Clã Baker escrita por Stars


Capítulo 2
Capítulo 1




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Eu podia ouvir o questionamento do homem ao volante, mesmo que não fosse dito. O porquê de decidir morar com ele tão de repente? Sabia que não apenas meu pai, mas meus avós também estavam se perguntando a mesma coisa.

Quando completei oito anos, meus pais se separaram. Foi uma separação conturbada e depois de muita briga, ele deixou com que minha mãe me levasse embora, enquanto ele retornava para Forks, lugar onde nasceu e cresceu, e onde meus avós ainda moravam.

Por nove anos, minha mãe e eu escondemos um segredo de meu pai. Nos mudávamos frequentemente, já morei em mais cidades do que posso me lembrar e apesar disso, guardo uma lembrança especial de cada uma.

No meu penúltimo aniversário, quando completei dezesseis anos, foi quando tudo mudou. Acabamos parando em Salém, cidade que evitávamos por anos, lugar onde fui informada que seria o tumulo de metade do clã que fazia parte desde que nasci. Fora lá que minha mãe nasceu, assim como toda minha família e foi naquele lugar, que minha avó morreu há pouco mais de dois dias.

Algumas semanas antes do meu aniversário de dezessete anos, minha mãe tomou a decisão de me mandar para Forks, uma cidadezinha pequena e chuvosa em Washington. Ela dizia que seria difícil que me rastreassem lá, por ter uma aura sobrenatural na cidade e também, teria minha família paterna. Era engraçado pensar que meus avós e meu pai tinham esse dom, mas nunca o descobriram.

— Sua avó está feliz que poderá passar um tempo com você. — A voz grossa do homem ao meu lado soou, quebrando o silêncio que fazia dentro do carro.

Viro a cabeça, para poder olhá-lo com atenção. Eu podia ser considerada uma cópia dele, já que tinha o mesmo cabelo castanho escuro quase preto, a boca, nariz e olhos eram do mesmo formato. Mas a cor de meus olhos eram iguais os de minha mãe, castanhos escuros com pintinhas verde musgo, que só eram vistas se olhado com atenção.

— Vai ser bom passar um tempo com ela, e com o vovô também. — Concordo com um sorriso, voltando a olhar para a floresta que nos seguia desde antes de chegarmos a Forks.

Apesar de toda aquela cidade ser verde, eu gostava do clima gelado e da chuva, muito mais do que as cidades ensolaradas que eu tinha que morar com minha mãe. Seria bom passar um tempo na cidade que eu tanto gostava, mas o medo de estar colocando minha família em risco era ainda maior.

— Gostei do que fez no cabelo. — Ele comentou, fazendo-me olhá-lo novamente.

Não pude deixar de rir, já que a primeira reação de minha mãe ao ver parte do meu cabelo azul, foi gritar comigo por minutos a fio. Passo a mão em meus fios castanhos, tocando na parte azul e um pequeno sorriso se fixa em meu rosto.

— Mamãe surtou. — Digo, arrancando uma risada dele.

William Cooper, professor de história do colegial e historiador nas horas vagas. Era um bom homem, sempre de bom humor e que adorava comédias românticas. Lembro-me que passávamos horas assistindo clássicos e cozinhando, enquanto mamãe estava no trabalho.

Eu sabia que papai ainda era completamente apaixonado por minha mãe, Morgana Baker, uma famosa arquiteta. Ficaram juntos por quatorze anos, eu sabia que mamãe nunca deixaria meu pai, se não fosse por mim. Quando eu manifestei minha herança materna, ela achou mais seguro que eu fosse treinada longe da minha família paterna, que eram normais. Foi quando ela pediu o divórcio e me levou para a França, onde minha avó morava.

Papai nunca a perdoou, a amava na mesma força que a culpava por destruir nossa família. Não podia culpá-lo, ele não sabia o motivo pelo qual ela fez o que fez. Mas eu também a entendia, ela queria apenas me proteger e protegê-lo também. Nosso mundo era perigoso para humanos.

— E como ela está? Achei que te traria até Forks. — Ele comentou casualmente, sem me olhar.

Suspiro, mordendo meu lábio com força. Eu sabia que ela não estava morta, afinal, não foi me dito o nome dela. Mas não sabia se Morgana estava bem ou onde estava.

— Ela está bem. Com projetos novos e com muito trabalho. — Falo com um pequeno sorriso nos lábios, sem olhá-lo. Meus olhos entregariam a mentira.

— E como foi morar na Califórnia? — Papai questionou.

Eu o amava e por isso, mentir era cada vez mais difícil. Nunca havíamos ido para a Califórnia. Passamos os últimos dois anos em Salém, onde eu estudava e ajudava minha família.

— Muito ensolarado. — Dou de ombros, arrancando uma gargalhada dele, que me faz sorrir.

Pude reconhecer a rua onde estávamos e a empolgação finalmente aparece. Estava com muitas saudades de meus avós, eles eram duas pessoas incríveis, que acolheram meu pai em seu momento mais difícil. Eu seria eternamente grata a eles.

— Sabrina. — Pude ouvir a voz doce de vovó, já rouca pela idade.

Tiro o cinto e salto do carro, correndo em direção a idosa que já me esperava na varanda da pequena casinha branca.

— Vovó. — A abraço com força, escondendo meu rosto em seu ombro.

Pude sentir seus braços ao meu redor, me acolhendo e fazendo a turbulência em meu interior se acalmar. Ela sempre conseguia isso.

— Olhe só pra você, está tão grande. — Ela disse, se afastando um pouco e me analisando. — Está magra e pálida, tem certeza que sua mãe cuidou bem de você? — E ali estava. O rancor.

Abro um sorriso amarelo, a abraçando novamente. Minha família paterna tinha um grande rancor pela minha mãe, tão grande que ela evitava estar perto deles, o que resultava em meu pai indo me buscar nas minhas férias, muitas brigas pelo telefone e duas audiências judiciais.

— Eu estou bem, não se preocupe dona Laura. — Peço sorrindo, a acompanhando para dentro da casa. — Senti saudade daqui. — Suspiro contente, vendo a pequena sala de estar.

Tinha dois sofás de dois lugares, com estofado azul celeste e que eram muito confortáveis. Do lado direito, próximo aos sofás, tinha uma grande poltrona de couro branco, que era do vovô. Uma grande televisão de tela plana, uma mesinha de centro, uma lareira na parede próxima aos sofás e alguns quadros espalhados.

— Onde está o vovô? — Perguntei, dando falta do homem alto.

— Foi ao mercado. Hoje farei sua sobremesa preferida. —Vovó diz animada e solto um risinho.

— Venha Brina, vou te levar ao seu quarto, onde pode descansar um pouco. — Papai chamou da escada, segurando minha única mala e a casinha de Lilith, enquanto eu tinha minha bolsa comigo.

Concordei, beijando o rosto de vovó com carinho e subi rapidamente as escadas, entrando na única porta aberta do corredor. Paro no batente, olhando para o pequeno cômodo com saudade. Estava da mesma forma que eu o deixei, há quase três anos.

Era de tamanho mediano, com um guarda roupa embutido na parede do lado esquerdo, uma mesinha pequena com um computador nela logo em frente e uma cadeira de ferro almofadada. A única janela do quarto era pequena e logo abaixo dela, estava minha cama. Era uma cama de casal pequena, tinha uma cabeceira de ferro e pendurado nela, pequenas luzinhas, que seguiam até a janela.

Entre a cama e o guarda roupa, uma pequena estante com três prateleiras, que estavam cheias com meus livros preferidos. Em cima dela, um abajur e um pequeno quadro, onde tinha uma foto minha e de papai. Ao lado da cama, presa a parede, tinha um grande suporte, onde eu pendurava chaves, chaveiros e onde estavam coladas algumas fotos. E mais acima, uma prateleira, com dois quadros que vovó pintara pra mim.

— Vou deixar você descansar. Qualquer coisa, basta chamar que virei correndo. — Papai prometeu, me fazendo assentir.

— Obrigada pai. — Sorrio em sua direção, finalmente entrando no quarto e o abraço com força.

Ele beija meus fios escuros, me apertando contra si e finalmente me sinto segura.

Ao me ver sozinha no quarto, tiro o casaco pesado que usava, o pendurando em um dos quatro ganchos que havia atrás da porta e tiro meus sapatos, ficando apenas de meia, ando pelo pequeno cômodo que eu via há alguns anos.

Sabia que meu pai e avôs culpavam minha mãe pelo afastamento, chegava a ser engraçado e irritante a forma como tudo que eu decidia, eles automaticamente pressupunham que era culpa dela. Levaria um tempo, mas eu faria eles mudarem de ideia.

Ouço o miado de Lilith e vou até a cama, me sentando no colchão macio e abro a casinha, pegando minha familiar nos braços. Lili, como eu carinhosamente a chamava, podia mudar de forma. Mas ela gostava de ser uma bonita gata persa, com pelos brancos e fofinhos.

— Você vai gostar daqui, Lili. — Digo calmamente, passando a mão carinhosamente em seus pelos.

Sei que sim. Sua família parece ser bem calma, diferente da loucura que era o clã.

Solto uma risada, concordando com ela. O clã Baker, como éramos conhecidas em todo o mundo sobrenatural, era uma loucura. Composto apenas por mulheres, sempre estivemos em um número grande, o que mudou a algumas noites.

— Vovó ama gatos, você vai ser muito mimada. — Ri novamente, a colocando na cama e me levanto.

Era a primeira vez que Lilith me acompanhava até Forks, já que eu a tenho faz pouco tempo. Era costume uma bruxa ou bruxo ter um familiar, que lhe era dado quando completava dezessete anos. Comigo foi diferente. Ninguém de meu clã conseguiu fazer com que eu criasse um laço com os animais que me trouxeram e quando eu estava quase desistindo, Lilith apareceu em meu quarto. Não fui eu que a achei e sim ela que me achou.

Eles não parecem gostar muito de Morgana.

Lili comenta enquanto me observa andar pelo quarto.

— E não gostam. Culpam ela pelo fim do casamento dos meus pais e por eu ser criada longe de papai. Eles não sabem da parte sobrenatural da família, então complicou ainda mais a situação. — Falo distraída, abrindo as portas do guarda roupa.

Já era comum a mim a forma que conversávamos, mas teria que me lembrar que na frente dos outros, tinha que ser discreta.

— Mas não vamos falar disso, é complexo demais até pra mim, que estou afundada até o pescoço no assunto. — Olho as roupas de inverno que estavam na cara serem novas.

Provavelmente fizeram compras pra mim quando informei que viria morar com eles por tempo indeterminado, mas também conseguia ver roupas que estavam em meu guarda roupa em Salém, provavelmente mamãe havia mandado através de um feitiço.

Você voltará para a escola?

Olho para a gata branca e assinto, olhando para a mala no chão. Murmuro algumas palavras em latim e logo a mala se desfazia sozinha e tudo ia para seu devido lugar.

— Vai ser estranho voltar para a escola depois de ter aulas em casa, mas dessa forma vou conseguir me distrair um pouco. — Esclareço o porque de ter decidido voltar para a escola, enquanto me sento no tapete felpudo.

Não se esqueça do seu principal objetivo, Brina. Precisa estudar o grimório e se fortalecer.

Era estranho ser advertida por minha gata, mas ela estava certa.

— Eu sei disso Lili, mas preciso fazer outra coisa ou ficarei louca. Tudo o que consigo pensar é em minha mãe. Ela não está morta, mas não faço a mínima ideia de onde ela está. Caso tente rastreá-la, me acharão no mesmo instante. Não posso procurá-la nos sonhos, se eles estiverem vigiando-a, serei um alvo fácil. — Murmuro, tomando o cuidado para não me exaltar e ser ouvida.

Sabia que estava quase à beira da histeria, mas a verdade era que desde o momento em que fomos descobertas e que precisei fugir, não parei para sentir. Não havia chorado, não coloquei pra fora todos os sentimentos ruins que suprimi e isso estava me deixando louca.

Sua mãe é forte, Brina. Ela está bem, e no momento certo, vocês vão se reencontrar.

Engulo o choro, abraçando minha familiar que pulou graciosamente para meus braços. Era bom ter Lilith comigo, alguém de minha outra vida, a vida sobrenatural. Ela me confortava, já que era alguém com quem eu podia conversar sem ser chamada de louca.

Seu pai está subindo.

Me levanto rapidamente, pegando o grimório que flutuava, ao mesmo tempo que ouvia batidas leves na porta, que fora aberta em seguida.

— Brina? Posso entrar? — Ele questionou.

— Claro papai. — Permito sua entrada, escondendo o grimório atrás de minhas costas.

Vejo meu pai entrar com uma pequena bandeja em suas mãos. Pude ver alguns biscoitos, um sanduiche e um copo com suco.

— Sua vó mandou, disse que está muito magra e precisa se alimentar. — Ele disse divertido, colocando a bandeja em cima da escrivaninha.

— Dona Laura exagerada como sempre. — Brinco, o olhando atentamente.

— Sabe que ela só se preocupa com você querida. — Papai diz carinhosamente e eu assinto.

— Claro que eu sei pai, eu gosto da preocupação dela. Mas as vezes vocês exageram e sabem disso. — Falo calmamente, abrindo a gaveta da escrivaninha e coloco o grimório ali.

— Brina.. — Ele começa, mas eu o interrompo.

— Não vamos brigar por causa disso. Eu acabei de chegar, podemos esperar alguns dias, por favor? — Peço, sem deixar de olhá-lo.

Ele suspira e assente, antes de se retirar do quarto. Eu o amava, mas não permitiria mais que culpassem minha mãe. Já estava cansada disso. Um dia eu os faria entender.

Não seja tão dura com ele, sabe que sua mãe quis assim.

Ouço a voz de Lilith e sei que está certa, mas mesmo assim. Me irrita a forma como tratam uma mulher que não esta presente para se defender. Uma mulher que fez o que fez apenas para protegê-los.

— Por que família é tão complicada? — Resmungo baixinho, ouvindo a risada dela em minha cabeça e me sento na cadeira giratória, puxando a bandeja para mais perto.

 

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Notas finais do capítulo

Lilith: https://i.pinimg.com/564x/23/5b/c3/235bc38d095631a34cb4717ec9c3758d.jpg
Quarto Sabrina: https://i.pinimg.com/564x/b2/d5/a2/b2d5a234ec300f7ff7093034a9ed785e.jpg
Links das imagens da Lili e do quarto da Brina.

Espero que gostem do capítulo e até a próxima semana.



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