O aniversário de 15 anos de Zuko fora durante o seu exílio.

Não houve festa, nem banquete, nem celebração. O tio dele bem que queria fazer um pequeno jantar festivo e contratar uma banda, mas ele pôs um fim nos planos do velho. Depois de mais de três anos longe de casa, ele não ligava para aniversários, ele não suportava refeições de celebração. Todo o seu foco estava na missão de encontrar o Avatar.

(Ainda assim, ele tinha ficado emocionado quando encontrou um bilhete de Iroh no seu quarto, e chorado baixinho antes de cair no sono).

O aniversário de 15 anos de Azula, por outro lado, foi espetáculo a se contemplar. Especialmente ao se levar em conta a afinidade que sua irmã tinha por grandiosidade. Um mostruário de opulência, foi o que lhe disseram, e agora ele se pergunta se aquela exibição de esplendor era um sinal do quão vazia ela era por dentro. Mai lhe contara algumas partes: o discurso orgulhoso que seu pai fizera na grande abertura e a carruagem que desfilara com a princesa pela capital, e também de como a multidão jogava flores no caminho do cortejo, maravilhada com o espetáculo de fogos de artifício e alimentada pelos aperitivos finos da nobreza - alegres com a benevolência da família real -, e vibrava durante os três dias inteiros. Pensando bem, Zuko tem quase certeza que Ozai provavelmente já a estava preparando para sucedê-lo ao trono, ganhando o apoio do povo para sua nova herdeira.

Mas tudo isso tinha acontecido há muito tempo, e Zuko afasta todas as memórias ruins no instante que sua filha entra.

Ela está fazendo 15 anos hoje, e ainda assim parece que ele a segurou pela primeira vez ainda ontem. Ela está fazendo quinze anos e está linda em suas roupas festivas, com seus robes vermelhos mais radiantes do que nunca, e, apesar de esconder o sorriso, seu rosto brilhando.

Izumi só dá alguns passos para se aproximar de seus pais, mas Zuko não pode deixar de admirar seus andar majestoso e como ela emite uma aura cativante e confiante, então ele suspira admirado, sentindo orgulho se espalhar no seu peito, seus olhos se recusando a focar em qualquer outra coisa.

Ele abre a boca para parabenizá-la mais uma vez, mas fica sem palavras e boquiaberto. Ele não consegue pensar em nada para falar, mesmo que ele estivesse ensaiando seu discurso com sua esposa alguns segundos atrás.

A filha dele ri da sua reação, achando engraçado que o eloquente Senhor do Fogo tenha perdido a compostura tão facilmente.

— Sim, Zuko. – De pé ao seu lado, Mai impacientemente fala os pensamentos dele em voz alta, já que todo mundo consegue ver as suas emoções estampadas na cara, e revira os olhos, – Ela está linda e toda crescida agora. A gente já sabe. Agora para de ficar lembrando isso, tá me fazendo me sentir velha.

— Não dá, – ele não para de sorrir, apesar da bronca da sua esposa, – Ela tá tão grande! E tão linda!

— Que nem ela estava hoje de manhã...

— Mãe. Pai, – a adolescente finalmente fala, e apesar de ser num tom irritado, ela sorri também, – Já chega, por favor!

— Perdoe seu pai, Izumi. – Mai toma o partido da garota e Zuko se sente traído por um momento, – Ele só não consegue acreditar que tem uma filha tão incrível.

Então é a vez da menina revirar os olhos por conta do comportamento bobo do seu pai, antes de pedir licença e se retirar para cumprimentar os convidados do seu banquete.

Quando Zuko tinha quinze anos, ele nunca pensara que esse dia chegaria. Naquela época ele estava muito envolvido em sua missão em busca do Avatar, e os dois anos sem resultados e sem pistas o estavam deixando impaciente. A longa e tediosa espera o deixara furioso e irritável, ao ponto de que qualquer tipo de pensamento positivo, como se casar e ter uma filha, raramente passava pela sua mente. Naquela idade, Zuko nunca poderia imaginar que um dia ele se encheria de alegria porque sua filha, o orgulho da sua vida, acabara de fazer seu primeiro comparecimento público em um evento oficial no seu aniversário de quinze anos.

As lágrimas não são notadas pelos presentes, já que eles dois estão um pouco longe da multidão. E pela primeira vez a distância não é por causa da aversão de Mai em interagir com pessoas, mas porque eles querem que sua Princesa seja o centro das atenções por hoje. O salão está cheio de pessoas no andar inferior em silêncio absoluto e eles dois ainda estão na parte de cima em completa felicidade, vendo Izumi se preparar para o discurso de abertura.

Os pais orgulhosos observam enquanto ela agradece pela presença e pelas felicitações pelo seu aniversário, e então ela fala de seu dever e seu amor pela Nação do Fogo. As palavras vêm de seu coração, já que ela passara a semana anterior revisando e praticando até ficar satisfeita, mesmo que Zuko tivesse dito que ele estava perfeito desde a primeira vez.

— Ela é mesmo incrível, – ele murmura quando a garota termina e o salão se enche com aplausos estrondosos.

— Claro que é. – A resposta de Mai não é sarcástica desta vez, pois ela sorri tão admirada quanto ele, seus olhos brilhando e sem se desviar da garotinha deles, – Ela é nossa filha, afinal.

— Sim, – ele assente levemente, ainda maravilhado com o jeito que ela caminha quando desce os degraus restantes até o andar de baixo e cumprimenta os convidados pessoalmente, – E nós fizemos um bom trabalho com ela.

— O que mais você esperava? E pensar que você começou a entrar em pânico quando engravidei...

Mai sorri e ele suspira internamente, sabendo que ela sempre usaria essa história para zombar dele quando a oportunidade se apresentasse.

No entanto, dessa vez ele não sente o constrangimento habitual que sempre acompanha o lembrete dela. Agora ele está completamente decidido a focar apenas nas memórias boas e felizes, deixando as amargas para os dias amargos. Então, quando Mai relata essa história, ele só consegue se lembrar do quão importante ela tem sido para ele nesses últimos anos e o quanto o apoio dela fora importante na hora de criar uma filha.

— Obrigado, Mai. Você sabe que eu não teria conseguido sem você.

— Eu já não falei? Pare de me agradecer por isso, – ela o repreende com bom humor, sua voz em um raro tom suave, – Izumi é nossa filha. Ela não seria quem é hoje se não a tivéssemos criado juntos.

— Ainda assim, eu me sinto agradecido. – A mão dele se move para a cintura dela e ele a abraça discretamente, – Obrigado. Por tudo, não só por ela. Por tudo que ainda vai acontecer.

As palavras solenes a pegam de surpresa. Ela vira o rosto para olhar pra ele, e é aí que ela percebe que ele já estava olhando para ela. Seus olhos estão brilhando desde o momento que Izumi chegara em suas roupas de festa, mas agora o olhar dele está mais profundo.

Zuko raramente fala esse tipo de coisa pra ela, mas sempre que ele fala é com solenidade e do fundo do coração.

E sempre que ele fala, Mai simplesmente não consegue deixar de provocá-lo.

— Você tá todo meloso hoje, não é?

— É que eu tô tão feliz! – Zuko não liga. Ele está meloso - mais do que nunca, mais do que ele jamais pensou que estaria - e ele sabe que é melhor admitir de vez, ao invés de tentar negar. Ele está tão meloso que não consegue fingir que não está.

E não existe coisa melhor do que ficar meloso por causa da filha e do seu dia especial. Então ele está bem com isso.

— Sabe, ela vai ser uma grande Senhora do Fogo um dia. Melhor do que eu.

— Estamos no começo de uma nova era. A próxima geração é nosso renovo, e eles vão nos superar logo logo, – Mai concorda, também pensando no futuro brilhante que viria em breve, – Mas eles também são nosso legado.

— Claro, claro. E eu tenho certeza de que, ao invés de todas as minhas conquistas e realizações, eu sempre vou ter mais orgulho dela. E seremos para sempre lembrados como 'os pais da Senhora do Fogo Izumi'.

Ao lado dele, Mai bufa, o clima festivo ajudando-a a relaxar o suficiente para soltar uma piada.

— Fale sobre si mesmo, – ela o cutuca de leve, sem a multidão perceber, um gesto que ela dominara logo depois deles terem se casado, – Eu serei para sempre lembrada como a garota sombria que suspira o tempo todo.