a case of you escrita por Eponine


Capítulo 1
Capítulo 1




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Remus já havia a olhado quando Nymphadora notou sua existência.

Suas madeixas laranjas estavam fugindo do coque no topo da sua cabeça, o qual tentou fazer horas antes, ansiosa em parecer adulta, mas fracassando ao notar que estava chovendo e não pensara muito bem quando colocou sua galocha de glitter com florzinhas.

Ela já tinha roído toda sua unha do dedo médio, ouvindo uma discussão política complicada demais, havia ido ao banheiro alguns minutos antes e uma mulher lhe dissera que sua meia calça vinho escuro estava se desfazendo na parte de trás, o que a fizera desistir de tudo e engolir um copo cheio de uísque de fogo. Quis se aproximar de seu suposto tio, mas ele estava muito ocupado flertando com Emmeline Vance, não muito longe dali.

Estava colocando o peso do corpo para o pé esquerdo, aquecendo as mãos em seu casaco de tricô comprado em uma viagem para Machu Picchu, ouvindo Bill Weasley reclamar de algo sem importância quando seus olhos bateram em um homem estranho ao longe.

Ele parecia atento ao que Mad Eye estava falando, porém apenas fisicamente: Ele claramente estava pensando em outra coisa enquanto encarava seu copo de uísque. Suas roupas eram velhas e simples, e seu rosto parecia manchado de velhas feridas.

“Quem é aquele?” perguntou Nymphadora, simplesmente interrompendo a conversa do grupo em que estava, apontando seu queixo em direção do homem.

Bill virou-se rapidamente e a olhou.

“Remus Lupin”, respondeu, “Sua mal educada”.

Nymphadora Tonks o ignorou e olhou o homem em silêncio, curiosa e envergonhada, por algo que ela não entendia. Respirou fundo, frustrada pelo homem nunca levantar os olhos de seu copo. Olhou a iluminação escura e o cheiro de mofo na Casa dos Black e pensou em sua mãe com vozes adultas e baixas a sufocando.

Os olhos cor de mel do Lupin sorriram discretamente, sentindo falta de James. Parecia sentir o aperto da mão do velho amigo em seu ombro, entretendo a roda, e quando conseguira atingir o pico da gargalhada em seu público, chegaria em Remus e diria baixinho, olhando a garota de madeixas laranjas, se destacando das cores escuras e castanhas: “meu deus, o que ela estava pensando?”.

Remus sentiu vontade de vomitar.

Atreveu-se olhá-la e desviou rapidamente quase assustado ao ser pego no ato. Os olhos escuros perfurantes da garota o encaravam como se fosse a única pessoa no local. Tentou se concentrar em Alastor, porém Remus sentia os olhos dela em cima dele.

Olhou para Sirius, conversando com Emmeline, talvez aquilo fosse um mal de família. Sirius gostava de encarar as pessoas.

Começou a suar frio e passou a mão nos cabelos, respirando fundo. Meu deus ela não vai parar, gemeu internamente, sabendo que com toda certeza aquilo era um mal de família. Quando sentiu uma movimentação da mesma, desesperou-se tentando pegar algo em canto de olho.

Nymphadora apertou o ombro de Bill, aproximando-se.

“Eu vou falar com ele”, anunciou.

“Por favor, pare de perturbar as pessoas, você já conseguiu expulsar Hestia Jones daqui”

“Eu não a expulsei”, a garota arregalou os olhos com a acusação.

Você não parava de falar”, suplicou Bill, a segurando. Nymphadora apertou o cachecol colorido em seu pescoço e observou o homem se despedir do grupo onde estava. A garota apertou o passo e foi em sua direção, quase correndo para alcança-lo. Nesses momentos, a mente de Nymphadora se desligava e ela apenas fazia as coisas, assim como simplesmente puxou seu casaco, o parando.

Sorriu, nervosa, em ver como ele era alto. Seu rosto era velho e marcado, como o de seus professores. Por um momento, sequer conseguiu falar, observando as marcas de seu rosto. Ele parecia inexpressível quando colocou as mãos no bolso da calça, a olhando.

“Meu nome é Nymphadora Tonks”, ela deu a mão para que ele apertasse, e se assustou com a aspereza do aperto breve. “Você é?”

Remus segurou sorriso para o “você” e soube que um “senhor” sequer deve ter passado pela mente da mesma.

“Remus Lupin”. Olhou os olhos escuros o encarando com curiosidade e reunião coragem para sorrir brevemente, “bem, eu-”

“Você foi professor de Defesa Contra as Artes em Hogwarts. Em 93, certo? Eu fiquei sabendo porque uma amiga minha teve aula com você, a Hannah Horvath, se lembra dela? Ela é bem feia, e eu posso falar isso pois a feiura é meu estandarte de guerra, eu conheço o feio de igual pra igual... Enfim, ela me disse que você foi o primeiro professor bom de DCAT desde... Sei lá, 89? Aliás, eu fui uma ótima-” Remus detestava esse tipo de gente. Parecia que ele atraia pessoas assim, que sabiam que ele era incapaz de interromper e simplesmente sair andando, que ele tinha falhas sociais que o condenaram a ouvir horas e horas de alguém falante sem ser capaz de fugir, ele fora uma grande vítima de James Potter.

Se perdia e se encontrava no falatório da garota diversas vezes, assentindo de vez em quando, observando os brincos em sua orelha e as unhas descascando, pensando em seus alunos de Hogwarts... Sentiu vergonha de alguém pensar que estava talvez flertando com ela, então assumiu uma pose mais distante, até dando um breve passo para trás.

Nymphadora viu os olhos cor de mel encararem sua camiseta e sorriu, o arrastando para a mesa de bebidas.

“Você também gosta de Neil Young”, sussurrou ela, como se fosse um segredo.

Remus ergueu as sobrancelhas.

“Uma velha amiga que gostava muito, acabei ouvindo bastante”.

“Que amiga?”, perguntou ela, e se sentiu idiota, afinal, ela não conhece os amigos de Remus, mas ele deu um triste sorriso.

“Lily Potter”, respondeu.

“Desculpe, eu sou tão intrometida. Nunca sei quando parar... Eu tive um amigo que morreu, e desde então parece que estou presa entre uma história e outra, eu nunca finalizo nada... Sempre um recomeço sem fim... Fim sem término... E você?”

Remus ficou em silêncio, sem entender direito sobre o que estavam falando. Fitou seus próprios pés e engoliu o conteúdo no copo de uísque que a garota lhe dera.

“Eu... Não sei”, pousou o copo. “As coisas não têm tido muito final para mim”.

“Melancólico”

“Uma outra velha amiga”, sorriu Remus. “Olhe, eu-”

“Não quer ir à minha casa? Eu comprei o Crazy Horse original de 75 esses dias, eu não ouvi ainda eu... Eu sempre me guardo para ouvir discos de artistas que gosto muito. Não quer ouvir também?”.

Remus ficou encabulado em como a menina não tinha um pingo de timidez. Fitou os olhos castanhos escuro, completamente sem palavras. Ela parecia inexpressível, pronta para reagir conforme o roteiro lhe ordenasse.

Ele sempre soubera se desvencilhar de armadilhas sociais, e em algum momento do tempo, a real personalidade de Remus se adaptara ou morrera para a tímida, diagnosticada por alguns, ou anti-social, dita por outras. Ele não gostava de estar em convívio pois estar em convívio é arriscar, perder e submeter-se à sofrimentos que ele não poderia mais suportar.

“Acredito que não seria adequado”, Nymphadora observou o homem se levantar e dar um breve sorriso de despedida, a deixando sozinha na mesa de bebidas. Ela fitou suas galochas, e tentou tirar lascas da mesa de madeira envelhecida pelo tempo, sentindo-se horrivelmente sozinha.

 

Neil Young – Cortez the Killer

 

Deu mais uma volta do cachecol em seu pescoço magro e foi até onde deixara seu guarda-chuva colorido, colocando seu discman, não seguindo as orientações passadas um milhão de vezes em que todos deveriam aparatar ou usar lareiras para transporte. Andou até a estação de trem, o pegou e observou o rosto das pessoas, ouvindo Morrissey tocar em seu ouvido.

Imaginou como seria beijar Remus Lupin, sendo ele tão alto, e sentiu suas bochechas queimarem.

Sorriu para o nada, pulando de poça em poça até chegar na porta de sua casa no subúrbio de Londres trouxa, agarrou seu gato preto arranhando a porta e a fechou atrás de si, entrando na casa quente e colorida. Tirou as galochas e andou de meias até o sofá, fitando o silêncio.

Colocou o disco de Neil Young no toca discos e deitou-se no sofá.


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Notas finais do capítulo

Essa história é sobre Nymphadora e Remus.

Eu penso muito em dois filmes quando escrevo sobre os dois, que é Lost in Translation da Sophia Coppola e Eternal Sunshine do Michel Gondry, ambos do mesmo ano, 2004.

Também penso em Saramago e Pilar, e é de onde vem o título, porque não conheço ninguém que fale de amor de forma mais bonita que Saramago. A sinopse é de um lindo poema da Cecilia Meireles, “tu tens um medo”.

Não gosto da imagem da Nymphadora como uma fonte infinita de vida, cuja única função, assim como uma boa manic pixie dream girl, é trazer luz ao personagem masculino. Eu gosto do tom de excentricidade que a ronda, e com a excentricidade sempre vem um rastro escuro de solidão.

Inclusive, manic pixie dream girl é um termo questionado nesse vídeo aqui [https://www.youtube.com/watch?v=b_gxo8l9j8s] e minha Nymphadora dos sonhos é a LINDA Kate Winslet em Eternal Sunshine, onde ela justamente quebra esse estereotipo antes mesmo de existir, dizendo que é apenas uma garota procurando uma paz de espirito, e não essa boneca sem alma que os homens projetam tanto nela.

Eu não planejo fazer uma longa fanfic, mas quero escrever pelo menos até 96, que é quando eles ficam juntos mesmo.

Espero que gostem.



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