Varsenia escrita por Overture


Capítulo 5
Capítulo 4




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— Quem come pizza de brócolis? – falou Adam indignado enquanto desligava a ligação no celular.

— Eu é claro, e você gosta de muita coisa esquisita também, se eu for te julgar você ganha disparado. – Disse Maria pegando o celular da mão de Adam e o guardando de volta no bolso. – Por que você não usou o seu telefone pra pedir a pizza?

— To sem bateria no celular desde cedo. E cortaram a linha que a gente tinha no telefone. - Adam se levantou da cama e olhou a tomada do quarto. - E pelo jeito minha mãe levou o carregador do celular também.

— Ah relaxa, você não precisa dele mesmo. Já que você também ta sem internet.

— Ah muito obrigado por fazer eu me sentir melhor. – Disse Adam sentando-se novamente e ficando de frente a Maria.

— To aqui pra isso, senhor. – Disse a amiga sorrindo. – Mas sério, o tédio da sua casa é tanto que olha só, estamos conversando! Usando somente as palavras como entretenimento, que antiquado!

Adam pegou o travesseiro e bateu na cabeça da garota. Surpresa, ela agarrou o outro no qual estava segurando e o atacou. Os dois logo iniciaram uma guerra de risos que terminou com o garoto se rendendo pouco antes de uma forte crise de tosse. Adam se levantou e apoiou as duas mãos na janela, entre as tosses este fazia força para conseguir respirar. Maria já conhecia essas crises, apesar de sempre ficar aflita quando elas aconteciam. De súbito, Correu até o armário e, na prateleira, onde estava estrategicamente posicionado, pegou a bombinha e levou até o amigo. Este balançou a cabeça e ignorou a ajuda da menina. Aos poucos parou de tossir e, ao se acalmar, conseguiu respirar normalmente. Maria guardou a bombinha de volta no armário e sentou na cama, ainda em alerta. Adam, quando se sentiu estabilizado andou de volta até a cama e deitou ao lado da amiga. Os dois permaneceram em silencio por mais de um minuto.

— Sabe, meu pai costumava dizer que no futuro as pessoas não iriam mais conversar. Apenas se comunicariam por maquinas, mesmo que estivessem uma ao lado da outra. – Disse Adam virando-se para encarar a amiga.

— E ele não estava errado. – Disse Maria chegando ainda mais perto. – Eu queria ter conhecido seu pai.

— Ele ia ter gostado de você; Eu era bem pequeno quando ele faleceu, mas ainda lembro de algumas coisas, ele gostava de conversar, falava o tempo todo e conhecia todo mundo. Ele era desses que sempre tinha algo a dizer sobre qualquer coisa. Foi ele quem despertou minha vontade de ler, assim que as primeiras letras começaram a fazer algum sentindo pra mim lá veio ele com um livro. E depois outro e outro.

— É, você parece até um velho de tanto livro que tem no quarto. – Disse Maria olhando para duas grandes pilhas de livros que haviam no chão. Uma prateleira solitária começava a envergar com o peso de uma outra pilha sobre ela. – Esse seu lado você deve ter puxado dele, de ser curioso e tal. Quando você encuca com algo não sossega até descobrir a fundo tudo o que há pra saber. Chega a ser engraçado. – Divagou a menina.

Adam riu das verdades que ouvira, mas depois ficou sério novamente e continuou -  As vezes acho que tudo seria tão mais fácil se ele ainda estivesse por aqui. Quando ele partiu as coisas ficaram ruins em casa. Foi ai que a gente teve que se mudar, minha mãe começou a beber... E daí você já sabe.

Maria ja havia escutado isso algumas vezes mas nunca se sentia preparada para ouvir quando o amigo repetia. Chegou a abrir a boca para dizer ao amigo que ele não devia ficar pensando nisso, porém ela mesma não conhecia a dor da perda. Nunca vira a morte levar aqueles que amava. Sem saber o que dizer fechou a boca e se concentrou nos olhos do garoto. O azul era uniforme, em sua expressão triste. Não havia sequer vestígio da mancha no momento. Um pensamento perturbador lhe ocorreu ao notar que normalmente os olhos do amigo não demonstravam a anomalia.

—  O que mais você puxou dele, você sabe? – Perguntou enfim. Mas se arrependendo logo em seguida.

— Essa porcaria de doença que nenhum médico sabe ao certo o que é... Minha vó se foi aos 25 e meu pai aos 27... Será que chego aos 30? – Perguntou retoricamente em um tom sombrio.

— Eu te proíbo de dizer isso de novo, ta entendendo?  - Advertiu Maria com seriedade. - Você não vai morrer. Já disse que não aceito ser viúva antes dos 60 anos. - Disse a menina fazendo o amigo sorrir e abandonar o tom sério.

— É mesmo? E pra quando esta marcada a data da nossa união minha querida noiva? – brincou.

— Hey, preciso que você peça minha mão antes. Posso até ser essa doida anarquista, mas no fundo sou uma mocinha antiquada, entende? Bela, recatada e do lar. - Disse rindo da própria piada. Adam riu de volta e os dois ficaram deitados se encarando.

Maria se aproximou ainda mais, ela podia sentir sua respiração ficar mais pesada a medida que seu coração acelerava. Aos poucos ela foi chegando cada vez mais perto. O garoto por sua vez estranhou a postura da amiga. Quando entendeu o que ela estava prestes a fazer arregalou os olhos e surpreso tentou se afastar.   

O som estridente da campainha os fizeram pular de susto. Adam levantou-se de sobressalto, sentindo-se culpado e aliviado ao mesmo tempo. Ele agarrou a carteira na escrivaninha, passou pela porta aberta do quarto e andou pesadamente até a entrada da sala enquanto separava o dinheiro para a pizza, destrancou a porta e girou a maçaneta:

— Que bom que dessa vez não precisei ficar gritando pra você abrir.

— Mãe?! Já em casa? – Disse Adam fechando a porta e correndo para bloquear a passagem no corredor. Monica sentou-se no sofá e tirou os sapatos.

— Horário normal filho, aliás não via a hora de sair daquele lugar. Pega aquela garrafa de vinho que ta em cima da pia? Hoje ta frio demais. – Disse a mulher afrouxando o zíper da calça e esfregando as mãos.

Adam foi até a cozinha e olhou para o corredor. Maria estava de pé no fundo, com o rosto vermelho e totalmente sem jeito. O garoto fez sinal para que ela se aproximasse.

— Mãe, eu e Maria pedimos Pizza. Ela estava me ajudando a estudar. – Disse enquanto lhe entregava a garrafa de vinho. Maria apareceu logo atrás e a cumprimentou de forma tímida.

— Oi Ma, quanto tempo que eu não te vejo! Como estão seus pais? – Disse enquanto olhava para baixo e discretamente tentava abotoar a calça novamente.

— Estão bem. Jogando cartas todas as quintas como de costume. A senhora podia dar uma passada lá em casa qualquer dia.

— Podia. Mas sua mãe nunca mais me convidou né? – respondeu Monica de forma seca.

O silêncio tomou a sala por uns instantes até o soar irritante da campainha.

— Chegou a Pizza! – Disse Adam animado, aliviado por ter a chance de mudar o humor da conversa.

Ao abrir a porta, porém estranhou a figura a sua frente. Uma mulher de longos cabelos ruivos que pareciam ter vida própria, sua pele era escura realçando seus olhos verdes e penetrantes. Um frio tremendo lhe percorreu a espinha quando ela falou:

— A pizza, sinhô. – Disse a figura a sua frente com uma voz grossa. Adam piscou os olhos e notou o entregador de pizza impaciente, um homem alto e magro com uma espinha grande na bochecha. Agradeceu muito confuso e levou a pizza para dentro. Essas ilusões sempre aconteciam depois que tinha alguma crise. Imaginou que estivesse na hora de aumentar a dose do remédio.

Após dividir as fatias os dois se dirigiram para o quarto com a desculpa de que estavam terminando um exercício.

— Que matéria estão estudando? - Perguntou intrigada.

— História – Disse Maria ao mesmo tempo em que Adam respondera matemática.

— Tá bom! Com certeza. – Riu mônica. – Só não façam barulho. Quero ver TV sossegada.

Adam e Maria seguiram para o quarto em silêncio, porém, ao fecharem a porta, ambos gargalharam por mais de um minuto.


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