Contos Olimpianos escrita por Marquesita M


Capítulo 2
Fim do Mundo




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 Após Gaia e um pouco antes da punição de Apollo

          Se Annabeth não tivesse lutado contra dois possíveis fins do mundo, ela teria certeza que estava participando de um novo tipo de apocalipse Olimpiano. Sendo filha de Athena, era natural que adorasse saber das coisas, mas em apenas uma semana tinha descoberto que sua mãe e Ares eram bem próximos um do outro, como verdadeiros irmãos (que adoravam brigar, mas que se defendiam e se preocupavam um com o outro). Descobriu que sua mãe adorava Dionísio e que saia para beber com ele sempre que podia, antes do mesmo receber a punição. Até aí estava tudo bem, Annabeth podia processar essas informações tranquilamente, só que ela definitivamente não estava preparada para perceber que Athena e Poseidon tinham se tornado...bom, amigos não parecia definir tudo, ou soava forçado demais ou fraco demais, como se não existisse palavra para definir o que aqueles dois Deuses eram agora. E a garota não conseguia entender como não tinha juntado todos os sinais antes.

          Desde a guerra contra os gigantes ela notou algumas mudanças, que descartou e pensou que fossem coisas de sua cabeça, mas devia ter sido mais mente aberta, pois qualquer alteração que vinha de sua mãe era sempre algo para se considerar. Annabeth sentou ao lado do templo que estava construindo no Olimpo e analisou as memórias em sua cabeça, todas que envolviam Poseidon, Athena e um pós-guerra complicado que enfrentaram. E se perguntou, novamente, como pode ter sido tão cega em relação a isso ao perceber que algumas coisas já estavam acontecendo desde Cronos, logo quando eles todos foram ao Olimpo depois do problema com Atlas.

          A semideusa tinha notado os olhares, que antes continham certa indiferença, e que começaram a se tornar mais calorosos e demorados, eram intensos demais. Eles nunca desviavam o olhar por vontade própria, sustentavam o máximo que conseguiam. Notou que seu sogro adorava observar sua mãe, isso desde sempre, porém agora não continha irritação e sim curiosidade, e a Deusa da Sabedoria fazia o mesmo com ele. E eles não discutiam tanto assim por qualquer coisa, raras foram as vezes que, após Gaia, eles dois tiveram alguma briga séria durante os conselhos que os semideuses estavam presentes. E agora eles saiam juntos para o mundo mortal, como se fosse a coisa mais natural do mundo, voltavam tarde para o Olimpo (isso foi o que escutou de duas ninfas) e isso era algo que estava se tornando cada vez mais constante. E uma das coisas mais curiosas era sobre o contato físico, Athena não era muito de tocar em pessoas e ela não tinha nenhum problema com isso quando se tratava do Deus do Mar. Em uma das raras ocasiões que tinha visto os dois juntos, pois eles não ficavam muito perto um do outro quando Zeus estava presente, viu que Athena e Poseidon conversavam com muita proximidade e ela segurava firmemente no braço dele, porém o Deus dos Mares não parecia se importar nem um pouco, já que se aproximou ainda mais dela.

          Era demais para ela. Demais para apenas uma semana de trabalho entre os deuses. E mesmo assim, quando viu Apollo, uma das pessoas mais fofoqueiras daquele lugar e que com toda a certeza sabia de algo, Annabeth não resistiu em ir até ele para lhe perguntar o que estava acontecendo com sua mãe e com o pai de seu namorado.

— Lorde Apollo, posso te fazer uma pergunta? - O Deus sorriu para ela com aquele ar brincalhão e com dentes perfeitos, parecia que iria fazer uma piada a qualquer instante. As vezes ela se perguntava se ele era realmente gêmeo de Ártemis. - Preciso que seja sincero comigo.

— Mas é claro! É estranho ter uma filha de Athena me fazendo perguntas, geralmente eu que fico enchendo o saco da minha irmãzona com coisas bestas. - E era verdade, desde que começou a ser a arquiteta do Olimpo, Annie percebeu que o Deus do Sol adorava provocar suas irmãs, parecia ser sua maior diversão. - E prometo ser o mais sincero possível.

— O que está acontecendo entre minha mãe e Lorde Poseidon? Por que eles não estão do jeito que sempre foram?

          A expressão dele ficou séria e ele olhou para os lados, depois a guiou para o próprio templo e indicou para que ela se sentasse em uma das poltronas douradas. Agora ela super conseguia enxergar a semelhança com a Deusa da Caça.

— Olha, foi muito difícil para sua mãe durante a guerra. Muito difícil mesmo. Ela não sabia quem era, suas memórias iam e voltavam, ela sentia uma tremenda dor de cabeça o tempo todo e eu não consegui fazer nada para ajudá-la. Nem Asclépio. E ela começou a ficar fora de si. Era como se tivesse duas Deusas em um só corpo, uma completamente racional e a outra cega pela raiva. Até chamamos Dionísio para ajudar, mas ele também não conseguiu. Aí Athena escapou do Olimpo, com aquele negócio todo da Marca e nós, os mais próximos dela, bolamos um plano para trazê-la de volta. O plano não deu certo e Zeus ficou ainda mais irritado, achou que os gigantes tinham sequestrado ela. Nisso Poseidon também escapou e quando voltou, estava com Athena. - Apollo suspirou e fechou os olhos, se recordando de alguma coisa desagradável. - Meu pai diz que a culpa foi minha por a guerra ter acontecido desse jeito, ainda não decidiu qual vai ser minha punição, mas a culpa foi dele. Athena já tinha avisado que os titãs eram só o começo e que ainda ia vir coisa pior, só que ele não acreditou. Poucos de nós acreditaram. E ela estava certa, como sempre. Poseidon ficou do lado dela o tempo todo, ajudou minha irmã a se recuperar dessa coisa das personalidades e ela o ajudou a não enlouquecer enquanto estava trancafiado aqui, nisso eles dois se tornaram extremamente próximos.

          Annabeth sabia que sua mãe tinha ficado mal com aquilo tudo, só não sabia que tinha sido tão ruim assim ao ponto dela aceitar ajuda de Poseidon. Se lembrava bem do dia em que ganhou a Marca, em como as personalidades pareciam lutar e que Athena estava tão perdida e distraída ao ponto de achar que Odisseu seria o único capaz de ajudá-la a encontrar o caminho para casa. E ficou um tanto quanto irritada com Zeus, qual era o motivo dele ter uma Deusa da Sabedoria e Estratégia sendo que não a escutava? Ficou mais raivosa ainda ao perceber que talvez tudo fosse diferente caso ele tivesse permitido que os Deuses tivessem contato com os acampamentos e com seus filhos, iam ter evitado coisas que causaram sérios danos durante as duas guerras.

— E ela disse alguma coisa quando voltou?

— Disse que se sentia tonta, fraca e que sua cabeça estava prestes a explodir de tanta dor. Quase perguntei se ela estava grávida de novo. Poseidon estava extremamente preocupado, até pensei que Ares tinha se disfarçado para ir buscar nossa irmã, mas aquele lá era realmente o Poseidon. Eu achei que essa trégua entre os dois ia acabar depois que tudo voltasse ao normal, sabe? Estou surpreso com essa mudança neles.

— Obrigada, Lorde Apollo! E eu realmente espero que você não seja punido! - Annabeth viu uma sombra de dor passar pelo rosto do Deus do Sol, porém ela sumiu rapidamente e isso a deixou preocupada. - Você não merece isso, se algumas pessoas tivessem escutado minha mãe e deixado ela bolar um plano, muita coisa teria sido evitada. Isso definitivamente não é sua culpa.

          O que ela realmente queria dizer era "Isso é culpa de um líder idiota que acha que é a criatura divina mais poderosa do mundo, mas está com amnésia e esquece de Deuses Primordiais e Titãs. Esse líder também esquece que sua filha favorita é a personificação da inteligência e ele nunca escuta o que ela tem para dizer"só que preferiu ficar calada, aquele não era um bom dia para morrer pelas mãos do Rei dos Deuses e Annabeth tinha a impressão que Apollo conseguiu ler seus olhos muito bem, pois deu um sorriso tranquilizador e se levantou.

— Obrigado! Eu só posso esperar que não seja também, porque rezar realmente não vai adiantar em nada.

          Ele desapareceu em chamas douradas e a semideusa saiu do templo um tanto desnorteada. Tinha julgado sua mãe terrivelmente, mesmo sabendo que Athena e Minerva eram extremamente diferentes em muitos aspectos e que Minerva foi a personalidade que a mandou atrás da estátua, ela ainda não tinha perdoado totalmente o que lhe aconteceu e mesmo sabendo da verdade, não sabia se um dia iria voltar a olhar para sua mãe como antes. Ou até mesmo para Zeus, que tinha complicado a vida de grande parte dos heróis ao não dar ouvidos para aqueles que diziam ou avisavam que certas forças do mal iriam retornar. Mas isso não vinha ao caso agora, precisava saber mais da natureza desse tão estranho relacionamento e o que se tornaria. Será que continuariam apenas amigos e rivais? E isso existe? Como dois Deuses conseguem ser amigos e rivais ao mesmo tempo, sendo que lembram de cada coisa detalhadamente? Bom, ao menos sua mãe lembrava. Se Annie perguntasse qual era a cor da roupa que Poseidon usava no dia em que eles brigaram pela primeira vez, Athena responderia com a melhor facilidade e com detalhes precisos. E uma das coisas que mais preocupavam Annabeth era Anfitritie, a esposa do Deus do Mar era tão temperamental quanto ele e provavelmente ainda não sabia sobre nada disso. Claro que ela não podia e não conseguiria fazer alguma coisa contra Athena pessoalmente, porém podia falar com que alguém para tentar estragar isso, como Zeus, que estava voltando a ficar paranóico com tudo e todos. Ele não ia deixar sua favorita virar amiga de seu irmão.

          Annabeth suspirou, nunca foi parar para pensar na vida dos Deuses e vendo de perto, chegou a conclusão de que nunca queria ser uma. Os semideuses tinham missões e tudo mais, muitas vezes morriam cedo, mas eles tinham liberdade para muitas coisas que os Olimpianos não tinham. Eles escolhiam seus amigos, não sofriam com a vida eterna de tarefas ou com pais que lhes punissem e controlassem o tempo todo. Athena já a controlou em algumas ocasiões e mesmo assim, apesar de não aprovar sua amizade e depois romance com Percy, ela permitiu que os dois ficassem juntos tranquilamente. Claro que ela já teve conversas sérias com Percy sobre isso, ameaçando acabar com ele caso sua filha saísse magoada, mas fora isso ela nunca os atrapalhou. Annabeth tinha certeza que Zeus não era assim, ao menos não quando estava se sentindo ameaçado por algo ou alguém, ele ficava com a cabeça nublada pelo medo de perder o Olimpo. Parecia ser o tipo de pai que fazia de menos e exigia demais, bem típico de todos os Deuses.

          Ela queria mais respostas e ao mesmo tempo estava esgotada demais para procurá-las. Decidiu que iria embora, queria compartilhar aquilo com seu namorado e perguntar se Sally talvez se lembrasse de alguma coisa da época que namorava Poseidon, se alguma vez ele tinha citado sua mãe. Podia perguntar ao seu pai também para ver se Athena já lhe falou sobre o Deus, só que tinha medo de magoá-lo, pois ele admitiu que ainda amava e que nunca foi capaz de esquecer a mulher que tanto lhe ajudou.

          Enquanto saia do Olimpo e passava por uma cafeteria que parecia ser bem grande e um tanto vazia, Annabeth os viu. Eles estavam voltando para o lugar que ela tinha acabado de sair e andavam lado a lado, como se fizessem aquele mesmo caminho todo dia, só que aparentemente tinham acabado de se encontrar e tiveram todo o cuidado para não demonstrarem tanto afeto assim. Será que sabiam que ela estava lá, os observando do outro lado? Era bem possível, nada escapava dos olhos de Athena. Esse ritual todo parecia uma rotina bem programada e pontual, o que era ainda mais estranho. Poseidon não era pontual e Zeus já tinha deixado isso claro em várias ocasiões.

Annabeth chacoalhou a cabeça e saiu correndo para o apartamento dos Jackson, assustando Percy o suficiente para ele achar que tinha um exército de monstros a caminho.

— Annie, o que aconteceu?!

— Acho que estamos vivendo outro fim do mundo! 

— Tem monstros vindo? - Ela o empurrou para dentro - Como assim?! Que tipo de fim do mundo?

— O tipo "Athena e Poseidon viraram amigos" fim do mundo! Eu tenho MUITA coisa para te contar, cabeça de alga! Você sabia que eles dois andam saindo juntos pelo mundo mortal o tempo todo?! 

 


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