Os seus olhos eram como um convite oculto para mim, todas as vezes.

De início ele aparecia aqui no bar duas vezes na semana, depois foram aumentando para três vezes, e depois para quatro vezes. Quando eu menos me dei conta, ele começou a aparecer todas as noites. Sempre chegando pontualmente às 21h da noite, e indo embora às 5h da manhã. Como um encontro marcado, não dito.

Não sei como fui me deixar ser envolvida pelo o seu olhar, suas palavras e sua risada. Mas eu fui. Estando perdidamente ansiosa pela sua chegada.

O que tornava tudo incrivelmente estúpido. Logo eu, que trabalho há anos nesse bar, se deixar ser envolvida por alguém que em nenhum dado momento dava a entender claramente e com palavras ditas em voz alta, que tinha algum interesse por mim. Incrivelmente estúpida, eu era.

E conversar com ele era tão tranquilo. Enquanto eu servia as outras pessoas, ele bebia lentamente cada copo que enchia da garrafa que pagava, e fazia questão de permanecer ali na bancada. A garrafa e o copo. Duas garrafas. Era o total de garrafas, durante 21h até às 5h da manhã. Divagando entre assuntos aleatórios e sobre sua vida. Ou diria, histórias e dados falsos de uma vida que não lhe pertencia.

A cada noite ele era um alguém. Que cursava faculdade de alemão, na outra semana era física, e na outra biologia. Que estagiava em uma empresa pequena, na outra, estava constantemente com a cabeça preenchida pelo trabalho que o consumia, e na outra dizia o quão bom era não estudar, trabalhar ou estagiar, e que estar atoa, era uma vida boa de se estar.

Um contador de histórias, mentiroso e mais adorável em que o meu desejo idiota podia querer.

Eu não sabia nem quem ele era de verdade, mas que sem perceber, para mim nada disso importava. Porque a cada personagem que ele entoava, apresentava. Eu acreditava sem questionar, pois ele tinha a capacidade de trazer e demonstrar, verdade em cada personagem que ele encarnava.

E eu lentamente, já me apaixonava.