As três meninas retornavam, juntas, à Rota que utilizaram para chegar à cidade, cerca de três semanas atrás. O caminho as deixara um pouco receosas devido aos últimos acontecimentos no local, especialmente Amy. Porém, logo se distanciaram da trilha, seguindo para o interior do grande bosque. Viravam-se para trás vez ou outra para certificarem-se de que não estavam sendo seguidas, mais por hábito do que por medo. Depois de alguns minutos, passaram a ouvir um burburinho, que começou a se tornar mais alto à medida que avançavam em direção ao som. Aquela era a única pista de que estavam no caminho certo.

Após escalar um alto morro, finalmente depararam-se com a grande movimentação e, de onde estavam, possuíam uma vista privilegiada dos acontecimentos. Algumas bandeiras triangulares de diversas cores estavam penduradas por finos cabos de aço, presos às baixas árvores que rodeavam a clareira cercada por sutis elevações de terreno. O espaço era amplo, mesmo que estivesse preenchido por cerca de cem pessoas e pokémons que transitavam livremente, aguardando o início do evento. Em uma área mais ao norte, fora montado um palco simples de madeira, forrado por tapetes pretos. Logo atrás deste havia um pódio com as marcações de primeiro, segundo e terceiro lugares. Ao lado destes estava uma mesa coberta por uma toalha branca, em frente à qual estavam sentados dois homens de terno e uma mulher de vestido - provavelmente os jurados do concurso. No extremo oposto situava-se uma extensa mesa, oferecendo aos espectadores e participantes uma grande variedade de petiscos, como salgadinhos e doces.

Animadas pela organização do evento, Caroline e Amy rapidamente começaram a descer o morro no qual estavam. Sam foi a última a fazê-lo, por estar um pouco hesitante; afinal, aquela seria sua primeira apresentação. Embora houvesse pesquisado e perguntado muito sobre concursos, ainda sentia-se insegura. Porém, após ouvir o chamado das amigas, já na área mais baixa, abriu um leve sorriso e permitiu que parte do nervosismo se esvaísse, enquanto foi ao seu encontro.

— Hm-hm, teste, teste. — soou uma voz, cujo a potência era amplificada pelo microfone. Após não muito procurar, perceberam que esta pertencia ao homem que ocupava a posição do meio na mesa de jurados. — Atenção, participantes e espectadores. Estaremos dando início ao evento em dez minutos. Gostaríamos de solicitar que os inscritos confirmem sua presença aqui, na mesa. — ele deixou o aparelho de lado, acenando para que fosse facilmente visto. Em poucos segundos, uma fila começou a se formar à sua frente.

— É melhor eu ir. — afirmou Sam, mais para si mesma do que para as outras. Tentava não deixar sua insegurança transparecer, embora aquela fosse uma tarefa quase impossível.

— Boa sorte. — exclamaram as outras duas garotas, quase em uníssono, antes de observar a amiga sumir em meio à multidão.

A garota de cabelos brancos caminhou até o local indicado, parando no final da fila. Havia cerca de dez pessoas em sua frente, mas a fila andava rápido - para a alegria e tristeza de Sam, que mal podia conter sua ansiedade e nervosismo. Quando sua vez chegou, apenas riscou seu nome na lista de participantes. Notou que havia quinze coordenadores inscritos no evento e sua apresentação seria a de número quatro. Engoliu em seco ao perceber que seria uma das primeiras a subir ao palco, mas fechou os olhos dizendo para si mesma que tudo ficaria bem.

— Por favor aguarde junto aos outros atrás do palco, senhorita Scarboro.

Um pouco hesitante, a menina se retirou, seguindo até o espaço onde deveria aguardar sua vez. Aparentemente, cerca de metade dos participantes já estava ali, todos trocando palavras de incentivo com seus pokémons. Muitos dos monstrinhos de bolso estavam arrumados, utilizando acessórios únicos, e Sam sentiu o coração bater mais rápido ao lembrar que não trouxera qualquer tipo de adorno para sua Salandit. De qualquer jeito, preferiu libertá-la para que pudessem conversar. Apanhou uma das pokébolas em sua mochila e, ao pressionar seu botão central, um feixe de luz branca logo tomou a forma da reptiliana negra.

— Está pronta, Kahira? — indagou a jovem com um sorriso nervoso em seu rosto.

— Estou sim! — afirmou a Salandit, animada, estendendo seu bastão para o alto.

— Ótimo. — assentiu Sam, sentindo-se encorajada pela postura confiante de sua pokémon.

Então, um som agudo foi ouvido, conseguindo a atenção de todos os presentes. Sob o palco estava um homem alto e jovem, de cabelos negros curtos direcionados para cima. Ele vestia um terno e uma gravata pretos, exibindo um sorriso radiante.

— Sejam bem vindos todos! — ele começou, em um tom animado. — É muito bom tê-los aqui hoje, neste grande evento. Sem mais delongas, estaremos dando início ao décimo quarto Contest de Striaton! — uma salva de palmas foi ouvida antes que o homem prosseguisse: — Gostaria de chamar ao palco Justine Edwards e sua bela Glameow, Savannah!

Com isso, o apresentador retirou-se do palco, dando espaço a uma menina de cabelos loiros cacheados, trajando um vestido violeta e salto alto. Ao seu lado, estava uma espécie de gata, de pelos majoritariamente cinzas e uma longa cauda enrolada.

Diferente de Kahira, que observava atentamente os movimentos daqueles que se apresentavam antes para analisá-los e tentar aprender com eles, Sam não prestou muita atenção. Seus olhos estavam focados no palco, mas sua mente estava em outro lugar. De tanto nervosismo, chegava a estar paralisada, sua respiração ofegante e seus batimentos agitados. Ela tentava se confortar, dizendo para si mesma que havia treinado e se sairia bem. Porém, ao mesmo tempo, como poderia estar preparada para participar de uma competição sobre a qual pouco sabia a respeito?

Mas ela não precisava ganhar.

E, ao pensar naquilo, sua tensão esvaiu-se por completo. Ela não estava ali pela competição, mas sim pela diversão e para fortalecer os laços com seus pokémons, queria construir momentos dos quais se lembraria para sempre. Talvez por isso todos os outros participantes parecessem tão calmos.

— Err, tudo bem, Sam? — indagou a Salandit, com um semblante confuso, virando-se para sua treinadora que sorria incondicionalmente e fitava o nada. Minutos atrás, ela não parecia tão séria e inquieta?

— Tudo ótimo. — respondeu a garota, observando o terceiro coordenador retirar-se do palco. Levantou-se antes mesmo de ouvir o apresentador lhe chamar.

— Mais uma belíssima apresentação! — aplaudia o homem, junto ao resto da platéia. — Agora, por favor, recebam Samantha e sua Salandit, Kahira!

A garota de peculiares cabelos brancos respirou fundo, subindo os poucos degraus que a levariam ao palco. O chão parecia despreparado, mas se mostrara resistente o suficiente para aguentar os ataques dos participantes anteriores - ou, pelo menos, era isso que Sam achava, já que não conseguira prestar muita atenção nas outras apresentações.

A menina encarou a pequena multidão à sua frente com certo nervosismo; nunca tivera medo de palco, mas não estava acostumada com tantos olhares voltados à ela. Além disso, a situação lhe era um pouco estranha, já que passara o último mês se escondendo de tudo e todos. Após analisar a plateia por alguns segundos, encontrou os sorrisos reconfortantes de Amy e Caroline, colocadas uma ao lado da outra um pouco mais à esquerda do tumulto. Sentiu-se mais segura e preparada, virando-se para sua Salandit e observando a mesma assentir, determinada e confiante. De certa forma, a postura da pokémon tranquilizou-a: se Kahira, que seria o centro das atenções durante toda a apresentação, não estava tensa, por que ela deveria estar? Sem hesitar um minuto mais, deu um passo à frente.

— Kahira, vamos mostrar o que sabemos fazer. — sussurrou a menina para que apenas a Salandit escutasse, antes de aumentar seu tom de voz. — Fire Dance!

A Salandit respirou fundo por um momento antes de executar a combinação que treinara com Sam. Estufou seu peito, disparando brasas alaranjadas contra ambas as extremidade de seu bastão de madeira, o qual havia preparado antes com uma solução anti-inflamante para que não queimasse por completo. Em seguida, começou a manusear o objeto flamejante com destreza, como um malabarista. Girou-o com uma das mãos, passando para a outra e, em seguida, utilizou as duas para movimentá-lo sobre o topo de sua cabeça. Em seguida, sem deixar de rodopiar o bastão, disparou uma rajada de brasas contra o chão, sendo impulsionada para cima. Deu uma cambalhota no ar, arrancando alguns suspiros maravilhados da plateia ao cair com as patas dianteiras sobre o palco. A reptiliana ouviu assobios e aplausos quando, ainda plantando bananeira, começou a manobrar o bastão flamejante com suas patas traseiras e cauda. 

Apesar de ter treinado a performance com Kahira durante a última semana, Sam ainda se maravilhava com os movimentos rápidos e delicados da pokémon. Observar as chamas desenhando no ar como um pincel era extremamente fascinante, e exigia muita coordenação e maestria da Salandit. A menina estava tão encantada com o espetáculo que quase se esqueceu de dar continuação ao mesmo.

— Agora, Poison Fang! — Sam comandou, concentrando-se mais uma vez.

Com sua poderosa cauda, Kahira arremessou o bastão flamejante ao ar, colocando-se de cabeça para cima em um pulo ágil, apanhando o objeto novamente enquanto este caía. Em seguida, abriu sua boca, mostrando todos os seus dentes afiados. Suas presas dianteiras estavam envoltas por uma aura roxa e, quando a pokémon aproximou de sua boca uma das extremidades em chamas do bastão, o fogo refletiu a luz, adquirindo uma bela coloração arroxeada. Em seguida, a pokémon engoliu as chamas com um movimento rápido, arrancando suspiros de choque da plateia. Repetiu o processo com a outra ponta, extinguindo completamente as chamas que antes dançavam em seu bastão.

Àquela altura, a plateia já havia vivenciado diferentes emoções, assim como a garota planejara: admiração, quando a Salandit manejava as chamas com destreza; surpresa, quando a mesma virou-se de ponta cabeça; choque, quando ela ingeriu as chamas bravamente. Chegava a hora de finalizar.

Os olhos castanho-amarelados de Sam brilharam e um sorriso enorme iluminou seu rosto enquanto a garota ouvia a plateia vibrar ao assistir à sua apresentação. Tudo estava dando certo e saíra exatamente como planejado, senão melhor. Tornou sua atenção para a Salandit à sua frente, que exibia um sorriso tão radiante quanto o seu próprio. Em um misto de felicidade e emoção, quase como aquele que se podia observar durante uma batalha; porém, com uma pitada a mais de orgulho e um pouco menos de fúria. A menina certamente gostaria de participar de outros Contests futuramente, e tinha certeza que Kahira concordaria.

— Vamos finalizar. — Sam sussurrou, esperando sua pokémon assentir para que pudesse elevar novamente seu tom de voz, permitindo que a plateia a ouvisse. — Fireworks!

Após tantos treinos, Kahira já havia memorizado todos os combos e como deveria realizá-los. Assim, ao ouvir o comando de sua treinadora, começou a preparar um de seus movimentos. A reptiliana estufou o peito, concentrando seu poder, antes de abrir a boca e disparar uma corrente de fumaça, pausadamente. Fechando e abrindo sua boca, a Salandit criou cinco nuvens de fumaça tóxica que flutuavam cerca de dois metros acima de sua cabeça. Em seguida, ela deixou que o calor subisse por sua garganta, disparando algumas brasas contra cada uma das nuvens de fumaça.

Ao entrar em contato com as chamas, o gás tóxico entrava em combustão, criando uma pequena explosão. Por ter uma coloração arroxeada, a fumaça liberava partículas púrpura ao explodir, caindo como purpurina sobre o palco. O processo se repetiu para cada uma das cinco nuvens e, ao fim, havia uma chuva de purpurina roxa caindo sobre Sam e sua Salandit.

Com o fim do belo espetáculo, a plateia não hesitou ao bater palmas e assobiar, fazendo uma arruaça enquanto emitiam sons irreconhecíveis, glorificando a menina e sua pokémon. E, agora, a jovem de cabelos brancos não mais sentia qualquer emoção ruim; tinha apenas felicidade e orgulho, tanto de si quanto de Kahira. A reptiliana, por sua vez, exibia um sorriso quase tão grande quanto o de sua treinadora.

Inicialmente, a Salandit não acreditava que torneios poderiam ser emocionantes, mas sua opinião sobre as magníficas apresentações certamente havia mudado. Estar no palco, ser o centro dos olhares, os sentimentos que a invadiam ao movimentar-se; era tudo muito semelhante à uma batalha, porém, ninguém se feria.

Após alguns segundos, Sam e Kahira se alinharam, fazendo uma pequena reverência antes de se virarem de costas e descerem as poucas escadas. Receberam um sorriso caloroso do apresentador, que tomou seu lugar ao centro para elogiar suas belas combinações e anunciar a participante seguinte.

A menina tentou abrir caminho por entre as pessoas que assistiam a apresentação seguinte, as quais lhe lançavam olhares reconfortantes - estava estampado seus rostos que a apresentação da Salandit lhes havia agradado. Sam e Kahira não demoraram muito para chegar à Caroline e Amy, que possuíam expressões entusiasmadas.

Olhando ao redor, percebeu que as amigas haviam liberto seus pokémons também. Fire e Leroy estavam ao lado da mesa de guloseimas, o Ponyta parecia bronquear a lontra caramelo que teimava em tentar colocar comida demais em sua boca. Até mesmo Augustus, o novo membro do time da garota de cabelos negros, estava socializando com os outros pokémons. Já Kairi treinava alguns golpes de luta junto à Iki, seu mais recente companheiro de time; o Totodile era ágil e conseguia se esquivar de grande parte dos ataques da Riolu.

— Você foi incrível, Sam! — Amy foi a primeira a fazer um comentário, aproximando-se da amiga e apertando suas mãos em um gesto de incentivo.

— É verdade. Os movimentos de Kahira foram muito bem pensados e executados. — Caroline afirmou, participando da conversa.

Nenhuma das duas, nem mesmo seus pokémons, haviam visto os treinos da apresentação da Salandit, seja por estarem concentradas demais em seu próprio treinamento ou por deixar o Dreamyard mais cedo. Também não esperavam que a jovem de cabelos brancos, com pouca experiência, pudesse se destacar entre os outros participantes. Nem mesmo a própria Sam acreditava no que havia feito. Porém, após muito esforço e treino, ela havia conseguido.

— Muito obrigada. — a garota respondeu, com um enorme sorriso em seu rosto. Em seguida, virou sua atenção para Kahira, que parecia também incrivelmente alegre e orgulhosa. A pokémon relatava tudo o que fizera para Leroy, como se este não estivesse presente no momento de sua apresentação.

As três continuaram a conversar, ocasionalmente observando uma ou outra apresentação que se mostrava mais interessante do que a maioria das outras. O sol começava a se pôr, conferindo ao céu antes azul uma coloração violeta mesclada com laranja. Aquela tarde havia sido especialmente agradável, principalmente para Sam. Era comum para as três, no entanto, que seus últimos dias haviam sido melhores do que o esperado: haviam derrotado seu primeiro Ginásio, superado diversos obstáculos e, naquele momento, sentiam-se invencíveis. Era como se já fossem fortes o suficiente para destruir qualquer um em seu caminho. Porém, longe de todas as suas preocupações, nem se lembravam de seu objetivo de derrotar o governo e fazer com que o mundo fosse como antes. Afinal, sentiam-se livres.

Após cerca de vinte minutos e diversas outras apresentações, de pokémons dos mais variados tipos e habilidades, finalmente chegara a hora de anunciar os três primeiros colocados. Era aquele o momento pelo qual Sam ansiava. O apresentador retornou ao palco, carregando um pequeno envelope em suas mãos, após passar algum tempo na mesa dos jurados. Ele pediu por silêncio e, ao observar a plateia se calar educadamente, prosseguiu:

— Participante e espectadores… — ele começou, com um grande sorriso em seu rosto enquanto segurava com firmeza o microfone. — … Após todas as belíssimas apresentações, nosso querido júri discutiu até chegar a uma conclusão final. — todos os presentes permaneceram em silêncio, aflitos. — Sem mais delongas, estes são os vencedores desta tarde! — o homem abriu lentamente o envelope, criando suspense.

— Boa sorte. — Amy suspirou baixinho para a garota de cabelos brancos ao seu lado, e esta apenas retribuiu com um sorriso nervoso. Sua perna direita tremia, algo que somente ocorria em seus maiores momentos de tensão. 

— Em primeiro lugar, Janette Johnson e Mia, sua Pachirisu! — o apresentador aplaudiu, sendo seguido pela plateia.

No meio da multidão, uma morena de cabelos negros levou as mãos ao rosto enquanto lágrimas de felicidade ameaçavam escorrer. Em seu ombro, estava um pokémon muito semelhante a um esquilo, de corpo majoritariamente branco. Ele vestia um ao redor de seu pescoço um laço turquesa quase desproporcional ao seu tamanho, combinando com o vestido perolado de sua treinadora. Juntas, elas fizeram seu caminho até o palco, sorrindo incondicionalmente e agradecendo.

— E, em segundo lugar, Lucas Gauthier e seu Dragonair! — o homem de terno chamou ao palco o segundo vencedor.

Ao ouvir seu nome, um garoto de cabelos loiros abriu um sorriso radiante. Ele aparentava orgulho e animação, embora não tanto quanto a primeira colocada. Enrolando-se em seu corpo estava uma espécie de cobra azulada, com o rosto e peito brancos. Ambos exploraram um lado menos extravagante de sua forma de se vestir: o rapaz usava um terno azul e, seu pokémon, uma gravata borboleta prateada. Os dois caminharam até o pódio improvisado no palco, recebendo aplausos calorosos da plateia.

Àquela altura, Sam já pedia suas esperanças de se classificar. Sabia que havia feito um bom trabalho com Kahira, porém, seria aquilo o suficiente? Muitos outros participantes haviam preparado uma ótima combinação de movimentos e a garota de cabelos brancos começava a acreditar que não seria páreo para os outros concorrentes. Ela se sentia levemente desapontada, embora não entendesse o porquê: seu objetivo nunca fora vencer. Além disso, ela havia se divertido muito junto à Kahira. Quando começou a pensar por aquele lado, sua tensão e tristeza se esvaíram por completo. Treinar com sua Salandit havia fortalecido seus laços e as duas já estavam muito próximas, mesmo que se conhecessem por menos de um mês. Independente do resultado final, Sam estava alegre por ter participado.

— E, em terceiro lugar, temos… — novamente, o apresentador fez uma pequena pausa, aumentando o suspense intencionalmente antes de continuar: — Samantha Scarboro e Kahira, a Salandit!

Ao ouvir o nome da última colocada, a plateia tornou a aplaudir e assobiar, comemorando de forma barulhenta. Para Sam, porém, estava tudo silencioso, como se o tempo houvesse parado. Seus olhos castanho-amarelados se arregalaram e ela precisou piscar algumas vezes para assimilar que, mesmo não conquistando o primeiro lugar, havia sido julgada como uma dos três melhores participantes. Ela estava perplexa; não acreditava que conseguiria algo logo em sua primeira apresentação, mas parecia que havia sucedido. A menina de cabelos brancos precisou de um leve empurrão das amigas para retornar à realidade, caminhando inexpressiva ao lado de uma Kahira extremamente feliz, atravessando a multidão. Muitas das pessoas elogiavam-na, congratulando-a, embora Sam mal fosse capaz de entender o que acontecia.

A jovem apenas deu por si quando finalmente encontrava-se em sua posição no pódio, com sua Salandit alegre a seus pés, movimentando habilmente seu bastão de madeira. Naquele momento, Sam assimilou o que ocorria e não pode evitar o sorriso que se formou em seu rosto. Observou as expressões felizes dos espectadores admirados à sua frente, enquanto era banhada por confetes de diversas cores. O apresentador parabenizou-a, como fez com os outros, entregando-lhe uma fita azul de listras brancas e uma pequena quantia de dinheiro: aparentava ser em torno de cem dólares, mas a garota estava alegre demais para conferir.

Um pouco mais afastadas da aglomeração de pessoas barulhentas, Amy e Caroline também comemoravam a classificação da amiga, batendo palmas e sorrindo. Mesmo que tivessem passado pouco tempo juntas até então, as três já haviam criado um certo laço. Talvez devido às situações complicadas que enfrentaram ou pelo simples fato de terem percebido que a união as fazia, de fato, mais fortes.

Próximos às duas garotas, seus pokémons continuavam a conversar, fitando o palco ocasionalmente para manterem-se informados sobre o que ocorria. Após um desafio, agora Kairi treinava junto à Leroy, enquanto Iki apenas observava. O pequeno Totodile parecia ser extremamente tímido, talvez por não conseguir se comunicar com palavras. Firestarter ficou ao seu lado, como que para fazer-lhe companhia, mas preferiu não perturbá-lo.

A lontrinha caramelo parecia ter certa dificuldade para acompanhar a sequência de golpes da chacal azul, devido à sua variedade de golpes diretos e grande agilidade. Ele arfava, concentrando-se ao máximo para não ser atingido.

— Eu disse… Que não conseguiria… Me vencer! — exclamou pausadamente o Buizel entre chutes e socos.

— Ora, seu… — a Riolu rosnou, visivelmente irritada. — Eu posso te vencer a qualquer hora! — afirmou, aumentando consideravelmente a velocidade de suas sequências, ignorando momentaneamente seu cansaço.

Ao observar Kairi rodopiar para lhe acertar um chute giratório, Leroy viu como sua única escapatória agarrar a perna da pokémon com sua cauda de duas pontas. Daquele modo, conseguiu derrubá-la mas, por ser extremamente desastrado, acabou tropeçando em seu próprio pé e caiu sobre a chacal.

De imediato, Kairi arregalou os olhos e seu coração começou a bater mais rápido. Suas bochechas ficaram levemente rosadas, demonstrando que estava constrangida com a situação. Leroy, por outro lado, após perder o ar por breves segundos, rapidamente teve sua expressão surpresa tomada por um sorriso brincalhão. O gesto não pareceu agradar muito a Riolu.

— Eu disse. — o Buizel afirmou mais uma vez. — Você não consegue me vencer.

Kairi foi tomada por raiva imediatamente, desconfortável pelo peso do outro pokémon sobre si, e não hesitou em empurrá-lo brutalmente para o lado.

— Sai de cima de mim! — ela rosnou. — Eu vou acabar com você agora! — proferiu, levantando seu punho uma vez mais e finalmente acertando um soco no rosto do Buizel, que ficou um pouco zonzo e momentaneamente desorientado.

— Ei ei, gente, já chega! — Fire aproximou-se, tentando evitar que um desastre acontecesse ao perceber que Kairi parecia pronta para continuar a atacar o pokémon caído.

— Ele que se jogou em cima de mim! — reclamou a Riolu. — Controle seu companheiro de time! — exclamou, irritada.

— O que? Você estava tentando me assassinar e… — defendeu-se a lontra caramelo, tirando a poeira de seu corpo ao levantar. Estava prestes a continuar seus argumentos, quando foi interrompido pelo Ponyta.

— Quietos! — o cavalo pediu, girando suas orelhas de um lado para o outro.

— O que houve? — perguntou o Meowth assustado, escondendo-se atrás das patas do Ponyta, mas sem receber uma resposta.

Leroy não estava acostumado com tal grosseria por parte do companheiro, mas conhecia a mudança de postura de Fire e não hesitou em calar-se, como lhe fora pedido. Kairi fez o mesmo, meio à contragosto, mais por curiosidade do que por submissão.

Ao longe, o Ponyta Shiny encontrou algo curioso, após ouvir alguns sons de estalo e de corte de ligação de rádio. Com ajuda de sua audição aguçada, não demorou para deparar-se com a origem dos sons; ao topo de um dos baixos morros que cercavam a clareira, estava uma mulher peculiar. Esta se vestia completamente de preto, incluindo um gorro que vestia em sua cabeça. Possuia a pele clara e cabelos dourados, presos em uma trança. No entanto, o que mais chamou a atenção do cavalo foi o objeto que a mulher carregava; era algo familiar, mas não conseguia se lembrar corretamente onde o vira - apenas sabia que não era bom. E, preocupado, seguiu a linha invisível, encontrando para onde o fino e longo cano preto entre as mãos da mulher apontava.
Caroline.

— Care! — o Ponyta não precisou pensar duas vezes antes de correr em direção à sua treinadora.

— Fire? — a menina virou-se calmamente, estranhando o comportamento do companheiro.

Então, um alto barulho foi ouvido e a garota de cabelos negros finalmente compreendeu do que a situação se tratava. Virou-se para a frente, arregalando os olhos ao deparar-se com uma bala voando em sua direção. Fechou os olhos instintivamente, nem ao menos tendo tempo para ficar com medo. Apenas esperou que sua morte fosse rápida.

Mas ela não chegou.

Assustada, a jovem pensou que pudesse estar apenas delirando. Porém, ao reabrir seus olhos, percebeu que tudo era real. Aos seus pés, encontrou uma trilha de líquido vermelho vivo. Ao segui-la com os olhos, deparou-se com seu melhor amigo caído, só então percebendo de onde o sangue escorria.

E desesperou-se.