Foi quando ouviu o barulho do trinco do porta-malas que entendeu que isso estava mesmo acontecendo. Ele abraçou a mochila com força. Tinha no colo todo seu universo particular. A porta ao seu lado abriu e ela entrou no carro. O garoto virou o rosto para o vidro e sentiu as lágrimas lutando para saírem. Ao mesmo tempo em que pode ironicamente testemunhar o primeiro pingo de chuva daquela estação. Sentiu que o mundo zombava de si. O relógio no painel mostrava exatos quatro da manhã, estava na hora. Mesmo sabendo o que estava em jogo caso se atrasassem, ambos ficaram um tempo inertes e em silêncio. Um silêncio ensurdecedor. O tipo de silêncio que se faz antes da tempestade começar.

Após doze horas e meio de viagem com o mínimo possível de paradas o menino foi acordado por sua mãe que com a fala cansada pronunciou que estavam quase chegando. Conversaram tão pouco no caminho que a mulher chegou a estranhar a própria voz. O ar estava mais denso com uma leve neblina na estrada. Um aviso piscava ao longe pedindo que se reduzisse a velocidade, algo que ela ignorou como de costume. Havia esfriado e o garoto se obrigou a vestir a blusa enquanto assistia a paisagem se alterar. Os altos prédios amontoados deram lugar a casas baixas de largos terrenos. As luzes coloridas da cidade sumiram e o preto virou a cor padrão para que a noite começasse a crescer. Seguiram mais adiante, deixando a estrada principal para cruzar uma larga ponte de madeira, que rangeu com o peso do carro. Dali em diante o espaçamento entre as casas ficou cada vez maior ate que se visse apenas um grande terreno plano, de grama alta e cercado por simplórias estacas de madeira. Em um ponto viram uma entrada discreta para dentro do terreno guiado por um caminho de terra gasto que levava ate uma casa ao longe. Adam respirava fundo, quase não piscava. Uma fraca luz amarela iluminava a varanda e sob ela um homem os aguardava com os braços cruzados.