A maldição da Sucessão escrita por Pms


Capítulo 25
Capítulo 25: O trigo fluorescente.


Notas iniciais do capítulo

- Mais um capítulo para vocês!

— Agradeço Lilliel Sumire Eucaristia por comentar e acompanhar a história.

— Comentem!



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As pétalas da flor Pansy voam até o teto e caí em ondas até ser erguido novamente com a ponta da varinha. Os fracos raios de sol que a janela aberta permite entrar ilumina o quarto verde dificultando um pouco sua visão recém acordada e a brisa da manhã faz cócegas em sua pele.

O som de bicadas na madeira sobrepõe os cantos dos pássaros, o cacarejo da galinha, o relinchar do cavalo e os latidos do cachorro pela proximidade.

— Você não encontrou ele, não é? – conversa Pansy com o pássaro que pousou no parapeito da janela com o pequeno pedaço de pergaminho amarrado na perna.

Pansy acaricia o pássaro tamanho médio com penugem em preto e branco e arranca o pedaço de papel de sua perna antes de transfigurá-lo novamente em um vaso. Ela relê mais uma vez o pedaço de pergaminho que está escrito em sua caligrafia somente:

“Sua florzinha.”

— O café está na mesa! – avisa a voz de Daphne através da porta verde.

Pansy suspira massageando sua testa para aliviar o início de dor de cabeça e o enjoo. Encontrar seu pai estando tanto ela quanto ele escondidos sem saberem qualquer informação um do outro está se tornando uma tarefa cansativa. Apesar de ela ter dormido uma noite inteira sem sonhos graças a poção do sono que ela pegou do seu pequeno kit de poções que trouxe consigo, seu corpo está mole e sua mente lenta como se ela ainda precisasse dormir muito mais.

Ela sente falta do mundo mágico, sente falta de poder usar varinha sem a preocupação que um trouxa veja, sente falta de seu trabalho, sente falta de sua rotina monótona e sente falta principalmente de não ter a sua vida constantemente ameaçada. Ela quer muito que tudo seja temporário.

— Eu não sei porque isso te incomoda tanto. – Pansy escuta a voz de Astória ao passar pela porta do quarto que ela e Draco dividem.

— Como você não vê como isso é arriscado?! – exclama Draco.

Os dois embora não estejam gritando parecem estar num desentendimento.

— Eu sei quais são riscos. – garante Astória com a voz aguda. – Mas estou disposta a arriscar.

— E eu? – indaga Draco. – Você pensou em mim? Como isso me afeta?

— Bom dia!

Pansy pula pelo susto da voz de Daphne surgindo logo atrás de si.

— É mal educado ficar ouvindo atrás das portas. – diz Daphne empurrando Pansy para continuar andando pelo corredor. – Sua mãe não deu aula de etiqueta.

— Eu gostava mais das aulas com a tutora. – Pansy deixa-se ser empurrada até o andar de baixo. – A tutora não passava a aula inteira me lixando. Qualquer aula da tutora era melhor do que ficar ouvindo minha mãe me criticando

Com nenhum feriado ou data comemorativa prevista a Pousada do campo mágico voltou a sua decoração habitual e seus hóspedes diminuíram de sete pessoas para três, isso se pode considerar Draco, Astória e Pansy como hóspedes.

— Mas as aulas de etiqueta são as que eu não prestava atenção.

Tutora era uma bruxa que auxiliava crianças bruxas em casa com o aprendizado seja sobre o mundo bruxo, mundo trouxa, regras sociais ou aprender a ler. Toda família bruxa tradicional contratava tutores para ensinar e auxiliar seus filhos com aprendizados antes que eles fossem para a escola de magia e bruxaria, já que pais de puro sangue recusavam-se a permitir que seus filhos frequentasse escolas dos trouxas.

  — Queima bruxa! Queima bruxa! – gritaram as crianças.

— Muito bem. – parabenizou a tutora. – E elas eram queimadas vivas.

Pansy arregalou os olhos para aquela imagem no livro.

— Quando todos vocês forem para escola de magia e Bruxaria, os professores vão dizer que as bruxas fingiam, mas saibam que isso é mentira. Naquela época não havia escola para os bruxos estudarem e quando eram presos arrancavam a varinhas deles, e todos sabem como é difícil fazer magia sem varinha. Mas, nós sabemos a verdade, a verdade que os trouxas queimavam vivos nossos antepassados por eles poderem praticar magia.

A tutora guardou o livro.

— Por isso, nós não devemos ser amigos dos trouxas. Eles podem parecer inofensivos, mas são maus e traiçoeiros. Eles não receberam o dom da magia e por isso querem arrancar de nós bruxos. Por causa deles que vivemos escondidos.

— Meu pai falou que alguns bruxos casaram com trouxas. – comentou uma criança atrás de Pansy.

— Sim, esses são os traidores, traíram o próprio povo. – falou a tutora. – Vocês tem um dom muito especial em vocês e ninguém pode tirar isso de vocês. Suas famílias, seus avós, pais foram leais ao nosso povo, não sendo amigo do inimigo. Vocês devem se orgulhar pelo sangue bruxo que vocês carregam, o sangue totalmente puro, o sangue que Salazar Sonserina também tinha.

A tutora puxou a imagem de Salazar Sonserina.

— Ele verdadeiramente lutou pelo povo bruxo, não queria que mestiços, sangue ruins e traidores tivessem educação e acesso a magia como se fossem iguais a nós. Nós somos superiores a eles e um dia, não iremos mais nos esconder por causa dos trouxas.

Não que as aulas fossem uma grande ajuda adicional para prepará-los para as matérias de Hogwarts, mas pais bruxos achavam importante que seus filhos fossem corretamente instruídos no ideal de supremacia bruxa. E nada como uma boa educação baseada em medo e ódio para formar e educar crianças bruxas.

É cômico para Pansy se recordar das aulas que tinha e que acreditou fielmente nas palavras da tutora e de seus pais, ainda mais agora olhando para sua amiga de infância que cumprimenta alegremente a mãe e avó de Grace, ambas trouxas, quando as duas passam por elas e partem para ir na cidade. Daphne e ela assistiam as aulas juntas e cresceram sob a visão preconceituosa sobre trouxas e mestiços, e assistir Daphne ir de um lado extremo preconceituoso para o lado completamente oposto é surpreendente e assustador ao mesmo tempo.

— Você está horrível. – comenta Daphne quando Pansy mastiga uma torrada pausadamente com o queixo apoiado na mão.

— E você cheira a esterco. – rebate Pansy.

— Você não fica bem sendo loira. – retruca Daphne com um sorriso pequeno no rosto.

—  Falou a garota que anda o dia inteiro usando botas de galochas ridículas cobertas por cocô. – Pansy chuta os pés de Daphne embaixo da mesa.

— Bom dia! – cumprimenta Grace abrindo a porta da frente.

Pansy nota os olhos de Daphne brilharem quando Grace adentra a sala de jantar e a beija na bochecha antes de se assentar à mesa. Pansy ainda está digerindo a ideia que Daphne Greengrass abdicou de sua varinha para viver no mundo trouxa cuidando de animais e servindo trouxas, mesmo com todas as circunstâncias em sua vida ela não consegue ver a si mesmo sem sua varinha, sem magia.

Nos raros momentos que ela teve uma conversa com Grace descobriu coisas engraçadas, uma delas é a garota ser completamente mística e que acredita na força da natureza como algo poderoso, e que algumas pessoas tem uma conexão maior com essa força ocasionando pessoas com dons ou poderes, as tais pessoas especiais com esses dons seriam para ela as bruxas do passado. Pansy não se conteve e encarou Daphne de maneira zombeteira quando Grace estava contando sobre sua teoria de realmente existirem pessoas com poderes, sabendo ela que Daphne não havia contado sobre o mundo bruxo. Sendo Grace descendente de ciganos, ela acredita que pode ver o futuro das pessoas em xícaras, cartas ou nas mãos, o que explicou o motivo da pousada parecer tanto com a sala de adivinhação.  Se isso tudo não fosse o suficiente, ela também é apaixonada por uma religião de bruxas que Pansy não decorou o nome.

— O veterinário disse que Toby está ótimo. – informa Grace se servindo com a jarra de suco. – Ele disse que Toby é um cachorro guerreiro.

Astória e Draco descem as escadas e se ajuntam a elas à mesa.

Nos dias que se seguiram após a chegada deles na pousada Pansy não trocou mais do que duas palavras com Draco e Astória, que se mantiveram a maior parte do tempo trancados no quarto. Não que ela quisesse falar com eles, além do mais tendo ela observado a feição carrancuda de Draco e aura nervosa e doente de Astória não parecia um bom momento para conversas fiadas ou profundas.

 Sem seu trabalho e tendo somente Daphne com quem tinha interesse em conversar ela acabou não tendo muitas opções ao não ser: ficar estudando seus livros de poções, tomar nota sobre o comportamento do trouxa em seu habitat natural e criar especulações sobre o que o casal fazia tanto trancando no quarto. Quando Pansy se pegou pensando muito nisso resolveu se distrair com a televisão trouxa e conversou com Grace quando não estava tentando raciocinar sobre sua nova situação de fugitiva ou pensar em formas de contatar seu pai

Olhando com mais cuidado para eles agora, Pansy percebe que Astória está mais pálida do que o habitual e Draco parece abatido.

— Você está melhor, Astória? – pergunta Grace.

— Sim, estou. – responde Astória lançando o mesmo olhar enjoativo para mesa que Pansy havia feito. – Só estou enjoada ainda.

— Se quiser eu posso marcar um médico para você. – sugere Grace.

— Não precisa. – Astória garante mesmo que seu semblante físico prove o contrário.

— Tem certeza? – questiona Grace dando um olhar breve para Daphne. – A Daphne me contou que você tem uma saúde frágil e você esteve doente desde que chegou aqui. Talvez você tenha pegado alguma coisa, um vírus e isso pode ser perigoso para você.

Pansy capta a respiração profunda de Astória como estivesse tomando coragem.

— Tenho, porque estou grávida. – revela ela.

Se não fosse pelas palmas entusiasmadas de Grace, Pansy iria acreditar o que foi dito é uma revelação de traição ou uma declaração de guerra. A feição calma e feliz de Daphne se transforma num olhar de espanto e depois de censura, e esse último direcionado para Draco.

À sua direita, Grace interrompe suas palmas de felicidade para Daphne começar a bater palmas de forma lenta e desinteressada.

— Meus parabéns. – parabeniza ela seriamente fitando Draco sobre a mesa.

— Daphne... – pede Astória com olhar de suplica para irmã.

— Vou pegar mais chá. – Daphne se levanta da mesa e parte em direção à cozinha deixando Grace confusa.

Já Pansy compreendendo o motivo da reação fria de Daphne mantém a sua concentração nos farelos de sua torrada. Astória segue o mesmo caminho de Daphne e Draco permanece no lugar se servindo como se nada tivesse acontecido.

— Isso não é uma notícia boa? – Sussurra Grace se inclinando em direção a Pansy.

Pansy abre a boca para responder quando as vozes de Daphne e Astória a interrompe.

— Você não pode ficar feliz por mim? – reclama Astória.

— Eu disse meus parabéns, não disse? – relembra Daphne com a voz inexpressiva.

— Você sabe o que eu quis dizer! – exclama Astória exigente.

— E você sabe o que quer dizer quando é aconselhado não ter filhos. – rebate Daphne. – Draco sabe o que está te pedindo?!

— Eu vou alimentar os animais. – avisa Grace sem graça se retirando para o lado de fora usando a porta da frente.

Pansy espia pelo canto do olho Draco que continua a comer sem expressão alguma no rosto. Ela já tinha visto ele dessa forma uma vez, com olhar focado e perdido, mas que por trás dos olhos azuis cinzentos estão um turbilhão de pensamentos e preocupações. Ele ficou assim quando tinha a cruel missão de matar Dumbledore sobre seus ombros, quando a marca negra podia queimar em seu braço avisando do chamado do bruxo dos seus pesadelos.

Pansy sente um fagulha de empatia por ele, pois são nas situações que o levam até o limite que ela consegue vê-lo realmente, ver o menino que ela brincava, ver o adolescente que ela um dia achou que tinha se apaixonado e ver o amigo que ela tinha.

— Caso você tenha se esquecido há muitas possibilidades no nosso mundo. – adiciona Astória. – Possibilidades que essa sua nova realidade não existe.

— Não seja ingênua, Tori! – repreende Daphne. – Se fosse tão fácil assim, você já estaria curada.

— Eu sei tomar as minhas próprias decisões, Daphne. – afirma Astória firme. – Ao contrário do que você e a mamãe pensam, eu sei perfeitamente o que sou capaz de fazer e o que consigo aguentar.

Os passos determinados de Astória quebra o estado de indiferença de Draco que a observa sair da cozinha e subir para o segundo andar sem se quer olhá-lo. 

Pansy cresceu com Daphne e Astória e sempre esteve ciente, mesmo que não compreenda completamente, o estado de saúde delicado de Astória, ela viu o que uma simples corrida entorno da Mansão Greengrass podia fazer com a doce Tori que usava laços na cabeça e amava flores, flores que ela recebia de Astória toda vez que elas brincavam juntas. Apesar do reencontro grosseiro que Pansy teve com Astória, ela não consegue odiá-la. Nem mesmo Draco ter substituído ela por Astória pode tirar a afeição que sente pela garota que via como uma irmãzinha.

Já é tarde demais quando Pansy percebe que está sensibilizada com a situação.

— Vi que soltou um pássaro. – comenta Draco à sua esquerda.

— E? – pergunta Pansy bebendo seu suco.

— Meus feitiços protetivos e defensivos vão ser inúteis se você entregar a nossa localização enviando cartas.

Pansy suspira alto. Ela conhece a tendência de Draco descontar sua frustração e raiva em pessoas e em coisas que não estão relacionados a causa de sua frustração e raiva. Ela reconhece essa tendência em si também.

— Não se preocupe. – assegura ela. – Não enviarei mais carta.

Se ela não estivesse cansada, ela teria lançando respostas sarcásticas somente para irritá-lo.

— A carta era para sua mãe? – pergunta ele mexendo no líquido da xícara.

— Por que quer saber? – corta ela sentindo seu humor mudar e perdendo o pouco apetite que tem. A citação sobre mãe já a deixa desestabilizada, mas ouvir saindo dos lábios de Draco a deixa zangada. - Acho que você tem coisas mais importantes para se preocupar, papai.

Pode ser maldade usar a situação que talvez esteja deixando-o perturbado e vulnerável contra ele, levando em conta que ela sabe o que seja, porém ela quer continuar a sentir raiva dele e para isso ela precisa que ele também sinta o mesmo por ela.

— Se você quiser visitá-la, eu posso conseguir identidades falsas. – propõe Draco.

— Não, eu não quero. — nega ela rudemente. E para que eu vou precisar de uma identidade falsa?

— Ah, não sei. –  Draco dá os ombros. – Para comprar uma poção ou talvez para não ser encontrada pela pessoa que quer te matar. Mas isso só foi um suposição.

— Muito engraçado, Draco. – debocha Pansy. – Me diz para onde você vai usando sua identidade falsa. Esquece, eu me lembrei é Azkaban. Soube que tem celas especiais reservadas para os Malfoy.

— Sim, elas são do lado da cela do seu pai.

Ela adoraria poder tirar a varinha da sua cintura e enfeitiçá-lo, talvez transfigurar ele em uma formiga para poder pisar em cima.

— Devia ter deixado que te prendessem.   – Pansy joga o guardanapo na mesa e se levanta só que o movimento grosseiro a faz se sentir tonta.

— Como você ficou sabendo sobre a acusação? – Draco a encara não percebendo a perda de equilíbrio dela. – Como você soube que fui acusado de enfeitiçar o Theo?

Pansy fecha os olhos por um momento antes de voltar-se para Draco.

— Eu trabalho no Ministério. – tenta contornar ela. – As pessoas costumam a falar muito nos elevadores e banheiros.

— Eu não enfeiticei o Theo. – conta Draco finalmente. – Eu só tentei extrair a memória dele sobre o ataque que ele sofreu, queria saber se ele recordava de quem havia feito aquilo com ele. Mas não consegui terminar o feitiço, porque a curandeira Parvati adentrou o local.

— Bem, então deve ter sido ela que acusou você de enfeitiçar o Theo. – cogita Pansy lembrando das palavras de Potter.

— Você estava trabalhando com Potter antes de Theo ser assassinado, não estava? – questiona Draco dando um acento desnecessário ao sobrenome Potter.  – Até que foi ele que declarou a prisão para o Theo, a qual você cooperou.

Pansy sente a indignação tomar conta de seu corpo com o tom acusatório dele. Ela já está cansada de acusações.

— Olha, Draco. Eu não estou com paciência nenhuma para ouvir sobre sua fixação de amor e ódio ao Potter. -  cospe ela. – E não fica fingindo que se preocupava com o Theo. Você só se importa com você mesmo.

Pansy se afasta dessa vez com mais leveza.

— Eu não podia te oferecer ajuda. – declara Draco antes de ela subir as escadas. – Não quando eu nem podia me ajudar.

 Pansy sobe as escadas sem falar nada.

Ela quer quebrar alguma coisa.

A declaração dele só mostrou para ela o quanto é imatura para a situação. Sim, talvez ela tinha mais oferecer do que ele na época, o pai dele tinha sido preso uma vez e a fama sombria com certeza o perseguiu até o julgamento, porém Lúcio Malfoy se safou de passar mais anos preso numa cela de Azkaban, o que era algo certo que iria acontecer. No entanto, ele conseguiu ter o privilégio de cumprir sua sentença em outra belíssima mansão estipulada pelo Ministério por deletar nomes de outros ajudantes e por sua esposa ter “ajudado” a derrotar o Lorde das trevas mentindo sobre a morte do Escolhido.

 A delação e a mentira não era uma compensação suficiente para que o Ministério simplesmente deixassem eles ir com uma prisão em domicílio, e ela quase tem certeza que foi nesse espaço que entrou Draco. Ele fez algo para que eles não fossem presos em Azkaban, ele tem que ter feito algo. Seu pai, Midas Parkinson não chegou a fazer a metade das coisas que Lúcio Malfoy fez e foi lançado em Azkaban, claro que com ajuda dela, mas se ela soubesse que existia outra opção teria feito.

Nós podemos fugir.

Foi o que ela disse para Draco no sexto ano e repetiu quando o encontrou andando entre os Comensais da Morte em Hogwarts no sétimo ano, e ele nunca chegou a dizer algo em resposta. Mesmo com a ajuda que ela ofereceu para ele, mesmo com todos os anos de amizade ele a trocou por Astória, livrou seus pais da prisão e foi embora para outro país sem hesitar somente deixando para a carta fazer o serviço de informá-la sobre tudo.

Pansy não está com raiva pelo namorado que a trocou por outra, ela está ressentida pelo amigo que a abandonou. Eles nunca foram um casal, eles eram amigos desesperados com o destino cruel que os pais estavam traçando e procuraram conforto um no outro de maneira confusa.

Ela leva a mão a boca sabendo que se não se acalmar irá colocar para fora a pouca comida que comeu. Ela pode até escutar o barulho de vômito, só que não é ela que está produzindo.

 O som de engasgo e vômito vem do banheiro do corredor, o banheiro que está com a porta entreaberta. Pansy se aproxima para encontrar Astória curvada na privada vomitando violentamente o que estivesse em seu estômago.

— Astória? – chama ela preocupada pela forma que Astória apoia a cabeça na privada.

Astória puxa toda energia que possui e levanta a cabeça da borda do vaso sanitário e olha para Pansy. Os olhos de Pansy se arregalam quando vê o sangue escorrendo pelo nariz dela.

— Seu nariz...- Pansy pega uma toalha dobrada no armário e entrega para ela.

Astória está tão mole que demora para entender que seu nariz está sangrando.

— Eu vou chamar o Draco. – avisa Pansy indo em direção a porta.

— Não faz isso. – pede Astória fracamente pressionando a toalha branca no nariz. – Eu só preciso de um minuto.

Ela respira antes de tossir e vomitar novamente na privada. Pansy tem que fechar os olhos para não se juntar a ela na privada.

— Água. – Pansy oferece o copo de água que pegou na pia.

Astória cospe na privada afastando as mechas de cabelo castanho claro do rosto antes de pegar o copo de água.

  - Você está bem? – Pansy analisa seu rosto branco. Astória parece estar ao ponto de desmaiar, sua pele está tão branca quanto a toalha em sua mão.

— Estou. – responde Astória roca. – Você tem uma poção apimentada?

Pansy estranha a pergunta. A poção apimentada resolve resfriados ou pneumonia, mas não são úteis para enjoo matinal.

— Você está falando da poção com raiz de gengibre e folhas de hortelã-pimenta? – Pansy pergunta para confirmar.

Astória balança a cabeça freneticamente percebendo a confusão.

— Eu devo ter no meu kit.

Na verdade, ela tem certeza que tem em seu kit de estoque e preparo de poção para viagem que trouxe consigo. O kit que aparenta ser somente uma maleta foi onde ela produziu um pouco dessa mesma poção para si quando chegaram na pousada.

— Você quer se levantar? – Pansy ergue as mãos para ela.

Astória mesmo constrangida aceita a ajuda, depois da forma que tratou Pansy no Ministério não a culparia se ela a tratasse mal ou negasse a ajudá-la. Astória se apoia um pouco na parede para limpar mais uma vez o nariz que começa a sangrar.  

— Isso é normal. – explica ela seguindo o olhar de Pansy para o sangue na toalha. – Só que está acontecendo agora com mais frequência por causa da gravidez.

— Draco sabe disso? – Pansy acena para o sangue.

— Ele soube quando me pegou vomitando no banheiro na manhã seguinte que chegamos aqui. – Astória dá uma tentativa de sorriso.

— Então ele não sabia que você estava grávida antes de virmos para pousada? - Pansy fita o estômago imperceptível sob a blusa de Astória.

— Sabia, eu contei para ele quando descobri um dia antes do Greg... – ela cessa o resto de sua fala e brinca com a toalha ensanguentada em sua mão. - Eu usei um método que descobri quando viajava com Draco. É um método mágico do Egito, o trigo fluorescente. Eu demorei para desconfiar por causa dos sintomas de vômito, dor de cabeça e cansaço que são sintomas que eu sempre tive, mas acho que Draco já desconfiava. Ele sabe todos os meus sintomas, crises, alergias, reações e até mesmo os períodos menstruais.

Pansy solta uma risada compartilhada com Astória ao imaginar Draco marcando os períodos menstruais. A risada morre nos lábios de Pansy quando ela se dá conta de uma coisa.

— Está tudo bem? – Draco adentra o banheiro e vai rapidamente até a Astória.

— Sim, eu só preciso me deitar. – Astória deixa ser amparada por Draco.

Draco e Pansy trocam um olhar rápido enquanto ele direciona Astória em direção ao quarto.

— Eu levo a poção para você no quarto. – avisa Pansy para Astória que assenti antes de passar pela porta do quarto.

 

 

 

Pansy tamborila seus dedos na borda da banheira sem ousar virar o rosto para o feixe de trigo em cima na pia do banheiro. Ela está sendo paranóica, ela sabe disso.

Não há uma razão lógica para esse alvoroço todo. Ela sempre foi cuidadosa com a poção, a Comissão de poções ensinou para ela sobre tudo o que precisa saber sobre poções, um trabalho que ela preza muito por ter. Ela não cometeu o erro de esquecer de tomar.

Então por que ela está em dúvida?

Se for pelos sinais ela poderia até sugerir que possa ser isso, mas ainda não faz o menor sentindo. Os últimos dias tem sido estressantes e pode ocasionar atraso, cansaço, dor de cabeça, falta de apetite, enjoo e aumento de seus seios...

Droga! Pansy morde o lábio quando pelo canto do olho enxerga de relance o feixe de trigo antes de desviar o olhar para água da banheira.

— Você só está sendo paranóica. – afirma ela para si mesmo.

Mas se não estiver, se for uma realidade. O que ela irá fazer?

“Você só saberá se olhar para o trigo.” Pensa ela.

Batendo em determinação na borda da banheira Pansy se ergue, agarra o roupão enrola-o em si, tudo sem espiar o trigo pousado na pia.

Soltando o ar, Pansy se vira para o feixe de trigo e sob seus olhos brilham as pequenas flores fluorescentes iluminando o trigo, exatamente como Astória havia descrito. Ela se encosta na parede do banheiro deixando sua cabeça cair para trás produzindo um estrondo.

— Merda! – solta ela dando uma risada desacreditada.


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Notas finais do capítulo

- Se houver algum erro me perdoem.



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