When the night falls, the demons arise escrita por crowhime


Capítulo 3
Capítulo 3




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O sangue da youkai permitiu que Claudine se recuperasse totalmente, como esperado de um demônio. Estava cheio de poder mágico que se transformou em força para a vampira, que teve a noite mais tranquila e confortável em sua vida desde... muito tempo. Mesmo que tivesse apenas escolhido um galho na árvore ao centro do acampamento para descansar.

— Fumi-sama! Fumi-sama!

Uma voz cortou o local em tom de urgência, fazendo com que Claudine acordasse em alerta. Rapidamente, seguiu para dentro do tronco onde Fumi descansava, curiosa e mais rápido que os membros ainda sonolentos que haviam despertado com a gritaria, visto que tinha o sono leve e precisava sempre estar pronta para possíveis fugas.

— O que foi, Rui...?

O tom arrastado da líder denunciava que ela havia acabado de acordar e também estava sonolenta enquanto se sentava, voltando a atenção para a mulher que havia aparecido tempestivamente e cuja presença assustou Claudine, que de algum jeito não conseguia senti-la com seus poderes. Rui se abaixou em frente à Fumi respeitosamente.

— Fumi-sama. Os aldeões estão se organizando e planejando incendiar a floresta.

— O quê?!

Fumi, agora totalmente desperta, foi tomada pela indignação ao se levantar e dirigir-se para Rui.

— Impossível! — riu descrente — Eles não chegariam tão perto da floresta! Tem certeza disso, Rui?

Ela franziu de leve as sobrancelhas, como se estivesse ofendida – difícil dizer, pois sua expressão era quase imutável.

— Sim, Fumi-sama. Agora mesmo eles estão se preparando com armas e tochas e planejam marchar em direção ao centro da floresta para incendiá-la.

— Não pode ser... — caiu sentada em meio às almofadas com uma ruga de preocupação se formando na testa. — Por que isso?

— Esperem — Claudine interrompeu. — O acampamento não é protegido por magia? Então eles não vão conseguir chegar aqui, não é?

O sorriso que exibiu foi forçado, o que dizia era mais uma esperança que tinha do que uma certeza. Em resposta, a líder bufou, massageando as têmporas, e ela não precisava falar nada para que a vampira entendesse o recado.

— Não é tão simples. É o próprio poder que reside em cada criatura, cada planta, cada animal, cada ser vivo, que ajuda a sustentar esse local. Se esse lugar for queimado, tudo vai ser desaparecer. Até esse lugar.

Claudine apertou os lábios e ficou em silêncio. Tinha uma péssima sensação em relação a tudo aquilo.

— Rui, o que mais você ouviu?

— Aparentemente, uma garotinha apareceu morta esta manhã. Estão falando que um monstro a atacou durante a noite para se vingar e ele está se escondendo na floresta, por isso decidiram queimá-la.

Os olhos de Fumi eram frios quando se fixaram na figura da vampira através do salão e sequer conseguia discutir. Sabia que era sua culpa. Por mais que não tivesse feito nada, foi ela quem os atraiu até a floresta, a qual os aldeões sempre tiveram medo – até hoje.

— Vou perguntar apenas uma vez: você fez isso?

— Claro que não, Fumi-san. Ela passou a noite toda deitada na árvore. Eu garanto. — Maya interveio, colocando-se à frente de Claudine. — Você deve ter sentido isso também.

— Hn. Sim, na verdade. Só queria ter certeza. — Suspirou longamente e se colocou de pé. — Precisamos fazer algo. Rui, você vem comigo. Os outros, mantenham-se em alerta e fujam se necessário. Maya, conto com você.

— Sim, senhora!

Claudine olhava sem entender para o perfil de Maya, que assentia de modo decidido, transbordando confiança. Por que ela havia a defendido? Fumi também: esperava que ela a culpasse, a atacasse e atirasse seu cadáver para acalmar o vilarejo (alguma coisa no modo como ela agarrou o bastão escondido atrás das almofadas, apoiado na parede, lhe dizia que ela conseguiria fazer isso facilmente). Não conseguia entender por que a aceitavam daquele modo. Não era como eles. Até onde sabia, ninguém ali se alimentava de outros seres vivos como ela. Era... frustrante. E observando o medo no olhar dos outros youkais que se dispersavam, seus punhos se cerraram com força. Sentia raiva. E não podia simplesmente deixar que elas resolvessem o problema que criou.

— Espere! — gritou em direção a Fumi, que seguia em direção à saída dos aposentos com Rui ao seu encalço. — Você tem que cuidar desse acampamento. Deixe-me lidar com esse problema.

— Hã? — a youkai virou-se para Claudine, arqueando uma das sobrancelhas. — O que pretende fazer?

— Eu não sei. Ainda. — respondeu com tom decidido, tentando não se abalar com o olhar assustador lançado em sua direção. — Mas eu criei esse problema quando fugi para a floresta e me deixei ser acolhida por vocês. Então eu irei resolvê-lo.

Precisou sustentar por vários segundos o olhar que lhe escrutinava antes que Fumi se rendesse.

— Tudo bem. Contudo, eu estarei em alerta e vou agir se necessário.

Claudine sorriu prepotente, não conseguindo conter a arrogância.

— Não vai precisar.

Ela seguiu para fora do local e, só após sair, se deu conta de que não sabia como voltar ao vilarejo. Como se lesse sua mente, Maya se aproximou por trás com um riso suave em seus lábios.

— Precisa de ajuda, Claudine-san?

— Não enche, mulher raposa. — grunhiu constrangida.

— Eu te mostro o caminho. — disse com um sorriso gentil, abrindo um portal à frente da vampira. — Eu vou com você. Qual seu plano?

— Não quero ajuda.

— Claro. E então, qual é o plano?

Maya simplesmente a ignorou, atravessando o portal atrás de Claudine, que revirou os olhos ao perceber que não seria ouvida independente do que falasse.

— Vou chamar a atenção deles. Essa floresta é bem grande, vou atraí-los para o outro lado, para longe do acampamento. Se eu avançar rápido, consigo despistá-los e, quem sabe, chegar a outro lugar.

Se fosse antes, não conseguiria fazê-lo. Mas mesmo após a noite inteira, ainda sentia o poder fluindo por seu corpo. Sentia-se forte, como há muito não estava.

— Nesse caso, eu conheço um lugar. Deixe-me guiá-la.

— Você vai mesmo que eu negue, não é?

— Correto. — sorriu com um leve quê de convencimento.

— Só tenha certeza de não ser vista.

— Claro. Só não fique para trás, Claudine-san.

A provocação fez com que sentisse o ímpeto de demonstrar todo seu poder, mas guardou energia para quando chegassem à vila. Ambas estavam em plenas condições físicas, então a distância foi rapidamente vencida enquanto corriam pela floresta, com Maya guiando o caminho. Enquanto esta aguardava às margens da floresta, Claudine avançou em direção ao centro do vilarejo, pulando pelo telhado das casas e rapidamente encontrando a reunião de moradores no centro da vila.

— Não podemos deixar aquele monstro assim! Primeiro mata nossos animais e agora nossas crianças! Não podemos ficar quietos!

Um dos homens exaltava a multidão, erguendo no ar uma lança. Claudine sorriu, vendo sua chance, e deixou que toda a energia fluísse por seu corpo, sustentando-o no ar no momento após cortar a ponta da lança, fazendo com a lâmina que caísse no chão.

— Vocês estão atrás de mim? Acham que podem mesmo me pegar? Apenas tentem! Vocês não têm chance, humanos patéticos! São apenas alimento para mim!

Ela riu. O mais alto e ironicamente que conseguiu. Já nem se lembrava a última vez que havia agido assim. Esperou o suficiente apenas para que eles se alarmassem com sua presença e pegassem as armas, e saiu voando em direção à floresta. Não usava toda velocidade, afinal não queria que eles a perdessem de vista, e precisou de poucos segundos para achar Maya. Podia estar louca, no entanto aquela raposa de pêlos castanhos que a encarava com seus olhos misteriosos era similar demais à youkai para não ser ela. Tinha o mesmo focinho. Então, assim que ela pulou na mata, Claudine foi atrás, e nem sequer precisou desviar das árvores e plantas. Era como se a própria floresta abrisse caminho para ambas, guiando-as – pelo canto do olho, achou ter visto o vulto dos cabelos loiros de Fumi no topo de uma árvore, mas quando olhou pela segunda vez, já não estava mais lá. A estrada permanecia aberta para os aldeões, que seguiam com tochas nas mãos e atiravam flechas e lanças na direção de Claudine, que nunca chegavam perto demais. As que chegavam, ela afastava com uma onda de energia, impedindo que acertasse a ela ou a Maya em sua forma de raposa.

— Para onde vamos? — Claudine perguntou, sem saber se o animal entenderia ou se poderia respondê-la.

— Você vai ver. Não se preocupe, estamos indo para longe do acampamento.

Foi como se a voz de Maya ecoasse dentro de sua cabeça ao respondê-la. Só restava a Claudine confiar na raposa, concentrando-se em manter o passo, embora precisando retardar os passos para que não fosse perdida de vista. Os gritos e luzes das tochas tornavam fácil saber a localização dos aldeões.

Sinceramente, não tinha um plano. Só queria atraí-los para longe e proteger aqueles que a acolheram tão gentilmente. Não merecia ficar ali, cercada de felicidade – era uma assassina. Talvez uma hora eles cansassem de perseguirem-na. Ou poderia se deixar ser pega, quem sabe enganá-los após ser presa e espancada, deixando-os pensar que haviam a matado. Eram algumas opções...

— Claudine-san.

Maya chamou, ela havia parado vários metros à frente, e a vampira precisou estreitar os olhos com a claridade repentina que alcançou seus olhos. Parou ao lado da raposa, acostumando-se com a luz e percebendo que desembocaram em uma praia.

— Maya? O que é isso?

— Se você seguir pela areia, vai encontrar um porto. Lá, desembarcam homens e mulheres com cabelo cor de ouro. Como você. Vai estar segura. Não vou deixar que sofra mais.

— Mas... e você? Eles estão perto, Maya. Você pode não conseguir fugir.

Quase pode ver a expressão insolente da outra quando expressou sua preocupação.

— Eu vou ficar bem, Claudine-san. Eu só preciso que esteja segura.

— Mas... por quê? Você nem me conhece!

A raposa foi tomada por uma aura roxa, como se queimasse. Maya retornou à sua forma original, com longos cabelos castanhos, orelhas e cauda de raposa. O sorriso que tomava seus lábios era doce e delicado, mas seus olhos pareciam queimar como seu fogo arroxeado.

— É engraçado, mas... eu sinto como se te conhecesse por toda uma vida.

Sua voz não passou de um sussurro quando segurou a mão da vampira de modo gentil, a expressão embaraçada a fazendo rir delicadamente.

— Maya...

Claudine não sabia o que falar. Antes que encontrasse palavras, no entanto, Maya a empurrou pelo pequeno declive no terreno, fazendo com que ela caísse na areia branca.

— Não temos tempo! Vá!

Ela não era o tipo de mulher que se curvava aos outros, que simplesmente fazia como lhe mandavam. Porém não conseguiu contrariar. Tinha algo na voz de Maya, em seu jeito, que tornava impossível fazê-lo naquele momento. Talvez fosse por conta do sangue que ela lhe deu? Estava hipnotizada pelo poder da youkai-raposa? Achava improvável. Ainda assim, sentiu-se desesperada. Não queria ir embora. No entanto, as vozes estavam cada vez mais perto. E aquela mulher era teimosa e irritante. Deixava claro que não iria embora dali até que Claudine continuasse na direção do porto. E se pegassem Maya em seu lugar? Não iria se perdoar caso isso acontecesse. Por isso, gritou:

— Eu vou voltar! Eu prometo, Maya!

Vislumbrou uma última vez o sorriso dela antes de seguir em direção ao porto, correndo das flechas que se fincavam na areia aos seus pés, usando toda força de vontade que tinha para não voltar e cometer um assassinato ao ouvir a voz dos aldeões tão perto.

— A raposa! Não deixem que escape!

Maya quem havia lhe dado a chance de escapar. Precisava confiar nela.

E iria voltar. Não importa quanto tempo demorasse. Era uma promessa.


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