Balões Vermelhos escrita por kicaBh


Capítulo 1
Capítulo 1




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CAPITULO 1

A casa de Grace Van Pelt e Wayne Rigsby estava preparada, o batizado da pequena Maddie aconteceria amanhã cedo, num domingo que os pais esperavam que fizesse um sol brilhante, mas não escaldante. Seria na igreja central de Sacramento e os padrinhos, Cho e Lisbon chegariam em breve. Não seria uma grande comemoração, mas os bons amigos estariam reunidos num almoço em família.

Grace e Wayne eram felizes não sendo mais policiais, cuidando dos dois filhos, sendo um de seu relacionamento Sara. Eles se deram bem na empresa de segurança e a vida estava estável. Só não estava tudo 100% porque pesadelos ainda invadiam a cabeça de Grace a noite e Wayne ainda tinha dores nas costelas por causa do tiro que levou. O sequestro por Richard Haibach deixou alguns medos, mas era passageiro, ambos sabiam. A estrutura de amor e segurança que plantaram para si e para os filhos reverberava por onde eles passavam.

Por isso foi fácil dizer não ao FBI, mesmo sendo uma grande oferta, não era como eles gostariam de viver. As prioridades, no momento, eram outras.

Não acha estranho a Lisbon vir acompanhada? Van Pelt perguntou ao marido enquanto acabava de arrumar a mesa para um café da tarde. Lisbon ficaria na casa deles e o namorado, Marcus Pike, resolveria um problema em São Francisco. Ele não ficaria para a festa, mas queria conhecer a afilhada da namorada. Grace ainda não o conhecia e a curiosidade era grande.

Não, porque seria estranho? Wayne respondeu distraído.

Não sei, sempre achei que ela e o Jane, bem, terminariam juntos.

Isso sim seria estranho. Não acho que o Jane será capaz de ter outro relacionamento como teve a com a esposa. Diante do olhar confuso da esposa, ele continuou. Vejo por mim, se algo acontecesse a você durante aquele sequestro, jamais me casaria novamente.

Ah Wayne, isso é lindo. Grace o beijou carinhosamente. Mas eu gostaria que você encontrasse uma mulher legal e seguisse em frente. Cada um de nós tem seu momento de partir, não é justo que a outra pessoa viva sofrendo eternamente.

Pois eu não acho, se eu morresse naquele hospital gostaria de pensar em você de luto para sempre. Rigsby falou imprimindo o devido tom para que ela soubesse que era brincadeira. Mas você acha que daria certo o Jane e a Lisbon? Eles são tão diferentes, ele a enlouqueceria.

Você viu como ela ficou apagada quando ele esteve longe? Ou do Jane dizer que adorava quando ela era durona com ele? Quando ele retornou à exigência foi que trabalhassem juntos, quando deveria ter pensado somente em livrar a própria cara. E aí a Lisbon resolve namorar outro cara? Ainda quer se mudar para a capital?

A campainha tocou e eles foram atender a porta, saindo do diálogo sobre os amigos. Mas Wayne ficou pensativo com a colocação, realmente quando jantavam com Lisbon e Jane estava longe ele notava que a antiga chefe não possuía o brilho tradicional nos bonitos olhos verdes. Ela se apagou até como profissional.

Agora pensando bem, aos vê-los juntos no FBI parecia que Jane estava mais possessivo sobre Lisbon. Não que ele não a defendesse na CBI, Wayne sabia bem que Jane os jogaria no fogo do inferno, mas não tocaria num fio de cabelo da chefe. Mas durante o caso que resolveram juntos Jane pareceu mais territorial, embora classificar isso como interesse seria necessário muito mais investimento por parte do mentalista. E muito mais abertura por parte de Teresa. Mas ele sabia que sua esposa sempre tinha razão nestas observações, ela era boa com pessoas. Muitas vezes foi inocente e enganada, mas no geral, Grace sempre via o melhor das pessoas com quem convivia.

Ao abrirem a porta, do outro lado, Cho e Jane deram olá.

Que bom que chegaram, a Lisbon já deve estar quase aqui. Jane, fico feliz que tenha vindo. Grace sorria enquanto via o trailer de Patrick Jane na rua, algo tão desproporcional e brega que contrastava com o charme do falso vidente.

Ah, você sabia que eu viria, vai? Jane respondeu sorrindo. Quando recebeu o convite disse que não viria testemunhar Cho como padrinho de ninguém, indicando um ciúme que ele estava longe de sentir. Ele ficava para lá de emocionado pela solução do caso, pelo convite a Cho e Lisbon, apenas queria chatear um pouco Van Pelt, porque sabia que de todos, ela sempre fora a mais sincera com ele. Lisbon era a mais dura, mas Van Pelt e sua inocência interiorana faziam Jane refletir sobre amor, companheirismo, família feliz, Deus, mediunidade. Por fora ele dizia que eram imensas bobagens, mas as convicções firmes da bonita agente o faziam pensar.

É claro que eu sabia, você não perderia por nada a chance de ver o Cho num momento constrangedor. E todos riram porque sabiam que o sisudo agente oriental não era emotivo, imagina batizar uma criança que com certeza abriria um berreiro no momento crucial.

Logo depois a campainha foi novamente ouvida e, na porta, Lisbon e Marcus Pike.

Grace e Wayne ainda não haviam conhecido o agente Pike, Cho não disse muita coisa sobre ele a Wayne e agora Van Pelt notava que Jane se virou desconfortável na cadeira. E ela sabia, trabalhando com Patrick durante anos, que poucas coisas o deixavam desconfortável. Estranho, porque notou que Teresa também, ao cumprimentar todos, evitou que Jane e Pike ficassem próximos.

O café foi tranquilo, Marcus Pike era uma simpatia de pessoa e interagiu com todos, inclusive as crianças, com muita dedicação. Ele não tinha o dom natural de Jane com crianças, ainda assim Maddie e Benjamin pareceram gostar bastante dele. No entanto, Pike não se demorou muito na casa dos Rigsby, mas prometeu que ele e Lisbon sempre visitariam a afilhada dali para frente, de quem já se considerava padrinho.

Não passou despercebido a Grace que Lisbon e Jane ficaram desconfortáveis durante toda interação, apesar da tranquilidade do momento. Mal se olharam, Jane sequer implicou com ela como gostava. E sempre que podia Jane optava por ficar com uma das crianças. Já Teresa ficou tensa durante todo o tempo, Van Pelt sabia que a chefe era tensa e brava, mas era diferente, estavam entre amigos, não havia motivo para que Teresa Lisbon ficasse com as mãos suando.

Somente depois que Pike partiu ela relaxou um pouco e Jane fez uma piada sobre a incapacidade dela e de Cho cuidarem de uma criança. No entanto, depois de um tempo de conversa trivial, Jane informou que iria estacionar seu trailer num parque iluminado próximo dali, deixando Cho e Rigsby num trailer mexicano no caminho.

Que bom que a Maddie gosta de você, eu fiquei preocupada quando ela não parou de chorar no colo do Cho e o Jane precisou acalmá-la. A garotinha realmente não havia se sentido à vontade no colo do padrinho e somente quando Jane passeou com ela pelo jardim da casa, brincando com seus cabelos, foi que ela se acalmou. Não era segredo o jeito que Jane tinha com crianças, mas a Grace pareceu que ele sentiu que era a oportunidade perfeita para sumir da vista de Lisbon e Pike. Na verdade, parecia que Teresa também ficava mais à vontade longe dele.

Jane tem jeito com crianças. Foi a resposta de Teresa. As amigas estavam sentadas no sofá da sala enquanto as crianças brincavam no tapete.

E como ele ficou? Com o fato de você namorar o Pike?

Ficou como sempre é, eu acho. Ele não fala sobre isso, não seriamente, quero dizer. Na verdade, nesse caso, nem com brincadeiras ele fala sobre isso. Lisbon respondeu com um ar tristonho.

Chefe, tantos anos trabalhando com o Jane e ainda não aprendeu que quase nada do que sentimos expressamos na fala?

Não tenho a habilidade do Jane para ler as pessoas, Grace. E não sou mais sua chefe. Lisbon ralhou, mas não era raiva, ela sabia que o chamamento era carinho.

Jane não disfarçou o desconforto ao ver você e o Pike juntos.

Deduziu isso na meia hora em que estivemos aqui? Lisbon olhou desafiadora para Grace.

Você também se sente. Van Pelt ficou olhando para a ex chefe pensando se valeria a pena essa conversa, Teresa era a pessoa mais durona que ela conheceu na vida. Mais do que muitos homens, muito por causa da profissão, não dava para ser policial e doce, ela mesmo precisou resgatar seu lado doce ao sair da CBI. Mas Teresa ainda conservava esse jeito turrão que fazia com que ela muitas vezes não visse o obvio.

Ah meu Deus... Lisbon falou como dúvida, mas ficou visivelmente encabulada, pois pensava que ninguém percebia o que ela já havia notado desde que seu namoro começou. Muitas poucas coisas na vida deixavam Jane desconcertado, seu romance era uma destas coisas.

Me desculpa Teresa, sei que isso a deixa desconfortável. E eu prometi a mim mesma que não falaria nada se notasse que o seu namoro é legal.

Meu namoro é legal. Lisbon disse quase ofendida.

Seu namorado é legal. Ele é bonito, educado, um perfeito cavalheiro. Foi simpático comigo, com as crianças. Estaria tudo perfeito se eu não tivesse que perguntar : por que você não está feliz?

Grace, eu estou feliz. Nem mesmo a pessoa mais desligada do mundo acreditaria na resposta. Não era totalmente mentira, ela estava feliz com Pike, mas não no sentido que Van Pelt perguntava. Era notório que Marcus estava muito mais envolvido que ela.

Teresa, eu conheço você. Fui sua subordinada durante anos, sabia todos os seus humores e preocupações. Jane sempre foi seu ponto fraco, vocês brigavam, divergiam, mas cada vez que um precisava de alguma coisa, o outro era o primeiro a chegar. E eu vi como você ficou quando ele estava longe, jantamos na sua casa algumas vezes. Você se apagou, Lisbon. E então o Jane voltou e no dia em que você veio aqui se despedir de nós, seus olhos brilhavam, você brilhava. Agora você me conta que tem um namorado, primeiro eu acho estranho não ser o Jane, mas talvez eu tenha entendido tudo errado. Então eu espero conhecer o seu namorado, ver vocês juntos, ver você brilhando novamente, mas olha para você, seus olhos não tem aquele brilho da mudança pra Austin. E pelo amor de Deus, você se afastou cada vez que o Pike te abraçou e o Jane observava.

Ainda estamos no início do nosso namoro, ainda estamos nos conhecendo. E Lisbon ainda poderia falar que não é melosa, mas achou melhor não dizer nada.

Não parece isso para seu namorado, ele quer que você vá para Washington com ele, imagino que a tenha pedido em casamento. Van Pelt encarou Lisbon. O Jane não disse nada?

Ele quer que eu faça o que me fizer feliz, o que me deixar feliz. E Lisbon lembrou de Jane falando essas palavras enquanto seus olhos enchiam de água, algo surreal que mal teve uma resposta da parte dela.

É muita coisa para um homem que passou os últimos anos mentindo e fazendo truques, se vingando, fugindo.

 Jane não se intimida diante de nada, Grace.

— Você acha mesmo isso? Lisbon, o Jane manipulou para que eu e Wayne reatássemos e não nos disse nada. Acho que até para que Wayne me pedisse em casamento teve o dedo dele. No entanto, no dia da cerimônia ele ficou atrás da porta, lágrimas escorrendo. O Jane nunca fala o que sente. O que realmente sente.

—  E eu não posso adivinhar. Somos amigos, mas ele não quer falar sobre isso, não sei, talvez ele não se importe e esteja esperando-me me mudar para seguir em frente. Talvez ele tenha interesse na Kim. Foi ela quem o seduziu na ilha, para que ele voltasse. Lisbon falou e tomou um ar, para continuar. Grace Van Pelt ficou alguns minutos observando Teresa Lisbon sem saber como dizer o que ela precisava ouvir, como abrir os olhos dela. Lisbon era capaz de acreditar num possível interesse de Jane em alguma mulher, ainda que os olhos dele a seguissem como um cão fiel. — Talvez o Jane simplesmente não consiga mais agir como um ser humano normal, demonstrar sentimentos, viver outro relacionamento. Lisbon falou querendo logo terminar essa conversa com Van Pelt

— Wayne também disse isso, que Jane não conseguiria se envolver de novo. Mas sabe realmente o que eu acho? Acho que o envolvimento dele com você não foi calculado, nem por você, nem por ele.

— Não há um envolvimento.

— Nem você acredita nisso, Teresa. Olha, o Jane estacionou o trailer na rua aqui de trás, no parque. Porque não vai lá ver como ele está, conversarem um pouco? Talvez longe da pressão do FBI ele se abra com você.  

Você não conhece o Jane!

Conheço vocês dois, nunca baixam a guarda. Aproveite que o trabalho está longe e tudo que importa é o batizado de uma bebezinha que vai dormir em poucos minutos. Sabe Teresa, eu namorei algumas pessoas mesmo amando o Wayne e, você sabe, ele teve um filho com outra mulher. Poderíamos estar longe um do outro até hoje. Se permita uma chance, vá falar com o Jane.

Van Pelt saiu da sala e Lisbon ainda ficou uma meia hora pensando se falar com Jane era mesmo a melhor opção, mas ainda que eles não conversassem sobre a partida dela, falar com ele sempre era um bom final de noite. E Grace tinha razão, desde a entrada no FBI eles mal tiveram tempo para conversarem.

Ela não pensou mais e foi atrás do parceiro.


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