Clichês, Cafeína e Beijos de Garoto escrita por Siaht


Capítulo 1
Clichês, Cafeína e Beijos de Garoto


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!!
Tudo bem com vocês?
Bom, o mês está quase acabando e eu estou aqui com a minha última one-shot do Pride Month, o que para mim é um pouco surreal e um pouco triste, porque realmente não acredito que esse projeto já está chegando ao fim. Quero agradecer pela milésima vez pelo convite e por todos os surtos e fofocas no grupo do Pride. E recomendar todas as fanfic maravilhosas de todas as autoras maravilhosas que tornaram esse mês tão fabuloso e colorido. ♥
Sem mais delongas, espero que gostem dessa fanfic. Porque ela foi escrita com muito amor e está bem açucarada (talvez até demais, rs). ♥



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{clichês, cafeína e beijos de garoto}

O café era escuro e amargo. Concentrado e forte. E fumegava na xícara lascada. Já passava das 19h, era tarde demais para se presentear com aquela poção dos deuses. O rapaz, no entanto, não se importava. Precisava de café e precisava naquele instante. Lorcan Scamander era um viciado e sabia disso. Naquele ponto, era provável que 80% de seu sangue fosse composto puramente por cafeína.

Assim como um dependente, de qualquer forma, ele necessitava da bebida para sobreviver. Para se sentir realmente desperto, para lidar com seu trabalho no Profeta Diário, para lidar com seus colegas de trabalho no Profeta Diário, para ser produtivo da forma que o capitalismo lhe exigia, para não permitir que sua mente vagasse para o completo absurdo que era bruxos terem definido o capitalismo como seu sistema econômico e para se sentir calmo, por mais contraditório que isso pudesse soar.

Aquele era definitivamente o último caso. Estava nervoso e precisava de algo que lhe oferecesse algum conforto e o ajudasse a relaxar. Cafeína teria que servir. Hugo estava atrasado. O que não chegava a ser uma surpresa. Hugo estava sempre atrasado. Um fato que incomodara bastante Lorcan, que sempre fora a mais pontual das criaturas, quando os dois começaram a sair. Após tantos meses juntos, entretanto, ele havia aceitado – não sem críticas – o péssimo hábito do namorado.  

Namorado. Ainda era estranho ter um nome e um rosto para associar a essa palavra. Uma pessoa real que efetivamente estava ligada a ele por um relacionamento amoroso. Namorado. Hugo Weasley era seu namorado. E já o era há um ano. Há exatamente um ano. Esse era justamente o motivo de tanta ansiedade. Aquele era o aniversário deles e Lorcan queria que fosse uma celebração especial. Havia passado semanas preparando o que deveria ser uma noite inesquecível e mal podia esperar para colocar o plano, idealizado com tanto esmero, em ação.

Lorcan Scamander não era uma pessoa romântica. Muito pelo contrário. Era quase a antítese de romântico. Prático, sensato, um tanto cínico. Nunca se importara muito com todas aquelas histórias melosas sobre amor, almas gêmeas ou que quer que fosse. Passara anos achando tudo aquilo uma imensa tolice. Um desperdício de tempo e energia. Uma cafonice irremediável. Se fosse honesto consigo mesmo, contudo, não seria capaz de dizer se aquela era realmente a sua opinião ou apenas uma defesa que construíra ao longo do tempo, à medida que se tornava cada vez mais claro que amor não fora feito para pessoas como ele.

Já era difícil para a comunidade bruxa aceitar a simples existência de pessoas trans, dedicar qualquer tipo de afeto a elas então...  Lorcan sabia que era sortudo o suficiente por ter a família que tinha. Uma família que o amava, aceitava e apoiava sem poréms. Uma família que estava ao seu lado e para qual poderia correr. Por mais triste que fosse, e era muito triste, aquele simples fato já fazia dele uma exceção. Então, por um longo tempo, o rapaz se convencera que esperar amor romântico seria pedir demais. Especialmente quando já fora tão afortunado de outras formas.

Lysander, seu gêmeo, costumava dizer que ele merecia bem mais e estava se contentando com pouco, o que era uma grande ironia, já que a ambição sonserina de Lorcan sempre fora uma de suas características mais marcantes. Ainda assim, era provável que o irmão estivesse certo. No âmbito romântico e pessoal, Lorcan se contentava com pouco. Porque, ao contrário dos campos acadêmico e profissional, no qual o esforço individual até poderia fazer alguma diferença, quando se tratava de afeto, você dependia quase inteiramente de outra pessoa. E o Scamander não confiava muito em outros seres humanos e definitivamente não estava disposto a colocar sua felicidade nas mãos deles.

Ele entendia como aquelas coisas funcionavam. As pessoas poderiam até falar muito sobre sentimentos incontroláveis, mas quando chegava a hora de fazer escolhas quase sempre acabavam optando pelo que parecesse mais “convencional”. E como um rapaz trans, pansexual, gordo e com a ascendência indiana, que herdara da família paterna, Lorcan estava bem ciente de que passava longe do “convencional”. Bem longe do padrão de homem que as pessoas se permitiam amar.

Ele havia tido algumas experiências amorosas e alguns relacionamentos breves, é claro, mas nada realmente significativo. E nada com alguém que estivesse disposto a estabelecer um compromisso e assumi-lo para o mundo. Em outras palavras, nada que valesse a pena ou, na melhor das hipóteses, servisse como algo além de uma distração. Pelo menos, até Hugo Weasley entrar em sua vida.

Bom, não exatamente. Hugo Weasley, afinal, sempre estivera em sua vida. Suas famílias já eram amigas mesmo antes deles nascerem e os anos apenas as aproximaram. Sendo assim, Lorcan não era sequer capaz de se lembrar do momento em que conhecera Hugo. O garoto havia sempre estado ali, como uma peça do cenário. Nem amigos e nem inimigos. Meros conhecidos. Pessoas que frequentavam o mesmo círculo social e ocasionalmente mantinham conversas cordiais. Nada além disso.

Até o ano anterior, quando Rose, a irmã do Weasley se casara com Scorpius Malfoy. E os dois rapazes se viram bastante entediados e levemente alcoolizados durante a cerimônia. Era para ser uma coisa de uma única noite. Algo descompromissado e casual, motivado pelo Whisky de Fogo e aquela carência irritante e estúpida que acometia os solteiros em casamentos. Exceto que não fora. Porque no dia seguinte, Hugo lhe fizera café e panquecas, ao invés de enxotá-lo o mais rápido possível de seu apartamento.

O café do Weasley era um tanto aguado e açucarado demais. Mas não importava, principalmente porque aquela era realmente a coisa mais doce do que um parceiro já fizera para Lorcan. À luz da manhã, aquele rapaz sardento, de cachos alaranjados bagunçados, expressão cansada e sorriso preguiço, parecia um sonho. Um sonho bom demais para ser verdade e ao qual ele queria desesperadamente se agarrar. Então, reunindo uma coragem que não julgava possuir, convidou Hugo para um encontro e o ruivo aceitou. O resto era história. 

Hugo o vira de uma forma que ninguém mais vira. E o amara de uma forma que ninguém mais amava. E Lorcan o amava também. De um jeito que nunca imaginou que amaria outro ser humano. E talvez aquilo tudo fosse um pouco estranho, já que ambos tinham 27 anos quando se apaixonaram. Estavam mais perto dos 30 do que dos 20 e, ainda assim, eram o primeiro amor e o primeiro namorado um do outro. E era por isso que o Scamander precisava que tudo saísse perfeito naquela noite. Não por ele que, como boa pessoa prática que era, se sentia satisfeito com o amor que via nas pequenas coisas: como a escova de dentes que o namorado deixava em sua casa, ou no fato do ruivo sempre lhe fazer panquecas – que eram a única coisa que sabia cozinhar decentemente – e comprar o Profeta Diário todos os dias, apenas para ler as matérias de Lorcan, mesmo já tendo tido um resumo completo delas na noite anterior.

Hugo, no entanto, sempre tendera para o romantismo exagerado. Era um leitor compulsivo de romances de banca e já assistira todas as comédias românticas trouxas que existiam no mundo. Gostava especialmente dos filmes teen e ficava em júbilo sempre que encontrava algum casal lgbt nas produções voltadas para adolescentes. Havia algo indescritível naquela representatividade e em saber que os jovens de hoje poderiam se ver de uma forma que ele não pudera. Os olhos do rapaz, porém, sempre ficavam um pouco tristes, quando o assunto vinha à tona. E Lorcan sabia o motivo. Era por todas aquelas primeiras experiências de amor, tão únicas e tão inocentes, que ele não pudera protagonizar durante a própria adolescência. Tudo o que nunca vivera e jamais poderia viver. E era por isso que o jornalista se esforçara tanto, porque, mesmo com uma década de atraso, o namorado merecia que seus clichês de amor se tornassem reais.

O homem estava arfante quando finalmente parou diante da porta de madeira escura. Os cachos bagunçados, as bochechas coradas, o coração quase lhe saindo pela boca. Estava atrasado, o que não era exatamente uma novidade, mas parecia pior naquela noite especifica. Lorcan odiava atrasos e ele gostaria de ter sido pontual uma única vez em sua vida. O universo, contudo, parecera conspirar contra os seus planos. O treino se estendera mais do que o esperado, o técnico escolhera aquele dia para um interminável monólogo motivacional, havia um único chuveiro funcionando no vestiário – o que fizera com que 14 pessoas tivessem que se revezar para utilizá-lo –, e a carteira do garoto desaparecera misteriosamente, fazendo com que ele precisasse correr por três quarteirões.

Então, não, Hugo Weasley não estava tendo a melhor das noites. Havia uma chance de ter chegado na hora correta, se conseguisse aparatar, mas aquela não era uma opção. Aparatação estava na seleta lista de feitiços que não podiam ser feitos de forma não-verbal, o que, portanto, os tornava impraticáveis para Hugo. Sua surdez fazia com que não soubesse qual deveria ser a pronúncia exata das palavras e, quando se tratava de feitiços, uma vogal mal pronunciada poderia causar um grande estrago. Alguns desses feitiços ele até arriscava, após uma saga imensa de tentativas e erros. Aparatação, no entanto, não era um deles. A possibilidade de estrunchar ou ter seu corpo dividido ao meio era forte – e desagradável – demais para que valesse a pena. Sendo assim, outras formas de transporte se faziam necessárias. E, no geral, funcionavam. Apenas não naquele dia.

O ruivo, de qualquer modo, decidiu que aquilo não iria estragar sua noite. Era uma noite especial e seria celebrada como tal. Dessa forma, limpou o suor do rosto com a manga do suéter, respirou fundo e bateu a porta. Lorcan não demorou nem um minuto para abri-la e o mundo inteiro do Weasley explodiu em cores, assim que viu o namorado emoldurado pelo portal. Lá estava o homem que ele amava. Os cabelos negros bem penteados, os olhos amendoados grandes e expressivos, vestindo calças escuras, camisa social cinza e sapatos caros e bem lustrados. Lindo, lindo, lindo. Impecável da cabeça aos pés. Um contraste perfeito se comparado a Hugo com seus cabelos ruivos despenteados, delineador dourado sobre os olhos azuis, vestindo um suéter amarelo com estampas de girassóis, jeans desbotados e coturnos marrons.

— Desculpe pelo atraso. — o Weasley se apressou em dizer na língua de sinais. — Fiquei preso no treino, os chuveiros do vestiário quebraram de novo, perdi minha carteira em alguma lugar...

— Você está bem? — Lorcan sinalizou, se afastando da porta para que o namorado pudesse entrar.

 — Sim. Não foi nada grave, apenas irritante.

— Ótimo. — o Scamander disse, antes de puxá-lo para um beijo longo e apaixonado. O tipo de beijo que te fazia sorrir enquanto ainda estava acontecendo. O tipo de beijo que fazia borboletas dançaram em seu estômago, mesmo após um ano de namoro. O tipo de beijo que só Lorcan Scamander poderia lhe dar. — Feliz aniversário de um ano. — o rapaz sinalizou quando se separaram.

Às vezes Hugo ainda achava que estava sonhando quando pensava naquele relacionamento. Ele sempre fora um romântico incurável. Uma daquelas pessoas cheias de fé no amor e que acreditavam fielmente que, mesmo que levasse algum tempo, encontrariam seu príncipe encantado ou qualquer coisa parecida. Mas nunca imaginou que essa pessoa estaria tão próxima. Praticamente embaixo do seu nariz durante 27 anos. A vida poderia ser cheia de surpresas, não é mesmo?

De um jeito ou de outro, o Weasley nunca imaginara que Lorcan Scamander seria a pessoa que seu coração iria escolher e que iria escolhê-lo de volta. Os dois eram tão diferentes! Lorcan tão sério, introspectivo, taciturno. Fã de discrição e de roupas escuras. Muito observador, mas pouco falante. Extremamente focado em suas ambições, em seu trabalho e na ideia de provar seu valor e ser o maior jornalista investigativo que o mundo bruxo já conhecera. Talento e determinação certamente não lhe faltavam. 

Já Hugo era o contrário. Extrovertido, distraído, simpático. Um lufano que adorava chamar atenção e amava roupas coloridas ainda mais. Um batedor dos Chudley Cannons que estava muito satisfeito com aquela posição, mesmo que o time em questão colecionasse derrotas e estivesse quase sempre muito próximo de cair para a segunda divisão.

O Weasley sabia que a maioria das pessoas – sua mãe ocupando o topo da lista – achava que ele poderia conseguir coisa melhor. Apesar do que poderia aparentar, entretanto, o rapaz era realista o suficiente para saber que era muito difícil que qualquer outro time contratasse um jogador surdo, abertamente gay e que ocasionalmente era visto usando saias e maquiagem por aí. Talento nem sempre era o que importava e isso era errado, mas também era o que era.

Hugo, ainda assim, estava bem onde estava. Os Chudley Cannons talvez não fossem a melhor equipe do mundo, mas eram o time do coração de seu pai e eram uma equipe formada por pessoas boas e esforçadas. Além disso, trabalho era apenas trabalho: uma forma de ganhar dinheiro e garantir que não se morreria de fome. O ruivo sabia que já era mais sortudo do que a maioria por ser pago para fazer algo que – em grande parte do tempo – gostava. Era um emprego bom e que lhe pagava de forma aceitável. Para ele era mais do que suficiente. E se o resto do mundo achasse que o filho da Ministra da Magia era um fracassado, bom, eles que achassem. Hugo decidira há muito tempo que não gastaria seu tempo tentando provar nada a ninguém.

Sendo assim, e tendo tudo isso em mente, o rapaz passara anos achando que Lorcan e ele não eram compatíveis. Só que então sua irmã resolvera e se casar e a vida dele mudara completamente. Que Rose o desculpasse, mas ele estava morrendo de tédio naquela festa de casamento. Era tudo clássico e convencional demais e fazia com que o caçula se sentisse muito consciente de sua própria solidão e de todo fracasso amoroso que marcara sua vida.

Hugo não havia perdido a fé em encontrar alguém, era verdade, a esperança, contudo, não tornava aqueles 27 anos de solteirice menos tristes. Será que era demais querer alguém que o amasse e quisesse estar com ele de forma pública e completa? O álcool definitivamente não o estava ajudando a lidar com todos aqueles sentimentos, nem o fato de ter sido abandonado pelos dois melhores amigos. Lily Luna estava do outro lado do salão, flertando descaradamente com um dos padrinhos de Scorpius. E Louis estava sabe-se Merlin onde, com o namorado e a namorada. Porque ele havia claramente resolvido vencer a disputa interna dos primos, de quem escandalizaria mais a família – e a imprensa –, abraçando a não-monogamia, formando um trisal e levando para casa tanto um rapaz trouxa quanto uma moça que vinha da mais antiga das linhagens bruxas.

Uns com tantos e outros com tão poucos... Era o que Hugo pensava, quando um Lorcan Scamander, igualmente infeliz, se sentou ao seu lado. Entre um copo ou outro de Whisky de Fogo, os dois começaram a conversar, escrevendo bilhetes nos guardanapos, e o ruivo acabou percebendo que o homem ao seu lado era bastante divertido. De uma forma irônica e cínica, que normalmente não o agradaria, mas que fazia todo sentido naquela festa. Uma coisa levou ao outra e no dia seguinte eles acordaram juntos.

Lorc o convidou para um jantar e Hugo aceitou, porque não havia motivos para não repetir algo tão agradável. No terceiro encontro, o Scamander lhe contou que estava aprendendo a língua de sinais, sem que o Weasley – que embora soubesse ler lábios e fosse oralizado, preferia se comunicar por sua língua materna – sequer lhe sugerisse tal coisa. Fora ali que o ruivo decidira que jamais deixaria aquele cara lhe escapar. E o resto era história.

— Feliz aniversário de um ano. — Hugo também sinalizou.

E logo os dois estavam rindo. Aquela seria uma noite magnifica, eles estavam convictos.

Aquela noite estava sendo um desastre completo. Uma calamidade. Uma sucessão de equívocos. E Lorcan estava prestes a assassinar alguém. Os problemas começaram no restaurante. O lugar estava lotado e a recepcionista havia perdido a reserva deles. Aquela que o Scamander havia feito há semanas e confirmado naquela manhã, porque esse era o tipo de pessoa metódica e precavida que ele era. Não tendo muito a ser feito – além de lançar uma maldição imperdoável na mulher, algo que Hugo certamente não aprovaria –, os dois partiram para a segunda parada do cronograma: a casa de chá de Madam Puddifoot.

Aquele era o tipo de ambiente do qual o jornalista sempre quisera distância. Toda aquela coisa muito cor de rosa, muito cintilante, muito cheia e cupidos, muito cafona era de causar náuseas. Ainda assim, o Weasley havia lhe confessado que sempre sonhara em ir a um encontro ali, em seus dias de Hogwarts, e experimentar a famosa torta de cerejas. Então, eles foram até lá, se sentaram em uma daquelas mesas ridículas e pediram a bendita torta. O horror que se seguira fora inenarrável. Lorcan jamais havia experimentado algo tão pavoroso em sua vida. A consistência era insossa e o sabor um misto estranho de ácido e salgado. O que não fazia qualquer sentido. Alguém definitivamente havia perdido a mão na cozinha.

Mas os desastres não acabaram por aí. Era óbvio que não. O casal seguiu até a Dedosdemel, para tentar tirar aquele gosto pavoroso da boca, e descobriu que a loja estava fechada. Algo que nunca acontecia, a não ser naquela data específica, era evidente. Aparentemente um dos familiares do dono havia morrido e eles decretaram luto.  

A paciência do Scamander acabara de vez no cinema. Era um cinema trouxa que estava oferecendo um festival de comédias românticas. O que seria perfeito, a não ser pelo detalhe de que nenhum dos filmes tinha legenda, fato que os tornava inacessíveis para Hugo. Aquela fora definitivamente a última gota d’água e o que bastara para que o rapaz passasse dez minutos inteiros gritando com o garoto da bilheteria. Que espécie de estabelecimento mequetrefe e capacitista era aquele?

Lorcan teria berrado por muito mais tempo, mesmo sabendo que a culpa não era exatamente do menino da bilheteria, se Hugo não o tivesse afastado dali, praticamente o arrastando pelo colarinho da camisa. 

— Relaxa, Lorcan, está tudo bem. — o Weasley sinalizou, enquanto lhe enviava um sorriso caloroso. Seus olhos, entretanto, contavam uma história diferente. Nunca era agradável ser confrontado com o fato de que o mundo sequer reconhecia suas necessidades e existência. Nunca era agradável ser deixado de fora de coisas tão cotidianos como uma simples ida ao cinema.

— Não, não está. Isso é um absurdo.

— Sim, é. Mas ter um ataque nervoso não vai resolver nada. E também não é culpa do coitado do garoto que estava na bilheteria.

Lorcan suspirou.

— Desculpe. Eu só queria que tudo fosse perfeito, mas a noite foi só uma grande sucessão de desastres.

Hugo sorriu de forma meiga e puxou o namorado para um beijo. Um beijo doce, suave e apaixonado. O tipo de beijo que fazia o mundo parar. O tipo de beijo que fazia tudo parecer bom. Certo. Perfeito.

— Não foi tão ruim assim. — o Weasley afirmou assim que eles se separaram. O Scamander lhe enviou um olhar cético. — Não estou dizendo que foi maravilhoso, mas até que me diverti com todas essas confusões. E um dia a gente vai transformar isso em uma história hilária para contar em almoços de família, tenho certeza. Além disso, “perfeito” é meio entediante.

— Eu queria que você tivesse o encontro que nunca teve a chance de ter em Hogwarts.

Hugo segurou a mão dele por um minuto inteiro, sorrindo o tempo inteiro, antes de soltá-la para poder falar o que pensava.

 — Isso é adorável e eu agradeço muito, mas, para o bem e para o mal, eu nunca vou poder ter aqueles momentos, Lorcan. E tudo bem. Sério. O que passou, passou. — a adolescência havia sido uma fase difícil para Hugo. Hogwarts não era a mais acessível das escolas, ele não tinha muitos amigos e precisou de algum tempo para entender e aceitar a própria sexualidade. Honestamente, fora um pesadelo e ele ficava contente por ter deixado esses dias confusos e nublados para trás. Estava muito melhor agora — Na verdade, eu fico muito feliz por você ser o meu primeiro namorado. E o meu primeiro amor. Eu te amo, Lorcan Scamander. E para mim isso é mais do que suficiente.

— E eu te amo, Hugo Weasley. — o rapaz disse, porque era verdade.

Eles sorriram um para o outro daquele jeito bobo que apenas pessoas apaixonadas conseguem sorrir.

— Ótimo. — o Weasley disse — Então, vamos para casa e eu faço panquecas para que possamos finalmente celebrar. E comer.

— Panquecas para o nosso aniversário?

— Panquecas de chocolate. — Hugo comentou feliz como se aquilo resolvesse tudo. Para ele, resolvia. Para ele, simplesmente estar com Lorcan resolvia. 

Lorcan se forçou a aceitar e sorriu genuinamente, enquanto passava um dos braços no ombro no namorado. Não era o plano perfeito, mas era suficiente. Era mais do que suficiente.


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Notas finais do capítulo

Primeiramente, quero deixar registrado aqui o meu mais sincero VAI SE FUDER, J.K.ROWLING!!!!!
Okay, podemos voltar ao ponto principal agora. Essa história acabou saindo um pouco diferente do que eu havia imaginado inicialmente, mas acho que estou satisfeita com o resultado. Vejo Hurcan como um ship bem doce e muito fofinho, que eu adoro e sobre o qual precisava escrever nesse Pride, e espero ter conseguido passar isso aqui. Também queria escrever uma história sobre um personagem transexual em que ser transexual não fosse o foco da narrativa. E espero sinceramente que isso tenha funcionado. Também queria escrever uma história sobre pessoas que encontraram o amor um pouco mais tarde, porque, por vários motivos, nem todo mundo tem a chance de viver um romance na adolescência e tudo bem. Às vezes o amor acontece mais tarde e ainda é amor. E ainda é lindo. E ainda é válido.
Enfim, espero que tenham gostado! ♥
Beijinhos,
Thaís



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