The Answer Is In The Stars escrita por Foster


Capítulo 1
About sweaters, constellations and butterbeers


Notas iniciais do capítulo

Oieee!
Cá estou eu postando minha última fanfic do Pride, sendo que, ironicamente, foi a primeira que ficou pronta. A ideia surgiu enquanto eu ouvia músicas para dormir, do dia 25 ao 26 de julho (último dia de inscrição do Pride) eu simplesmente PRECISEI escrevê-la. Sério, eu passei um dia todo escrevendo de tão viciada nessa história que eu fiquei.
Antes de vocês lerem quero agradecer às meninas do Pride pelo convite e pela idealização maravilhosa desse projeto ♥ O fandom definitivamente precisava desse ar.
Também quero agradecer IMENSAMENTE à Prongs, que leu essa fanfic primeiro e surtou horrores comigo depois, além de ter panfletado - de graça!!!!! - a história. Seu feedback foi muito importante pra mim, porque eu realmente estava super nervosa com ela, mas gostei bastante do resultado e a dedico à você ♥
O que vocês precisam saber antes de começar a ler:
É baseada em "Heather", do Conan (aliás essa música tá em todo lugar agora eu tô como???) então sim vai ter um sofrimentozinho que leve. Tem uma playlist repleta de músicas que representam um pouco dos pensamentos e sentimentos não só do Albus, mas também de ouros personagens, que acho que vale a pena acompanhar: https://open.spotify.com/playlist/0CUchaAsi1rZPy6nqQnzdh
Tem fancast!!!! Confira em: https://twitter.com/ffosstterr/status/1297724470816378886
Esse tamanho gigante de nota inicial >>talvez<< seja um manifesto contra o banimento delas no pl*s fiction haha VOU LANÇAR A PETIÇÃO, NINGUÉM TIRA MEU ESPAÇO DE COMUNICAÇÃO NÃO.
Surtos à parte, espero que gostem do capítulo ♥



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Eu queria ser Rose. 

Minha prima possui muitas qualidades que justificariam esse meu desejo, como o fato de ser estonteante, popular, daquelas extremamente queridas por todos, inteligente, engraçada e gentil. Isso sem contar a personalidade forte e o talento para ser extremamente boa no que faz. Por Merlin, Rose era irritantemente perfeita, daquelas pessoas que possuem até mesmo os defeitos menos piores. 

E eu? Era somente Albus. Potter, se quisessem algum favor relacionado ao fato de eu ser filho de quem sou. Mas no geral, só Albus. 

Posso não ser o primo mais talentoso, amigável ou querido, mas ser o primeiro membro da família Potter-Weasley a ir para a Sonserina me deu certo destaque. Ao menos as pessoas pareciam me levar mais a sério, talvez por eu ter sido a ponte que fez com que os Malfoy começassem a interagir mais conosco por conta da minha amizade com Scorpius, dando fim oficialmente à rixa de décadas. Ou talvez só ajam como se levassem a sério por medo, quem sabe. A questão é que, fora minha enorme aptidão para Herbologia, Poções - esta última matéria muito porque Slughorn parecia implorar e fazer de tudo para que eu fosse brilhante, sempre oferecendo livros e dando dicas durante as aulas - e xadrez bruxo, não havia nada muito memorável sobre mim. Do contrário dos meus irmãos.

James possuía o ridículo título de capitão do time de Quadribol, enquanto apanhador, ao passo que Lily buscava ensandecidamente um reconhecimento no Clube de Duelos e a fama dos feitiços mais poderosos do quarto ano. Mas eu sabia o que havia por trás dessas atitudes de estrelismo dos meus irmãos: a vontade de serem mais como nossos pais. 

James não era o melhor apanhador do mundo. O flagrei diversas vezes treinando sozinho em caçar o pomo e fracassando várias vezes. Eu sabia que seu súbito problema nos olhos eram uma desculpa esfarrapada para deixar a posição e assumir a de artilheiro, que ele era infinitamente melhor. 

Da mesma forma eu já flagrei Lily chegando à exaustão na Sala Precisa para dominar os complicados feitiços de anos superiores que ela insiste em performar sempre que pode. Ao menos ela não precisou inventar desculpa alguma, como James. 

Esse era um, dos vários, fatores que me diferenciavam dos dois. Eu estava longe de querer tentar ser como nossos pais, pois sabia que era um fardo muito grande para carregar e uma sombra muito densa para acompanhar. Queria fazer minha própria história? Evidente que sim. Eu chegaria a fazer, de fato? Esperava que sim. Eu quero fazer história, mas como? Sendo um herbologista renomado, como Rolf Scamander, marido de minha madrinha, Luna? Ou um professor adorado em Hogwarts, com grandes expectativas de se tornar Diretor, como Neville Longbottom? Eu não fazia ideia ainda. Nem chegava a cogitar poções, porque o mérito das minhas notas excelentes eram totalmente de Slughorn que arranja meios de me dar pontos extras sempre que possível. Não que eu estivesse reclamando, mas era, de longe, uma matéria que eu não gostaria de revisar por anos a fio e muito menos lecionar.

A verdade é que quando você tem dezesseis anos, você não tem certeza do que quer. Não definitivamente, pelo menos. E a história de que os astros possuíam as respostas era totalmente balela. Eu era a prova viva disso. O que eu atualmente tinha certeza é que se eu fosse Rose Weasley minha vida seria infinitamente melhor. E não por não precisar competir pela atenção dos pais com outros dois irmãos, nem por finalmente ter uma rede de amigos muito mais vasta ou os melhores NOM's, e possivelmente NIEM's, da turma. 

A questão é que Rose Weasley era o objeto de desejo do meu objeto de desejo. E, aos dezesseis anos e sem muitas perspectivas de futuro, eu só queria viver o presente, afinal ainda faltava um ano para eu realmente precisar começar a me preocupar para valer com o que estava por vir e Sibila Trelawney havia me iludido profundamente a respeito do meu futuro. E meu presente implicava em sonhar regularmente com meu melhor amigo e colega de dormitório, Scorpius Malfoy, vulgo o objeto do meu desejo. Portanto, eu não ligaria de trocar de lugar com ela por um tempo. Ou permanentemente.  

Mas eu infelizmente não era Rose. Eu era somente Albus. Albus covarde e patético Potter. A chacota dos astros. 

Eu sei que o adequado seria eu começar do começo, mais ou menos no momento em que soube que eu estava apaixonado ou qualquer coisa do gênero. Mas acontece que eu conhecia e convivia com Scorpius há tanto tempo que não havia como saber exatamente quando começou. Só sei que começou. 

O motivo talvez fosse tão nebuloso quanto o ponto de partida, entretanto era mais fácil de visualizar. Scorpius é gentil, do tipo que não mede esforços quando você precisa de ajuda. Possui um sorriso ridiculamente fácil, que, apesar da frequência, nunca fica banal, pois sempre possui uma nuance única. E, a quem eu quero enganar? Ele é bonito. Não de uma maneira convencional, porque há quem diga que seu nariz é um pouco grande e que ele é magro demais para a altura que tem. No entanto, quando o sorriso chega aos seus olhos eu juro que é uma das visões mais belas que eu já presenciei. 

Mas há um dia em específico que eu considero importante ressaltar, pelo fato de que reuniu três das grandes realizações que eu tive no meu sexto ano.

 

Três de dezembro

 

— Não consigo achar o presente. — Scorpius tinha um tom de desespero típico na voz de quando estava perdendo o controle da situação. Apenas revirei os olhos, indo em direção ao seu baú para tentar ajudar a procurar. — Já estamos atrasados.

— Se você não tivesse a mania irritante de ficar meia hora no banho e outra meia hora ajeitando seu cabelo, não estaríamos atrasados. — resmunguei e ele bateu com o ombro no meu, fazendo uma careta.

— Você sabe que meu cabelo não para no lugar.

— Acho que você deveria aceitar isso. Melhor do que perder trinta minutos preciosos todos os dias. — comentei rindo. Eu jamais teria a coragem que ele tem de levantar bem mais cedo do que o usual apenas para isso. — Ou só raspa o cabelo, então. Não ficou ruim da última vez.

— Seu irmão me paga por isso. — falou entredentes, começando a jogar as roupas no chão. — Achei! — ergueu a caixinha vermelha com um laço dourado na minha frente, enquanto estampava um sorriso largo de dentes brancos incríveis, fazendo com que eu focasse na minha parte favorita deles: o pequeno espaço entre os dois dentes da frente que ele costumava odiar. Para mim era simplesmente adorável e quase imperceptível se você não prestasse muita atenção. Era de um charme inimaginável.  

Scorpius ainda não havia me contado o que havia escolhido de presente para Rose, mas era uma caixa bem menor do que eu esperava. Achei que ele lhe daria um livro ou qualquer coisa do tipo, já que os dois compartilhavam um amor absurdo pela leitura. 

— Podemos ir, então? — perguntei enquanto pegava um suéter verde jogado na cama. 

Mal terminei de colocá-lo e senti o cheiro característico de pinho silvestre, o mesmo que senti na poção Amortentia, invadir minhas narinas. Foi como um soco no estômago. Quase engasguei com a realização e Scorpius pareceu ter captado minha inquietação, pois me olhou de imediato, sorrindo de canto ao constatar o que eu estava vestindo.

— Meu suéter fica melhor em você do que em mim.

Era uma mentira deslavada. Verde era a cor perfeita para os cabelos quase brancos de Scorpius. Ele no uniforme da Sonserina era um deleite para os olhos. Especialmente o de Quadribol. Só assim para eu não perder nenhum jogo.  

— Até parece. — despejei sem antes pensar na implicação que aquilo poderia ter. — Como se fosse necessário constatar isso. Eu fico bem em qualquer coisa. — dei um sorriso amarelo para sustentar meu argumento e Scorpius riu, balançando a cabeça e fazendo com que um fio teimoso se desgrudasse do penteado repleto de gel que ele dedicou meia hora.

— Sua autoestima é invejável. — eu não tinha tanta certeza sobre aquilo, mas preferi não entrar naquele terreno. Estava sendo um dia bom. 

Girei a cabeça para tentar avistar o meu suéter e quando fiz menção de tirar o dele Scorpius segurou meu braço. Pude jurar que meu coração sairia pela boca na mesma hora, considerando o arrepio que percorreu minha espinha. E isso que eu estava com o braço coberto.

— Pode ficar, já estamos atrasados mesmo. Eu uso esse aqui. — ergueu meu suéter preto de maneira divertida e eu de repente não sabia como respirar. Talvez eu nunca mais o lavasse novamente depois de hoje. 

Agarrei o meu presente para Rose, um livro trouxa escolhido de maneira totalmente aleatória de uma lista que nós gostávamos sobre os piores livros de fantasia já escritos, uma espécie de tradição e piada interna nossa,  e segui Scorpius porta à fora. 

Por ser sábado, Rose havia dado sorte de conseguir comemorar a data em Hogsmeade, mais especificamente no Três Vassouras, o que era considerado o auge dos aniversários para qualquer um, já que comemorações de dia de semana eram uma verdadeira porcaria. Eu tive sorte de ter tido um pouco de comida diferenciada no meu.

Quando chegamos no estabelecimento ele já estava consideravelmente cheio, com o clássico cheiro de cerveja amanteigada no ar. Não era uma festa reservada, até porque Rose conhecia gente demais por sempre estar envolvida em atividades escolares diferentes de uma vez só e não ligava realmente para penetras, mas também não foi impossível encontrar uma aglomeração incomum de ruivos, vulgo Weasley’s e minha irmã, ali no meio, no que parecia um amontoado de mesas colocado estrategicamente para separar a festa de Rose do restante do bar. 

— Por Merlin, achei que não vinham mais! — minha prima berrou quando nos viu, vindo nos abraçar com um enorme sorriso perfeito no rosto.

— Jamais perderíamos. — Scorpius comentou aos risos, abraçando-a. — Feliz aniversário. — estendeu a caixinha para ela, que parecia surpresa.

— Você e seus presentes… Não sei como você pode se superar em relação ao ano passado, viu? 

Algo que me incomodava um pouco era a amizade à parte que eles tinham. Eu não fazia ideia do que ele poderia ter dado para ela no ano anterior, muito menos o que ele tinha ali em mãos. Tanto ele quanto Rose eram pessoas reservadas. Eu era também, em linhas gerais, e respeitava isso nos outros também. Mas quando o assunto envolvia Scorpius, eu, de alguma forma, ficava um pouco irracional. Era inevitável me sentir curioso ou interessado. 

— Feliz aniversário, Rosie. — entreguei o meu com um sorriso e ela me abraçou forte, o cheiro de lavanda invadindo meu nariz.

— Você manteve nossa tradição?

— Você ainda tem dúvidas? — devolvi com uma piscadela e ela bateu palminhas, animada.

Eu poderia não fazer parte do clubinho de amantes de livros, mas apreciava uma leitura vez ou outra, principalmente se envolvia destrinchar cada parte e criticá-la massivamente. Mas é claro que, para um bom equilíbrio, eu lia algo satisfatório para manter minha sanidade.

— Quero ver qual vai ser a bomba da vez. Mas vamos, reservei um lugar para vocês.

Terminamos de completar a grande mesa dos Potter-Weasley e cumprimentamos com um aceno geral todos que estavam ali e ninguém realmente ligou de não fazermos isso um a um. Eu preferia dessa forma, inclusive achava um saco chegar muito cedo porque sempre precisava me levantar para cumprimentar quem chegava depois com um tapinha nas costas ou qualquer cumprimento idiota.

O ambiente estava aconchegante e, infelizmente, muito quente, o que me fez, com muita dor, retirar o suéter de Scorpius o colocá-lo atrás da minha cadeira. O cheiro de pinho me deixou anestesiado novamente e tentei não parecer um maníaco cheirando a peça de roupa.  

Em questão de poucos minutos Fred já falava animado comigo e com Scorpius a respeito do retorno de The Weird Sisters, uma banda muito famosa da época de nossos pais que faria uma nova tour no ano seguinte, e que estávamos muito animados para ir. Não muito tempo depois, Roxanne começou a nos julgar pelo gosto musical que, segundo ela, é duvidoso, e evidentemente que isso fomentou uma discussão que começou a envolver não só nossos outros primos, como alguns dos outros amigos de Rose que estavam por perto.

— Vocês não sabem apreciar um clássico. — jorrei enquanto bebericava minha cerveja amanteigada, ainda indignado com as proporções que aquilo estava tomando.

— Daqui a pouco você também vai dizer que Celestina Warbeck é sua cantora favorita. — Rigel Thomas-Finnigan me provocou, como costumava fazer sempre que podia, com um sorriso idiota na cara.  

Não contive a revirada de olhos, ainda mais com as risadas que Dominique soltou. Eu sabia o que estava por vir.

— Al e vovó Molly viviam cantando juntos “You Stole my Cauldron but You Can’t Have My Heart” pela Toca nos almoços de Natal. Eu acho que ele é o neto favorito dela só por essa razão, inclusive. 

— Por Merlin, Potter, você adora uma cafonice. — Thomas-Finnigan quase engasgou com a própria bebida, enquanto olhava para o blazer azul-claro para ver se não havia respingado cerveja amanteigada nele, atraindo risadas de várias pessoas. 

— Se for de bom gosto, porque não.

— Acho que cafonice e bom gosto não andam juntos, Al. — Lily cutucou e eu bufei.

— Só porque é antigo não significa que é cafona. Vocês escutam Crazy Pixies achando que eles mandam muito bem, mas as letras não chegam nem aos pés das de Celestina e muito menos as do TWS. 

— Credo, até abreviação você usa. Admite que você é fanboy, Potter. 

— Cala a boca, Finnigan. — resmunguei, já ficando irritado com aquela falação toda. — Não sou o único que aprecia os dois. Fred e Scorpius estão comigo nessa.

— Primeiro que é Thomas-Finnigan e você sabe. — ele possuía o dedo em riste para mim, exibindo o maldito anel prateado de família, com aquele olhar que sempre fazia quando alguém se esquecia de um dos seus sobrenomes. — E bem, nem Scorpius nem Fred defenderam Celestina, só você. 

— Ele nem está mais aqui pra dizer qualquer coisa, inclusive. — Fred reparou e eu olhei ao redor do estabelecimento, notando que meu amigo realmente não estava mais ao meu lado. Meu suéter preto, no entanto, estava na cadeira ao lado. Onde ele poderia ter ido? — Mas falo por mim que Celestina é incompreendida demais. Um ícone. Se vovó Molly aprecia, eu respeito. 

Fiz um high-five com Fred, olhando com raiva para Rigel, Roxy e Domi. As duas balançavam negativamente a cabeça, mas Rigel me encarava com os olhos semicerrados e um sorriso de canto debochado. 

— Al gosta de coisas esquisitas, eu nem discuto mais. — James, inconveniente como sempre, fez questão de falar alto. 

— James… — Lily repreendeu e eu agradeci internamente por isso. Podíamos não ser tão próximos, mas ela sempre fazia questão de me defender das babaquices de James, que eram mais frequentes do que eu gostaria. — Você tem zero filtro para as coisas e quer falar sobre coisas de coisas esquisitas? Fala sério. 

Não contive um sorriso, assim como o restante da mesa. Meu irmão apenas revirou os olhos, voltando a conversar - ou encher a paciência - da coitada da Alice Longbottom. 

— Mas tá, se você diz que Crazy Pixies é ruim, não sei porque torrou seu dinheiro indo naquele concerto do Grindy-lows na Alemanha. — Dominique bateu na mesa e jogou o cabelo loiro curto para trás, querendo provar o ponto dela de que tudo que eu gostava era muito inferior ao que ela gostava. 

— Ok, Dominique, aí você viajou. — foi Rigel quem falou, passando a mão pelos cabelos negros baixos e cacheados. — Os Grindy-lows são a melhor revelação dos últimos cinco anos. 

— São autênticos. — completei e a Rigel assentiu com assertividade, arregaçando as mangas do blazer e exibindo parte de uma tatuagem com linhas e pontos, que eu não conseguia identificar muito bem, sobre a pela negra.

— Eu fui ao concerto na Alemanha também e sinceramente valeu cada centavo.

— Obrigado. — gesticulei com a mão e Rigel sorriu, encostando na cadeira novamente. Talvez aquela fosse a primeira vez que concordávamos em alguma coisa. — Crazy Pixies só é mais um conteúdo com fórmula batida pra fazer as fãs surtarem e estarem dispostas a dar todo o dinheiro por coisas bobas. Ou pensa que eu não sei que sua mãe te deixou quase um ano de mesada por você ter gastado tudo com coisas da banda?

— Porra, Dominique, entre gostar de Celestina e The Weird Sisters e torrar trocentos galeões com Crazy Pixies, acho que o Potter não está tão mal na fita.

— Ai, vocês são dois chatos. — Dominique se emburrou, jogando-se para o encosto da cadeira com uma tromba enorme na cara e os braços cruzados.

Lily revirou os olhos, soprando a franja que caía no olho e tomando um gole de sua água com gás com limão, como sempre pedia, e franziu o cenho ao olhar em volta.

— Como é que a aniversariante some no próprio aniversário? 

Foi então que me ocorreu que nem ela nem Scorpius eram vistos há uns bons vinte minutos. E aquela constatação não me deixou nada tranquilo. Muito menos as piadinhas que vieram depois de praticamente todos os meus primos a respeito de como eles deveriam estar juntos e se beijando. Ou qualquer coisa do tipo. 

Não queria ficar ali ouvindo toda aquela ladainha, então me levantei de imediato para ir até o bar. Encarar a fila gigante não parecia tão ruim. Era melhor do que ficar ouvindo Fred narrando um possível diálogo meloso entre meus dois amigos. 

— Você é tão transparente que chega a ser deprimente. — Lily me surpreendeu com sua chegada repentina, enquanto batia no meu ombro de leve.

— Desculpe? — em geral não nos falávamos sempre, muito menos daquela maneira tão invasiva, então era uma situação mais que atípica. E muito desconfortável, inclusive, porque eu estava extremamente irritado com o sumiço dos dois.

— Você fechou a cara quando todos começaram a falar dos dois. Parecia que iria matar alguém. — ela balançou a cabeça, rindo de uma forma zombeteira. Suspirei colocando as mãos no bolso. — Deve ser uma merda estar apaixonado pelo melhor amigo.

O quê?

Aquilo me pegou de surpresa, de maneira que eu pude sentir meu corpo inteiro gelar. Olhei para os lados, temendo que alguém pudesse nos ouvir, então finalmente a encarei com os olhos arregalados.

Ninguém fazia ideia que eu era gay. Bem, nunca havia contado a ninguém, mas aparentemente as pessoas - ao menos Lily - tinham uma certa ideia disso, afinal. 

— Como você… 

— Pega seu suéter, vamos conversar lá fora. — indicou com a cabeça enquanto coloca seu gorro branco e notei que ela tinha o dela em mãos. Provavelmente já tinha a ideia de me puxar para conversar desde que eu saí da mesa. Foi um pensamento que me deixou um pouco mais feliz. 

Fiz menção de ir até lá, mas Scorpius estava de volta, em pé, conversando com Josh McLaggen.

— Ok, eu pego. — Lily revirou os olhos e foi a passos largos em direção à mesa. 

Quando finalmente chegou minha vez no balcão, pedi rapidamente dois copos de cerveja amanteigada em descartáveis. 

— Al, você sabe que eu não bebo nada além de água ou suco. — franziu o cenho para os dois copos em minhas mãos.

— Eu sei. São para mim. — falei com um resmungo enquanto bebericava um. — Se eu vou te contar essa história, vou precisar de um reforço. 

Fomos para a frente do bar, sentando em um dos banquinhos de pedra que tinham por ali. O vento levemente gelado de quase fim da tarde me fez tremer o queixo um pouco e Lily logo me estendeu o suéter. O meu e não o de Scorpius. 

Hesitei por alguns segundos, pois no fundo queria usá-lo por mais um tempo. Lily percebeu minha estranheza.

— O que foi?

— Sem querer acabei vindo com o suéter dele e ele com o meu. — dei de ombros, suspirando. 

— Se for pelo cheiro, eu sinto o perfume de pinho daqui. 

— Não é pelo cheiro. — respondi a contragosto, embora eu não reclamasse de sentí-lo de forma alguma. — É que, sei lá... 

— É tão brega querer usar as roupas da pessoa que gosta. — ela torceu o nariz, agora um pouco avermelhado pelo frio, e eu ri. Lily era a pessoa menos romântica que eu conhecia e não fazia questão nenhuma de esconder. — E afinal, aquilo lá é só poliéster. Seu suéter de lã feito pelo papai dá de dez a zero naquele lá. 

Não contive o sorriso enquanto o vestia. Lily sabia como me animar, de certa maneira. 

— Ainda não acredito que ele aprendeu a tricotar para continuar nos dando suéteres de natal depois que vovó Molly adoeceu. 

— Eu não acredito que nós fomos as cobaias. Meu suéter bege tem uma manga maior que a outra. Você foi o único que ficou com o melhorzinho. James usa o dele para vestir o boneco de pancadas que ele e Fred mantêm no dormitório. Ridículo. Não à toa você é o filho preferido.

Filho preferido. Aquela expressão parecia tão absurda aos meus ouvidos que eu não segurei uma risada incrédula. Lily me olhou com a sobrancelha arqueada, como se estivesse me perguntando o que tinha de tão engraçado no que ela havia dito. 

— Fala sério, Lily. Eu não sou o filho preferido. Você é a caçula, a garotinha do papai… James é o primogênito… Quem sou eu na fila do pão.

Foi a vez dela de rir, mas dessa ver gargalhar com vontade.

— Acho que deve ser um consenso universal de que todos os irmãos acham que são os menos favoritos dos pais. James também acha que você é o favorito. 

— Você está delirando, Lily.

Ela me encarou por alguns minutos com seus olhos castanhos gigantes. Havia um tom de diversão e de provocação em seus olhos.

— Você fica tão focado em ser diferente de nós dois e dos nossos pais que não percebe o quão somos parecidos. 

Segundo choque da noite, de algo que Lily despeja sem me preparar de maneira alguma para o impacto da coisa.

— James se apega ao que esperam que ele seja. Você ao que não esperam que você seja. E eu estou no meio termo. Quero dizer, eu admiro demais a mamãe por ser uma bruxa talentosíssima, mas não quero ser como ela. Quero ser eu, em uma versão melhor de mim, sabe. 

E foi quando ela despejou que James se sentia na obrigação de ser bem sucedido no Quadribol e em qualquer outra coisa que faça por sentir o peso da combinação de deus nomes. James, em homenagem ao avô, Sirius, dedicado ao melhor amigo do avô e padrinho de nosso pai, e Potter, que carrega o peso de anos de história de bruxos incríveis e, mais precisamente, de Harry. 

Mas Lily também revelou que, para ela, a questão não envolvia nomes ou sobrenomes, mas sim rótulos. Quando Lily nasceu, todos diziam que ela era a princesinha Potter, no entanto ela não queria ser resumida a isso. Queria, sim, entrar logo em Hogwarts, enquanto observava todos os seus primos já estudando lá. Não por birra, mas porque queria provar o seu valor. Queria ser tão poderosa quando sua mãe e sua tia Hermione, porque detestava que lhe dissessem que ela fraca ou jovem demais. E por isso treinava tanto. 

— O ponto que eu estou querendo provar é que você pode tentar ser diferente de nós, que no fim está meio que fazendo a mesma coisa. Querendo ser reconhecido por seus feitos, independente de quais. Acho que está no sangue Potter isso de querer se provar. 

A encarei por alguns instantes, percebendo o quão ela parecia madura demais para a idade, apesar de lembrar dos momentos em que ela pregava peças em Hugo apenas por estar entediada ou reclamava sem parar quando perdia no xadrez bruxo para mim.

— E onde mais você quer chegar com toda essa informação em forma de socos no estômago?

— Em dizer que você pode permitir minha aproximação. E a de James. — Lily refletiu por alguns instantes e balançou a cabeça, fazendo uma careta. — Mas não deixe o James se aproximar demais, ele ainda é meio idiota.

Finalizei meu primeiro copo, me sentindo extremamente confortável por estar tendo uma conversa tão aberta com Lily, mas, ao mesmo tempo, ficando ansioso a cada segundo que se passava por ter que falar em voz alta pela primeira vez sobre minha paixão reprimida.

— O que mais eu preciso dizer para você entender que eu entendo você, que somos irmãos e eu estou doida para saber o que está rolando?

Então eu contei, mais ou menos como fiz anteriormente, sobre como eu não fazia ideia nem de como nem de quando começou toda a história. E Lily foi uma ótima ouvinte, se mantendo em silêncio até que eu terminasse tudo, e me olhando como se estivesse absorvendo cada palavra.

Tirar aquilo do peito era um alívio. Eu não fazia ideia do quão aquele sentimento me sufocava até finalmente conseguir que podia até respirar melhor depois de despejar tudo aquilo que eu vinha acumulando há uns bons anos. 

— E você acha que ele seria capaz de te corresponder? 

Justamente a pergunta que eu evitava me questionar.

Era confortável observá-lo de longe, em um sentimento platônico torturante, mas constantemente alimentado e afagado pelo fato de sermos amigos e andarmos sempre juntos. A realidade de que Scorpius era hétero e eu jamais teria chance era horrível demais, então eu apenas a ignorava, até porque ele nunca havia me falado sobre nenhuma garota, o que me dava margens para fantasiar que ele talvez fosse secretamente apaixonado por mim também.

Eu não queria ouvir as palavras sobre ele e Rose justamente porque ela acabaria sendo a primeira garota. Eu não sei se seria capaz de suportar a ideia dela sendo o primeiro amor dele, pois aquilo implicava que era ela quem ocupava os pensamentos dele. E também que, provavelmente, eu não tinha nenhuma chance.

Não tive tempo de responder porque, do outro lado da rua, saindo pela porta do Três Vassouras como se fossem dois fugitivos, Rose e Scorpius estavam de mãos dadas, dirigindo-se para a lateral do estabelecimento. Estavam preocupados demais com alguém lá de dentro notar que eles estavam se afastando, que sequer perceberam os espectadores que estavam sentados ali a poucos metros. 

— Acho que isso responde sua pergunta. — falei sem emoção, tomando o maior gole possível de cerveja amanteigada.

Lily me olhava com uma expressão que beirava a pena, o que me fez sentir extremamente mal, já que minha irmã não costumava sentir pena de ninguém. Pensando nisso que eu resolvi terminar logo a cerveja e puxei-a para dentro novamente. 

Antes que pudéssemos passar pela porta, ela me segurou.

— Você está bem?

— Vou ficar. — sorri minimamente, tentando me convencer daquilo, mas não tinha tanta certeza. 

Fred e Rigel agora provocavam Dominique sobre qualquer outra coisa aleatória e, apesar de alguns olhares esquisitos que alguns dos meus primos mais atentos, como Roxy e Hugo, me lançavam, além de Lily e até mesmo Rigel e Lysander Scamander, eu preferi não dar muita margem. 

Fazia alguns comentários pontuais, apenas para que ninguém me perguntasse o motivo de eu estar tão quieto, mas ficou mais difícil ainda de disfarçar quando notei que Rose se sentou sozinha à minha frente, minutos mais tarde, como se nada tivesse acontecido, vestindo o suéter verde de Scorpius e ostentando um colar com um pingente de rosa em ouro branco que eu tinha certeza que não estava ali mais cedo.

Instintivamente olhei para o encosto da minha cadeira, de maneira inútil, já que o suéter estava bem ali na minha frente. Mas eu precisava constatar. Lily também notou e fez uma expressão de quem sentia muito. 

Rose inventou qualquer coisa sobre ter passado em uma loja para comprar umas lembrancinhas quando Dominique a questionou do porquê do sumiço por tempo demais e eu senti um gosto amargo preencher minha boca. Não muito tempo depois Scorpius apareceu com duas cervejas amanteigadas, dando uma delas para mim, anunciando que ficou preso conversando com alguns amigos da Sonserina.

Obviamente ninguém comprou aquela desculpa, pois James bem observou que Rose estava vestindo um suéter verde demais para uma grifinória como ela e as bochechas e orelhas coradas dos dois revelou o que já estava escancarado. 

Não contive meu olhar acusatório para Scorpius, que balançou a cabeça, rindo.

— Depois eu te conto. Eu sei que parece loucura porque nunca falei nada, mas já estava acontecendo há algum tempo. 

Me senti idiota de repente, porque os dois viviam juntos para lá e para cá por conta do maldito grupo de leitura que eu sempre alegava ter preguiça demais para participar. Por um instante desejei que eu tivesse mais gosto em ler rapidamente da forma com que eles faziam. Scorpius andava demorando demais a retornar das rondas da monitoria e eu sabia que Rose era a monitora geralmente escalada para fazer rondas com ele. Tudo parecia se encaixar. Estava óbvio, só eu não percebi.

 — E ah, desculpe pela troca de suéteres. Mas eu sei que você não se importa, o seu é bem mais quente que o meu. — a piscadela e o sorriso que ele deu pareciam crimes diante daquela situação toda. 

— Agora que Rose é oficialmente maior de idade, todos nós sabemos onde precisamos levá-la. — James anunciou depois de um tempo que as discussões sobre o nome do mais novo shipper do momento, o asqueroso Scorose, que mais parecia nome de doença pulmonar. 

— Ah, não James! Eu sou uma verdadeira molenga pra sentir dor. — ela gemeu em negação, mas James negou com a cabeça.

— Deixe de ser dramática, Rose. E além do mais, é Teddy que comanda o estúdio em cima do bar do velho Aberforth. Vai dar tudo certo.

A tradição que Victoire e Teddy iniciaram sem querer era a de adquirir uma tatuagem ao completar a maioridade bruxa, tudo porque tatuagem era a paixão de Teddy que  eventualmente tornou-se sua profissão. Tia Fleur quase morreu do coração quando Teddy brincou que havia tatuado um hipogrifo nas costas de Victoire, quando na realidade era uma homenagem de três centímetros para a bisavó de minha prima com uma silhueta quase imperceptível. 

James e Fred acharam a história tão sensacional que adotaram isso como tradição. E sim, meu irmão e meu primo realmente tinham hipogrifos tatuados pelo corpo. Como um belo par de idiotas, como às vezes - para ser sincero, maior parte do tempo - eram.

   — Acho que eu vou embora. — sussurrei para Lily enquanto o grupo de pessoas que iria para o Cabeça de Javali se aprontava para pagar a conta. 

Scorpius e Rose não faziam nem questão de esconder que estavam tendo algo. Ela colocava a mão no ombro dele, se ajeitando no suéter verde bem maior que ela e ele se inclinava discretamente em sua direção, com um sorriso escancarado.

A cena toda me fazia querer vomitar. Lily me olhou como se eu fosse idiota.

— E dar na cara? Fala sério, Al, você nem sabe se isso vai mesmo dar em alguma coisa. A Rose é complicada, você sabe.

E realmente era. Um dia estava totalmente apaixonada e no outro dizia que havia se cansado do cara que estava saindo. Assim, sem mais nem menos. 

Mas, para minha mente ciumenta, com leves aspectos de inveja, ela estava olhando diferente para ele. E Scorpius, bem, ele nunca olhou para ninguém assim. 

— Pra que me sujeitar a essa situação ridícula? 

— Eles nem vão ficar juntos, Al. E além do mais, Rose ainda é sua prima e ainda é aniversário dela. 

Lily tinha razão. Infelizmente. Eu não queria dar o braço a torcer e provavelmente falaria que bastava eu inventar uma intoxicação alimentar, pois minha família inteira achar que eu estava deixando-os por conta de vômitos e diarréia era melhor do que aturar toda aquela situação, quando Scorpius se aproximou sorridente.

— Vamos ficar para trás e conversar. 

Foi ridiculamente doloroso ouvir sobre como ele andava pensando nela há alguns meses e que, apesar de passarem muito tempo juntos flertando, o beijo em si havia acontecido apenas naquela noite. O primeiro sumiço deles havia sido quando ambos foram ao mesmo tempo no banheiro e se esbarraram na saída, onde ficaram conversando por um tempo, até um visco estúpido se formar sobre eles e ele tomar a coragem - extremamente rara - de beijá-la. 

— Muitos convidados e conversas depois, nós finalmente saímos para os fundos do bar. — falou enquanto ria pelo nariz, encolhendo-se pelo frio, já que Rose ainda usava seu suéter. Quis chamá-lo de estúpido, pois Rose tinha uma blusa leve por baixo e não precisava de fato usar a blusa dele e deixando-o passando frio. 

— Eu vi vocês. — não havia porque esconder e nem porque salientar, mas eu quis dizer aquilo, como se estivesse o acusando de que o segredinho deles não era tão secreto assim. 

Scorpius me olhou com confusão e, se eu não estivesse imaginando coisas, receio. Me senti idiota por ele ter sequer notado que eu não estava lá dentro e nem no banheiro, de onde ele tinha acabado de sair com Rose.

— Eu estava no banco do outro lado da rua.

— Ficando com alguma garota? — sua suposição me fez querer vomitar por inúmeras razões. 

— Estava conversando com Lily.

— Oh. — ele franziu o cenho, pois sabia que não era comum conversarmos assim do nada em particular. Ou de qualquer outra forma. — Sobre o que?

— Aparentemente eu, ela e James somos mais parecidos do que gostamos de admitir. — dei de ombros e Scorpius riu.

— James pode ser um dos meus amigos, mas você e ele não têm nada a ver. E nem Lily com nenhum de vocês, para falar a verdade. 

Considerei lhe explicar o que Lily havia me dito, no entanto senti que aquilo era algo particular meu e de Lily - e até mesmo James, se fôssemos ser sinceros - e no momento eu não estava confortável com Scorpius o suficiente para abrir meu leque de defeitos e fraquezas. 

— É. — assenti sem muita emoção, me ocupando em observar Rose de longe.

Negar sua beleza seria uma falácia. Rose parecia e era um anjo. Não de uma maneira convencional, pois sabia ser extremamente temperamental, além de fazer jus ao signo de sagitário com seu senso de humor apurado e sua aptidão para somente entrar em discussões que sabia que sairia ganhando. Era uma das minhas primas favoritas, o que me fazia ficar mais frustrado por toda a situação. Mas o que eu poderia fazer? Não se pode fazer alguém gostar de você ou deixar de ser hétero do dia para a noite.

— O que você vai fazer? — ouvi James perguntar enquanto abraçava os ombros de Rose, batucando vez ou outra por ansiedade. 

— Albus, se você não achar que estou copiando você, vou fazer a constelação do meu signo. — ela ter dito aquilo em voz alta me deixou um pouco desconfortável, porque não eram muitas pessoas que sabiam daquela informação. 

James me olhou com o cenho franzido. Até onde ele sabia, eu havia me negado a fazer a tatuagem por achar a tradição ridícula. Mas a questão é um dia eu fui fazer a tatuagem, na companhia de Rose e Lysander Scamander, e acabei não contando a ninguém. 

Senti os olhos de Lily em mim, assimilando a informação e me segurei para não olhar para a cara de Scorpius, que tinha os olhos em mim, e também não sabia daquela novidade.

— Você tem um escorpião tatuado no corpo? — foi o boca aberta sabidinho irritante do Rigel Thomas-Finnigan que falou com um tom presunçoso. 

— Como você sabe que eu sou de escorpião? — perguntei irritado, querendo adiar a minha explicação e Rigel apenas riu.

— Você é do dia vinte e três de outubro, não é? Eu apenas sei bastante sobre signos. — ele deu de ombros e eu estava prestes a perguntar como diabos ele sabia minha data de aniversário quando Rose bufou alto.

— Para que o deboche? Não é um escorpião literal, é a constelação. Apenas os pontinhos das estrelas, para falar a verdade, sem nem ter as linhas que ligam. — explicou enquanto gesticulava e James segurou um sorriso.

— Vocês são dois idiotas de acreditarem nessas baboseiras. 

Sim, eu me sentia um enorme idiota e estava agradecido por ter escolhido fazer apenas os pontinhos e não ter feito a ligação, já que pouco depois eu havia me arrependido totalmente daquela tatuagem. Quem a visse jamais identificaria, mas agora Rose havia feito questão de contar a todos. 

Antes que ficasse estranho demais eu encarei Scorpius, que me olhava de uma forma esquisita. 

— Eu sei que você não liga para Astrologia, então não te contei. — dei de ombros e ele assentiu lentamente. — E é uma tatuagem estúpida, de qualquer forma. Eu poderia ter passado a vida sem que ninguém soubesse, mas Rose fez o trabalho de contar por mim. — forcei meu melhor sorriso, numa falha tentativa de controlar minha raiva. 

A questão é que eu estava me sentindo ridiculamente enganado pelos astros. E era tudo culpa de Sibila Trelawney. 

 

23 de outubro - três anos antes

 

Poderia ser uma aula normalmente tediosa de Adivinhação, ainda mais para os alunos do terceiro ano, já que estávamos começando a ter contato com a matéria e o comportamento excêntrico da professora não ajudava a favorecer muita credibilidade. No entanto, ao fim do período, Sibilia pediu para que eu, Lysander e Rigel, que estávamos sentados na mesma mesa lendo borras de café, ficássemos por alguns minutos.

— Senhores, gostaria de lhes dizer que a leitura de vocês hoje foi impecável! Se tiverem interesse em aulas extras, saibam que terei todo o prazer em ajudá-los. Reconheço talentos quando os vejo e os três, apesar de unidos pelo atraso na aula, certamente se encaixam como tais. 

Me remexi desconfortavelmente para ajeitar a mochila, porque eu e Lysander estávamos atrasados por conta de Lily e Rose haviam me sequestrado para um café da manhã diferenciado com comidas que Hugo, por ser da Lufa-Lufa e extremamente próximo dos elfos domésticos, havia surrupiado para mim. Quanto à Thomas-Finnigan, ele se atrasar era somente parte de sua rotina já bem conhecida.

— Desculpe, professora. Não nos atrasaremos mais. 

— Sim, desculpe. — assenti juntamente com Lysander e Rigel se manteve em silêncio, mesmo quando o encaramos aguardando o pedido de desculpas.

— Bem, também peço desculpas, mas não posso prometer não me atrasar. É mais forte do que eu. — o sorriso que ele deu me fez revirar os olhos de indignação. — Não sei quanto aos dois, mas eu aceito suas aulas extras. Ainda mais se pudermos falar mais sobre o poder dos astros. Particularmente não me sinto contemplado pelas aulas do professor Rooney. 

— É totalmente compreensível seu interesse no assunto, querido. Não seria diferente, com um nome como esse. Vou fazer o possível para te ajudar com as respostas que procura.

Não entendi de imediato a relação que ela estava fazendo, mas parecia ter agradado à Rigel. Lysander me olhou de canto de olho, mais desesperado para sair dali do que eu.

— Hã, estou com algumas aulas extras já, professora, mas agradeço o convite.

— Também estou atarefado. — acrescentei rapidamente, fazendo minha melhor cara de quem estava realmente triste por não poder participar. 

— Entendo, rapazes. Mas saibam que o convite estará sempre de pé, caso queiram. — sorriu de uma maneira tímida, segurando na mão de Lysander para agradecer. 

Mas quando ela se virou para mim e agarrou minha mão, parecia que havia levado um choque. Seus olhos se arregalaram e suas mãos envolveram a minha com uma força descomunal. 

Por um segundo tive medo de que ela fosse me fazer uma previsão desastrosa, como o dia ou a forma da minha morte, mas ela logo abriu um sorriso, acariciando meu rosto.

— Seu coração anda turbulento demais. Mas não se preocupe, a resposta está nas estrelas. O que você mais deseja alcançar, está lá. E oh, possui relação com o dia de hoje. Não só o dia, mas o mês. E não tem relação com um dia específico. Não, não… Vai muito além do espaço tempo. É algo que transcende até mesmo sua existência. Você vai conseguir o que quer. Mas saiba que é uma longa caçada, afinal. 

E, da mesma forma que começou, terminou. Sibila desviou os olhos, como se não tivesse falado nada demais e se virou para Rigel, que me olhava de uma maneira esquisita, assim como Lysander. 

— Hoje é seu aniversário. Então provavelmente vai acontecer hoje. 

— Lysander, ela disse que não tem relação com um dia específico. Se é maior do que o tempo… Bem, o que é maior que o tempo?

— Vou tentar procurar algo na biblioteca, depois te falo. Não sei se consigo fazer nenhuma ligação agora. 

Aquilo tudo parecia uma loucura muito grande e, por mais que eu quisesse ajuda, eu queria desvendar aquilo logo, e infelizmente Lysander não tinha toda a disponibilidade do mundo para isso, ainda mais sendo monitor-chefe.

Passei o restante da semana tentando questionar Sibila, que não tinha muita certeza do que dissera, assim como boa parte dos livros de adivinhação da biblioteca, quando Thomas-Finnigan soltou um livro na minha frente. 

— A professora Sibila me pediu para te entregar esse livro.

— Mas é sobre signos.

— Exatamente, gênio. — falou como se fosse óbvio e saiu, mais rápido do que chegou.

Foi quando eu entendi. Não era sobre o dia ou a semana do meu aniversário. Era sobre meu signo. A resposta estava nas estrelas, estava no meu signo. 

Eu já sabia que havia uma possibilidade de eu estar ligeiramente apaixonado por Scorpius há um tempo, ainda mais quando ele voltou tão diferente das férias de verão. Até o segundo ano eu apreciava sua companhia mais do que poderia ser considerado normal, mas no terceiro ano e com ele indo em direção oposta à maioria dos garotos da nossa idade e ficando consideravelmente atraente eu me pegava cada vez mais vezes o encarando por aí. Foi então que a realização de que éramos do mesmo signo e que eu alcançaria o que meu coração mais desejava juntou todas as peças. Scorpius era a resposta. De alguma maneira ficaríamos juntos. Só assim meu coração se acalmaria. 

Contei meia verdade para Lysander. Ele não precisava saber do meu amor platônico por Scorpius. Só de informá-lo que a resposta estava no meu signo já estava de bom tamanho. Desde então, me tornei um aficcionado por signos, lendo as previsões, muitas vezes erradas, do Profeta Diário, e encontrando algumas muito mais assertivas no Pasquim, apesar de totalmente aleatórias. Não esqueço de quando previram que eu deveria tomar cuidado com comemorações exageradas e Dominique acabou vomitando no meu pé de tanto que ficou animada com a vitória da Sonserina sobre a Grifinória, já que saiu pulando pelo Salão Comunal depois de ter comido umas cinco tortinhas de abóbora. Escrevi um agradecimento quando acreditei que deveria passar longe de lagos e, na mesma semana, três estudantes foram atacados pela Lula Gigante.

Basear minha vida acadêmica e pessoal em torno dos signos estava dando certo, tão certo que passei a ser conhecido entre meus amigos e familiares como o louco dos signos. Lysander era o que mais recorria a mim, como um bom pisciano enlouquecido por respostas e às vezes um pouco lerdo demais para perceber as coisas. A sugestão de tatuar o símbolo foi dele, por mais que eu sempre tivesse dito que tatuar alguma coisa com dezessete anos era ridículo demais, já que o que nós gostávamos poderia mudar com muita facilidade e o arrependimento da tatuagem viria em seguida. O ponto dele era válido, no entanto. Eu era do signo escorpião, não é algo que eu necessariamente me arrependeria, porque fazia parte da minha história. Além do mais, seria meu segredinho, já que era uma forma de compartilhar uma pequena lembrança à respeito de Scorpius. Estive relutante, de qualquer forma, mas acabei indo na onda de Rose, que sabe ser extremamente persuasiva quando quer, e estava convenientemente perto na hora, dizendo que aproveitaria para ver se conseguia perder o medo para quando chegasse a vez dela dali poucos dias. Teoricamente não tinha como eu me arrepender. Mas devemos sempre considerar essa possibilidade. E foi exatamente o que aconteceu.


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Notas finais do capítulo

Gente primeiro que TRÊS DE DEZEMBRO É MEU ANIVERSÁRIO, então amei conseguir encaixar a Rose dividindo a data comigo hehe Sagitarians Rules! É óbvio que Al e Scorpius iriam compartilhar o mesmo signo...... Quem nunca se iludiu como o Albus em acreditar que o amor estava em respostas aparentemente óbvias como essa?



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