O Amor sabe das coisas escrita por MaruShi


Capítulo 1
O amor sabe das coisas


Notas iniciais do capítulo

Yo! Voltei depois de uns anos porque me empolgaram com as sagas novas do tio Rick, escrever é legal, e discutir coisas escritas é mais legal ainda!

A ideia disso surgiu no caminho do trabalho pra casa (hoje mesmo). Sempre adorei o Eros, e apesar do modo cruel, ele fez o que precisava, e de brinde ainda arranjou um Will maravilhoso. Bem melhor do que Afrodite faria, cá entre nós xD

Ignorem (por enquanto) qualquer eventual incongruência com detalhes dos livros. Precisarei relê-los para corrigir mas estou empolgada demais pra isso agora.

Bem, divirtam-se!



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O deus se empertigou no banco de praça no qual se sentava, as asas arrepiando as penas em um calafrio. Algo importante estava para acontecer, em algum lugar, onde ele seria extremamente necessário, em especial dadas as atuais circunstâncias em que o mundo se encontrava. Prenúncios de guerras eram sempre atribulados para deuses do amor. Sem perder um instante, se concentrou naquela sensação, dividindo sua essência para buscar a criatura que estava propensa a se apaixonar. 

Muitos sempre acham que ele, Eros, era o culpado das paixões, outros consideram decisão de Afrodite e outras culturas culpam outros deuses e deusas. Mas não era bem assim. A culpa era do destino, das Parcas e de seu Tear, aos deuses e deusas do amor só cabia dar um “empurrãozinho”, oficializar as coisas perante o destino, por assim dizer. Quando as parcas colocavam alguém em uma situação na qual o amor pudesse nascer, os deuses sentiam, e cumpriam seu papel conectando as vidas predestinadas. 

Ao contrário do que muitos sempre acham, deuses do amor que tenham bom senso também não ficam interferindo por diversão na vida amorosa dos outros. Só Afrodite faz uma besteira dessas. Cabe às criaturas sencientes, tudo aquilo que pensa por si mesmo, zelar pelo sentimento desperto e fazê-lo florescer, deixar que se disperse com o tempo, ou deixar que acabe em loucura e desgraça. 

Com a velocidade de um pensamento divino, Eros chegou até o local em que sentiu o chamado das parcas. A sua frente, um semideus encurralado contra um penhasco enfrentava uma Mantícora,  defendendo outros dois menores. As flechas vibraram na aljava do deus alado enquanto observava o garotinho.

As parcas só poderiam estar de sacanagem, pensou o deus enquanto suas mãos instintivamente sacaram duas flechas da aljava. Tudo bem que amor demora a crescer e a dar frutos, mas uma criança? Suas mãos dispararam a primeira flecha sem nem hesitar, apesar da linha de pensamento contrariada do deus. A flecha etérea se cravou pelas costas do garoto, no lado esquerdo, na altura de seu coração. Um tiro preciso, que fez seus olhos começarem a brilhar enquanto encarava as costas do herói que o salvava. Uma semente bem forte havia sido plantada.  

Eros agradeceu mentalmente a seus instintos divinos por ter disparado quando, exatamente 0,03 segundos depois de sua flecha atingir o alvo sua mãe, Afrodite, apareceu ao seu lado. Ela inspirou, pronta para falar algo, antes de ver a flecha espectral começar a se desfazer lentamente nas costas do garoto. A deusa bufou, irritada como uma criança birrenta antes de olhar para seu filho. 

Já fazia muitos séculos que havia um acordo entre os deuses do amor, independente de cultura ou panteão: Quem pegar primeiro leva. O deus que reivindicava a história de amor de alguém se tornava responsável por ela, e nem um dos outros tinha o direito de interferir a menos que fosse explicitamente convidado, com um termo assinado em duas vias e registrado em um cartório reconhecido pelos dois panteões. Graças a isso muitos problemas diplomáticos eram evitados. 

Dessa vez, Eros chegou primeiro. Ou melhor, as Parcas o fizeram chegar primeiro. Certamente aquela sua flecha estaria relacionada aos eventos futuros que definiriam o futuro do mundo. Ele logo saberia. As tecelãs do destino garantiam, apenas ao deus responsável, o conhecimento de partes do futuro planejado para o ser apaixonado. 

Afrodite o olhou aborrecida. Decidida a não sair por baixo por ter perdido mais uma vítima para suas artimanhas, apontou primeiro para o herói que lutava, depois para si mesma. Cruzou os braços e desapareceu. 

A flecha de cupido ainda se desfazia enquanto a deusa já havia desaparecido, deixando o problema para cupido resolver. Haviam três semideuses à sua frente. Um, havia sido atingido por sua flecha. A outra, era irmã do primeiro, logo, nada de flechada. E o terceiro havia sido reivindicado por sua mãe. Que diabos estava acontecendo ali? Se as parcas o haviam mandado, deveria ter alguém, certo? 

Então o pedaço de futuro que era de direito lhe foi revelado: As provações pelas quais aquela criança passaria. Ele seria o sacrifício pelo salvamento do mundo. Sua missão seria árdua, solitária, dolorosa, e aquele menino precisaria de uma âncora forte com o mundo dos vivos para não ser levado pela correnteza. 

O sorriso constante do deus alado se desfez, uma nuvem escureceu suas íris vermelhas.  Era só uma criança humana, mas um filho de Hades, destinado a anos terríveis. Eros até ajudaria se pudesse, mas não tentar interferir no que foi profetizado aos outros era uma lição que deuses aprendiam cedo. 

Olhou para a segunda flecha em sua mão e ordenou que se destruísse, o que deixava um gosto amargo em sua boca. Odiava paixões unilaterais, essa era a especialidade de sua mãe. Eros nasceu para pares, para amores que se completam mutuamente por mais estranhos que pareçam, não para intrigas amorosas. Outro calafrio subiu por suas asas e agradeceu às Parcas por tê-lo mandado primeiro. Aquele garotinho não aguentaria as provações de sua vida se fosse Afrodite a responsável pela sua história de amor. 

Diante daqueles olhinhos brilhantes destinados às sombras, Eros prometeu a si mesmo que se o garoto sobreviesse com um mínimo de sanidade que fosse, quando tudo tivesse terminado e pudesse libertar o mortal de sua flecha, deixaria preparado um amor de verdade, dos bons, para curar a aquela alma ferida. 

 

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Falar era fácil. Se as parcas tivessem algo específico planejado provavelmente teriam revelado ao deus, mas não havia sinal nenhum a respeito de amor no futuro do garoto. Das duas uma: ou ele morreria e não teria futuro, logo, não teria amor; OU era uma rara página em branco do destino, um ponto onde Eros teria liberdade de escolher e influenciar os acontecimentos futuros. Quem seria o outro ser mortal adequado?

Teria que ser um semideus, sem dúvida, e Eros faria questão de escolher um bonitão. Alguém bondoso, mas determinado. Alguém com força de vontade o bastante para lidar com as consequências dos anos difíceis e com a personalidade de um filho de Hades rebelde. Alguém que… aquilo ali era um filho de Apolo no topo da montanha de escalada do Acampamento Meio Sangue?

O garoto ainda era jovem, seus 12, 13 anos talvez? Olhava curioso para os novatos incluindo o filho de Hades vítima não intencional de Eros. Amores estranhos que se completam é? Poderia ser uma boa idéia um filho de Apolo, e aquele ali parecia estar aberto à essa opção. Eros poderia tê-lo atingido com uma de suas flechas naquela hora mesmo, mas do que adiantaria? Se ele não suportasse o futuro, faria mais mal do que bem. 

Então ele resolveu observar o tal Willian Andrew Solace por algum tempo. 

Nos anos que se seguiram, Eros dedicou uma pequena parte de sua essência a ficar de olho no jovem Will. 

 

Bonitão: Confere; Completamente diferente de Percy Jackson: Confere. Bom arqueiro: no começo não, mas com um pouco de treino, confere também; Boa música: Definitivamente não; Bom coração: Definitivamente sim;  Habilidades de cura: CONFERE (sim, maiúsculas foram necessárias); Poderes relacionados à luz porque deus do amor nenhum que se preze perderia esse clichê maravilhoso se pudesse evitar: Confere também;  Força emocional para não surtar: Estava cada vez mais convencido de que sim. 

 

Foi a batalha de Manhattan que decidiu as coisas; quando no meio da batalha Will lutava sempre que precisava e curava sempre que podia. Quando seu irmão pereceu em combate e o garoto tomou a frente dos irmãos, assumindo a liderança mesmo diante da dor da perda e do desespero de uma causa perdida, sem deixar os outros baixarem suas armas, foi ali que Eros teve certeza de sua escolha. 

Providencialmente nesta hora o filho de Hades apareceu cruzando a avenida, liderando um exército de mortos junto com seu pai e madrasta divinos. As asas de Eros bateram com satisfação. Ele não poderia pedir uma entrada mais triunfal e marcante para disparar uma flecha. Enquanto os olhos de um Will boquiaberto estavam cravados em Nico, o deus disparou sua primeira flecha. 

Agora, só restava esperar. Olhando com carinho para a segunda flecha em sua mão, Eros desejou que encolhesse. Ficaria guardadinha, em segurança, para quando tudo estivesse pronto. Quando sua flecha desapareceu no tronco de Will, o deus teve certeza: não podia ter feito uma escolha melhor. 

 

O deus manteve os olhos carmim atentos aos garotos ao longo dos anos que se seguiram.

Will sabia que algo estava diferente. Ele percebia a expectativa da espera como se sentisse a presença divina; sentia algo crescendo dentro de si, longe das vistas até dele mesmo mas também fora de seu controle. Ele até gostava da sensação. Achava empolgante. 

Nico sofria sem entender o que exatamente sentia, sem ser correspondido, sem se aceitar, sem ter ninguém ao seu lado. Era cruel, e Eros sabia disso, mas ainda não lhe seria permitido interferir por um longo tempo. As vezes ele odiava ser usado como uma ferramenta do destino, mas não havia motivação mais forte que a que suas flechas despertavam, e era isso que o destino precisava para que o mundo continuasse a existir. 

Sua aparição na trama das parcas só aconteceu bem perto do fim, quando o próprio filho de Hades precisou ir a seu encontro. O garoto era uma massa de sentimentos confusos, noções de tempo confusas, medo, desconfiança, raiva, desconforto e muitas sombras. Ele não queria admitir a verdade nem para si mesmo, e isso se tornaria um problema. Do que valeriam todos aqueles anos preparando a compensação do garoto se ele não aceitasse? Mas Eros sabia o que fazia, mesmo na situação desastrosa em que o destino havia lhe jogado. Era a hora de fazer o garoto encarar umas coisas e de prepará-lo para se libertar do passado e seguir em frente. 

O deus alado tirou da aljava uma flecha solitária, guardada por muito tempo. Uma flecha cuja parceira já havia sido disparada anos antes. 

Ser atingido duas vezes por flechas de deus do amor não é muito agradável, ainda mais quando a primeira não foi muito bem digerida por sua alma. A segunda precisa expulsá-la para se alojar, e as vezes isso leva tempo (e uma parte de você junto, mas isso são detalhes). Para Nico não foi uma experiência agradável, tão pouco o foram os dias que se seguiram. Mas o filho de Hades era forte, ele sobreviveu a coisas piores do que um motim de seus próprios sentimentos, e a segunda flecha pode enfim criar raízes. 

Então seria só questão de tempo até que os garotos se encontrassem pessoalmente. 

Will entendeu a verdade assim que tocou a mão de Nico pela primeira vez. Aquela expectativa dos últimos anos, a inquietação sempre que ouvia falar que di Angelo desapareceu de novo, só tinham uma explicação. Claro que achou que estava ficando louco (ou sendo vítima de Afrodite), já que Nico não parecia sentir nem de longe o mesmo. Mas quando se tocaram o loiro reparou a diferença. A segunda flecha do deus do amor não havia sido lançada antes, sabia lá ele por que diabos. Mas naquele momento era diferente. 

Nico também percebeu algo. Não sabia de onde vinha nem por que, mas uma porta se abria em seu destino e uma luz calorosa vinha de dentro dela. Se não estivessem em um campo de batalha poderia ter pensado mais nisso e chegado à alguma conclusão próxima da verdade. 

Poucos dias depois, enquanto Nico virava as costas para Percy e partia em direção à Will com borboletas brotando em seu interior, Eros sorriu. Seu trabalho ali estava feito. Agora cabia aos dois mortais cuidarem daquelas sementes de sentimento, e fortalecê-las antes que o destino os testasse novamente. Mas o deus sabia que eles conseguiriam. O Amor sabe das coisas.

 


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Notas finais do capítulo

E aí? Que acharam?

Espero que tenham gostado dessa ^^

Abraços da tia Maru pra vocês e até um outro dia!



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