Entre Lobos e Monstros escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 17
Sempre seu, Embry




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/796960/chapter/17

 

Capítulo 16

por N.C Earnshaw

 

“Precisei sair, mas volto logo. Não se preocupe com qualquer coisa, aproveite o dia de folga para relaxar. Deixei seu café-da-manhã feito, e podemos ir mais tarde ao mercado comprar coisas que você goste. Espero que tenha dormido bem. 

Sempre seu, Embry”. 

ERIN RELEU O BILHETE tantas vezes que chegou a perder a conta. Ninguém nunca tinha tido a consideração de avisá-la sobre qualquer coisa, muito menos se preocupado se ela estava comendo ou não. Ela se recordava da sua mãe, quando ainda era criança, insistindo para que ela comesse os vegetais e algumas frutas. No entanto, assim que Carter decidiu que ela era grandinha o bastante e não precisava ser adulada, Kayla parou. 

A garota não entendia porquê um simples bilhete tinha lhe proporcionado tantas emoções. Parecia que, finalmente, alguém se preocupava com ela de verdade. E era… Era bom. 

Ela colocou o pedaço de papel sobre o coração, e um sorriso largo escapou dos seus lábios. Mesmo que estivesse parecendo uma adolescente tola de romances água-com-açúcar, Erin não permitiu se sentir estúpida. 

Enquanto comia, a única coisa que passava pela sua mente era a assinatura no final. “Sempre seu, Embry”. 

Como aquele garoto conseguia ser tão fofo e atraente ao mesmo tempo, ela não sabia. Mas que estava sentindo novamente uma imensa vontade de agarrá-lo, não podia negar. 

“Não seja idiota, Erin”, repreendeu-se. “Ele é só um garoto. E está ajudando te ajudando quando mais ninguém te ajudou. Não estrague tudo com a sua carência”. 

Decidida a deixar de lado o quão atencioso Embry foi, ela aproveitou a comida, admitindo que ele sabia cozinhar até que bem. Não era tão deliciosa quanto o que comeu na casa de Wendy, mas conseguia ser melhor do que as que ela mesma preparava. 

Após arrumar a mesa e lavar os utensílios usados, ela procurou por alguns produtos de limpeza para arrumar o quarto de Embry — que ao contrário do resto da casa, estava um lixão. Papéis de comida jogados, roupas espalhadas por todo lado, e tanta poeira que a Landfish se pegou espirrando durante quase toda a noite. Aquele lugar precisava de uma faxina urgente se ela quisesse passar uns dias por ali. 

Como a mãe do Call não estava em casa, Embry tinha dormido no quarto dela. Erin ainda se incomodava com o fato de ter roubado a cama dele, no entanto, o garoto foi firme pela primeira vez à sua frente. Sem gaguejar, pediu que ela esquecesse qualquer ideia de dormir no sofá. 

Normalmente, esse súbito cavalheirismo a deixaria extremamente irritada. Conhecia muito bem o sexo masculino para saber que quando eles tratavam uma garota muito bem, quase em excesso, desejavam entrar nas suas calças. Entretanto, nunca tinha ouvido nenhum comentário sobre como o Call era mulherengo, ou como ele era galinha. Ele parecia ser alguém discreto — provavelmente mantinha seus casos em segredo, então sabia que seus gestos não tinham segundas intenções. 

Próxima à porta dos fundos, uma portinha pintada de um azul desbotado chamou sua atenção. Ela deduziu que fosse onde eles guardavam o aspirador-de-pó, então foi até lá, falando para si mesma que avisaria a Embry que tinha mexido naquelas coisas. Apesar de estar se sentindo segura ali, não se encontrava 100% confortável em mexer nas coisas alheias quando não tinha nem conhecido a dona da casa. 

As dobradiças soltaram um gemido alto que chegou a assustá-la. Assim que o medo repentino passou, ela se deu conta que era apenas a madeira velha e os ferros com ferrugem, então se acalmou e entrou no espaço escuro. 

Erin procurou por alguma lâmpada, mas para a sua decepção, não encontrou absolutamente nada que iluminasse o local. Por não ter nenhuma janela, e pelo sol de Forks ser ocultado constantemente pelas nuvens cinzas, a iluminação natural era inexistente. 

Não conseguindo nem sequer enxergar um palmo à sua frente, a quileute decidiu usar a lanterna do seu celular, e foi até o quarto pegá-lo.

A Landfish tinha desligado ele logo que saiu da casa de Jane. Sendo assim, não tinha ideia de que tipo de mensagem poderia encontrar no aparelho. Ou se ao menos alguém tinha se importado em ligar ou mandar mensagem para ela. 

Para sua decepção — talvez alívio, a única pessoa que tinha ligado e mandado mensagens tinha sido Alyssa. Ela ignorou todas. Não estava com paciência para jogar conversa fora.

Com a lanterna do celular ligada, ela finalmente conseguiu ver o que tinha dentro do quartinho. Latas de tinta velha num canto à esquerda, uma estante antiga de metal pregada à parede, cheia de produtos de limpeza — como papel higiênico, e o aspirador guardado cuidadosamente no terceiro suporte. 

Ela puxou o aspirador, mas acabou se atrapalhando e derrubando o celular atrás da prateleira. Xingando-se com raiva, ela enfiou a mão no vão entre a parede, torcendo para que nenhum bicho estivesse se escondendo ali atrás. Como moravam próximos a uma floresta, era comum que as casas fossem invadidas por visitantes. E Erin odiava ser surpreendida por eles. 

A quileute apalpou o local procurando o aparelho, a luz não dava uma direção concreta, então teria que encontrá-lo às cegas. Quando as pontas dos seus dedos tocaram um pedaço de madeira, ela engoliu um grito. 

Ela pensou em largar o objeto ali e apenas pegar seu celular. No entanto, a curiosidade foi maior, e ela acabou recolhendo os dois. 

A caixinha era pequena, com cerca de oito centímetros de altura e uns doze de largura, era entalhada com o que ela acreditava ser a paisagem da praia de La Push — aparentemente a vista que dava para ver do penhasco. No canto direito da madeira, dois pares de iniciais estavam separados por um coraçãozinho. 

T.C ♡ D.L

Não era um mistério que ninguém sabia quem era o pai de Embry. As pessoas desconfiavam que fosse alguém da reserva quileute, não de Makah. E que a senhora Call escondia de todos porque o homem era casado. 

Erin não se atreveu a julgar. Seu próprio pai era um desconhecido para ela. Tinha abandonado sua mãe quando cansou da sua aparência exótica. Sendo um cara-pálida que estava passando apenas como visita, não se importou em deixar a mulher grávida para trás. 

A garota pensou em tirar o objeto dali e mostrar para Embry. Talvez o conteúdo dentro dela tivesse as respostas que todos procuravam. Entretanto, ela controlou a vontade, repreendendo-se por ser tão intrometida. 

Quem ela era para se envolver num assunto de família? 

Não abriu a caixinha, por mais que a curiosidade quisesse tomar o poder das suas ações. E seguiu até o seu quarto, determinada a deixar o lugar agradável para dormir. 

Ela teve vontade de bater em Embry quando encheu um saco inteiro de lixo. Para alguém que deixava o resto da casa tão arrumado, era esperado que seu quarto estivesse quase tão limpo quanto. 

Com um pano amarrado na boca e nariz, ela aspirou o chão, pensando em como seria agradável sua noite após se livrar da poeira maldita. Era realmente irritante ser alérgica. 

Erin deixou o guarda-roupa por último. Na outra noite, o quileute tinha avisado que ela poderia ficar com a maior parte do espaço, e deixar apenas duas gavetas para suas coisas. Ela se queixou, dizendo que não teria como as roupas caberem em apenas duas gavetas, no entanto, quando abriu o guarda-roupa, percebeu que era sim, possível. 

A Landfish tinha que admitir que não tinha visto Embry andando com muita roupa por aí, mas ao menos ela esperava que ele as tivesse

Após separar as roupas dele num canto para colocar nas gavetas, ela arrumou as suas com cuidado. Dobrou e passou ferro nas que pareciam muito amassadas, e separou seu uniforme de trabalho. 

Embry tinha apenas 2 shorts — 3 contando com o que ela apostava que ele estava usando, 2 calças e algumas camisetas puídas. As únicas coisas em bom estado pareciam ser a jaqueta e um casaco de frio, assim como as suas cuecas — que Erin não resistiu em espiar. 

Por já ter sido uma adolescente, ela sabia exatamente os esconderijos usados. A gaveta de calcinhas — no caso de Embry, de cuecas, era o lugar perfeito para esconder qualquer coisa que você não quisesse que fosse encontrada pelos seus pais. A maioria deles tinha vergonha de fuçar ali, e a carta de privacidade sendo invadida sempre poderia ser usada como desculpa. 

Erin escondia dinheiro e alguns cigarros de maconha na sua. Ela não era uma fumante, mas gostava de ter por perto para quando precisasse relaxar. 

Embry Call parecia ser um daqueles garotos inocentes que não faziam nada de errado. E a quileute encontrava-se louca para estar errada. Qual seria o segredinho sujo escondido pelas bochechas coradas e o sorrisinho tímido? 

— Ahá! — gritou para si mesma, quando avistou algumas revistas. 

Por Embry ter permitido que ela mexesse em tudo, não se sentia nem um pouco culpada. Contudo, assim que viu a capa da primeira revista, sua animação murchou. 

— Carros, Embry? É sério? Esse é o seu pornô? — Ela não conseguiu não se sentir irritada. Talvez fosse mesmo depravada, mas carros? Nenhuma mulher pelada? Peitos? Uma bu...

— O que esperava encontrar aí? Revistas da playboy? — A voz grossa a fez congelar. Todo o seu corpo se arrepiou por inteiro, e ela agiu como uma criança sendo pega no flagra. Embry tinha mesmo que chegar naquele momento? 

— Da playboy, não. Pensei em alguma coisa mais... ousada — rebateu, recuperando-se. Nunca tinha sido tímida, não era por causa de um garoto que iria começar. 

Ela se virou para a porta, querendo enxergar sua reação. 

O Call tinha as bochechas vermelhas, mas ao contrário da timidez que ela sempre via em sua postura, enxergou um brilho de malícia em seus olhos. Ele parecia estar se divertindo com aquela conversa de uma maneira que mexeu com ela. 

— Então como faz quando vai bater uma? — A quileute colocou as revistas de volta na gaveta, e começou a colocar as roupas dele nos devidos lugares. Tinha resolvido pressioná-lo até saber até onde aquela súbita confiança iria. 

A risada estrangulada que ele soltou a fez sorrir. 

— O quê? Vai mentir pra mim e dizer que nunca…

— Não preciso de revistas — cortou Embry. — E você? 

Por essa, ela não estava esperando. 

— Eu também não… — Erin limpou a garganta. — preciso de revistas. 

Ela não tinha se dado conta que ele tinha atravessado o quarto e parado ao seu lado. Quando ela olhou para cima, e viu o sorriso encantador que Embry tinha no rosto, o primeiro pensamento que tomou conta de sua mente foi: “Preciso ter os bebês desse cara”. 

Eles se mantiveram em silêncio por alguns minutos, e o Call se agachou para ajudá-la a terminar de organizar suas roupas. 

— Você fez um ótimo trabalho — elogiou ele. — Mas deveria ter esperado eu chegar pra te ajudar. 

— Com quantas garotas você já transou? — A garota ignorou qualquer coisa que ele tivesse falado. A dúvida estava plantada, e ela precisava, por razões quase científicas, de saber a resposta. 

— Não muitas. — Zero, ele quis dizer. No entanto, não queria que Erin soubesse que era tão patético. 

A Landfish era uma mulher experiente. Se soubesse que ele nunca… Ela o descartaria sem ao menos lhe oferecer uma oportunidade de ser mais que um amigo. 

— E como conseguiu fazer com que essas garotas não espalhassem para toda La Push que dormiram com você? — Erin fez uma careta. — Eu já tentei até suborno, mas não rolou. 

Embry deu de ombros. Era muito fácil. Não existia nenhuma garota. 

O tapinha nas costas foi o suficiente para ele se arrepender de ter mentido. A ideia de mentir para o seu imprinting, por mais que fosse uma bobagem que não alteraria a vida dela, o incomodava.

— Vou beber água. 

— Espera! — Ele estremeceu ao se dar conta que tinha gritado. A Landfish voltou e o encarou da porta do quarto. — E-eu… — gaguejou. — Eu menti. 

Embry desviou o olhar, mas apenas até ouvir uma risada doce saindo de Erin. 

— Eu sei disso. Nenhum cara que tenha transado alguma vez na vida diria “não muitas”. Eles tendem a exagerar e dizer que transam tanto quanto aqueles cantores de boyband. 

Erin suspirou ao ver o semblante entristecido do quileute. 

— Não tem problema algum você ser virgem, Embry. Muita gente é. — Erin se sentou na ponta da cama. — Eu até acho bonitinho que você tenha se guardado, e não dormido com qualquer uma. 

— Não me dou bem conversando com estranhos — admitiu, encarando o chão. 

— Ei! Você foi muito bem nas primeiras vezes que nos vimos. 

Embry a lançou um olhar cético, e Erin gargalhou. Estava na cara que estava mentindo. A primeira vez que eles se viram tinha sido o maior desastre. 

— Você é… diferente. 

A Landfish não soube porquê, mas as palavras de Embry aqueceram seu coração. No entanto, ela não conseguiu conter o divertimento. Que clichê! 

— Ah, não venha com “você é diferente das outras garotas”. — Ela engrossou a voz para imitá-lo. — Não é legal, porque eu sei que sou exatamente como elas. Então, Embry Call, da próxima vez que você for flertar, arranje outra coisa. 

— Não foi isso que eu quis dizer! 

O garoto arregalou os olhos. Não estava tentando conquistá-la com flertes estúpidos. Quis explicar que era porque ela era seu imprinting, mas descartou a ideia. Não havia forma mais terrível de contar que tinha uma conexão de almas sobrenatural com uma pessoa. 

Erin riu, e ele percebeu que ela apenas tinha falado aquilo para provocá-lo. Revoltado, ele arrancou uma camisa das gavetas, enrolou, e jogou no rosto dela com o mínimo de força possível — não gostaria de machucá-la, e odiaria se o fizesse. 

A expressão da Landfish ao ser atingida foi impagável, e ele levou alguns minutos para controlar o riso. Ela ficava a coisa mais linda com raiva.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Lobos e Monstros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.