Você diz

Que acha que precisamos ir pra guerra

Bem, você já está em uma

Pois são pessoas como você

Que precisam de uma lição

Ninguém quer sua opinião

Fuck You - Lily Allen

*-*-*-*-*

     Bill é um anjo. Mesmo quando eu pus ele e o mundo contra mim, lá estava ele, como uma última corda a que eu pudesse me agarrar. Se não fosse por ele, não sei onde estaria agora.

     Durante as duas semanas que se seguiram, meus passeios com Bill se tornaram mais freqüentes. Saíamos de manhã, já que à tarde não podíamos.

     Na sexta, dia 22, decidimos ir à sorveteria, pois saiu um sol forte logo de manhã. Estávamos conversando tranquilamente quando senti uma presença desagradável. Ela veio em nossa direção. Eu não acredito que até aqui eu sou perseguida por essa garota.

     - Então, depois de tudo, você voltou ao ponto de partida... – disse Sabine, interrompendo o assunto que eu tinha com Bill.

     Fiquei quieta.

     - Não vai falar nada, Maria?

     - Estou pensando se vale a pena gastar minha saliva contigo.

     - Hn, que bonitinho. Deixa eu te falar uma coisinha... Na primeira vez que eu te vi, juro que achei que você era uma pessoa... esperta.

     - Ham? – falei me balançando nos calcanhares.

     - Falando bem a verdade, não sei se essa teoria foi confirmada ou desmentida no mesmo dia... Porque você já logo tratou de ir em cima dos gemeozinhos, não é?

     - O que você tá insinuando?

     - Deixe que eu termine. Aí você caminhou em direção ao fundo do poço, porque... bom, todo mundo sabe o que você fez...

     - Basta, não precisa ir mais longe. Eu só falo uma coisa: o que eu faço ou deixo de fazer não te diz nenhum respeito.

     - Um minuto, só alta concluir. Bom, quando você foi pro fundo do poço, e antes disso mandou os seus amiguinhos comunistas irem pastar, aí eu achei que você tinha ficado esperta. Mas não. Depois você ainda precisava voltar a se esfregar neles. Que patética essa sua necessidade de se afirmar do contra... Juro que achei, Maria, que você fosse no mínimo respeitável. É uma pena que não é isso o que eu tô v...

     (8) TAP!

     Só vi o Bill desferindo um tapa na cara da Sabine.

     - Batendo em mulher, Bill? Que covardia... – ela disse com a mão no rosto.

     - Covardia, tem certeza? Agora eu não sou mais um projeto de garotinha? Bom saber. Mas que irônico, não? Pra te dar uma bifa eu me tornei homem...

     - Não esperava isso de você... Sinceramente!

     - Escuta aqui – ele disse se aproximando dela -, você pode falar o que quiser de mim e do meu irmão, nos xingar de todos os nomes que tiver na cabeça, mas lave essa boca pra falar da Maria.

     - Por acaso essa aí é alguma santa?

     - Santa ela não é, mas pode ter certeza de que está algum nível acima de você. Porque ela não chega na cara de alguém pra falar merda de quem tá do lado. E sabe o que mais? A única pessoa patética por aqui é você, por ter esse tipo de atitude e falar do que você não sabe. Isso é ridículo. Mas se você quer tanto saber, pro seu governo não foi a Maria que me procurou. EU fui atrás dela. Mas como a própria já disse... Isso não é da sua conta. Cara, tem um buraco onde a sua alma devia estar... Faça um favor à humanidade, não fala o que você não sabe. Sai um pouco do controle, sabia? E isso realmente... é desastroso. Vam’bora, Mari.

     - Você deixa que o seu amiguinho comunista fale por você, Maria Eurídice Garcia Albuquerque Duarte? – ela falou dando ênfase aos meus nomes. – Não consegue se defender sozinha?

     Inspirei fundo.

     - Creio que o Bill já tenha terminado, então agora é a minha vez. – eu disse calmamente. – Não é do meu estilo fazer esse tipo de coisa, mas já que você faz tanta questão, Sabine Putz... Já parou pra pensar por que você tem tanta raiva de mim? Não? Eu já. Olha eu aqui. De mãos dadas com o Bill, abraçando o Bill, beijando o Bill – fiz com Bill cada um dos gestos enquanto falava; primeiro peguei-lhe a mão, depois abracei-o e por último dei-lhe um selinho. – E o que eu precisei pra ter tanta liberdade com ele? Nada muito avacalhado ou invasivo. Mas sem enrolação, vou direto ao assunto: você me odeia tanto assim porque eu consegui praticamente num estalar de dedos o que você está a... não importa quanto tempo tentando conseguir. E quase involuntariamente. Acha que eu não sei que você é vidradinha no Bill aqui desde antes ele namorar com Ina Wunder?

     - Devia tomar mais cuidado com o que você diz, Maria. Eu também sei um segredinho seu, lembra, garota de 2009?

     - O que ela quis dizer com isso, Mari? – Bill perguntou franzindo o cenho.

     - Escuta só, Bill! Vamos, Sabine, diga.

     - Quanta segurança. Então por que você mesma não fala?

     - Eu não tenho o que falar. Bom, onde estávamos...? Ah, sim, você é louca pelo Bill desde antes de ele conhecer Ina Wunder. Continuando, depois de Ina, vim eu; e finalmente descobrindo que nunca conseguiria nada com ele, passou a encher o nosso saco. Moral da história: todo o seu ódio reprimido é porque eu tenho o Bill. Conclusão: quem desdenha quer comprar. Passar bem.

     Peguei Bill pelo braço e saímos dali.

     - Bill... – comecei. A ideia era falar alguma coisa, mas não saiu nenhuma palavra.

     - Que foi?

     - Eu... Ah! – abracei-o. – Não leve a mal  que eu disse a Sabine. Ela tem raiva de mim por causa da gente, e eu precisei dar uma exagerada para fazê-la calar a boca. Como eu disse, não sou de fazer essas coisas, mas querer vir torrar a minha paciência é pedir pra ouvir o que não quer.

     - Tem razão.

     - Está ciente de que poderemos ter problemas por causa do que acabamos de fazer, não é?

     - Tô nem aí. É o que eu faço de melhor. Meu nome d meio podia ser Problema, o que você acha? Bill Problema Kaulitz. Soa bem?

     - Bill Palhaço Kaulitz fica melhor.

     - Por que “palhaço”?

     - Porque tu é muito engraçadinho.

     POV BILL

     Fui só eu que não entendi direito? A sucessão de fatos, as trocas de alfinetadas (e muito bem dadas, por sinal), ameaças, revelações confusas e uma boa dose de veneno. Eu não devia tentar entender briga de menina se não fosse eu o pomo da discórdia (e sabe que esse termo veio super a calhar?). Então eu tentei juntar as peças, mas não consegui me esclarecer muita coisa.

     Ok que ela disse que não é de fazer esse tipo de coisa, e realmente não é pelo que a conheço; mas a Mari não anda a mesma desde depois do dia 9.

     Na segunda-feira à noite, o celular tocou. Era ela.

     - Mari – disse ao atender -, tava pensando em você agora.

     - Er. Bill, eu preciso falar com você.

     - Hm, pode falar.

     - Por telefone não dá. É sério. E urgente.

     - Então... Vem aqui em casa amanhã, se você puder.

     - Ok. Já que só o que me resta a fazer é esperar. Mas me alivia já ter falado contigo... Então... até amanhã.

     Mari parecia nervosa e o seu tom de voz me deixou um pouco apreensivo. Custei a dormir pensando no que de tão urgente ela tinha pra falar.