Emily. Sempre.

O modo que ele falou deu-lhe arrepios na espinha.

— Foque em alguma coisa, família, amigos ou qualquer coisa que goste, encontre um ponto por qual lutar, mas nunca, nunca deixe de lutar.

— Por que está me dizendo isso?

— Porque há pessoas que seu único objetivo na vida é te fazer parar de lutar, você não pode dar esse gostinho a elas.

Ele parece falar por experiência própria e isso a faz estremecer mais uma vez. É a forma que ele falou e ferocidade em seus olhos que a fez sentir assim. Ela também sentiu a dor de suas palavras, então ela lembrou das cicatrizes em seus pulsos e se perguntou e o que levou a fazer isso.

— Pelo que você lutou?

Ele olhos para os pulsos entendendo o que ela dizer.

— Se eu tivesse pelo que lutar não teria feito isso, para começar. - ele disse olhando para baixo.

— Você tem pelo que lutar agora?

Ele não falou nada, apenas deu de ombro e saiu em direção ao quarto. Ela olhou para suas costas como fez hoje mais cedo.

...

Eles não se falaram desde que ele foi para o quarto. Aaron só saiu na hora de preparar o jantar.

Aaron está sentindo os olhares de Emily enquanto estão jantando, quando ele a olha ela muda rapidamente seu olhar para o prato de comida. Ela está sempre se mexendo na cadeira, ele sabe que o silêncio a está matando, ela é uma tagarela e o silêncio e quietude incomoda, mesmo que seja com ele.

— O quê? - ele pergunta quando a pega olhando mais uma vez.

Ela considera por um momento de deve prosseguir ou não.

— Você sempre foi uma estrela, sempre esteve nos holofotes, foi o rei do baile, viajou pelo mundo e sempre foi um cara inteligente. Você sempre teve tudo. Então por que você...

— Não estamos falando sobre isso, Emily. E eu não preciso do seu julgamento.

— Eu não estou te julgando, só estou tentando entender por que você de todas as pessoas tentaria... - ela não disse a palavra, parecia uma maldição dizer - Como eu disse, você tinha tudo. Você tem tudo.

— Ter tudo não é sinônimo de felicidade. - ele falou olhando para o prato.

— Você não era feliz?

— Por que estamos tendo essa conversa, Emily? - ele falou irritado olhando para ela, mas não aumentou o tom de voz, ele já tinha deixado trevas sair demais hoje e eles começaram o dia tão bem - Não somos amigos.

— Eu sei. - Ela mexeu no prato com o garfo - Só mais uma coisa, - ele parou, e ela considerou a falta de protesto de uma permissão para continuar você sentiu dor?

Ele ficou em silêncio olhando para a mesa, ela pensou que ele não ia responder.

— Eu não senti nada.

Isso não deixava nada melhor.

Aaron Hotchner, o cara mais seguro e presunçoso que ela conhece, competitivo, inteligente e - ela revira os olhos internamente - ridiculamente bonito, o qual ela achava que não tinha grandes problemas da vida, ela achava que ele era feliz com sua vidinha de balada, no entanto, nem tudo é o que parece. Mas ele é Aaron! Ela realmente acreditou que ele era feliz quando trocava de carro todo ano. Se ele não está imune a isso, quem está? O que na verdade ela deve acreditar?

Ela sabe que nem todo mundo é completamente feliz, mas ela nunca considerou Aaron como todo mundo. Ele era apenas um idiota ganancioso e pretencioso, o mundo nunca parecia afetá-lo, era o que mais irritava ela quando estavam no colégio.

— Não acha estranho que nos conhecemos há tanto tempo e não sabemos quase nada um do outro? - ela se atreveu a falar.

— Sabemos muito um do outro - ele retrucou.

— Não falo de sujeiras, Aaron, eu falo de... coisas. - ela riu quando não encontrou palavras - Eu te conheço desde criança e não sabia que você gostava de desenhar. - o canto da boca de Aaron se ergueu levemente, quase um sorriso - Ou Jane Austen. - dessa vez ele não conseguiu evitar um sorriso.

— Você estava bisbilhotando. - não foi uma pergunta - Como achou meus desenhos?

— Eles estavam em cima da mesa!

— Hmm - ele zombou.

— Estou falando sério, Aaron. Eu não abri suas gavetas ou algo assim, e sinceramente, eu tenho do que encontrar se abrir.

Ele não pôde deixar de rir.

— O que você acha que vai encontrar?

— Sei lá, você é um artista, vai que eu encontro fotos proibidas para menores de dezoito. - ela sussurrou como se houvesse criança no local.

— Deus, Emily, eu não tiro fotos pornógrafas, e eu não sou um artista, eu tiro fotografias só por diversão.

— Eu prefiro viver sem saber o que tem nas suas gavetas.

...

Depois do jantar, eles se acomodaram na sala de estar. Emily ficou no sofá lendo um livro e Aaron ficou em pequena mesa coberta por papéis.

Emily escutava constantemente o barulho de papel sendo amassado e os suspiros irritados de Aaron, ele parecia está desenhando e falhando, julgando pela quantidade de papéis descartados, ela decidiu por não comentar, apenas seguiu sua leitura.

Aaron queria esvaziar sua mente, mas tudo que ele rabiscava no papel o frustrava. Ele olhou para Emily, sua figura semisentada no sofá lendo um livro perdida em um universo literário. Então em uma nova folha de papel ele começou a rabiscar e sem que ele percebesse estava desenhando Emily, e quando ele percebeu, ele realmente não quis parar, afinal era só um desenho. Era um ato inocente.

— Aaron - Emily chamou e ele a olhou, um pouco assustado como se tivesse feito algo errado, ela pareceu não perceber.

— Sim.

— Por que você carrega um lenço por aí?

— Não entendi sua pergunta - ele fala com as sobrancelhas enrugadas.

— No bar, quando eu chorava, você me deu um lenço, então repito minha pergunta, por que você carrega um lenço por aí?

Ele parou com o lápis.

— Eu te disse, eu sou um cavalheiro. - ele sorriu atrevido e ela rolou levemente os olhos - Minha mãe e minha avó sempre me diziam para ter um lenço comigo, não para mim e sim para as mulheres, porque mulheres choram. Palavras delas não minhas.

Desde de criança ele foi ensinado de como tratar as mulheres. Talvez fosse sua mãe com medo de ele torná-lo seu pai ou por ela ser uma mãe conservadora da alta sociedade, ou ambos. E sua avó por vim de uma época que os homens cortejavam uma mulher e conservavam sua virtude até o casamento e apesar de ele não seguir o celibato, ele acredita que esse tipo de intimidade entre o casal deva ser especial. No ensino médio seus amigos tiraram sarro dele por acreditar nessa cultura, e ele como um garoto que só queria se encaixar, na maioria das vezes ia contra sua crença. Ele também não tem seguido essa linha ultimamente. Às vezes é cansativo tentar tanto honrar uma mulher quando nem elas mesmas querem isso.

É difícil explicar que ele não quer entrar nas calças delas no primeiro encontro, contra um banheiro de um bar ou ridiculamente embriagados à ponto de não se lembrarem no outro dia. Não é que ele não ache adrenalina nisso, sim, é emocionante transar no banheiro de um bar, mas não pela primeira vez. Sim, ele sabe que no século XXI existem poucas pessoas com esse pensamento e que a maioria desse pensadores são mulheres que amam livros e filmes e mulheres do século passado.

— Eu quero sorvete, você quer soverte? - ele escutou Emily dizer.

— Claro - ele respondeu sem nem mesmo olhar levantar os olhos do desenho.

— Você poderia ir buscar, cavalheiro? - isso o fez olhar e encontrou ela com um sorriso travesso. Ele não pôde evitar sorrir - Você se intitulou assim. - ela mordeu o lábio inferior.

Ele levantou, virando o desenho, é claro, ele não poderia arriscar que ela visse.

— Ei sei que você está apenas se aproveitando do meu cavalheirismo, mas vou fazer mesmo assim.

— O pote, por favor - ele escutou a voz dela atrás dele.

Quando ele voltou sentou-se ao lado nela no sofá, ele falando "não fique perto dos meus livros enquanto você estiver comendo" e ela "você é o cara mais chato que eu já conheci" e ele atirar de volta "é recíproco". E como se para provar seu ponto Emily deixa cair soverte em sua blusa, Aaron ergue uma sobrancelha de eu te avisei e ela o olha irritada e depois deixa cair um pouco no colo dele, de propósito. Ele queria enfia a cabeça dela dentro no pote de sorvete. Ela o deixa louco, o tipo de loucura que o faz pensar em dez maneiras diferente de como matar dolorosamente e se livrar habilmente de um corpo.

— Posso te fazer uma pergunta? - ele falou depois que não planejava mais as dez maneira de se livrar do corpo dela.

Levando a colher à boca, ela fingiu considerar a questão.

— Pode, só não prometo uma resposta.

— Okay. - Ele riu, na verdade ele não parou totalmente de pensar nas dez maneiras, ela ainda é uma pessoa irritante - Por que você não foi ao meu baile de formatura? - ele encheu a boca de sorvete e fez uma careta ao sentir seu cérebro "congelar".

— Primeiro, era seu baile de formatura não o meu. Segundo, eu sabia que você ia ser o rei do baile, as garotas de adoravam.

— Eu sei que você foi convidada por muitos garotos, incluindo meus amigos. Você era uma garota cobiçada, Prentiss. - Ele amava brincar com o sobrenome dela - Todos os garotos queriam te levar ao baile.

— Você não queria - retrucou ela.

— Você sabe o porquê. E para que conste, nem todas as garotas gostavam de mim, - ela dirigiu seu olhar que estava no pote de sorvete para ele - a garota que eu queria levar ao disse não.

— Está mentindo.

— Não estou. Ela achou que era uma pegadinha, que "garotos como eu" - ela fez aspas no ar - não a convidam para o baile. A verdade é que as garotas realmente legais não queriam sair comigo.

Emily o olhou por alguns instantes, avaliou o que ele disse, parece que ele ficou chateado na época.

— Qual era o nome dela? - Emily perguntou no instante em que tirou a colher da boca.

— Hariett, ela fazia música junto comigo, tocava piano e eu fazia violão. Não acho que esses instrumentos combinem, como nós. - ele riu do próprio comentário.

— Eu sei quem ela é. É uma loira? Com franja e tinha uma voz doce? - ele fez que sim - Ela era muito areia para seu caminhãozinho de brinquedo carregar, Aaron.

— Uau, um carrinho de brinquedo?

Ela afirmou com um sorriso.

Houve momento na conversa que eles se esqueceram ou se perguntaram por que se odiavam, mas aí um falava um comentário irritante fazendo-os lembrar.

Aaron olhou para Emily enquanto ela ria, ela pareceu realmente ter esquecido o pequeno acontecimento de hoje antes do almoço. Ele só esperava que não fosse o perdão fácil de vitimas de violência ou síndrome de Estocolmo, porque primeiro ele revelou seu segredo sujo em uma entrevista ao vivo, depois praticamente a raptou para sua casa no meio do mato, quase torceu seu pulso... ele realmente esperava que fosse ela não dando a mínima para tudo isso, a fim de manter sua saúde mental e não ela dando uma de vítima.

— E quanto a você?

— O que tem eu? - ela perguntou de volta.

— Você sempre foi a talentosa do seu grupo de amigas, mas ainda assim deixava elas ficarem com o crédito, nunca entendi porque você fazia isso.

— Ao contrário de você, eu não gosto de holofotes.

— Mesmo assim você escolheu a política como trabalho. - Não foi a intenção dele, mas ele a viu se encolher - Então, - ele falou depois que ela se calou - onde estão suas amigas? Ainda fala com elas?

— As duas estão casadas com caras ricos e ambas tem um filho que obviamente são bastante mimados.

— Mas aqui está você, uma mulher com uma careira de sucesso ganhando seu próprio dinheiro sem se esconder atrás de um homem com dinheiro.

— Mas se me oferecessem o opção de trocar essa vida pela minhas eu trocaria, sem pensar duas vezes. - ela desejou ter uma bebidas em mãos agora.

Ele sabe que também faria.

Ele ficaram em silêncio por breves minutos.

— Naquela noite no bar, você disse que odiava política, por quê?

— Você também disse, você vai me responder?

— Talvez. Mas antes preciso de uma bebida. Você gosta de tequila? - ela afirmou com a cabeça e levantou-se. Rapidamente voltou com dois copos.

Como se ele tivesse lido seus pensamentos.

— Bem, eu não faço política porque eu amo, mas porque sou boa nisso, muito boa. Política é um jogo sujo, é por isso que eu estou aqui hoje fugindo. Política destrói famílias, amigos e casais.

— Você parece ter uma causa, parece acreditar do trabalho da sua mãe, parece ter amor por isso.

— Eu acredito na minha mãe, só queria que ela fizesse isso sem mim. - ela ficou olhando para o líquido em seu copo e em seguida levou à boca.

Ela ainda não acredita que depois de tudo, ela ainda está tendo esse tipo de conversa com Aaron. Depois da humilhação ao vivo e os pulsos. Ela não sabe porque continua revelando detalhes que ele possa usar contra ela e a destruir totalmente. É quase um ato involuntário, ou talvez seja apenas ela se empurrando para o abismo com sempre faz.

— E você? - ela o questionou.

— Eu, ah, eu faço isso pela minha mãe e minha avó.

— E quanto a seu pai?

— Eu quero que ele se exploda. - levando o copo à boca ele engoliu todo o líquido de uma vez.

Poucos sabem exatamente como Craig Hotchner, mesmo que a família Prentiss saiba mais que as outras pessoas, não sabem totalmente. Os únicos que sabem exatamente quem é o candidato a deputado é os próprios Hotchner, principalmente Aaron, seu histórico é maior com ele. Emily sempre soube que o pai de Aaron não era a pessoa dele preferida no mundo, mas com essa frase dele deixa claro que há muito mais do que aparenta ser.

— Eu vou embora pela amanhã. - ela declarou.

— Oh - foi só o que ele disse.

— Não posso mais fugir, tenho que me explicar formalmente em uma coletiva, tentar recuperar um pouco de dignidade ou chafurdar com classe. Talvez esse seja um caminho para uma nova vida com um filho e um marido rico.

A realidade bateu como um tapa na cara de Aaron. Para sua surpresa, ele ficou triste com a partida dela. Ele riu mais nos últimos dias do que nos últimos anos. Riu com ela. Parece uma piada. Seus dias são tão escuro e mesmo ela tendo seus demônios conseguiu iluminar o mundo dele por alguns momentos, ele não está admitindo isso, mas está sentindo isso.

— Aaron?

— O quê?

— Parece que você viajou para algum lugar.

— Só estava pensando. Você quer ir depois ou antes do café?

— Depois, óbvio.

— Deve está feliz, logo estará livre de mim.

Ela se deixou cair no sofá.

— Apenas trocando uma desgraça pela outra.

A verdade era que aqui não era pior lugar no mundo para se está, ela só não queria admitir. Porque se ela estivesse ficado em um hotel qualquer, ela teria chorado cada segundo que passasse só, e ela não teria a coragem que tem agora.

Mas essa não era a realidade dela, aqui nesse lugar sem nenhum problema para tratar ou se importar. Era apenas um desvio de caminho, com o propósito de atrasar seu verdadeiro destino, o qual ela não pode fugir para sempre.


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