A Marca da Borboleta escrita por JiyuNoSakura


Capítulo 8
2017, 08 de julho. 15:00 às 18:00.


Notas iniciais do capítulo

OIE MEUS MIRACULERS, EU VOLTEI.
Caraca, eu devo tantas desculpas que eu nem sei como começar hehehehe 53 dias sem postar... Bom, acho que o que importa é que eu estou de volta e não pretendo desistir! Agradeço imensamente a todos os que esperaram e que me mostraram apoio. Foi de muita valia isso tudo ♥
Nesse tempo que fiquei afastada, trabalhei nos capítulos e no planejamento da história. Como eu falei antes, as viagens no tempo são bem complexas de escrever e eu estou tendo mais gasto de energia e neurônios do que eu achei que teria com o planejamento dessa fanfic, mas estou conseguindo aos pouquinhos e com muita paciência consigo mesma. Peço paciência de vcs também hehe E TAMBÉM ESTIVE OCUPADA COM O MAIS NOVO SPIN-OFF. Para quem não viu ainda, postei o primeiro capítulo do spin-off de comemoração de 10 capítulos de MdB "(Des)Harmonia" sobre a história do casal Agraine, Emma e Adam. Deem uma olhadinha no meu perfil para ler, quem se interessar. Vou deixar o link nas notas finais...
SEM MAIS DELONGAS, não tenho muito a dizer sobre o capítulo, além de que estou ansiosa pelas reações, teorias e comentários de vcs. VEM AÍ O INÍCIO DAS VIAGENS NO TEMPO e com isso, o início do meio da nossa história!
UM BEIJO. Glossário nas notas finais.



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 Saindo do portal, a primeira coisa que Gatuna avistou foi o céu azul de Paris, típico de um meio de tarde. O sol estava brilhante e por causa do macacão e bota pretos que vestia, ela estava sentindo mais calor do que gostaria. Estava enfrentando, de repente, uma tarde de verão quando antes o que havia era uma noite fresca do início do outono. Ela se sentiu totalmente fora do lugar, como se fosse uma estranha, o que de fato era... pelo menos naquele espaço-tempo.

“É isso, gatinha”, Bunnix colocou a cabeça para fora do portal. A jovem virou para trás e encarou a expressão séria, mas confiante da tia, “Eu me manterei aqui nesse espaço-tempo, mas não ficarei à vista. Você consegue falar comigo pelo comunicador, okay? Estarei disponível o tempo inteiro”, ela disse em um tom gentil, “Não precisa ficar com vergonha de vir atrás de mim. É a primeira vez que você usa o miraculous, então complicações e problemas são o esperado. Estamos nisso juntas!”, abriu um sorriso e Gatuna assentiu, sorrindo também mesmo um pouco nervosa, “Agora: arrebenta! E o essencial: discrição!”.

Dito isso, Bunnix fechou o portal deixando Gatuna sozinha. Ela respirou fundo e fechou os olhos por alguns segundos. Era hora do show. Sua tia estava há uma ligação de distância, porém ela também tinha tarefas dela própria dentro do portal. A jovem teria que colocar a missão em movimento naquele espaço-tempo sozinha. Bom, não inteiramente sozinha. Ela tinha Plagg, por mais que ele não pudesse se comunicar com ela.

“Okay, Plagg”, ela sussurrou levantando seu olhar, “Primeiro, vamos nos localizar”.

Ela olhou ao seu redor. Estava em um telhado, o que possibilitava um maior alcance de localização de lugares específicos e de acontecimentos importantes. E à sua frente, estava a grande, imponente e um pouco assustadora Mansão Agreste, o lar de seu avô. Se situava de cara à lateral do lugar, onde podia avistar grandes janelas que tomavam toda a parede e através delas, um pouco do que havia dentro.

Gatuna se sentiu um pouco amedrontada. Faziam muitas semanas desde que não visitava o lugar, mesmo antes do ataque de Biston. Não era do costume de seu pai voltar à casa onde passou sua infância e adolescência e sua mãe não interferia na decisão dele de se manter afastado. Raras eram as vezes em que realmente passavam tempo lá. E nos momentos de reunião de família, os Dupain-Agreste eram os anfitriões, frequentemente. Ela não compreendia por completo as razões, porém sabia que antes de seus pais se casarem, seu avô e seu pai não se davam muito bem. Era óbvio que Emma queria compreender mais acerca dessa situação, no entanto ela não podia forçar seu pai a falar sobre tempos que eram desconfortáveis. Ele falaria quando estivesse pronto para contar a ela.

A situação, no entanto, estava prestes a ser modificada, pois ela iria ficar sabendo de mais informações ao se infiltrar na casa. Aquela seria a primeira vez de verdade em que Gatuna tomaria tempo para explorar a fortaleza de Gabriel Agreste, rótulo que sua tia Alya costumava usar frequentemente.

Apesar de assustada, ela tinha de admitir para si mesma: estava curiosa e ansiosa.

Tentando se camuflar entre as vigas, se agachou na posição tipicamente felina. Não queria ser vista por ninguém e muito menos chamar a atenção por estar em cima do telhado sem nenhuma razão aparente. No entanto, uma passada de olho em seu traje e ela soube que o plano de discrição estava fadado ao fracasso.

Gatuna estava vestida com couro preto por todo o seu corpo em uma tarde de céu limpo e em cima de um prédio revestido por pedras de cor clara. Exagero ou não, ela poderia muito bem ser confundida com um farol potencialmente perfeito para atrair problemas. A ideia exatamente oposta de discrição! Definitivamente não poderia prosseguir com a missão assim, dando a entender para todos que havia mais uma portadora do miraculous do gato preto à solta por Paris.

Então, ela abriu um sorriso de canto, tendo uma ideia. E sussurrando “claws in”, a super-heroína de couro preto colado ao corpo Gatuna deu lugar à Emma, a adolescente sem nenhum atrativo para olhos desconhecidos vestindo jeans e um moletom caído nos ombros.

Plagg apareceu em sua frente, sustentando tédio nos grandes olhos inteiramente verde-claros. “Minette, eu não pensei que teria de te explicar os básicos, mas em missões, nós nos mantemos transformados e cobrimos nossas identidades secretas”, disse de maneira sarcástica e cruzando as patas traseiras no ar.

Emma revirou os olhos. “Tenta insinuar que sou estúpida de novo e arque com as consequências!”, semicerrou os olhos apontando o dedo indicador para o kwami. Então, deu de ombros, “É só que o traje não vai nos ajudar agora, Plagg. É chamativo demais para uma missão de reconhecimento que requer que sejamos invisíveis”.

Ele colocou as patas dianteiras apoiadas nos joelhos minúsculos. “Justo! Mas como você vai descer esses prédios e como vai manter sua identidade?”, perguntou.

“Ninguém me conhece aqui nesse espaço-tempo. Vantagens de ser a filha das pessoas que atualmente não tem filhos”, ela respondeu de imediato, como se fosse óbvio, “E... Não consigo acreditar que você esqueceu que eu faço Parkour”, fez uma pausa abrindo um sorriso presunçoso, “E em Paris, capital do Parkour, duvido muito que as pessoas vão estranhar uma garota saltitando pelos prédios e telhados”.

Plagg assentiu. “Você realmente pensa rápido”, comentou arqueando suas sobrancelhas, “Te dizer, minette, você não vai precisar de tanta ajuda como eu pensei. É esperta e astuta como um Gato Preto tem de ser”.

O sorriso de Emma se alargou, agora genuinamente contente pelo voto de confiança de seu kwami. Depois voltou seu olhar novamente para a Mansão Agreste, dessa vez se concentrando em visualizar o local para além das janelas da lateral da casa. A tarefa se mostrava difícil, no entanto. Havia uma distância considerável do prédio onde estava para o cômodo dentro da casa e o reflexo dos raios solares batiam nos vidros, cegando-a.

Ela ia sugerir que eles mudassem de lugar, frustrada, quando ouviu Plagg dizer: “É o quarto do Adrien da mansão”, ele informou. Quando ela o encarou com uma sobrancelha arqueada, perguntando silenciosamente como ele sabia e conseguia enxergar daquela distância, ele deu de ombros: “Eu conheço o quarto dele como conheço meu estoque de queijos em casa! E minha visão avançada ajuda”.

A jovem deu dois passos à frente, interessada: “O que está acontecendo lá?”.

Plagg tomou alguns segundos para observar, as patas traseiras ainda cruzadas. “Nino, Ivan, Kim e Max junto com Markov acabaram de chegar e Gorilla os deixou sozinhos com o Adrien”, respondeu e imediatamente depois soltou um miado surpreso, como se houvesse acabado de lembrar de algo, “Santo queijo! Eu lembro desse dia! Prepare-se, minette, porque com o gato fora, os ratos fizeram a festa. Bunnix nos enviou justamente para o dia em que a Mansão Agreste mais recebeu convidados na vida”.

Emma franziu o cenho, se aproximando do kwami. “Como assim?”, questionou.

Ele abriu um sorriso travesso. “Espere e verá”, disse simplesmente.

“Ah, não”, ela respondeu colocando as mãos na cintura, “Ver, eu verei. Esperar? Não. Vamos descer e buscar um esconderijo próximo ao portão para eu verificar cada um desses convidados que entrarão e sairão da mansão”, e se virando e indo em direção à beira do prédio, ela olhou o kwami de esguelha, “Sinta-se à vontade para ficar no meu cabelo, Plagg”.

“Com certeza. Não perderei nunca a chance de te ver incorporando a verdadeira gata de rua que você é, minette!”, o kwami comentou flutuando rapidamente até o topo da cabeça dela.

Olhando para baixo, Emma analisou cada protuberância que havia na arquitetura do prédio e quantas janelas haviam, buscando por pontos onde poderia se segurar e utilizar como apoio para descer sem se machucar. A distância grande do topo para o chão não a assustou em nada, como deveria fazer com alguém que não estivesse habituado àquilo. E ela estava. Tão habituada que era como se tivesse nascido para escalar, pular e descer construções urbanas. Na verdade, a altura a deixava animada para o que estava por vir.

Pronta, ela se virou de frente para a parede e desceu seu corpo pendurando-se por suas mãos. Seu coração começou a acelerar e a adrenalina passou a agitar seu interior. Ela amava isso. Sentiu o seu peso exercer pressão nos dedos e sem pensar duas vezes, soltou-se da viga que segurava alcançando com a velocidade alta da queda a janela que estava logo abaixo. Seu cabelo se agitou com o pulo e o vento e Plagg segurou mais firme as mechas com suas patinhas. Emma utilizou seus pés como apoio para alcançar as janelas que estavam a baixo, em fileira, até o chão e ininterruptamente desceu em menos de um minuto.

Pousou no chão se agachando para receber o impacto e respirou fundo retomando o fôlego. Com o sangue pulsando em seus ouvidos e seus membros animados com o exercício, ela se sentiu viva. Por efeito, seus lábios se abriram em um sorriso. Ela tinha acabado de descer um prédio muito alto com velocidade e destreza impressionantes. O quão maravilhoso isso era? Os dois anos praticando Parkour intensivamente e as corridas pela cidade valeram à pena.

Então, ela correu percorrendo a lateral da Mansão Agreste até à sua frente. E se deparou com a entrada para a estação do metrô e um chafariz imenso e elegante logo atrás. Haviam pessoas ao redor, indo e vindo em direções diferentes, sentadas às mesas nos cafés e restaurantes próximos. Se alguma delas havia percebido os movimentos radicais que ela havia feito há segundos, não demonstraram nenhuma estranheza ou suspeita.

Emma se sentiu aliviada. Até o momento, tudo bem. Segue-se a missão!

Respirando fundo e colocando a expressão mais casual e inocente possível no rosto, ela caminhou tranquilamente até o chafariz, sentando-se à beira e sacando seu celular no ato. Sentiu Plagg se mexer entre seus cabelos próximo à nuca; isso a assegurou que ele estava escondido e seguro. Fingiu por um tempo estar conversando com alguém por mensagens e passava seu olhar de maneira discreta pela rua e pela Mansão.

Foi quando avistou dois rapazes cruzando os portões de ferro, um de casaco vermelho e outro de cabelos vermelhos. Franziu o cenho se afastando do chafariz e se aproximando da porta da estação de metrô. Colocou o celular no ouvido, mesmo não tendo recebido nenhuma ligação, e sussurrou: “Plagg, fale comigo e me ajude a fingir que estou conversando pelo telefone”.

“Tudo bem, minette”, ele respondeu, “Hmmm... já sei o assunto perfeito para conversarmos: você chegou a ver a Gentlemen’s Cheese desse mês?”.

Emma soltou uma risada enquanto mantinha seus olhos no portão e se aproximava mais de maneira casual. “Não, Plagg, você sabe que não sou tão antenada nos assuntos do queijo como você. Eu só gosto da pizza de quatro queijos mesmo”, afirmou de um jeito divertido, “Mas eu tenho algo que nós dois conseguimos conversar: se meu pai está recebendo pessoas na mansão, onde está vovô Gabriel?”.

O kwami soltou um suspiro. “Você não consegue aguentar a curiosidade, não é?”, comentou com um tom cheio de tédio e zoeira, “Adrien e o resto do mundo acham que Gabriel está no Japão em um tipo de conferência ou semana da moda, sei lá e não me importo. O ponto é que na verdade, ele não está. Nino teve a ideia de ter uma reunião só de homens e aí os caras começaram a chegar de todos os lugares. Foi insuportável!”, explicou.

“O gato saiu e os ratos fizeram a festa”, a jovem repetiu o que ele havia dito antes interessada e pensativa, mas sem tirar seus olhos do portão, “Faz sentido. Eles estão tecnicamente fazendo uma festa escondido, então? Isso é estranho. Por que fazer escondido?”.

Ele soltou um grunhido de desconforto. Da perspectiva dela, sua voz parecia um pouco nervosa. “Ah é... seus pais não te contaram essa parte”, ele sussurrou, mas ela conseguiu ouvir. A jovem o esperou continuar sustentando o silêncio e o kwami suspirou de novo, “Tem coisas que você não conhece com profundidade, Emma. O seu avô Gabriel é uma pessoa muito melhor do que o pai do Adrien jamais foi, se é que você me entende”.

Emma arregalou levemente os olhos, ficando preocupada com o tom sério de seu kwami, especialmente porque ele não utilizou seu costumeiro apelido para ela e ao invés, a chamou pelo seu nome. Ela abriu a boca para questioná-lo mais acerca dessa situação e parou abruptamente ao visualizar uma figura familiar correr até o portão da Mansão Agreste. Ela tomou dois segundos para estudar os jeans cor-de-rosa e os cabelos preto-azulados amarrados em duas marias-chiquinhas: “Espera... aquela é a minha mãe?”.

Colocando a cabeça para fora do cabelo dela, Plagg colocou os olhos na menina com a mão no interfone e assentiu: “Sim, essa é a mini Marinette”, confirmou movendo seu olhar para sua portadora que encarava a versão mais nova de sua mãe.

O kwami a observou se aproximar mais da ponta da escada que levava à estação de metrô, um pouco hipnotizada pela visão quase trinta anos mais nova daquela que ela conhece. Ele soltou mais um suspiro de alívio, grato pela mudança na situação em que se encontravam e a troca de foco de sua portadora. Plagg definitivamente não era o mais indicado para ter esse tipo de conversa com ela. Adrien era. E ele se certificaria de que eles esperassem chegar em casa para que ela pudesse conversar com a pessoa apropriada para isso.

“Santo queijo!”, ouviu-a sussurrar, “Ela está tão diferente... Mais baixa, óbvio que mais jovem, mas... tão mais inocente...”

E então, sem que eles estivessem esperando, uma onda sonora de força ensurdecedora jogou Marinette e Emma violentamente para trás fazendo-as caírem no chão. Com sorte, nenhuma das duas caiu de encontro a algo que poderia machucá-las de verdade. Depois da onda, veio um barulho alto e estridente similar a uma música que preenchia a rua e parecia sair diretamente da mansão. E ao fundo, um pouco distante, ela pôde ver e ouvir alarmes de carros serem soados por terem sido capotados e jogados nas calçadas.

Mantendo-se deitada por alguns segundos mais, Emma tentou compreender o que havia acabado de acontecer. Ela estava recebendo informações em uma rapidez absurda e falhando em assimilá-las com profundidade. A dor em sua cabeça e corpo era prova disso. Não estava conseguindo lidar com a quantidade de tapas que estava levando. O nervosismo da missão. A mudança abrupta de ambiente. A relação aparentemente pior do que ela pensava entre seu pai e seu avô. Sua mãe aparecendo. E ainda por cima, ser nocauteada por uma onda sonora que ela não tinha ideia de onde vinha ou o porquê de ter sido criada.

Com um pulo, ainda se sentindo tonta e sobrecarregada, ela levantou e passou o olhar por todos os lados, tentando ficar alerta. Tinha o cenho franzido. “Plagg, o que foi isso? É um akumatizado?”, perguntou ao kwami que soltava pequenos miados de reclamação devido aos movimentos bruscos.

“Na verdade, não. Pode ficar de boas por agora, minette. O akumatizado só vai aparecer daqui a duas horas, mais ou menos”, ele respondeu, “Isso foi o resultado do hacking que o Max e o Markov fizeram no sistema elétrico da mansão. Se estivéssemos dentro do quarto do Adrien agora, estaríamos surdos por causa da música alta insuportável”.

A jovem levantou uma sobrancelha, mais aliviada, porém igualmente confusa. “Essa potência toda... O que eles estão tentando fazer: uma festa ou destruir a cidade?”, ela comentou sarcástica, “Plagg, o que de fato está acontecendo aqui?”.

Antes que ele pudesse responder, no entanto, uma movimentação nova no portão chamou a atenção de ambos. Dentro do pátio da mansão, ela pôde avistar um homem grande de roupas azuis marchando em direção à porta da frente, provavelmente com muita raiva, e sua mini mãe pulando e choramingando junto ao portão. Emma franziu o cenho, se aproximando novamente da situação e de maneira discreta, embora ela tivesse a sensação de que as pessoas não estivessem tão interessadas nos atos dela depois da onda sonora que fez carros capotarem na rua.

E passou as mãos no rosto, sentindo os ombros pesarem.

Estava perdendo foco do que realmente era sua prioridade ali.

“Santo queijo, Plagg! Eu... eu não sei o que estou fazendo mais. É muita coisa! Como Bunnix consegue fazer isso?”, questionou de maneira retórica, a voz cheia de frustração, “Eu preciso deixar pra lá essas informações sobre meus pais e ser mais objetiva... chega de distrações! O foco é na missão!”, e depois de receber um miado como resposta, ela afirmou: “Okay... Tem pessoas demais entrando naquela casa que eu não faço ideia de quais sejam suas intenções. E eu não consigo analisar melhor essa situação plantada aqui no lado de fora! Temos que entrar”.

O kwami soltou mais um miado, esse de concordância. “O ponto é: só entram garotos lá dentro. É a lei que Nino fez o Gorilla concordar. Você vai ver, por exemplo, que Marinette não vai conseguir passar pelo portão”, ele explicou apontando à exata situação que acontecia à frente deles.

Emma prestou atenção em sua mãe, observando o quão triste e desapontada estava enquanto assistia um garoto de casaco e cabelos azuis entrar na mansão e ela ser deixada de fora, por ser uma menina. Ela demorou sua análise um pouco no garoto o achando incrivelmente familiar também. “Espera... aquele é o tio Luka?”, perguntou arregalando seus olhos. De maneira rápida, no entanto, ela própria mudou o assunto e balançou a cabeça negativamente, o cenho franzido de determinação: “Não! Foco! Então, eu preciso ser um menino para entrar... Plagg, consegue me transformar em um menino?”.

“Um menino normal, você diz?”, o kwami perguntou retoricamente e com um tom tedioso, “Sem máscaras, armas e trajes de super-herói?”. Ela assentiu com a cabeça, séria. Ele concordou: “Sim, eu posso. Você ainda terá meus poderes, a proteção da magia e o acesso ao bastão, mas a aparência vai ser diferente, comum. É algo simples de resolver, minette. Não subestime minhas habilidades!”.

Ela sorriu presunçosamente. “Vamos ver, então, até onde vai suas habilidades, Plagg!”, ela disse, “Me faça um menino!”.

 

Dentro do burrow, Bunnix estava tentando se ater a um espaço-tempo de cada vez. Era uma tarefa cansativa, que na maioria das vezes exigia uma grande atenção a detalhes e um raciocínio lógico avançado. No entanto, era mais fácil e simples do que olhar quatro ou cinco espaços-tempo de uma vez. E a deixava menos ansiosa.

Deixando Emma cuidando sozinha do batalhão que havia feito Party Crasher aparecer, ela se pôs a vasculhar o passado entre os anos de 2016 e 2021 atrás de suspeitos nos casos em que a Mansão Agreste foi alvo de visitas. O ponto positivo em toda a sua busca era que Gabriel tinha a fama de ser um frio e muito antissocial homem de negócios, além de ser um pai superprotetor e controlador, então raras eram as pessoas que de fato queriam estar ao seu lado ou adentrar a fortaleza que ele chamava de casa. E quanto menos pessoas queriam estar lá, menos eram as pessoas que ela tinha de investigar.

Estar agradecida por Gabriel ter sido um homem desagradável era novo para ela.

Tirando o episódio de Party Crasher, Bunnix havia contado aproximadamente oito pessoas específicas visitando a mansão: Nino Lahiffe, Ladybug e Chat Noir, Félix Graham de Vanily, Lila Rossi, a versão akumatizada de Audrey Bourgeois: Style Queen e sua filha Chloè Bourgeois, além das vezes em que Marinette foi à porta da mansão para entregar presentes a Adrien ou quando ela liderou o grupo de amigos para pedir à Gabriel que deixasse o filho viajar à Nova York com eles.

A heroína da evolução excluiu como suspeitos Nino, Ladybug e, portanto, Marinette, Chat Noir e Chloè por serem atuais aliados, porém não deixou de vasculhar detalhadamente as consequências da entrada deles na mansão e quais outras pessoas acabaram por levar com eles. Também excluiu Audrey Bourgeois pela óbvia constatação de que ela estaria idosa o suficiente para tramar algo no presente, não antes de, assim como os demais, ter suas ações verificadas. No fim, as telas ovais do burrow não lhe mostraram nenhum potencial risco em todos esses momentos. Todos eles agiram normalmente cuidando de seus próprios narizes e nenhum chegou nem dois metros do miraculous de Nooroo, do covil do Hawkmoth ou nada relacionado.

Isso a deixava com os festeiros de Party Crasher, que competia à Emma verificar, e os dois que combinavam mais com o título de “suspeitos” por conta de seus históricos: Lila Rossi e Félix Graham de Vanily.

Antes de seguir com os dois, Bunnix ativou a tela de onde poderia ver Gatuna em ação. Fazia isso de dez em dez minutos, comprometida com a avaliação dos progressos da jovem e zelando por sua segurança. Mesmo sendo parceiras de missão e Emma estar sendo protegida por Plagg, ela ainda era responsável pela filha dos seus amigos e a ficante, namorada, seja o que for de seu enteado.

Era tudo que importava: Emma tinha de voltar sem nenhum arranhão.

Ela assistiu por dois minutos a jovem percorrer os telhados, descer de um prédio como a praticante de Parkour que era e se pôr a vigiar a porta da mansão. Também percebeu o cuidado e o esforço para ser discreta que ela fazia, seguindo à risca suas instruções e colocando a missão como prioridade. Isso a fez sorrir largamente.

Não foram só as previsões do futuro que fizeram Bunnix decidir que Emma a acompanhasse, ela também acreditava piamente que a jovem era qualificada.

Voltando à sua investigação, ela se concentrou nas ações de Félix Graham de Vanily. Na única vez em que ele visitou a mansão, no aniversário de um ano de desaparecimento de sua tia Emélie Agreste, se mostrou um estrategista frio e calculista que fazia de tudo para atingir seu objetivo. Conseguiu enganar a todos com seu disfarce de Adrien, inclusive Ladybug, e no fim, manteve sua pose de Meu-Pai-Morreu-E-Isso-Justifica-Minhas-Ações-Cruéis e obteve o que desejava: o anel de casamento dos Graham de Vanily para presentear sua mãe, Amelie. Na visita, ele também não chegou a saber de algo relacionado ao miraculous de Nooroo ou nem mesmo mostrou suspeitar que Gabriel fosse Hawkmoth.

No entanto, ele ainda era um forte indicado. Assim como Lila Rossi.

Bunnix começou vasculhando o primeiro contato de Lila com a mansão, quando ela mentiu para Nathalie e Gorilla para entrar e passar mais tempo com Adrien. As ações dela daquele dia geraram a segunda akumatização de Kagami. E aos quatorze anos de idade, a jovenzinha não estava nem arrependida de ter causado tanto sofrimento aos demais. Prestando atenção em detalhes, a heroína descobriu que naquela mesma semana, dias depois do ataque de Oni-chan, Gabriel Agreste chamou Lila para conversar na mansão dele e ali eles firmaram um acordo.

Curioso... Ela tinha certeza que nenhum dos membros do esquadrão sabia que Gabriel havia se interessado pelas ações cruéis e estratégicas de Lila e que havia feito uma parceria com ela.

Essa era uma pista e tanto!

Mais interessada, Bunnix seguiu observando as ações de Lila junto a Gabriel, descobrindo que eles tinham encontros discretos no parque. A jovenzinha o atualizava sobre o que seu filho fazia na escola e sobre as atitudes de Marinette, Chloè e Kagami, pessoas que ela havia indicado desde o início como “más influências” a Adrien colocando a si mesma como o papel de “boa influência”.

Em todos esses momentos, Lila era essa garota que sabia ser meiga e persuasiva, contando suas mentiras e fazendo com que todos acreditassem nela e ficassem do lado dela. Ainda no tempo de escola ela se portava dessa maneira e todo mundo a considerava uma amiga, porém depois de um tempo Alix passou a observar que ela, na verdade, mentia sobre tudo e para todos. Não levou muito tempo para que a máscara de Lila caísse.

Entretanto, no burrow, vasculhando o passado, Alix percebeu que a jovenzinha havia ido muito mais longe do que ela imaginara. Além de se render livremente aos poderes do akuma e à dominação de Hawkmoth, utilizando essas chances para tentar atingir seus próprios objetivos, ela havia trabalhado com o próprio Gabriel. Isso fazia ela muito mais próxima do miraculous de Nooroo e de conhecer os miraculous com maior profundidade do que qualquer outro suspeito.

Bunnix segurou a respiração por alguns segundos. Lila era uma forte indicada, bem mais que Félix. Será? Será que Lila Rossi era Biston?

Caminhando para outra tela oval, ela visualizou mais uma cena e essa deu a ela muito mais argumentos e pistas para entregar ao esquadrão a resposta e a solução para os problemas de todos.

 

Menos de cinco minutos depois, parada à frente do portão da mansão Agreste, a versão masculina de Emma, o qual ela nomeou de ‘Adam’ porquê... por que não?, de cabelo preto-azulado curto e bagunçado e jeans e moletom, tocava o interfone. Ela e Plagg haviam conseguido achar um beco deserto e um pouco longe dos agrupamentos do lado de fora dos cafés e restaurantes para conseguirem se transformar e não levantar suspeitas.

Quando eles retornaram, não avistaram Marinette nas proximidades; e no lugar dela ao lado do portão, estava André O-Sorveteiro-Casamenteiro pedindo para entrar e dizendo que tinha uma entrega a ser feita para os meninos na festa.

Santo queijo, ele parecia tão jovem...

Não! Foco!

Respirou, então, uma e outra vez profundamente. Mais calma e centrada, tocou o interfone, recebendo uma câmera de boas-vindas muito próxima de seu rosto. Recepção fria e direta, digna de algo vindo da mansão de seu avô, ao que parecia.

“E aí, tudo bom?”, acenou com a mão notando que sua voz havia ficado mais grossa e parecida com a de um verdadeiro garoto. Plagg quando quer não brinca em serviço, ela notou, “Os meninos me mandaram mensagem dizendo para vir pra cá”, mentiu livre e espontaneamente, para surpresa dela.

Imediatamente a câmera sumiu compartimento adentro e o portão se abriu. Emma, ou Adam, sorriu e entrou caminhando de maneira relaxada e um pouco largada. Se surpreendeu também com esses novos movimentos. “Você realmente me transformou em uma gata de rua, não é, Plagg?”, sussurrou um pouco incrédula e divertida, “O estilo de como você seria se fosse humano, né engraçadinho? Eu te conheço, é bem a sua cara!”.

Ela tinha certeza de que ele estava com as patas cruzadas e um sorriso travesso no rosto dentro do anel, negando a afirmação dela quando claramente era verdade e ele não queria admitir. A portadora o conhecia bem.

Uma vez no cômodo central da casa dos Agreste, ela subiu para o quarto de Adrien diretamente, sem observar muito bem o que ou quem estava nos arredores. A decoração minimalista típica dos gostos de seu avô podia esperar! Das escadas ela já podia ouvir a música e sua altura ensandecida. Era provável que Emma ficasse um pouco surda depois de voltar pra casa.

Entrando no quarto, ela arregalou os olhos. Aquele que deveria ser o espaço privado da versão mais nova de seu pai tinha se tornado uma rave. E que quarto! Era literalmente grande o suficiente para se fazer jus à uma festa daquele porte. A música absurdamente alta tremia as paredes. Havia um cheiro de pizza no ar, vindo de muitas direções. Além de várias pessoas desconhecidas e algumas muito familiares, dispersas nos vários cantos do quarto dançando, conversando, brincando com os mais diversos jogos. Ela tentou observar cada foco de aglomeração, analisando os participantes da festa e procurando quaisquer comportamentos suspeitos.

Espera... aquele era o tio Kim só de sunga pendurado pelas coxas na coluna?

E aquele era Jagged Stone? Santo queijo, Um-De-Seus-Cantores-Favoritos Jagged Stone! E com seu crocodilo... em cima... do piano de seu pai? Junto com tio Luka e um cara estranho tocando trompete?

Ela prestou atenção nas cenas por dois segundos, estupefata.

O que no mundo estava acontecendo? E como ela teria foco ao presenciar tudo isso?

Emma deu dois passos para o lado, enfeitando o rosto com a expressão mais neutra que podia, embora por dentro estivesse se sentindo muito estranha e quisesse muito cair na risada. Com isso, ela esbarrou no menino de cabelos vermelhos que havia visto entrando mais cedo na mansão e ao lado dele o menino de moletom vermelho que chegou com ele. Abriu um sorriso sem graça quando o primeiro desviou sua atenção, erguendo uma de suas sobrancelhas e prestando atenção nela com os olhos verde-água.

“Desculpa. Tem muita gente aqui...”, ela disse ouvindo novamente o timbre mais grosso saindo de sua garganta, “Eu não sabia muito bem aonde ficar!”.

Estava mesmo arrependida. Não queria ter incomodado os dois garotos.

Ficou mais tranquila quando ele abriu um sorriso pequeno. “Está tudo bem”, conseguiu ouvi-lo dizer com uma voz suave, apesar da altura da música, “Sou Nathaniel. E esse é o Marc”. O segundo garoto ao lado acenou com timidez, os olhos grandes e verdes transmitindo meiguice. Ela copiou o gesto dele, também acenando.

“Adam”, Emma se apresentou, colocando suas mãos dentro dos bolsos do moletom.

“Prazer”, Nathaniel disse, “Então, você acabou de chegar? De onde conhece o Adrien?”.

A jovem gelou no exato momento. Santo queijo!, uma pergunta tão básica como essa e ela não tinha uma resposta na ponta da língua.

“Han? Desculpa, a música está muito alta. Não consegui te ouvir?”, ela mentiu tentando ganhar tempo para si. Fez uma careta enquanto olhava em direção ao local de onde vinha a música, como se estivesse incomodada com a altura. Na verdade, estava vasculhando os detalhes no quarto do pai que ela pudesse usar para justificar sua ligação com ele e o porquê de estar ali na festa. Quando avistou os cartazes sobre Esgrima, quase soltou um suspiro de alívio. Ela poderia ser uma esgrimista por alguns segundos.

“Ah... Eu perguntei de onde você conhece o Adrien!”, Nathaniel pareceu surpreso e repetiu o que ela já sabia que ele tinha falado, dessa vez com um tom de voz mais alto.

Emma fingiu compreensão e abriu um sorriso, pronta para mais uma mentirinha. “Nós somos da mesma turma de esgrima!”, informou imitando a altura de voz que o ruivo utilizou.

“Ah, que massa!”, Marc comentou no lugar do amigo, de modo tímido.

“Sim”, a jovem assentiu, não sabendo muito o que dizer para continuar o assunto.

Marc se inclinou na direção de Nathaniel, comentando algo que ela foi incapaz de ouvir e que provavelmente era para os ouvidos do ruivo somente. Observando os dois juntinhos aos cochichos, abriu um sorriso largo. Eles faziam um bonito casal.

Ela deu uma olhada novamente nos arredores, voltando a analisar os focos de aglomeração. A interação com os dois amigos de seu pai fez com que ela passasse despercebida por todos. Se sentiu satisfeita. Havia conseguido se infiltrar na festa. Até o momento, a missão ia bem e se seguia firme e forte.

Ao longe, ela avistou uma cabeleira conhecida e imediatamente seu coração se envolveu com quentura e carinho. Emma reconheceria aqueles fios dourados arrumados e bagunçados ao mesmo tempo em qualquer lugar. Seu pai estava à distância de alguns passos, com suas mãos nos ombros de uma pessoa estranhamente vestida com um capacete vermelho e um xale colorido. Conversava tranquilamente com um grupo de adultos à frente deles.

Observando-o, ela foi preenchida pela saudade e preocupação. E começou a se perguntar como será que ele estava no tempo presente e se sua mãe já havia mexido os pauzinhos para leva-lo para se recuperar em casa, sob os cuidados dela e proteção do lar deles. Ela esperava que sim, pois poderia encontra-lo assim que voltasse dessa viagem para reportar ao esquadrão e poderia conversar com ele, passar um tempo juntos.

Emma sentia tanta falta de seu pai. Doía muito ficar longe dele do jeito que ela havia ficado nos últimos dois dias. Doía muito vê-lo acidentado, especialmente quando ao alcance da mão ela o estava observando disposto e cheio de saúde.

Ainda de longe, ela continuou olhando-o enquanto as aglomerações começaram a se dispersar voltando suas atenções ao mesmo grupo de adultos com quem Adrien estava conversando. Eles estavam em um tipo de formação de dança no meio do quarto, na frente da televisão, e a pessoa do capacete e xale estranhos se encontrava no meio, aparentando estar muito perdida e confusa.

Emma sufocou uma risada, os achando um grupo totalmente descoordenado.

A rave do quarto de seu pai não deixava de surpreendê-la a cada segundo.

Foi só quando a música começou que a jovem notou as marias-chiquinhas preto-azuladas se agitando com os movimentos de dança da pessoa no centro. Era sua mãe! Sua mãe, fantasiada e camuflada, fingindo ser um garoto para invadir a festa de seu pai. Exatamente como ela havia feito, inclusive, porém com as motivações completamente diferentes, isso ela tinha certeza. Ela balançou a cabeça negativamente, incrédula, enquanto assistia Marinette claramente perdida nos passos de dança e se perguntando, muito provavelmente, como que havia se enfiado naquela situação.

Emma sufocou outra risada que seria ainda mais alta que a primeira.

Com a atenção de todos os convidados no grupo ao centro, ela passou o olhar novamente sobre as pessoas. Estavam todas prestando total atenção à mais nova atração da festa, por vezes torcendo e aplaudindo. Raciocinando, percebeu que, se havia algum possível suspeito naquela festa, ele utilizaria o exato momento para explorar mais a casa e colocar suas mãos em alguma informação que o levaria a descobrir que Gabriel era Hawkmoth e que ele poderia se beneficiar do conhecimento acerca do miraculous de Nooroo mais tarde no futuro.

Portanto, com o mesmo objetivo em mente, ela discretamente se afastou do grupo maior alcançando rapidamente a porta e sumindo para as escadas. Desceu rapidamente o primeiro lance e se encontrou no topo da escada mais larga em frente à porta principal. Olhou ao redor, dessa vez notando os detalhes da decoração minimalista com maior atenção, em busca de alguém que estaria indevidamente explorando o local. Avistou, no entanto, somente tio Gorilla que estava surpreendentemente brincando com action figures dos heróis de Nova York e com tampões de ouvido. Ali, teve certeza de que ele nem a perceberia nas proximidades.

Ainda atenta, Emma desceu então as escadas principais chegando ao centro da sala de recepção da mansão. Vasculhou os pequenos compartimentos com poltronas e mesas de canto que haviam ali, bem como abriu as duas portas centrais e olhou rapidamente para dentro delas, uma levando à sala de jantar e a outra ao escritório de Gabriel. A curiosidade de adentrar mais os dois cômodos gigantes e conseguir mais informações sobre seu avô a preencheu, mas a jovem não deu vazão a ela. Se tivesse de saber mais coisas, cedo ou tarde acabaria por descobrir ao encabeçar aquela missão.

Como resultado de suas buscas, não encontrou ninguém. E, de repente, se viu em um silêncio perturbador ao retornar para o centro da recepção, com exceção da música alta do quarto de Adrien.

Foi quando voltou aos pés da escada que pôs os olhos na enorme fotografia de seu avô e seu pai na idade daquele espaço-tempo. A atenção dela se fixou na expressão do rosto de Adrien e ela sentiu fincadas de dor no peito de imediato. A versão mais jovem de seu pai parecia tão triste na foto, de uma maneira tão intensa que a fez se sentir arrasada por dentro também. Ela detestava ver seu pai sofrer, mesmo que fosse em uma foto de um tempo em que a existência dela nem se quer tinha sido idealizada.

Emma se questionou o que havia acontecido para ele parecer tão derrotado.

Desviou o olhar da fotografia, a tristeza e uma repentina falta de ar agravando a já sensação esmagadora e de tontura que ela sentia em todo seu corpo. Buscando um ambiente mais aberto, ela se voltou às portas principais sabendo que o tio Gorilla nem perceberia seu ato e saiu para o pátio da mansão.

Ali, a primeira coisa que ela avistou foi alguém do lado de fora do portão. A cabeça estava abaixada e o que parecia ser um menino segurava uma caixa nas mãos e um par de óculos. Quando ele levantou o queixo, Emma avistou o já conhecido brilho arroxeado do formato de uma borboleta nos olhos dele. O sinal da akuma, da dominação de Hawkmoth. E em segundos, ela assistiu o corpo do menino se envolver com uma magia de cor púrpura.

Incapaz de tirar seus olhos do que estava acontecendo à sua frente, ela se sentiu aterrorizada. Nunca havia assistido a uma akumatização antes, nem havia chegado perto de conhecer ao vivo e em cores os efeitos do poder de Nooroo.

O akumatizado estar ali reafirmou o que Plagg havia dito. Seu avô estava na mansão e estava agindo como o vilão que ele era nesse espaço-tempo. Em questão de minutos, seu pai e sua mãe se transformariam em Chat Noir e Ladybug e lidariam com a vítima, assim como ela sabia que eles fizeram a vida inteira.

Quanto a ela, teria de achar um lugar para se esconder... e rápido.

 

Bunnix se afastou da tela que estava assistindo. Estava assustada e animada ao mesmo tempo, um mix confuso de emoções que mexia com seus julgamento e raciocínio. Exausta também. Aquela era a primeira vez em um longo tempo que tinha tanto trabalho com o espaço-tempo e com as ações de um super-vilão que parecia não ter mais nada de bom e produtivo para fazer com a vida dele. No entanto, à medida que desvendava o mistério da identidade dele, ela ficava mais concentrada no que o esquadrão deveria fazer daquele momento em diante, imaginando já o final desse inferno que havia se tornado as vidas de heróis deles e também as vidas pessoais.

Pensar que Biston era Lila Rossi fazia-a querer chutar ainda mais algumas bundas.

Ainda atônita com o que havia descoberto sobre ela e Gabriel, Bunnix decidiu por verificar Emma mais uma vez. A primeira coisa que notou foi a mudança da aparência dela. Estava vestida como um garoto, um garoto muito realista com os cabelos curtos e andar largado. Como isso era possível? Ela não poderia ter cortado seu cabelo tão rápido e trocado suas roupas assim do nada! Então, suas sobrancelhas se arquearam ao compreender. Ela estava como Gatuna e Plagg a havia transformado em um menino.

Garota esperta.

Ela raciocinava e utilizava os poderes de seu miraculous muito bem.

Admirada, assistiu-a caminhar pela sala de recepção da mansão e olhar cada mínimo detalhe em busca de pistas que denunciassem possíveis suspeitos. Então, ela saiu para o pátio da casa. Ali, Bunnix acompanhou junto com ela a akumatização de um jovem próximo ao portão. Emma parecia aterrorizada, com seus olhos verdes arregalados e congelada no mesmo lugar. “Se esconda!”, ela chegou a sussurrar, muito concentrada e preocupada com sua parceira.

Gatuna conseguiu se mover e imediatamente correu para o muro que dividia a mansão da rua. Ela escalou o muro alto sem muita dificuldade e pulou para a rua, correndo novamente para perto da entrada e observando Party Crasher capturar tudo que o impedia de adentrar a casa, gritando o nome de Adrien. A jovem ainda parecia assustada, porém também parecia manter tudo sob controle.

“Você tem de ficar de fora da batalha, gatinha. Fica escondida. Vai dar tudo certo”, sussurrou mais uma vez, a voz relutante.

Em poucos minutos, Ladybug e Chat Noir apareceram e começaram a lutar com o akumatizado, no mesmo estilo e parceria que sempre tiveram. Bunnix não conseguia tirar seus olhos de Gatuna, esperando e torcendo para que ela deixasse tudo acontecer como deveria e não interferisse. O fato é que ela sabia que a gatinha tinha um amor muito grande por seus pais e que faria de tudo por eles, então ela tinha suas dúvidas de que ela ficaria parada quando os dois fossem capturados pelo akumatizado momentos a seguir.

Dito e feito, quando Ladybug foi capturada por Party Crasher, Gatuna se remexeu em seu esconderijo, a postura de seu corpo se preparando para a ação. Bunnix sabia que ela estava preocupada e dividida entre seguir suas ordens de discrição e interferir na luta. A jovem pareceu se acalmar mais quando Viperion, Pegasus e Carapace chegaram, por causa da ajuda de Mestre Fu. Mas essa calma foi para o espaço quando todos eles foram derrotados, especialmente Chat Noir.

Se Bunnix tivesse piscado, teria perdido Gatuna correr de onde estava e sacar seu bastão no meio do caminho. Tinha uma expressão de fúria estampada no rosto e velocidade nos pés. Impulsiva como seu pai, com certeza ela iria tentar acertar Party Crasher e de alguma forma resgatar as pessoas queridas a ela. A heroína da evolução conhecia melhor a linha do tempo, no entanto: a gatinha não ia ser bem-sucedida e se fosse, provavelmente desencadearia uma onda de acontecimentos que alterariam drasticamente o futuro.

E isso não está nos planos.

Na verdade, é única coisa que deveria ser impedida de acontecer a todo custo!


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Notas finais do capítulo

E AI? E AI? E AI? Me contem o que acharam.
O link do spin-off https://fanfiction.com.br/historia/797582/Des_Harmonia/ . Espero que gostem desse fluffy/angst de Natal com muito snowboard e neve ♥

Glossário:
“Parkour” é um esporte radical francês que utiliza as construções urbanas como obstáculos para se fazer uma corrida com manobras.
“Chat Noir” é a versão francesa de “Cat Noir” da versão brasileira e americana.
“Party Crasher” é o nome do Wayhem quando akumatizado, em português “Penetra”.
“Minette” significa “gatinha” em francês.
“Burrow” é o nome do poder da Bunnix de abrir o portal do tempo.
“Claws in” é o nome de transformação para super-herói do gato preto.
“Kagami” é o nome da Kyoko na versão francesa e americana.



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