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Capítulo 1
Capítulo 1




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— Vocês viram isso? – Ronald Weasley segurava um panfleto em suas mãos. – As Esquisitonas irão fazer uma apresentação no Três Vassouras nesse feriado!

Era o último dia de aula da Hogwarts High antes que as férias de inverno começassem. Seguindo a tradição da turma, eles iriam para Hogsmeade nesse feriado, um pequeno vilarejo na Inglaterra, ao lado de Godric’s Hollow. A família de Malfoy era dona de um resort no local e, todos os anos, Draco convidava todos a passarem o ano novo lá. Claro, Hermione, Rony e Harry nunca tiveram coragem de comparecer, mas, agora que Ginny e Harry estavam namorando, a ruiva convenceu os três a irem com ela.

Hermione não sabia ainda como tinha sido convencida. Ela detestava Draco Malfoy e boa parte dos seus colegas de turma. A ideia de passar cinco dias confinada com adolescentes que não eram seus amigos não era nem um pouco atraente, mas, por alguma razão, ela tinha concordado com isso. Talvez fosse porque Ginny tivesse insistido, ou talvez porque Ronald tivesse pedido para que ela fosse. De qualquer maneira, ela já tinha tudo planejado: iria na viagem, socializaria um pouco e se trancaria o resto do tempo em seu quarto, lendo Orgulho e Preconceito pela milésima vez.

— Sinto muito, Ron. – ela responde enquanto desvia os olhos do panfleto. – Ir a um show não está nos meus planos para o feriado.

— Hermione, qual é. Nós vamos estar em Hogsmeade de qualquer forma! E nós nunca fomos a um show juntos. – uma ruga surge entre as sobrancelhas do garoto. Hermione achava adorável como a pequena dobrinha se formava toda vez que ele ficava pensativo. – Por que nunca fomos a um show juntos? – ele encara a garota – Você sempre dispensa todos os convites para shows. Por quê?

— Bem...

— Não faça isso. – Harry a interrompe, com censura em sua voz.

— Harry, não tem nada demais.

— Hermione, não diga isso.

— Do que vocês estão falando? – Ginny intervém – Está parecendo que ela matou alguém.

— Acho que isso seria menos pior.

— Harry está apenas exagerando. – ela revira os olhos – Eu nunca aceitei um convite porque eu não gosto de músicas.

— O quê?! – os irmãos Weasley levantam a voz em choque, assustando Hermione e fazendo com que algumas cabeça no corredor se virassem para eles.  

— Eu avisei.

— Como assim você não gosta de músicas? – Ginny é a primeira a perguntar, enquanto Ronald ainda a encarava incrédulo.

— Eu não gosto, sei lá, é só barulho. Por que eu ouviria barulho quando eu posso ouvir o silêncio? – ela ignorou as expressões dos amigos e continuou seu argumento – E shows são péssimos! As pessoas ficam todas suadas, gritando, empurrando, e tudo para quê? É sério, shows são sem sentido e músicas também.

Ronald acelerou o passo e parou na frente da amiga, impedindo que ela continuasse o caminho. Ela sentiu seu rosto ficar vermelho com a proximidade do rapaz, mas repetiu para si mesma que aquilo tinha acontecido apenas por causa da mudança brusca de temperatura entre o interior da escola e a rua; não tinha nada a ver com o fato de Rony estar com as mãos em seus ombros e encarando.

— Como você pode dizer que é apenas “barulho”? Pelos céus, Hermione, música não é barulho.

— É sim.

— Isso vai longe. – Harry suspira e passa o braço ao redor da cintura de Ginny, andando com ela na direção do carro da garota. – Discutam enquanto andam, está muito frio para ficarmos aqui fora.

— Ouviu o Harry. – ela se solta das mãos de Ronald, apenas para tê-lo andando ao seu lado. – Você vai tentar me convencer que estou errada, não vai?

— É claro que vou! Você está errada. Eu sei que isso não costuma acontecer com você, mas é a verdade. Música não é barulho.

— Tudo o que não é silêncio, é barulho. – ela pontua enquanto entra no banco de trás do Ford de Ginny.

— Você disse com uma entonação pejorativa. – ele rebate enquanto entra ao seu lado e sorri quando vê a expressão surpresa no rosto de Hermione. – É, eu sei argumentar com palavras bonitas, aprendi isso com você. Toda vez que vamos discutir algo, você vem com palavras complicadas, então agora eu vou fazer isso também.

Ela não pôde evitar de sorrir com o fato. Sabia que não significava nada, mas saber que Ronald prestava atenção o suficiente para notar aquele detalhe a deixou feliz. E orgulhosa, na verdade. Ela discutia tanto com o amigo, estava mais do que na hora de ele aprender algo. 

— Música não é barulho. - ele continuou, aproveitando-se do silêncio de Hermione - Música é uma forma de expressão, tanto do artista quanto de quem a escuta. Ela tem o poder de fazer as pessoas se comunicarem pelos sentimentos, pela poesia das letras. Por exemplo, Ginevra nunca tinha namorado antes de Harry e vivia chorando pelos cantos porque estava sentindo a dor dos términos da Taylor Swift.

— Isso é verdade. - a ruiva concorda enquanto dirige. - Taylor Swift me ensinou o que é amor. 

— Ei! - Harry resmunga no banco do passageiro. 

— Você apenas me mostrou que ela estava certa. 

— Eca. - Rony torce o nariz, fazendo Hermione reprimir um riso. - O ponto é: a música conecta as pessoas. Todo o ponto de escutar a composição de alguém é ter conforto, na alegria ou na tristeza.

— Você está começando a dizer votos de casamento. 

— Casamento! Todo casamento tem música, e a lista é escolhida com muito cuidado porque ela irá marcar para todo o sempre a vida daquelas pessoas. É isso que a música faz, Mione, ela pode te fazer viver e reviver o que você quiser. 

Ronald tinha um ponto, ela sabia disso, mas ela simplesmente não podia concordar com o que ele argumentava, até porque nunca tinha se sentido conectada com nenhuma música. Ela não tinha nenhum momento glorioso de seu passado que gostaria de reviver, não tinha nenhum relacionamento para relembrar. O máximo que tinha era Ronald e, bem, vê-lo todo dia e apenas tratá-lo como amigo era tortura o suficiente. Ela não precisava de um barulho interrompendo seu silêncio quando estava sozinha para lembrar-se dele, já fazia isso por conta própria. 

— Eu entendo seu ponto, mas ainda não concordo com ele. Eu não sinto conexão com músicas e, portanto, elas são apenas barulhos para mim. 

O carro parou na porta de sua casa, indicando que a discussão estava encerrada – pelo menos no momento. Saindo do carro, ela ouviu a voz de Ronald enquanto ele abaixava o vidro para continuar a conversa.

— Você vai concordar comigo. Eu aposto com você que consigo fazer você se apaixonar pela música. 

— Você vai perder. O que estamos apostando? - ela o encara, ansiando a competição. 

— O seu bom gosto. - ela revira os olhos, segurando um sorriso. - Brincadeira. Se você aprender a gostar de músicas até voltarmos às aulas, você tem que me pagar um jantar no Cabeça de Javali. 

— Se eu vencer, você tem que comprar livros novos para mim. - ela estica a mão, selando a aposta. - Vou começar a abrir espaço na minha estante. 

Ronald riu, jogando a cabeça para trás, como sempre fazia. Ela achava adorável como, mesmo sendo um adolescente de um metro e oitenta e cinco, o garoto conseguia parecer como a mesma criança que ela conheceu na pré-escola. 

— É melhor ir contando o dinheiro do cofrinho. Essa aposta já está ganha. Você vai se apaixonar por músicas, ou eu não me chamo Ronald Weasley.

—---  

Ronald não estava brincando quando disse que ia tentar vencer a aposta. Ele havia passado todo o feriado conversando com Hermione por mensagens, lhe dizendo como músicas eram importantes para definirem o clima de alguma ocasião como, por exemplo, o Natal. A garota perdeu a conta de quantas músicas ele a enviou, sequer lembrava as letras ou melodias. Talvez isso devesse ao fato de que, na maioria das indicações, ele tivesse enviado um vídeo seu cantando junto. Ela sabia que ele estava fazendo papel de bobo, mas seu coração deu um pulo e ela sorriu em todas as vezes uma notificação de nova mensagem chegava no celular.

Hermione sabia que as tentativas se tornariam cada vez mais intensas agora que eles passariam os cinco dias juntos em Hogsmeade, mas nunca imaginou que ele teria uma palestra preparada para que ela escutasse durante a viagem de ônibus. E, dessa vez, ela não tinha escapatória.

— Todas as situações representam uma música. – ele começou a dizer ao seu lado, enquanto desenrolava seu fone de ouvido. – E as pessoas também. Facilmente podemos associar uma música a alguém.

Ele estica um lado do fone em sua direção, o que a faz levantar uma sobrancelha, encarando o objeto. Em seu colo, estava sua edição favorita de Orgulho e Preconceito, pronta para ser relida durante a viagem. Seus dedos tamborilaram pela lombada do livro, sentindo a textura das folhas amareladas lhe chamando para reviver o romance de Elizabeth e Mr. Darcy. Quando abriu a boca para negar o fone de ouvido, foi interrompida antes que pudesse formar uma palavra.

— Mione, você sabe todas as palavras desse livro de tanto que já leu. Céus, até eu sei aquele trecho do “eu a admiro e amo ardentemente” de tanto que já vi você postar no twitter. Você não vai ler agora.

Enquanto dizia, Rony colocou uma mecha do cabelo de Hermione atrás da orelha, para poder colocar o fone em seu ouvido corretamente. O mero toque das pontas dos dedos do rapaz que esbarraram em sua bochecha a fez arrepiar. Ela sentia-se ridícula e estúpida apenas por seu corpo ter essa reação. Eles eram melhores amigos e nada mais, até porque ele nunca tinha olhado para ela com esses olhos. Apenas Hermione era estúpida o suficiente para corar quando o melhor amigo lhe citava uma frase de Orgulho e Preconceito. Ou lhe entregava um fone de ouvido. Ou segurava sua mão. Ou olhava para ela. Ou falava com ela.

Patética, era isso que era.

— Ótimo. – ele se aproveitou do silêncio no qual ela estava se acalmando para colocar o primeiro barulho. – Vamos começar com músicas que me deixam felizes.

— Achei que fosse mostrar barulhos que combinam com pessoas.

— Hermione, cada vez que você chama “música” de “barulho” uma fada morre.

— Ok, Peter Pan. – ela riu da brincadeira. – Por que não vamos ouvir músicas que combinam com pessoas? Você estava falando disso antes.

— Eu falei sobre situações também.

— Ok, mas uma playlist de músicas que te deixam feliz não é exatamente uma situação, mas sim um humor. Quando você disse situações, achei que iria ter que escutar mais músicas natalinas, talvez sobre o quatro de julho, ou até mesmo a cantiga do coelhinho da Páscoa.

Harry e Ginny ficam de joelhos no banco da frente do ônibus, olhando para os dois discutindo. Ambos riam da argumentação de Hermione e a sua maneira de adiar ouvir os barulhos que Ronald estava escolhendo.

— Ela tem razão, Rony. – Harry começa. – Você não tem músicas que remetem a nós? Desse jeito vai me fazer chorar.

— Todo dia eu acho que você errou de Weasley. – a ruiva ri do namorado.

— Ouviu, Ronald? Estou certa, como sempre. – Hermione sorri vitoriosa.

— Não, não tenho músicas sobre vocês. Não, Hermione, você não está sempre certa. Toda essa aposta é sobre como errada você está, se lembra? – ele volta sua atenção para a irmã e o melhor amigo.  – Vocês dois não podem atrapalhar meu trabalho aqui. Eu estou tentando fazer essa pobre alma ter um pouco de bom gosto.

— E está querendo um jantar no Cabeça de Javali.

— Sim, Ginevra, estou. Eu amo aquele lugar. Eles servem a melhor lasanha que eu já comi em toda a minha vida, é óbvio que eu quero jantar de graça lá. E a tortinha de limão deles? Divina.

— Ronald. – Hermione chama a atenção para si novamente. – Se você tivesse que escolher entre comida e música, podendo ter apenas um para o resto da vida, qual seria?

— Eu me recuso a responder isso. – a atenção do ruivo voltou para o celular, provocando risadas dos outros três. – Vamos ouvir músicas sobre humores, satisfeita?

— Não. Continuam sendo barulhos.

— Eu juro por tudo que estou assim... – ele aproxima os dedos, deixando apenas um mínimo espaço entre eles. – ... de acabar minha amizade com vocês.

— Nós é que devíamos fazer isso. Você nem tem um barulho sobre a gente.

— Se você está tentando me fazer desistir pelo cansaço, saiba que eu já estou acostumado com você, Mione.

De repente, um barulho de toques animados invade os ouvidos da garota. Quebrando suas expectativas, a letra tratava sobre um homem apaixonado que dizia que a sua melhor versão era com a sua amada. Ela sabia que a música não era uma indireta, sabia que Ronald não escutava e pensava nela, mas ela ainda sim corou.

— Isso não é uma música alegre, mas sim romântica. – ela pontua, tentando desviar o foco de suas bochechas quentes.

— E qual o problema? Músicas românticas podem ser alegres. Essa se chama “I like me better” e ficou famosa depois que foi trilha sonora de um filme.

— Você e seus filmes açucarados. – Hermione ri da cara de indignação do amigo.

— Mione, você adora coisas açucaradas, não adianta falar com esse tom de julgamento.

— É, mas nos filmes parece que toda a magia acaba. Exceto “10 Coisas que Odeio em Você”, esse é perfeito. – ela faz uma pausa, abaixando o volume do fone de ouvido. – Tirando a cena da música.

— Você está morta por dentro.

— Aquela cena me dá pânico. Imagina receber uma declaração em público? É meu maior medo.

— Não, seu maior medo é reprovar em tudo. Eu lembro quando você não conseguiu dormir por vários dias depois que teve aquele pesadelo de ser expulsa da escola por repetir em todas as matérias.

Aquele pesadelo tinha sido há anos. Ela ainda se recordava da insônia durante a semana que se sucedeu ao sonho. Toda vez que fechava os olhos, via a si mesma falhando, perdendo sua chance de ter uma carreira no mundo político e fazer a diferença na sociedade. Ela tinha planejado seu futuro quando tinha treze anos e, desde então, não tinha mudado. Hermione se formaria em Hogwarts, tiraria notas altas em seus SAT’s e entraria para Harvard, onde cursaria primeiro Ciências Econômicas, seguindo para uma pós em Direito, e então atuaria nessa área até entrar para a política.

Ter toda a sua vida planejada a confortava, por isso aquele tinha sido seu pior pesadelo. Ela se achava forte o suficiente para ser uma falha no campo amoroso de sua vida, mas nunca aceitaria ser uma falha no campo profissional. O mundo precisava de melhoras e doía em Hermione não poder fazer nada sobre isso. Desde pequena ela se envolvia em discussões defendendo minorias, pois sempre sofreu na pele a discriminação, e sabia como era horrível a sensação.

Ela cresceu acostumada com as pessoas ao seu redor a ignorando. Mesmo sendo amiga de Harry e Rony há tanto tempo, ainda achava estranho quando eles prestavam atenção nela. O fato de Rony lembrar sobre um pesadelo que aconteceu há anos a deixou sem uma resposta afiada.

— Eu não acredito que você se lembra disso.

— Sempre esse tom de surpresa. Mione, eu sei muitas coisas sobre você, minha memória não é tão ruim assim. Bem, pelo menos não para o que importa.

Sorrindo, sem saber o que responder, Hermione apenas aumentou novamente a música em seus fones. Agora, ela só conseguia focar no sorriso convencido de Ronald e na letra que ecoava em seus ouvidos: Eu gosto mais de mim quando estou com você.

Isso era verdade, pelo menos para ela. Sem Rony em sua vida, as piadas perdiam a graça, as cores ficavam mais cinzentas, as discussões se tornavam fáceis. Os dois brigaram apenas uma vez por um motivo idiota, e aquelas foram as mais longas duas semanas de sua vida. Ela se apaixonou por Rony porque ele trazia a tona a melhor versão de si mesma, sem reclamar de seu jeito ou de suas tentativas de piadas ruins.

Rony era seu porto seguro. Ele ouvia suas opiniões sobre os seus livros favoritos e filmes estrangeiros – longos demais para qualquer pessoa normal assistir – por horas sem reclamar. Ele pesquisava sobre assuntos que ela gostava apenas para tomar a posição contrária e eles poderem discutir. Ele não reclamava quando ela brigava com ele por não ter estudado antes para uma prova, e nem ela reclamava de ajudar mesmo depois da bronca.

Eles sempre estavam ali um para o outro, não importava a situação. Ele era aquela pessoa com quem ela podia debater se existiam realidades paralelas, qual a origem do universo e ter crises existenciais. Rony sempre deixava todo o resto do mundo em segundo plano quando Hermione estava com problemas, e ela sentia-se grata todas as vezes.

Ela admirava sua lealdade, sua amizade, e, acima de tudo, admirava ele. Ronald costumava dizer que ele era apenas uma sombra no meio dos irmãos, o filho indesejado que veio antes da tão sonhada menina. Ela não o via assim. Ela não acreditava em energia e muito menos em auras, isso tudo era uma besteira sem tamanho na sua opinião, mas pensava que, se acreditasse, diria que Rony tinha a aura mais brilhante de todas. Seria como se uma luz dourada o envolvesse e aquecesse todos ao seu redor, iluminando todos os lugares com leveza e bom humor.

Hermione não acreditava em baboseiras assim, mas passava a entende-las quando Rony estava perto. Ela não acreditava em destino, mas torcia para que Rony fosse o seu. Ela não acreditava em almas gêmeas, mas tinha certeza que Rony era a sua.

Ele a tirava do eixo e ela amava isso. Ela se tornava sua melhor versão de si mesma. Uma versão menos cética, menos irritante, menos séria. Ela passou a viagem toda pensando nisso e imaginando como seria se Rony sentisse o mesmo.

—----

Ginny não estava brincando quando disse que o resort da família Malfoy era imenso. A turma reservou apenas um lado do alojamento, enquanto o lado B ficou disponível para turistas. Hermione nunca pensou que pudesse existir um lugar tão grande como esse, e muito menos que ela um dia se hospedaria de graça.

O quarto que ela dividiria com Ginny se localizava na parte das suítes, como a da maioria das garotas. Os pais de Draco decidiram que era menos perigoso dar os quartos com cama de casal para as garotas do que para os garotos, que dividiriam os que tinham duas camas. Após desfazerem as malas, Hermione e Ginny começaram a se arrumar para a festa do primeiro dia.

— Por que eu não posso simplesmente ficar no meu quarto? – Hermione reclamou, sentada na cama com sua toalha na cabeça.

— Porque você precisa de experiências. Além do mais, você já está aqui mesmo, o que vai custar colocar um vestido bonito e aturar pessoas que não gosta?

— Custa muita coisa. – ela disse, enquanto deixava seus cachos molhados caírem sobre os ombros. – Custa minha maquiagem e minha força de vontade.

— Prometo que se a festa estiver chata, a gente faz outra coisa. O Malfoy costuma acertar na maioria das festas que faz, mas tem algumas que mancham seu currículo, principalmente quando a Parkinson ajuda ele. – a ruiva disse, enquanto se concentrava em passar o rímel nos cílios. – Nunca vi uma garota com tão péssimo gosto.

— Vão ser quantas festas mesmo?

— Duas. Uma hoje e outra no dia do ano novo. Acho que o Draco queria fazer uma no último dia, mas não daria tempo com o horário do ônibus.

— E elas costumam ser boas?

— Claro. Bem, pelo menos a do dia 31 sempre é incrível.

A morena suspirou, desistindo de tentar lutar contra Ginny. Sabia que a amiga era mais determinada e teimosa do que ela, então tentar se livrar era inútil. No fundo, ela apenas torcia para a festa ser um fracasso, para que ela pudesse subir para seu quarto e ler sem nenhum barulho a incomodando.

Pelo canto do olho, ela podia ver a amiga se controlando para não dizer alguma coisa. Sabia que Ginny só evitava falar um assunto com Hermione: o seu irmão. Ela nunca teve que realmente contar para a amiga que era apaixonada por Rony – na verdade, todos ao seu redor sabiam, exceto o próprio. Ginny sempre dizia para ela tentar superar e seguir em frente, pois o irmão era completamente alienado os sentimentos de Hermione, mas esta nunca conseguiu.

— Mione... – ela começa, depois de algum tempo. – Como está sendo a aposta com o meu irmão?

— Péssima. Eu tenho que ficar escutando barulhos por mais tempo do que gostaria.

— Não são barulhos, Hermione! – ela se exaltou, o que fez Hermione rir. – Certo, não é meu ponto. O que eu ia dizer é: tome cuidado.

— Eu sei o que estou fazendo.

— Eu sei que sabe, mas o Rony não. Ele caiu do berço quando pequeno, sabia? Por isso é assim. – brincou. – Mas sério, Mione, o meu irmão vai acabar te mostrando músicas românticas e você tem que lembrar que elas não são para você.

— Uau, obrigada.

— Você sabe o que eu quis dizer. Ele não está te mostrando como indireta, ele apenas gosta da música.

Hermione não respondeu, apenas focou em sua maquiagem. Sabia que Ginny estava certa, e isso não lhe agradava. Ela tinha passado a viagem toda pensando na letra de apenas uma música romântica, não sabia como lidaria com as próximas. Talvez preferisse que Ronald lhe mostrasse barulhos raivosos, com os quais ela pudesse tentar associar a ele também. Se não, essa experiência toda só lhe traria mais desprezo por música.

Exatamente trinta minutos após ficarem prontas e irem para a festa, elas e os garotos estavam completamente entediados. Aparentemente, Pansy tinha ficado no comando dessa festa, o que deixou o ambiente horrível, tanto na parte decorativa quanto sonora. Dessa vez, eram realmente barulhos tocando.

— Vai defender isso também, Ronald?

— Música eletrônica são apenas barulhos, Hermione. – ele revira os olhos com a provocação, empurrando-a com o ombro de brincadeira.

— Então quer dizer que eu estou certa?

— Jamais.

— Eu não aguento mais vocês dois. – Ginny intervém, passando entre os dois e segurando seus pulsos. – Nós vamos sair daqui. Tem um lugar incrível aqui perto e bem mais divertido.

— Harry não vem? – Rony perguntou enquanto tentava se livrar da mão da irmã.

— Ele sabe andar sozinho, ao contrário de vocês crianças.

— Eu sou um ano mais velho que você.

— Eu que costumo ser a mãe do grupo.

— Isso é para vocês perceberem como estão agindo.

Os dois se entreolharam e decidiram desistir de ir contra Ginny, o que sempre era a escolha certa a se fazer. Harry, ao contrario dos dois, parecia se divertir enquanto via a namorada arrastando os amigos para sabe-se lá onde. Enquanto caminhavam pelo vilarejo, Hermione pontuou que o silêncio era reconfortante, o que fez com que Rony rebatesse dizendo que faltava música, e, assim, a discussão entre os dois recomeçou, perdurando pelos sete minutos que levaram para chegar ao novo local.

As letras em neon indicando o fliperama captaram o olhar de Hermione. Ela não era excelente em nenhuma das brincadeiras, e isso a deixava extremamente frustrada, pois sempre queria ser a melhor em tudo. Mal teve tempo de abrir a boca para tentar protestar, foi arrastada para dentro pela amiga, colidindo com Rony no corredor.

Não tinham muitas pessoas ali, provavelmente o frio encorajou muitas pessoas a ficarem em suas casas ou nos resorts. O barulho que saía dos alto-falantes era infinitamente mais agradável do que aquele da festa, mas Hermione ainda preferia o silêncio. Para sua alegria, as poucas pessoas que estavam ali eram animadas e cobriam o barulho com gritos e comemorações quando ganhavam algum jogo.

— Ginny, esse lugar é incrível! – o ruivo se solta da irmã, olhando ao redor. – Lembra quando íamos quando crianças e eu ganhava de você em tudo?

— Não, até porque isso nunca aconteceu. – ela riu com desdém. – Você é a pessoa mais azarada do mundo e eu sou a melhor nos jogos de fliperama.

— Aposto que eu e o Rony ganhamos de vocês duas. – Harry se intromete.

— Eu sou péssima em jogos de fliperama.

— Fechado. – Ginny a ignorou completamente. – Vamos passar por todos os jogos e, a dupla que ganhar mais, pode escolher o passeio que faremos amanhã.

Agarrada pelo pulso novamente, Hermione foi arrastada até a mesa de disco pela amiga, com os outros dois ao seu lado. Aquela foi apenas a primeira etapa de uma maratona de jogos. O grupo passou pela mesa de disco, seguiu até algumas máquinas, onde passaram a maior parte do tempo – em uma disputa acirrada de Pacman e Space Invaders— até que chegaram na máquina de dança, dividindo as duplas para competirem.

Hermione estava eufórica. Seu espírito competitivo de ser a melhor em tudo estava à flor da pele, e ela levaria a sério a disputa com Ronald na máquina. Ela já o havia derrotado no Pacman e estava ansiosa para repetir a vitória, principalmente porque ele sorria nervosamente em sua direção cada vez que começava a perder, permitindo que ela pudesse olhar para a covinha no canto direito de sua boca.

A música “I Want It That Way” da banda Backstreet Boys apareceu na tela para os dois repetirem os passos no tapete. O som da música estava sendo abafado pelo que saía dos alto-falantes, que tinham ficado mais altos desde que eles chegaram ao fliperama.

— Eu amo essa música!

— Ronald, você não pode me empurrar, isso é trapaça. – ela o empurrou de volta, rindo, mas concentrada nos passos. – Eu não sabia que gostava de Backstreet Boys.

— Não essa, me respeita. Eu estou falando da que está tocando agora no fliperama.

Ela agradeceu por estar concentrada em seus pés e em não perder o equilíbrio, pois Ronald segurou sua mão e a fez rodopiar ao som da música que tocava. O toque repentino fez o coração de Hermione acelerar e o sangue subir para suas bochechas. O que ele estava fazendo, afinal de contas? Eles estavam competindo, não dançando juntos. Além do mais, aquela nem era a música escolhida. Apesar de que, analisando a letra, Hermione gostava mais dessa; ela queria parar de fugir do amor, mas não admitiria isso em voz alta.

— Ronald, o que está fazendo? – ela perguntou, tirando uma mecha de cabelo do rosto, ainda de mãos dadas com o amigo. – Estávamos competindo!

“My My My!” é uma música muito melhor do que a que estávamos dançando. Esse gênero se chama indie, vá anotando. – ele disse, enquanto dançava desajeitado com ela nos tablados.

— Continua barulho. – ela riu, arfando quando parou muito próximo ao rosto do amigo.

Foram apenas segundos, mas que pareceram durar uma eternidade. Ali, com uma mão na sua e a outra em sua cintura, Hermione sentiu como se pertencesse aos braços dele. Tudo o que ela queria era que ele sentisse o mesmo formigamento que percorria seu corpo naquele momento, que a deixava com os pensamentos confusos, mas ao mesmo tempo tão claros. Naquele segundo que ficou próxima a ele, Hermione não se importou em ganhar a competição, ela só desejava congelar aquele momento para sempre.

Quando Ronald a girou novamente, tudo ao seu redor reapareceu; os barulhos, a pista, o jogo, os amigos, tudo voltou a fazer sentido, mas o formigamento ainda estava presente. Ela sorria enquanto dançava, mas uma parte de si se agarrou na triste ilusão de que, um dia, Rony iria parar de fugir do amor e dos dois, e ela nunca mais teria que separar-se de seus braços.


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