Há uma incerteza em dizer se essa história é boa ou ruim pra ela, mas levando em conta que aparentemente agora ela tem duas personalidades diferentes, digamos que são as duas coisas.

Se você já soltou um “ah, eu gostaria de ver um fantasma ou uma entidade”, retire o que disse imediatamente. O sobrenatural não é brincadeira. Elisa sabe disso muito bem. Já viu muitas coisas bizarras e inexplicáveis, mas nenhuma foi como essa.

Elisa costumava ir para o trabalho com seus amigos, Junior e Suzana. Os três trabalhavam numa lanchonete e iam de carro lá pelas sete da manhã. Sempre cortavam caminho para evitar o trânsito e todos os dias passavam por uma floresta rodeada por uma cerca de arames.

Nada de estranho até Elisa começar a olhar demais pra ela. De uma hora pra outra, enquanto estavam passando, ela viu uma mulher parada por entre as árvores, olhando pra estrada. Achou estranho, mas não comentou com ninguém.

No outro dia, lá estava ela. No seguinte, também. Mas parecia que a distância não era a mesma, ela nunca estava no mesmo lugar, perto da mesma árvore. Não. Era sempre uma mais a frente, em direção a estrada.

Elisa começou a ficar com medo, mas mesmo assim nada comentou. Achava que era coisa de sua cabeça.

Depois de uma semana vendo a mulher todos os dias, Elisa não conseguiu esconder o medo dela estar chegando perto cada vez mais, e comentou com os amigos.

— Vocês viram aquela mulher?

— Que mulher?- perguntaram.

— A da floresta.- eles a olharam confusos. — Ela está lá todos os dias, no meio das árvores. Como assim vocês não viram?

— Lisa, uma mulher no meio da floresta às sete da manhã?- o tom de voz de Junior era óbvio.

— Eu não estou ficando louca, tá?! Amanhã vamos passar por lá de novo e eu vou mostrar!

Dito e feito. Na manhã seguinte, quando passavam em frente a floresta, ela mostrou.

— Ali!! Estão vendo?

— Lisa, não tem ninguém ali.- Junior realmente parou o carro e procurou. — Só tem árvores.

— Eu também não vejo ninguém.- Suzana reforçou, mas parecia assustada.

Elisa empalideceu.

— Vocês só podem estar de brincadeira comigo! Ela está bem ali!- desesperou-se. — Se é pegadinha, não tem graça.- os dois amigos se olharam, o desespero da amiga era real. — Sempre que a gente passa ela está cada vez mais perto da estrada, olhando pra gente!- seus olhos estavam cheios d’água ao dizer.

— Já chega, Lisa! Está me assustando!- Suzana não reconhecia a amiga.

— Por que só eu vejo ela?- indagou chorando. — Isso não faz sentido.

— São esses filmes que você vê, está ficando paranoica!- comentou Junior ainda achando que era piada, mas com com certa preocupação. — Não tem nada na floresta, Elisa.- enfatizou.

Convencida de que realmente era coisa de sua cabeça, já que quando olhou de volta a mulher não estava mais lá, Lisa seguiu o caminho normal com eles e tentou não pensar na mulher de cabelos pretos e vestido branco. Mas a imagem dela não saía de sua cabeça e ela começou a ter pesadelos, um pior que o outro, sempre parecendo muito reais. Em alguns a mulher a matava, outros possuía, outros torturava, e em outros nada fazia.

Elisa começou a vê-la numa árvore do outro lado da rua de sua casa em seus dias de folga, e quando ia trabalhar, lá estava ela na floresta. Mas dessa vez, Elisa sabia que ela já tinha chegado na beira da estrada.

— Podemos ir pelo outro lugar?

— Se formos por lá teremos que pegar a entrada pra rodovia, muito trânsito. Por aqui é mais rápido.- respondeu Junior já imaginando o motivo do pedido.

— Mas…

— Elisa!- Suzi a repreendeu. — Não tem nenhuma mulher na floresta. É coisa da sua cabeça. Quando passar por lá, é só não olhar.

— Troca de lugar comigo?- ela pediu querendo chorar.

Suzana suspirou e cedeu.

O caminho todo Elisa se controlou para não olhar. A respiração acelerada, os olhos cheios de lágrimas, as mãos tremendo, parecia que estava prestes a ter um treco.

Não resistiu e olhou pela janela de Suzana, sem sair do lugar, só se inclinando um pouco.

— Ela está lá?- perguntou Suzana ao perceber o cenho franzido de Elisa olhando para a floresta.

— Não.- ela respondeu confusa e ainda com medo. Passou o olho por todas as árvores e nada. Suspirou aliviada e novamente recostou no banco.

Ao fazer isso, a mulher da floresta estava colada em sua janela.

Elisa gritou e Junior freou o carro com o susto. Elisa ficou torta com o pescoço e a cabeça inclinadas, a boca aberta e os olhos arregalados tomados pelo branco.

Suzi começou a gritar e viu um vulto frio entrar pela boca e descer pela garganta da amiga enquanto a mesma tremia.

Junior desceu e abriu a porta do banco de trás chacoalhando Elisa para que ela voltasse ao normal enquanto Suzana chorava desesperada e completamente assustada com o que estava vendo. Lisa não voltava a si e simplesmente desabou no banco, inconsciente. Acordou no hospital e desde que abriu os olhos nunca mais sentiu-se a mesma.

Então sim, a incerteza de não saber se a história é boa ou ruim é real. A mulher da floresta era um mistério, e ao que parece, continuaria sendo, já que apenas Elisa a via e continuava vendo, mas agora não era na floresta, nem do outro lado da rua, nem em seus pesadelos… era sempre que olhava no espelho.