TRINDADE Jilytober 2020 escrita por Jú M


Capítulo 3
A idade do Pôr-do-Sol


Notas iniciais do capítulo

SINOPSE: E se Lilian Evans, James Potter e os seus amigos, tivessem sobrevivido a 1º e a 2º Guerra Bruxa, conseguindo chegar na terceira idade? Como seriam eles velhinhos e de cabelos brancos?



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— Ah, não. James!

— O que foi, amorzinho?

— Nada de amorzinho, sr. Potter.

— Ih. Qual a reclamação dessa vez, sra. Potter?

— Reclamação nada! Eu chamo de prestação de contas. Quer me deixar descer essa escada sozinha, vê se pode! Nem uma ajudinha…

Lilian Evans Potter, enquanto resmungava, estava parada no meio da escada que levava do primeiro, para o segundo andar da casa. Ela percebeu com o passar dos anos que, quanto mais velha ficava, mais reclamações tinha para fazer e a maioria delas envolviam o seu marido.

É, com certeza o seu passamento preferido envolvia encher o saco de James Potter.

Não porque Lily ficava brava de verdade. Longe disso. Na verdade, a maior parte das suas reclamações não eram sérias. Por exemplo, por mais que o tempo estivesse cobrando caro e suas costas não fossem mais as mesmas de 20 anos atrás, Lilian ainda poderia contar com a ajuda do corrimão para descer um simples lance de escada.

Só que reclamar em voz alta era muito mais divertido, porque desse jeito lá vinha James, todo bonitão na sua direção – sim, ainda um gatinho mesmo com os seus 73 anos, pensava Lily – e estendendo um braço para a esposa. Dessa maneira, o casal descia junto as escadas, em meio a cochichos e risinhos como se ainda fossem adolescentes.

— Parem de ser fofos desse jeito. Vou processar vocês — dizia Sirius Black, de brincadeira.

— Quanto amor, Almofadinhas.

— Todo amor do mundo, Pontas.

Mesmo depois de todos aquele anos, os apelidos da infância permaneceram para toda uma vida. Certo, Peter havia morrido durante a 2° guerra bruxa – depois de ter entregado Frank e Alice Longbottom para o inimigo, o casal que morreu nas mãos de Voldemort. O filho, Neville, foi marcado como o garoto da profecia na mesma noite.

Mas não houve um único segundo em que os três restantes dos Marotos deixaram de se apoiar. Lutaram lado a lado em cada batalha, em cada missão e em cada plano. Permaneceram juntos durantes anos e por muito tempo, perguntaram-se qual havia sido o milagre que permitiram a eles, chegarem juntos na idade em que estavam.

Sirius dizia que possuiu dois grandes amores na sua vida. Marlene McKinnon, mas ela morreu anos atrás. E Remus Lupin, mas ele casou-se com outra pessoa. Ainda assim, Sirius nunca sentiu que estava sozinho. Nem por um instante.

Ele ainda chamava Lily de ruiva, mesmo quando ela teimava falando que não merecia mais esse posto, que essa era uma fase que deixou para trás. James costumava frisar que os cabelos agora brancos da esposa realçavam os seus olhos verdes.

Nas tarde de domingo, Lilian sentava na varanda de casa, na sua cadeira de balanço e com um livro no colo. Sua visão não era mais tão boa quanto um dia foi, então só virava as páginas procurando as antigas sensações de quando era jovem. Seus momentos preferidos envolviam quando James chegava com duas xícaras de café, beijava a testa de Lily e oferecia um dos cafés a ela.

Os dois sentavam um ao lado do outro e observavam o Sol se pôr, pensavam muito na vida que viveram, mas acima de tudo, sentiam-se gratos. Foi uma vida bonita, no fim.

Eram gratos quando, às vezes, Sirius se juntava a eles, com a sua tagarelice que nunca morreu e o seu jeitinho engraçado de ser. Eram gratos quando Remus aparecia, o sorriso tranquilizador e o mais disposto de todos, ainda jovial no olhar, com a esposa Nymphadora Tonks.

As risadas e conversas vinham com uma facilidade assustadora (do jeito bom) e sempre eram bem-vindas. James era incapaz de imaginar uma realidade paralela onde não terminava o dia rindo de Sirius, refletindo sobre a vida com Remus, ou com os carinhos de Lilian.

E tinham as crianças. As crianças, que a esse ponto, não eram mais crianças.

— Harry não me ligou hoje — disse Lilian uma vez, emburrada.

— Ele ligou ontem, querida.

— Ontem! Ontem foi ontem. E hoje, como ele está? Ele não quer saber como eu estou?

E James ria, achando graça. Pegava o telefone escondido e ligava para Harry, pedindo para que o filho ligasse assim que pudesse. Desse modo eles faziam, fingindo que a ligação havia sido ideia do Harry o tempo todo.

Nas tardes ensolaradas, Godric's Hollow, a cidade bruxa no sudoeste da Inglaterra e onde eles moravam, ficava banhada por uma brisa fresca e calma, acompanhada pelo barulhinho constante da cidade, vindo dos carros nas estradas, dos cachorros latindo, das crianças brincando e dos ruídos das conversas. O sino da igreja soava, anunciando as horas.

Conquistaram essa vida, pensava Lilian. Ela conquistara o direito de ter as mãos enrugadas de seu marido na sua cintura até os dois estarem grisalhos e curvados, após anos vendo seu filho crescer, ver cada fase do seu menino até ele tornar-se o homem que nasceu para ser.

Quando a porta da frente da casa abria e alguém dizia:

— Oi, sou eu. — Significava que era Harry, visitando os pais.

Lilian abria o sorriso mais bonito de todos. Era sempre assim quando ouvia a voz do seu filho. Logo mais, Harry surgia na porta da varanda, onde a ruiva – não mais ruiva – estava quase toda vez. Atrás dele, três crianças corriam pela sala.

James passava por Lilian Luna, a neta mais nova e bagunçava seus cabelos (dando balas escondido como se fosse contrabando), tentava agarrar Alvo Severo, o neto do meio, mas logo cansava e pedia para sentar e descansar. E quando James tentava abordar o seu xará e neto mais velho, James Sirius? Por Merlin.

Era engraçado escutar o James idoso tentando conversar com o James adolescente, porque grande parte da conversa envolvia o mais velho dizendo “hã?” para tudo aquilo que não entendia – o que, no caso, era bastante coisa, porque o linguajar jovem estava esquisito demais, resmungava ele.

— Na minha época não tinha esse tipo de coisa — dizia, enquanto ouvia como eram feitas as novas pegadinhas na Escola de Magia e Bruxara de Hogwarts e os novos artigos de logros e brincadeiras. — Credo, que perigoso. — E então fazia questão de acrescentar, perguntando: — Onde eu arrumo um?

Os Potters conquistaram uma vida de casa cheia. De amigos que envelheceram junto a eles. Conseguiram a chance de ver seu filho crescer, de conhecer os netos, de criar suas próprias rotinas preguiçosas num domingo à tarde, de descansar a cabeça no fim do dia sabendo que viveu plenamente. Talvez por isso há aqueles que chamam a velhice de a idade do Pôr-do-Sol. Afinal, é "um período de crescimento contínuo tão belo quanto um".

James gostava de abraçar a esposa pelos ombros, apoiar sua testa contra a dela e apenas ficar observando o rosto da mulher na sua frente por alguns minutos, como se estivesse garantindo que ia decorar cada detalhe dele até mesmo quando partissem definidamente para outro plano.

Porque diferente de outras versões suas, nesse e se...? Eles ganharam uma das dádivas mais preciosas que existem: tempo.


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