Capital da moda e do amor escrita por nje


Capítulo 1
No topo da Torre Eiffel


Notas iniciais do capítulo

Oie, pessoal (;

As palavras-chave do desafio Spin off:
furda = casa rústica e tosca; cabana, choça.
eutimia = perfeita tranquilidade ou serenidade de espírito.
estral = relativo ao estro; entusiasmo artístico, riqueza de criação.
azoada = pequena contrariedade; aborrecimento, enfado, irritação.

boa leitura!



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Alice abriu os olhos e se espreguiçou, confortavelmente enroscada entre os lençóis chiques feitos com cetim de algodão. Os fios negros do cabelo dela encontravam-se desgrenhados e ao redor dos olhos verdes tinha olheiras profundas, causadas pela costumeira sobrecarga de trabalho.

Não demorou para que ela sentisse o cheirinho de café misturado ao de croissant. Havia um semestre que dividia o apartamento com Enrico, em Paris, e todas as manhãs acordava com uma mesa posta com muito esmero.

O relógio marcava 06h. A designer esteve dormindo apenas desde as 03h, bem como o namorado. Os dois encontravam-se envolvidos nos preparativos de diferentes grandes eventos. Enrico realizaria o primeiro desfile na França, no Museu dó Louvre, e Alice o dela, debaixo da Torre Eiffel.

Marcaram intencionalmente no mesmo dia, no mesmo horário.

Isso porquê logo quando chegaram na capital da moda fizeram uma aposta: quem tivesse a maior quantidade de convidados presentes e obtivesse o maior número de vendas no lançamento da nova coleção, poderia pedir ao outro qualquer prêmio que desejasse, sem limitações.

A recompensa era o de menos. O sabor da vitória é que era o mais satisfatório nisso tudo.

Os dois vinham conciliando as diferenças sem grandes dificuldades, se divertiam juntos, as discussões eram bobas... sempre terminavam em chamego.

Entretanto, a competição nunca deixou a relação deles. Ela estava presente nas corridas de bicicleta pelo campo toda vez que iam passar alguns dias num chalé na cidade vizinha.

Também quando após um dia bastante estressante se permitiam relaxar no barzinho com karaokê nas redondezas do apartamento deles. Nenhum dos dois tinha habilidade quando o assunto era canto, mas felizmente o aparelho revelava notas no final de cada música, tornando viável a disputa entre eles.

A rivalidade marcava presença até mesmo quando encontravam-se com Piérre e o marido dele aos domingos pela manhã para jogar Tênis. Alice e Enrico obrigavam o estilista francês a ficar no time rival ao amado, apenas para que eles pudessem jogar um contra o outro.

Essa competição toda já não mais prejudicava o romance de Alice e Enrico. Pelo contrário, às vezes até servia-lhes como afrodisíaco.

Alice ainda estava deitada quando Enrico pulou na cama, aconchegando-se pertinho dela. Ela permitiu-se apreciá-lo por um momento, observando-o, pensando no quanto apreciava aqueles olhos castanhos e também as sardinhas no rosto dele. Sentiu no coração uma eutimia diante da paisagem que era para ela o rosto do amado.

— Preparei um café da manhã reforçado, para te dar forças nessa reta final dos preparativos do desfile. — Enrico explicou. A voz rouca dele assumiu um tom bastante provocativo.  — Você precisa se manter forte e saudável, porque depois de perder a aposta não quero que se utilize de uma doença ou algo assim como desculpa.

Alice derrubou-o da cama.

Logo em seguida ouviu protestos mesclados a risadas.

— Eu evoluí muito nesse último ano, não só em termos de moda, como também de comunicação. — ela respondeu, pensando que já não se descontrolava por qualquer azoada.

Enrico cruzou os braços. Tinha um bico formado nos lábios dele.

— Oras, eu não estive aqui só turistando, não. Também aprendi muito! Você viu como ficaram as fotos do ensaio na furda, né?! Aquelas peças esgotaram rapidinho na loja on-line.

A convivência com a namorada aumentou um tanto o vocabulário dele.

Alice sentiu o estômago roncar e deu fim ao papo:

— Chega de falácia. Vamos tomar café e voltar ao trabalho.

— Estou com fome de outra coisa. — Enrico respondeu, cheio de malícia. Foi para debaixo dos lençóis e agarrou Alice, que também apreciou a ideia. Ele encheu-a de beijinhos, lambidas e chupões, que tiveram início nos lábios, mas percorreram variadas partes do corpo dela.

A noite quente de lua cheia somente acentuava a beleza do cenário de ambos os desfiles do casal de designers de moda.

Alice conversava com Piérre a respeito dos últimos detalhes de organização. Ele já não era mais seu sócio, apenas um mentor e grande amigo.

Ela passou três meses aprendendo com o francês, fazendo contatos em Paris, vendendo collabs dos dois na loja dele, etc.. Mas queria o nome Alice Lorenza — nome composto dela, como também a marca era conhecida — em evidência. Tinha a meta de ser lembrada pelas próprias características artísticas, não por ser sócia do renomado Piérre.

Mais do que pela aposta com Enrico, Alice ansiava que o retorno do público parisiense às suas peças fosse positivo, como que para comprovar para ela mesma do que era capaz sozinha, do quanto podia conquistar graças à própria competência.

Encerrado o papo com Piérre, deu as diretrizes finais aos que auxiliavam-na nos bastidores do desfile.

Com todos os ajustes devidamente providenciados, o lançamento teve início.

A passarela preta encontrava-se montada embaixo da Torre Eiffel. A luz rutilante da Lua favoreceu Alice, pois tornou-se o holofote que destacava as modelos.

Nos alto-falantes, uma música eletrônica começou a tocar, combinada com os passos firmes e confiantes das modelos que se puseram a desfilar. O prazer de estar vestindo lindas roupas fazia-se notável na face de cada uma delas.

Alice apresentou seis peças, que num geral receberam muitos elogios. Entretanto, a penúltima e a última foram as que tiveram maior destaque, agradando não somente aos franceses como também aos cidadãos de diversas nacionalidades que ali estavam.

Uma das roupas consistia num vestido jeans largo, midi, em lavagem délavé sobreposto à uma blusa branca de manga longa e gola alta feita em seda, com babados na bainha das mangas. Ficou evidente a intenção de mesclar o jovial com o tradicional, o irreverente com a elegância.

A outra peça seguia a mesma linha. Tratava-se de um conjunto. Uma saia longa no mesmo tecido e lavagem do vestido anterior, combinada com uma camiseta também de seda branca.

A saia tinha caimento mais justo na região do quadril e mais solto na região das pernas, permitindo livre movimentação. A camiseta marcava a silhueta na cintura, tinha franjas na bainha do tronco e também na das mangas.

Assim que o desfile teve fim, a movimentação foi intensa. Inúmeras pessoas abordaram Alice, também a secretária dela e até mesmo Piérre, doidinhos para saber o valor das peças, onde é que seriam vendidas, almejando conhecer mais do trabalho da designer de moda.

Alice convidara 70 pessoas, das quais 60 apareceram e quase 50 demonstraram interesse em fazer negócios com ela. Entre eles: estilistas, empresários, jornalistas, críticos especialistas e demais profissionais que possuíam algum vínculo com moda ou comunicação.

...

O desfile da marca Enrico teve início no exato mesmo momento que o de Alice. Entretanto, num outro ponto histórico da cidade: no Museu do Louvre.

Lá não houve necessidade da montagem de qualquer estrutura, pois a passarela seria a própria escadaria.

Os degraus dela eram largos e extensos em mármore esbranquiçado, bem como o corrimão. A decoração do espaço se resumia a esculturas de animais e de alguns momentos marcantes na história da França. Como complemento, havia também alguns vasos com plantas em verde vívido, trazendo um pouco de cor ao local.

Anos atrás, nas mesmas escadarias, também foi realizado um desfile da Louis Vitton. Estar ali naquela noite era grandioso demais para Enrico. O coração dele palpitava fortemente, numa mistura intensa que oscilava entre o miasma e o júbilo.

Por fim, após confirmar com seu assistente, Adrien, se tudo estava certinho, devidamente encaminhado, Enrico autorizou o início do desfile.

Uma música popular brasileira começou a tocar nas caixas de som. Pelo decorrer de toda a apresentação, a trilha sonora alternou entre sons de diferentes ritmos musicais, mas todos de artistas do Brasil.

Modelos desfilavam pela escadaria cuidadosamente, mas preservavam a postura autoconfiante.

Assim como o âmbito musical, o casting também só trazia modelos brasileiros e brasileiras.

Num geral, o desfile contou com variedade de tons e tecidos, costumeira de Enrico. A maior diferença que se fez notar ali foi que ele estava um tantinho menos irreverente, e um tantinho mais elegante, maduro.

A peça que mais chamou a atenção do público foi um vestido azul marinho todo plissado, de veludo com fios metálicos. Curto, caimento mais solto. Tinha alças fininhas. Havia nele ainda uma segunda camada feita do mesmo tecido, na coloração verde clara. Encontrava-se presente na bainha da parte inferior — se prolongando até a altura dos joelhos — e também na região do busto.

Essa foi a última roupa apresentada no desfile. Foi a que mais agradou o público.

Enrico chegou a enviar convites para 70 pessoas, das quais 50 compareceram e pouco mais de 30 se interessaram em fazer negócios.

Com o auxílio de Adrien, ele atendeu cada um dos potenciais clientes. Somente pegou o celular depois de completar tal tarefa. Deparou-se com uma mensagem de Alice, informando as estatísticas do desfile dela.

Enrico logo pôs-se a contabilizar os próprios números e concluiu que, pela primeira vez numa disputa entre eles no mundo da moda, o perdedor foi ele.

Droga! Podia compreender porquê Alice detestava tanto a sensação.

Ainda assim, manteve toda uma pose e parabenizou-a por mensagem, avisando também que logo a encontraria no local combinado... No topo da Torre Eiffel.

Na época em que a aposta foi selada entre eles, também compraram o ingresso para essa ocasião. Lá, o vencedor celebraria a vitória com muito champanhe. Além disso, faria o pedido do prêmio ao perdedor, qualquer recompensa que desejasse.

Após passar mais uma hora sendo simpático, um bom anfitrião, Enrico finalmente conseguiu escapar e ir ao encontro de sua amada. O sabor amargo da derrota seria neutralizado pelo doce beijo dela.

Ele colocou o capacete, subiu na moto e em poucos minutos encontrava-se dentro do elevador da Torre Eiffel.

A imagem de Paris vista dali despertava sensação estral, verdadeiramente inspiradora. Quanto charme! Não entendia nadinha de arquitetura, mas isso não o impedia de apreciar aquilo que estava diante dos olhos dele e atingia seu coração.

Pela segunda vez que encontrava-se ali, mas a emoção foi tão intensa quanto a da primeira.

Entretanto, o que de fato deixou-o sem ar foi chegar ali no topo da cidade, iluminada pela forte luz da lua, e deparar-se com Alice (aos olhos dele, ainda mais linda do que Paris).

Ela usava um vestido esvoaçante preto com fenda generosa, que Enrico sabia tratar-se de um modelo antigo da marca dela. Os lábios estavam tingidos de cor rubra e o cabelo longo voava por variadas direções, conduzido pelo vento.

Quando Alice direcionou a ele o olhar, o coração de Enrico acelerou tanto que por um momento o pobre homem acreditou que teria um ataque cardíaco.

Alice sorriu, cheia de si. Tinha entre os dedos uma taça de champanhe.

"Droga! Como a vitória combina com ela!", foi o que Enrico pensou, apreciando a cena.

Ele se aproximou e fez uma reverência.

— Uau. Hoje é mesmo o meu dia de glória. Você resolveu se arrumar direitinho e está até de terno! E, claro, o principal: finalmente venci você e tive a minha vingança. Agora pode ir embora, quero terminar. —Alice disse em tom esnobe.

Enrico não conseguiu nem formular frase nenhuma em resposta, ficou estático. As lágrimas já se acumulavam nos cílios dele quando Alice o abraçou com carinho, rindo gostosamente.

— É brincadeira, bobo! O meu pedido de vencedora, inclusive, é o total oposto disso.

— Qual é o oposto de terminar? Continuar juntos? Esse é o seu pedido? Ué, não precisava nem pedir. — Enrico concluiu de maneira desajeitada, ainda desorientado após o susto.

Ele a encarava fixamente, na busca por encontrar na expressão da amada algum indício do que ela estava planejando com aquele papo esquisito.

Alice não respondeu, apenas ajoelhou-se e tirou da bolsa uma caixinha. Ela abriu, revelando um anel de noivado.

Desacreditado, aí sim foi que Enrico começou a chorar como uma criança.

Abaixou-se também, ouvindo o que Alice tinha a lhe dizer:

— Eu te amo, meu bem. Je t'aime. I love you. Aishiteru. Quer se casar comigo? — ela perguntou, exibindo um sorriso de dentes branquinhos e bem alinhados... a beleza principal, entretanto, não estava na estética, mas sim no afeto que emanava.

— É o que eu mais quero! Eu te amo!  — ele respondeu, ainda emocionado, sufocando-a com o abraço mais forte e apaixonado que Alice já tinha recebido na vida. — Você dá uma de durona, mas esse pedido de casamento foi digno dos filmes clichês de comédia romântica que tanto critica, mas que eu amo.

Ela deu risada. Como o de costume, tinha resposta na ponta da língua:

— Prática como sou, quero que a gente continue vivendo esse romance cheio de aventuras na vida real ao invés de ficar vendo numa tela atores fingindo estar apaixonados.

Enrico não quis debater. Preferiu utilizar-se de uma estratégia que funcionava bem demais entre eles: uniu os lábios aos dela, encerrando o assunto com um beijo quente.

Fim.


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Notas finais do capítulo

E então? Me contem o que acharam (;
Beijos, até mais!



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