Pegue minha mão

Tome minha vida inteira também

Porque eu não consigo evitar

Me apaixonar por você.

SOLARI SOUZA
VINTE E UM ANOS
BRASILEIRA
INSTRUTORA DO ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE
FILHA DE APOLO E UMA MORTAL

ARES
̶V̶E̶L̶H̶O̶ ̶O̶ ̶S̶U̶F̶I̶C̶I̶E̶N̶T̶E̶ ̶P̶A̶R̶A̶ ̶C̶H̶U̶T̶A̶R̶ ̶S̶U̶A̶ ̶B̶U̶N̶D̶A̶
GREGO
DEUS DA GUERRA
FILHO DE ZEUS E HERA

(você quer ir brincar na escuridão, pequena senhorita raio de sol?)

Observo o grande chalé de Hera, feito de mármore branco e ornado com delicadas colunas, encimadas por romãs e flores. As paredes são entalhadas com desenhos de pavões, mas não adianta nada ser linda e vazia. Enquanto o chalé de Hermes está quase empilhando pessoas, vários chalés ficam vazios. Isso me dá um dor de cabeça tremenda.

— Ah, céus — suspiro, parando de me torturar por algo que eu não posso mudar e me concentrando no que eu posso.

Continuo a caminhar e anotar na minha prancheta tudo o que eu preciso fazer hoje. Vou em direção ao chalé de Hermes, mas sou parada por Fabíola, uma das filhas do deus da corridas.

— Sol, tem um garoto na enfermaria que precisa de ajuda — ela avisa. Em um ato recorrente, ela ajeita seus óculos de grau que escorregam.

— Não tem ninguém na enfermaria? — questiono, a adrenalina já se espalhando. Começo a correr e ela me segue sem problemas. Passamos por Lina, filha de Afrodite, que acena animada para nós, mas logo volta sua atenção para o seu chalé, dando ordens aos seus irmãos mais velhos, enquanto eles penduram uma faixa de boas vindas.

— Não — Fabi fala normalmente sem nem ofegar. E eu percebo que ela está sendo educada em se manter no meu ritmo de corrida, quando claramente ela poderia estar na enfermaria agora.

Quando finalmente chegamos, vou direto para a única maca ocupada. Um garoto com mais ou menos a minha idade está desacordado. Ele tem cabelos pretos, é pálido e suas roupas estão rasgadas em várias partes. De cara já noto vários cortes, alguns bem feios.

— Quem o trouxe? — questiono. Chego mais perto dele.

— Ele chegou sozinho — ela responde, encarando o garoto um curiosidade.

— Sozinho? — repito, estranhando — algum monstro na fronteira?

— Vou conferir — e lá vai ela correndo novamente.

Respiro fundo, examinando como posso, já que medicina com certeza não é o meu chamado. Ao passar a mão por sua cabeça, reparo uma parte sensível e ao tirar a mão, reparo um pouco de sangue. Ele estremece, mesmo inconsciente.

Analiso minhas opções. Cura por magia é o meio mais rápido e eficaz. Eu só vou ter que deixar meu orgulho de lado para isso...

Fecho os olhos, me concentrando.

— Senhor Apolo, espero que ouça minhas preces. Eu não tenho talento para cura, então peço sua ajuda. Que o seu poder, que também corre em minhas veias, se manifeste — coloco as mãos na cabeça do semideus e sinto minhas palmas esquentarem e formigarem.

— Quem é você? — abro os olhos, me deparando com olhos castanhos acinzentados me encarando com curiosidade. Ele parece bem melhor. Retiro as mãos e dou uma olhada rápido pelo seu corpo. Perfeito.

— Solari Souza, líder do Acampamento Meio-Sangue. Seja bem-vindo. Qual o seu nome? — sorrio.

— Damien — ele responde e olha ao redor, confuso e alerta — onde está ele?

— Ele quem?

— Ogro — mal ele acaba de dizer, Fabi entra na enfermaria rindo. Com ela, Andressa, Miranda e Jasmine.

— Demos um jeito no monstro que te ferrou, bonitinho — Andressa avisa, a filha de Ares levanta sua espada com orgulho. Miranda revira os olhos e vai lavar sua adaga.

— Obrigado — Damien murmura, sentando-se.

— O nome dele é Damien — conto, indo até uma das pias e lavando minhas mãos — essas são Fabíola, Andressa, Miranda e Jasmine.

— Legal. Quem é seu pai divino? — Fabi pergunta.

— Ou mãe — Jasmine completa, ajeitando uma jarro de flores que está por perto. Filha de Deméter, claro.

— Como assim? Minha mãe morreu — Damien parece mais confuso ainda, desviando o olhar para mim em busca de ajuda.

— Isso é seu, não é? — Jas estende uma espada para ele antes que eu possa dizer algo.

— Sim — ele pega a espada de volta, que rapidamente se transforma em um colar, com uma única caveira de prata. Alguns pontos se ligam em minha cabeça, isso me faz arrepiar. A suspeita de quem é seu pai não é nada boa.

— Levem ele até Quíron — mando — e sem mais perguntas.

— Por quê? — pergunta Andressa, desconfiada.

— Vamos logo — pela apreensão no olhar de Miranda, ela já está entendendo o que está acontecendo.

Saio da enfermaria e vou direto para o chalé de Hermes, sendo recebida por Luke, que sorri simpático.

— Se não é meu raio de sol preferido — ele beija minha bochecha e passa o braço por meus ombros — a que devo a honra?

— Como está o chalé? — sou direta, avaliando a estrutura por fora. Péssima em relação aos outros.

— Ai. Essa doeu — ele diz enquanto estamos no chalé — nem vai perguntar se eu estou bem?

— Sei que está. Mas o seu chalé, em contra partida... — encarando as várias beliches e colchões no chão com tristeza.

— É, estamos... lotados — seu sorriso some.

— Isso é uma vergonha — resmungo comigo mesma, tentando não pisar nos pertences de ninguém. Há tanta coisa pelo chão, mas da para perceber que não é por querer. Eles apenas não tem espaço nem para guardar suas roupas.

— Estamos deixando as beliches para os mais novos, em vez dos filhos de Hermes — conta Luke, sentando em uma cama — mas está difícil.

— Isso é muito gentil, Luke — sorrio fracamente para ele e suspiro – mas não é o suficiente. Amanhã vou colocar um novo sistema em prática e os deuses segurem seus filhos para não me matar.

— Explique.

— Eu vou fazer uma pré seleção de todos que não foram reclamados, usando vários testes que farei como base. Vou conferir e por fim, mandarei os não reclamados para os chalés que eu acho que pertencem. Então os deuses terão ou que reclama-los por serem seus filhos e já até estarem convivendo com os irmãos, ou por seus filhos estarem sendo confundidos com filhos de outros. De qualquer, o ego deles não vai permitir que eles sejam confundidos com outros deuses.

— Isso é... — ele parece surpreso — incrivelmente inteligente. Tem certeza que não é uma filha de Atena?

— Só uma filha de Apolo cansada — respondo, saindo do chalé.

— Volte sempre! — Luke grita para mim. Me viro e aceno e ele faz o mesmo.

Continuo minha caminhada pelos chalés, entrando em todos para tomar notas e recapitular meu plano. Eu sei que amanhã esses chalés estarão mais cheios, mas amanhã estarei muito ocupada para qualquer coisa.

O jantar chega e então eu vou até o pavilhão, faminta. Na hora de jogar a parte dos deuses da refeição, lembro-me que não agradeci a Apolo.

— Obrigada, senhor Apolo. Desculpe não lembrar de agradecê-lo antes — jogo metade da minha refeição no fogo. Prendo a respiração por um momento, para não sentir o cheiro que me lembra ele.

— Falando sozinha? — Damien, o garoto de mais cedo, fica ao meu lado.

— Com meu... — me paro antes de falar — Apolo. Senhor Apolo — e então olho para sua bandeja, querendo desesperadamente mudar de assunto — já sabe o que tem que fazer?

— Oh — ele olha para sua bandeja, para o fogo e então para mim — é, Quíron me disse algumas coisas. E eu assisti ao vídeo...

— Uh, meus pêsames — faço uma careta. Aquele vídeo é uma tortura.

— Para a deusa da sorte — ele diz, jogando um pouco da sua refeição no fogo — porque eu estou precisando ultimamente.

— Não para o seu pai? — questiono, curiosa.

— Quando ele se revelar, quem sabe... — ele encolhe os ombros.

— Justo — murmuro.

Aceno com a cabeça e vou para mesa principal, me sentando ao lado de Quíron. Sendo uma das partes principais do conselho, tenho um espaço na coordenação do Acampamento.

— Tudo certo para a reunião de hoje, Sol? — o  centauro me questiona.

— Sim — respondo, sentindo meu estômago se revirar um pouco de nervosismo — temos muito o que discutir.

— Amanhã começa o verão, afinal — ele suspira — precisamos deixar tudo em ordem para a agitação.

Olho para ele com desânimo. Não precisamos de agitação. Precisamos de inúmeras coisas que seriam resolvidas com pais presentes, mas com certeza isso é pedir demais.

Como rapidamente e vou até a Casa Grande, me preparando para a reunião. Brooke é a primeira a chegar, trazendo sua agenda enfeitiçada, presente de sua mãe Tique. Ela é a única semideusa que foi reclamada por uma deusa menor. Infelizmente, ela precisaria ficar no chalé de Hermes, já que deuses menores não tem chalés próprios, mas como é meu braço direito, tem um quarto aqui na Casa Grande, assim como eu.

— Pronta para arrasar? — sorri a loira.

— Pronta para vomitar — retruco.

— Ah, vamos lá. Qual o pior que pode acontecer? Você morrer? — ela diz, me fazendo voltar ao tempo em que não nos dávamos bens. Ugh.

— Exatamente isso — cruzo os braços, me escorando na mesa de bilhar — e você não está ajudando.

Ela revira os olhos suspirando e balança sua caneta em minha direção.

— Você é a nossa líder. E só é porque mereceu. Agora, mais do que nunca, precisamos que mostre o por que de termos escolhido você. Precisamos que nos represente e faça o que precisa ser feito! — ela diz, demonstrando uma firmeza exemplar.

— Você está cada vez melhor nos seus discursos motivacionais — comento, me sentindo um pouquinho melhor.

— Eu andei praticando na minha escola — ela dá um gritinho orgulhoso — "vai novato, corra mais rápido ou eu vou lançar meu tênis na sua cabeça. E acredite, eu sou muito boa nisso."

— Assustador — comento ainda sorrindo, dando tapinhas em seu ombro. Arrumamos a mesa para a reunião e esperamos os outros chegarem. Enquanto isso, Brooke vai me contando sobre tudo que passou longe daqui.

Aos poucos a mesa se enche, cada semideus representando um chalé. Quíron é o último, fazendo toda sua mágica e ficando em uma cadeira de rodas, um pouco atrás de mim, nos observando com toda a sua postura tranquila.

— A reunião está oficialmente iniciada — anuncio — primeira pauta?

— A superlotação do chalé de Hermes — Brooke responde, checando a lista em sua agenda.

— É um problemão — comenta Katie, olhando penalizada para Luke.

— No verão passado eu passei por lá e tinha gente dormindo no telhado! — Silena choraminga, indignada com a situação.

— Amanhã vamos chegar ao ápice — Luke diz — precisamos resolver isso hoje. Estamos colocando um pessoal para dormir na varanda, mas as Harpias são umas...

— Enfim — corto ele — eu já pensei em uma solução.

Então explico para eles todo o meu plano. Evito o olhar de Quíron por enquanto.

— Uau — Annabeth, representante das crias de Atena, me olha impressionada — você tem... coragem.

Talvez coragem não seja exatamente a palavra que ela queira usar, mas serve.

— Eu achei legal — Pollux diz, mas pelo seu tom, ele provavelmente está bêbado. Ah, tanto faz.

— Eu não vejo outra opção —  comenta Beckendorf, arrancando um suspiro de Silena (mas todos ignoramos isso) — sinceramente. Os deuses estão dando zero importância para a situação, como sempre. Então talvez dando esse empurrãozinho eles façam algo.

— É, como pulverizar Solari — zomba Andressa, piscando cúmplice para mim.

— Ou transformá-la em uma planta. Eles gostam disso — Katie completa, divagando.

— Ok, ninguém vai fazer nada com a minha irmã — Michael diz — estamos todos de acordo com seu plano, certo?

— Quem está de acordo com o plano, levante a mão — manda Brooke.

Todos levantam as mãos. Assinto satisfeita e temerosa. Me viro para trás e todos nós encaramos Quíron.

— Pode funcionar — ele diz, hesitante — eu não sei mais o que fazer. Já tentei falar com os deuses, mas... Creio que eles tem assuntos mais importantes. Digo, urgentes.

Resmungos coletivos são emitidos. Reclamar sobre nossos pais é um passatempo recorrente. Geralmente de maneira irônica, assim escapamos de um castigo automático. Acho que o filtro deles não funciona muito bem.

Brooke sorri para mim e me mostra o "aprovado" em sua agenda, na pauta "plano suicida mas engenhoso". Reviro os olhos.

Agora só falta colocar em prática. E essa é a parte mais difícil.

miranda por MiaRomano188

jasmine por ToddyCrazy

fabíola por Bieber1601

lina por SENHORA_DUMBLEDORE

brooke por venezablue

obrigada pelas personagens incríveis, essa foi a primeira aparição delas, mas continuarão tendo um espacinho na fic