You've got the love escrita por Fanfictioner


Capítulo 1
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Notas iniciais do capítulo

FINALMENTE!

É com muuuuuito orgulho, muito afeto e um carinho gigante no meu coração que eu apresento à vocês You've got the love!
Foi um processo incrível escrever essa wolfstar, me acrescentou muuuuito conhecimento, e me permitiu construir muito mais da minha perspectiva sobre esses personagens incríveis. Espero muito que gostem da trajetória do Remo e do Sirius, tão humanizados quanto pude deixá-los, e curtam ler essa fic tanto quanto eu curti escrever!
O Pride Month Fanfics está sendo um projeto lindo! E eu tenho muito orgulho de estar fazendo parte disso!

Boa leitura, vejo vocês nas notas finais!



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(narração de Remo Lupin)

Eu sou um completo idiota!

Ah, por favor, Remo, não surte! Sem surtos, sem crises, tá tudo bem...

Respira! Respira! Pelo amor de Deus, respira! Você não tem bombinha aqui seu acéfalo!

Sabe quando os dias já começam com aquele breve aviso de “cuidado, hoje os astros não estão a seu favor, não se arrisque”?

Hoje foi um dia desses!

Se eu não tivesse ignorado os sinais do universo, quando, por exemplo, tropecei no tapete da cozinha e derramei uma tigela de leite em cima de mim, ou quando prendi o dedo no zíper do casaco, ou mesmo quando escorreguei naquela poça na saída da Pimlico Station, eu provavelmente não estaria aqui, hiper ventilando, procurando um objeto que, é óbvio, eu nunca mais vou achar.

Eu tinha uma única missão, dividida em simples três etapas:

Entrar no Pret a Manger1 e comprar um café, daqueles fortes e com creme;

Beber o café em até quinze minutos, revisando as anotações para a apresentação do trabalho de História da Arte, ouvindo uma musiquinha, tranquilo;

Ir embora calmamente, sem precisar correr, para chegar no Chelsea College a tempo, e apresentar meu seminário como um aluno normal.

Mas eu falhei!

De alguma maneira ridícula e absurdamente estúpida, exatamente do tipo que eu sou perito em agir, eu esqueci a merda do iPod em cima da mesa do Pret, e é óbvio que eu só me dei conta disso quando estava na metade do caminho para o campus da faculdade. Excelente!

Qualquer pessoa faria exatamente o que eu fiz: correr como um daqueles maratonistas da London Marathon até o restaurante. Mas, claro, meus pulmões asmáticos não deram conta do recado, e se juntaram com um pico de ansiedade e então cá estou eu, sem bombinha, prestes a parar de respirar, tentando me explicar à uma barista, sem meu iPod, provavelmente furtado a essa altura, e atrasado para minha apresentação de trabalho.

Eu sou realmente patético!

 

***

 

— Ei! Como você está? – disse Lily, vindo na direção da poltrona em que eu tinha me sentado no hall do refeitório.

Lily Evans era minha melhor amiga há anos, a única amizade minha que tinha sobrevivido a todo o ensino médio. Tínhamos decidido fazer faculdade de artes, e a Universidade de Artes de Londres foi uma das poucas em que passaríamos juntos, cujas taxas cabiam nos bolsos dos nossos pais, e que tinha um excelente programa de bolsas. Eu fazia artes visuais, e Lily, artes plásticas, mas compartilhávamos muitas disciplinas e tínhamos o privilégio de estudar no mesmo campus.

— Respirando, eu acho. – respondi dando de ombros - Eu sinto muito não ter conseguido aparecer, eu não estava mesmo bem.

Lily sentou-se ao meu lado, balançando a cabeça, parecendo não se importar muito.

— Não tem problema, Remo... a professora Mcgonagal foi super compreensiva, e vamos poder apresentar amanhã. Fiquei preocupada com você, o que aconteceu? Teve uma crise de asma, assim, de repente?

— Eu corri. Tinha esquecido meu iPod no Pret, daí corri até lá para tentar recuperar e... advinha, não estava lá! – expliquei, me sentindo muito irritado e finalmente guardando a bombinha de ar na mochila. – Ansiedade, correr... feita a desgraça.

Recebi um sorriso amigável e um carinho no ombro, porque Lily era apenas o ser humano mais amável e empático que eu conhecia, e ela tinha a delicadeza de não zombar da minha clara falta de atenção.

— Ei, dos males o menor... foi só o iPod! E você ainda pode achá-lo, vai que alguém pegou para devolver?

Eu a olhei com descrença. Ela achava o que? Que éramos a Suíça ou o Japão? As pessoas não devolvem iPods que acham em cafés, Lily, não seja ingênua. E dos males não era o menor, eu tinha acabado de quase colocar metade do meu pulmão para fora, e se não fosse a atendente do café sair para comprar uma bombinha na farmácia do outro lado da rua eu acho que o NHS precisaria ter me entubado com oxigênio antes de chegar ao hospital.

Mas Lily tinha segurado as pontas de um trabalho que eu não tinha podido aparecer, e como meus pais me lembrariam, o Senhor nos ensina a apresentar sempre a outra face, bem aventurados os que sofrem, ou qualquer coisa bem altruísta e nesse sentido.

— É claro. Dos males o menor.

 

***

 

De algum modo surpreendente, meus pais não pareceram se importar que eu não ficasse na sala com eles na meia hora que antecedia o jantar, assistindo jornal e nem fizeram objeções quando falei que estaria no quarto vendo série.

Acho que o episódio da crise de asma de hoje mais cedo comovera minha mãe e ela pensou que eu merecia uma noite de folga por não ter morrido sem ar.

Eu ainda estava extremamente chateado pela perda do iPod (que eu jamais contaria aos meus pais que acontecera, porque não queria mesmo ouvir um sermão sobre como eu não deveria colocar minha felicidade em coisas materiais, mas no amor do Senhor), e queria, de verdade, poder pular o jantar e só ficar quieto em meu canto, mas me poupei o desgaste de barganhar por isso (porque seria inútil).

Só tentei aproveitar meu tempinho para ver um episódio repetido de alguma das séries que eu gostava.

Minha mãe apareceu cerca de dez minutos depois, batendo na porta e nem mesmo esperando que eu falasse algo para então entrar.

— Você está melhor, Remo? Quer um xarope?

— Estou bem, mãe... só preciso de um tempo para descansar. – oh céus, ela não ia querer ser a mãe preocupada agora, ia?

— Precisa do nebulizador? Vou pegar para você.

Ah minha santíssima paciência! Eu só queria assistir minha série em paz!

— Não precisa, mãe. Eu só quero ver minha série até a hora do jantar, juro. Eu estou bem.

Naquele momento minha mãe pareceu se tocar de que eu estava minimamente ocupado com o que passava na televisão, e fez uma expressão toda arrependida de desculpas.

— Ah, perdão, querido. O que está assistindo? É aquela série do hospital?

Há anos minha mãe tinha visto comigo e Lily um episódio de Grey’s Anatomy e, desde então, toda vez que eu falava que estava vendo série, ela tinha absoluta certeza de que era essa. E era irrelevante tentar explicar que não, não era Grey’s Anatomy.

Então, quando eu estava prestes a pausar a série e explicar o contexto, minha mãe inclinou-se sobre minha cama e deu uma olhadela para a tela, e eu a acompanhei, pensando no que eu estava perdendo naquele episódio, mesmo que eu já o tivesse assistido algumas vezes.

Não há outra maneira de se explicar o que aconteceu em seguida para além de Surto Desnecessário de Hope Lupin.

A essa altura já ficou óbvio que, bem, meus pais são um pouco... entusiastas (para ser generoso na escolha de palavras) da igreja, e como bons conservadores ingleses, não costumam ser as pessoas mais tolerantes com diferenças.

Usando o vocabulário claro, meus pais são muito LGBTfóbicos.

Por isso, eu não devia ter me surpreendido com o sermão que veio em seguida ao minha mãe ver  duas personagens da série em um amasso particularmente intenso, que me fez ruborizar inteiro.

Claramente o universo tinha deixado na minha cara todos os sinais de que eu sofreria muito com o inferno astral naquele dia, e eu seguia ignorando as diretas que estava recebendo do além, porque era de uma estupidez absurda ter deixado meu episódio de The Politician passando na TV enquanto minha mãe estivesse no quarto.

Aquela série escrachava tudo que meus pais abominavam! Casais gays, casais lésbicos, trisais, aborto, política... eu estava sendo anormalmente estúpido aquele dia!

Cocei os olhos, sabendo o que estava prestes a acontecer.

— Uhm... essa não é uma cena que representa bem o melhor espírito da série, mãe... – comentei, falando muito devagar, enquanto ela virava o rosto e dava um gemidinho de desaprovação.

— Que tipo de depravação é essa que você vem assistindo, Remo Lupin?! Seu pai sabe disso?

Respirei fundo, tentando ao máximo manter a calma e não entrar na discussão que minha mãe queria armar.

— Mãe, menos, por favor... foi só um beijo entre... duas pessoas.

Minha mãe continuou negando com a cabeça e fazendo comentários desconexos, porque devia estar muito perturbada. Bem, perturbado ficava eu quando ela começava com esses absurdos! Naquele dia eu estava realmente sem a menor paciência para ouvi-la ou a seus comentários homofóbicos.

— Você sabe que o Senhor não aprova esse tipo de coisa, Remo!

— Que tipo de coisa, mãe? – murmurei cansado, desligando a TV.

Ela seguiu seu sermão, amparado em coisas teológicas que ela costuma repetir em seu grupo da igreja, e acrescentou novidades, sobre como eu era um bom filho e um servo do Senhor (bem, Jesus certamente bebia vinho, então eu achava que ao menos nisso eu estava no caminho) e que não devia me deixar corromper pelas coisas do mundo.

Então ela beijou minha cabeça e disse que eu devia descer para o jantar, reafirmando que só falava aquilo porque queria meu bem e não queria que eu sofresse no fogo do inferno por aceitar aqueles pecados.

Se ela ou meu pai sequer suspeitassem de que eu não só aceitava como cometia aquilo que eles chamavam de pecado, eu tinha certeza de que não precisaria esperar até o fim da vida para conhecer o verdadeiro inferno.

 

***

 

Já fazia uma semana que tinha perdido meu iPod, e é claro que ninguém tinha vindo devolver. Eu nem mesmo tinha mais entrado naquele Pret para perguntar, porque, bem, já muito constrangedor ter que perguntar a algum estabelecimento se eles acharam seu eletroportátil perdido, agora voltar lá e perguntar se alguém veio devolver é o cúmulo!

E eu ainda havia hiperventilado e quase tido um colapso asmático na frente da barista, então... acho que eu não precisava de mais vergonha em público.

— Você realmente não achou mais seu iPod, Remo? – perguntou Dorcas durante o intervalo das aulas.

Eu havia conhecido Dorcas Meadowes no ano anterior, quando ela viera da África do Sul para estudar na UAL, na minha turma de artes visuais, e tinha sido aquele tipo de amizade instantânea. Lily fez amizade com ela depois, e desde então minha dupla tinha virado um trio, com ocasional participação das pessoas com quem Dorcas arranjava para sair.

Dorcas nos fazia um trio de representatividade. Lily era a hétero, eu era o gay, e ela era a bi. Havia o Peter, que também era gay, mas ele não fazia faculdade conosco, e mesmo assim estávamos desfalcados de um amigo trans, e uma amiga lésbica, mas esses ainda não haviam aparecido.

— Nem sombra dele. E nem vou achar, na real... uma semana, né? Se fossem devolver, já teriam feito...

— Pera! Uma semana? Você perdeu seu iPod na semana passada? – perguntou Lily alguns segundos mais tarde, depois de parecer estar raciocinando sobre algo.

— Uhum. Quinta passada, quando a gente tinha aquela apresentaçã-

— Remo! Eu acho que sei com quem está!

Era cedo demais para Lily ter bebido, mas, meu Deus, ela estava subitamente muito louca. Como se meu iPod fosse ter, voluntariamente, saído andando da cafeteria e ido parar nas mãos de alguém que fosse me devolver!

Lily começou a mandar várias mensagens no celular e nem eu nem Dorcas estávamos entendendo absolutamente nada. Ela sabia com quem estava meu iPod? Como poderia?

— Lily?

— Um segundo! – ela estava digitando muito empolgada. – Olha, James me disse que um amigo dele achou um iPod na semana passada e está atrás do dono até hoje, quem sabe não é o seu?

Por um momento, me coração deu um solavanco de expectativa. Sim! Era o meu iPod! Só podia ser! Qual era a chance de alguém ter achado um iPod perdido na mesma semana em que eu perdi o meu?

E então eu comecei a cair na real: as chances eram enormes! Estávamos em Londres, apenas uma das maiores cidades do mundo, e dezenas (se não centenas) de pessoas deviam perder seus iPods todos os dias por ali, era apenas uma coincidência.

— Ah, Lily... com certeza não é, imagina! É só uma coincidência engraçada, mas não pode ser o meu iPod. É só um iPod qualquer, de alguém tão desatento como eu. – murmurei, ciente de que tinha ficado frustrado com a expectativa que criara durante poucos segundos.

Lily não parecia tão realista e resoluta quanto eu, e apenas ignorou o que falei e continuou mandando mensagens. Só me faltava James aparecer ali com um iPod de um estranho, achando que era o meu.

— James está perguntando se pode avisar ao amigo dele... posso passar seu contato?

James Potter era o namorado de Lily há quase dois anos, um cara super gente boa e muito divertido que tinha virado um amigo muito próximo meu e, frequentemente, saíamos juntos para algum pub, nas sextas-feiras.

— Pra quê, Lily? Não adianta nada.

— Não custa tentar, ué! Vou mandar seu número para James passar ao amigo dele, e vamos ver no que dá... Você vai achá-lo legal, o Sirius. Ele é muito divertido!

— Você o conhece?

— Conheço, claro! Já viajei com ele e James para Brighton uma vez. Pronto! Mandei seu número, vamos esperar Sirius mandar mensagem e, quem sabe, você ter seu iPod de volta! – disse ela, com toda a expectativa do mundo e um sorriso altruísta que arrancou um riso de mim.

— Ou quem sabe eu ganhe dois dias profundamente deprimido por perceber que realmente fui furtado! – disse eu, com um sorriso igualmente grande, mas de deboche.

 

***

 

[Contato não salvo – 19:04]

Ei, boa noite

Você se chama Remo Lupin?

 

[Eu – 19:05]

Oi, sim sou eu

Quem é?

 

[Contato não salvo – 19:05]

Ei, Remo... eu sou Sirius Black

O amigo de James, namorado da Lily

Ele me passou seu contato, parece que você

perdeu seu iPod semana passada

É verdade?

 

— Nada de telefones à mesa, Remo. – lembrou meu pai, indicando o aparador ao lado da escada, aonde deixávamos os celulares durante o jantar.

Meu coração tinha acelerado, e eu queria desesperadamente responder Sirius, afinal ele tinha um iPod em mãos e, bem, mesmo que mínimas, ainda havia chances de ser o meu, certo?

Ansiedade era realmente uma merda!

Mas nada de celulares a mesa era uma regra e eu não poderia fazer nada a respeito. Tentei respondê-lo a caminho de deixar o celular no aparador, mas meu pai pigarreou alto, reclamando, e eu só bloqueei a tela, muito frustrado.

— Era importante. – resmunguei ao me sentar

— Continuará sendo importante depois de orar e comer. – retrucou ele com uma cara nada boa.

Fechei os olhos enquanto ele fazia a oração para abençoar o alimento, o dia, a vida de sei-lá-quem, e só conseguia pensar que precisava responder Sirius! Eu nem o conhecia, estava esperando conseguir um favor em receber meu iPod de volta e, ainda assim, o deixava esperando por uma resposta.

Durante o jantar, meu celular vibrou algumas várias vezes, e eu me sentia terrivelmente agoniado para buscá-lo e responder à mensagem, mesmo sabendo que, provavelmente, não eram sobre o iPod perdido. Tentei comer mais rápido, mas não rápido demais para que meu pai não desconfiasse, e neguei delicadamente a oferta de mamãe para repetir o bolo de carne, pensando em como pediria para sair da mesa.

— Uhm... eu tenho alguns trabalhos da faculdade para fazer. Sobre meu portfólio... eu posso... – gesticulei em direção às escadas, deixando implícito que queria sair da mesa.

— À vontade. E avise sua namorada que o jantar na sua casa é sempre servido às 19h, para que ela possa ligar em horário mais apropriado. – disse meu pai em um tom severo, mas depois dando um sorriso e uma piscadinha.

Ótimo! Agora meu pai pensava que eu estava saindo com alguma menina e estava escondendo isso deles.

Eu nem gosto de mulheres, pai!

Se ele precisava pensar isso para me deixar sair da mesa e ir atrás de informações sobre meu iPod perdido, eu estava disposto a pagar esse preço.

 

[Contato não salvo – 19:07]

Uhm... então, me avisa se for isso

mesmo

Porque daí a gente checa se é o seu

E se for, vemos um dia para eu entregar

 

Eu precisava muito, queria muito, que aquele fosse o meu iPod!

 

[Eu – 19:22]

Me desculpa, estava ocupado

Hum, sim, eu perdi meu iPod semana

passada, em Pimlico

Perto do Chelsea College

Aonde você achou esse?

 

Sirius não tinha estado online pelos últimos dez minutos, e nem apareceu logo que eu enviei minhas mensagens, o que não ajudou muito com minha ansiedade. Avisei à Lily que ele havia entrado em contato comigo, e que estava esperando por mais respostas, e ela logo me ligou.

— E então, era o seu?! – perguntou animada

— Você lê minhas mensagens? – devolvi com algum sarcasmo, e ela riu. – Acabei de dizer que estou esperando que ele me responda.

— Boa sorte! – alguém gritou do outro lado da linha. – Sirius é péssimo com redes sociais! E ele está no trabalho a essa hora!

Reconheci a voz como sendo de James porque a risada meio exagerada que veio em seguida era muito característica e impossível de ser confundida.

— Eu estava tipo, tão ansioso para responder ao Sirius e saber se era mesmo meu iPod, que meu pai achou que eu estava com uma namorada escondida dele, acredita?! – murmurei para Lily em baixo tom, seria péssimo se alguém ouvisse e entendesse tudo errado.

— Se ao menos fosse namorado... – respondeu ela com malícia.

— Ah, vai se danar, vai! Boa noite, e usem camisinha porque não quero ser padrinho agora! – respondi em implicância, ouvindo James rir e Lily protestar, com certeza muito corada.

Nada de uma resposta de Sirius até então.

Evitando toda a ansiedade por informações, tentei me dedicar, de verdade, aos trabalhos para meu portfólio, ligando o computador e me concentrando um pouco.

 

[Contato não salvo – 20:27]

Pimlico, isso!

Achei esse iPod na mesa de um Pret, perto

da estação de Pimlico... você pode me descre-

ver como era o seu? Só para eu ter certeza...

 

Ah. Meu. Deus!

Sirius tinha achado um iPod em Pimlico. Em um Pret. Na mesma semana em que eu perdera o meu iPod. Em um Pret. Em Pimlico. Não era possível, era? Quantas probabilidades existiam para isso? Era tipo... uma chance em... mil? Eu sou péssimo em exatas!

Certo, eu estava com muita, muita, expectativa de ser o meu aparelho.

Estava com tanta expectativa que até mesmo me dei ao trabalho de salvar o contato de Sirius.

 

[Eu – 20:18]

Ai meu Deus! Acho que pode ser meu!

Eu usava uma capa azul, de silicone

E estava sem fone, também. Eu uso aqueles

 fones sem fio.

 

Eu estava tentando desesperadamente me lembrar do que James havia dito sobre Sirius estar no trabalho para não ficar impaciente e ansioso, mas não estava dando certo. Eu tinha achado meu iPod! Ai meu Deus!

 

[Sirius iPod – 20:22]

Desculpe se eu demorar a responder

Estou no trabalho

Mas sim, parece que esse iPod é o seu

mesmo, Remo  :)

 

Eu parecia aquelas pessoas desesperadas para falar com os ficantes, que respondem as mensagens no exato mesmo segundo em que as recebem, mas bem... eu estava muito empolgado! Era meu iPod! Ali, são e salvo! Nas mãos do amigo de James!

 

[Eu – 20:22]

E eu também não tenho senha nele. E a

conta da App Store está desativada, porque

eu fiz log off quando vi que tinha perdido o iPod

Pode me mandar uma foto dele?

 

[Sirius iPod – 20:23]

Hahaha, é seu mesmo então, Remo

[imagem]

 

ERA O MEU IPOD! O wallpaper de um disco dos Beatles, a capinha azul... O inferno astral não estava tão infernal assim, afinal... ele acabava quando mesmo? No dia do meu aniversário? Ou quando começasse o mês do aniversário? Porque ainda estávamos a uma semana de março, a sorte não podia já estar virando ao meu favor, podia?

Eu não queria gastar minha sorte. Todo mundo sabe bem o quanto eu preciso dela para continuar vivo, dado meu histórico desastrado, e estar gastando-a com meu iPod parecia um desperdício, mas bem... era Sirius quem tinha o achado, então talvez fosse um gasto da sorte dele?

 

[Eu – 20:23]

É muito o meu iPod! Meu Deus!

Você é um enviado do universo para salvar

meu pescoço!

Eu ainda estou pagando por isso!

Quanto eu te devo por salvar meu iPod

das ruas?

 

[Sirius iPod – 20:25]

[figurinha]

Então... hahaha

Eu meio que fiquei ouvindo suas playlists

nessa última semana, e me considero pago!

Hahaha... elas são muito boas!

Você é músico?

 

Lily estava certa, Sirius era muito simpático, e até ali estava se mostrando um excelente apreciador de música boa, já que minhas playlists eram, basicamente, rock clássico, medleys e covers de música pop, e um pouco Florence and The Machine. Uma das poucas coisas que eu carregava da vida religiosa dos meus pais era o gosto por música de coral, com aqueles órgãos e o tom sóbrio, melancólico e profundo, o que me levava ao indie rock.

Eu era muito piegas!

 

[Eu – 20:26]

Se você considerar tocar na igreja, então

sim, eu sou músico haha

Mas fora isso, não..

Só alguém com o gosto musical de um velho

Estou surpreso que tenha gostado!

 

Ele demorou muito para responder, e eu achei melhor me concentrar no meu portfólio, já que sabia, agora, que meu iPod estava a salvo com Sirius e logo menos eu o teria de volta. Pelo resto da noite não recebi mais mensagens, e acabei me recolhendo e indo dormir sem saber mais notícias do meu aparelho de música.

Quando acordei de manhã cedo, havia notificações perdidas da madrugada, além de mensagens em grupos e, inesperadamente, mensagens de Sirius.

 

[Sirius iPod – 01:28]

Nossa, eu dei o maior vácuo em você

Desculpe, o trabalho ferveu hoje

Mas então quer dizer que você é um

rapaz da igreja? Toca o que?

 

[Sirius iPod – 01:29]

Gostei bastante das playlists, têm uma

melancolia interessante, e é difícil achar

gente da nossa idade que goste de Beatles

hoje em dia

 

[Sirius iPod – 01:30]

Enfim... quando posso te entregar seu

aparelho?

Acho que ‘cê deve ‘tá doido por ele, né?

 

[Sirius iPod – 01:31]

Sábado eu vou sair com o James e a Lily

Você pode vir junto, se quiser

Aí levo seu iPod... que acha?

 

Então Sirius gostava de Beatles, afinal... se era amigo de James e gostava de Beatles, não podia ser má pessoa, podia? Parecia alguém de quem eu podia, facilmente, virar amigo. Fiquei me perguntando com o que ele devia trabalhar para chegar em casa tão tarde, e como ele havia dito “nossa idade”... então significava que Sirius era universitário também?

Nenhum universitário que eu conhecia aguentaria trabalhar até tão tarde e ter aulas no outro dia.

 

[Eu – 08:42]

Ah, sem problemas!

Uhm.. pois é, sou mais só tocador de música

do que rapaz da igreja de fato hahaha

Tocador de piano, aliás... bem clichê mesmo :|

 

[Eu – 08:43]

Gosta de Beatles então?

Sábado funciona para mim... vou falar com a

Lily e combinar tudo então

 

Sirius respondeu com uma figurinha e um “Okay, até lá então”, e só perto do meio dia. Quando, naquela tarde, contei à Lily que sim, meu iPod estava com o amigo de James, ela ficou quase tão feliz quanto eu tinha ficado.

— Nossa, que bom que você já vai poder pegar seu iPod amanhã! É uma merda ficar sem música nas aulas de desenho! – comentou Dorcas enquanto cortava pedaços de papel para nosso projeto de colagem da aula de Expressão Artística.

Embora estivéssemos na faculdade, nosso professor de desenho, Sr. Binns, era um fiscal constante do uso de celulares em sala de aula, mesmo que fosse apenas para ouvir músicas. A perseguição não se estendia a outros dispositivos, então as pessoas costumavam burlar as regras dele de muitas maneiras, e, sendo sincero, eu não acho que ele ligava, desde que celulares não fossem vistos ali.

— Demais! Eu estava pensando qual banco assaltaria para comprar outro, e sem deixar meus pais saberem, claro.

— Aliás, seus pais vão deixar você sair amanhã, Remo? Quer dizer, como vai explicar que vai para o pub?

— Não vou explicar. – comentei dando de ombros. – Eles têm algum compromisso na igreja até as 21h, então desde que eu saia e volte antes deles, não tem, absolutamente, qualquer problema.

— Você faz a mentira parecer tão simples, Rem... – disse Lily sorrindo e negando com a cabeça, enquanto passava cola em pedaços de papel celofane cor de rosa.

— Pais conservadores e repressivos criam ótimos mentirosos, ruiva... – respondi piscando para ela, sabendo que estava fazendo piadas autodepreciativas e que minha psicóloga não aprovaria isso.

E era verdade. Saber que qualquer coisa que eu pedisse para sair ou fazer seria negada, a menos que fosse estudar, ou fosse uma “boa diversão cristã”, me fez aprender, logo cedo, antes até do ensino médio, que eu precisaria ser a pessoa que eles confiassem para poder fazer o que quisesse em paz.

Pais repressores criavam filhos com audição apurada para não serem pegos, filhos com habilidades impressionantes de mentir e fazer coisas escondidas, além de dons para dissimulação. Eu não tinha orgulho disso, muito menos de ter de ser duas pessoas ao mesmo tempo, mas as coisas eram como eram, e não havia o que fazer a respeito disso.

— Mas afinal, Lily... eu conversei um pouco com Sirius, ele gosta de Beatles? – perguntei mudando de assunto, não querendo me afundar naqueles pensamentos que eu sabia que estavam vindo.

— Sirius é um figura, não é? – disse ela, rindo um pouco. – Sim, ele adora! Aliás, o gosto musical de vocês dois é bem parecido, eu acho... vocês dois vão gostar de conversar amanhã. Não sei como ainda não tinha pensado em apresentar você a ele, ou ele a você!

Eu ri. Lily tinha amigos muito divertidos e interessantes e, em geral, eu gostava das pessoas que ela me apresentava, ficando até mesmo mais íntimo do que ela, muitas vezes. A ideia de conversar de música com Sirius era interessante, e eu estava empolgado para sair com todo mundo para o pub no dia seguinte.

—Ele trabalha com o que mesmo? James tinha dito que Sirius estava no trabalho, e ele mesmo pediu desculpas por não responder...

— Sirius é músico, Rem... ele está tentando juntar dinheiro para gravar um álbum das músicas dele, mas está complicado. Pelo que sei ele trabalha tocando e cantando covers em alguns pubs, e James falou que Sirius havia sido contratado pelo Três Vassouras uns meses atrás. – disse Lily dando de ombros.

Bem, isso mudava completamente a situação da coisa. Sirius era músico e tinha ouvido todas aquelas baboseiras alternativas e melancólicas no meu iPod. Eu conseguia imaginar a cara dele olhando para cada uma das músicas nas minhas playlists e rindo de desgosto, eu queria morrer de vergonha!

Deixar alguém ver sua playlist é algo bizarramente intimista, porque lá estão ocultos todos os seus guilty pleasures musicais, e todas as coisas que você não admite que escuta quando está com os fones enfiados na orelha. E um completo estranho tinha visto cada uma das músicas que eu ouvia, em todas as versões e covers que eu gostava. Era como ser visto correndo nu no Hyde Park!

Certo, só que sem a parte de ser preso por atentado ao pudor.

— Ah, sim... músico. É, ele comentou umas coisinhas de música, mas eu não imaginei que ele fosse da área. Ele é formado ou coisa assim? – perguntei, tentando disfarçar meu embaraço.

Se ele fosse graduado na área eu já estava cogitando uma desculpa para não aparecer no pub, e pediria a Lily que pegasse meu iPod por mim, para não ser humilhado assim pelo meu jeito piegas de gostar de música.

— Ele fazia faculdade. Na Royal Academy of Music. Mas ele teve um problema com os pais e saiu de casa, foi morar com o James no final do ano retrasado; parece que eles pararam de pagar a mensalidade para o Sirius, então ele meio que largou os estudos e tem trabalhado desde então.

Uou! Certamente nada do que eu esperava, e a cada vez que Lily contava algo eu ficava mais curioso para conhecer Sirius.

Em minha cabeça ele era ruivo, e um daqueles caras fortões com barba de viking e várias tatuagens nos braços, do tipo que anda de moto de alta cilindrada. Talvez ele tivesse um cachorro de estimação, daqueles bem babões, e eu o imaginava como o tipo de pessoa que fazia cover do Metallica, ou do Iron Maiden.

— Falo sério, Rem, você vai adorar o Sirius! E ele adora contar histórias, então tudo que você perguntar ele vai ficar horas conversando!

Certo, isso era ótimo! Eu tinha bastante dificuldade em iniciar conversas com pessoas que não conhecia, e seria patético se Sirius fosse o tipo de pessoa que fala pouco. Seria uma noite, no mínimo, desagradável.

— Agora até eu quero ir com vocês para o pub amanhã, sabe?! – disse Dorcas, fazendo um bico de fingida birra.

— Você pode vir também, Doe! Não é uma saída fechada. – respondeu Lily.

Talvez estivéssemos falando meio alto demais, ou talvez nossa professora apenas fosse muito chata, mas o fato foi que ela veio nossa direção, com uma cara nada boa, e passou o maior esporro sobre nossa produtividade e questionou a qualidade do trabalho que pretendíamos entregar se não éramos capazes de sequer nos concentrar em uma aula.

— Sabe, eu acho que Sirius fez foi bem em largar a faculdade! – disse Dorcas em um sussurro, brincando, no exato segundo em que nossa professora virou as costas.

Lily e eu mordemos a boca para abafar risinhos e tentamos não conversar mais durante o resto da aula.

 

***

 

Como era esperado para todos os sábados, o pub estava cheio e eu tive dificuldades para achar a mesa em que Lily, Dorcas, James e Sirius supostamente estavam, tendo que pedir à Lily que ela levantasse o celular com a lanterna ligada para eu me localizar.

O mês de fevereiro tinha acabado, embora o frio não parecesse tão igualmente disposto a largar o osso e deixar as temperaturas subirem, de maneira que eu agradeci quando percebi que eles haviam escolhido uma mesa perto de uma saída de ar do aquecedor.

— Vocês não têm ideia do gelo que está lá fora! – comentei, colocando meu casaco no encosto da cadeira e esfregando as mãos.

À mesa, estavam sentadas Lily e Dorcas, e James estava em pé, desenrolando um cachecol do pescoço, e embora houvesse uma outra cadeira com casaco no encosto, não havia sinais de algum outro rapaz que pudesse ser Sirius Black.

— Fala, Aluado! – disse James, se esticando para dar dois tapinhas em meu ombro. – Sirius foi ao banheiro, mas logo chega por aí... vai beber o que hoje?

— Uhm... traz uma cidra de maçã, mas vou tomar só uma mesmo. – avisei, e James deu uma piscadinha de compreensão e saiu para o balcão para pedir nossas bebidas.

— Devia ter chegado mais cedo, Rem! – disse Dorcas com o rosto meio avermelhado. – Sirius é hilário! Eu não consigo parar de rir nenhum segundo!

Eu me perguntei se ela estava sendo sincera ou se já tinha passado da conta, considerando que Dorcas era muito fraca para beber. Continuamos conversando amenidades e falando dos trabalhos em nossos portfólios da faculdade até que James voltou, carregando dois canecos de cerveja preta em uma das mãos e uma garrafa de ale na outra, acompanhado de alguém que trazia meu pedido de cidra e uma taça com Cranberry Vodka.

— Remo, esse é o Sirius, mas pode chamar de Almofadinhas, ou de cachorro mesmo. Sirius, esse é o Remo, e é bom você ser minimamente educado com ele, porque ele é legal. – disse James, fazendo as apresentações.

Dorcas caiu na gargalhada, e Lily sensatamente afastou a garrafa de cerveja dela. Sirius deixou minha cidra sobre a mesa e se sentou na cadeira que eu antes já supunha ser dele, ao meu lado.

Se eu tivesse feito um retrato falado de como imaginava Sirius e então comparasse com a verdadeira aparência dele, não haveria uma característica física que eu acertaria.

Sirius era alto e magro, o que não o fazia parecer tão forte, e ele definitivamente não tinha barba de viking. Aliás, não tinha barba alguma! Nem era ruivo, ao contrário! Tinha cabelos escuros e meio cacheados, e usava eles mais compridos, num estilo do tipo o Heath Ledger em 10 coisas que eu odeio em você. Eu não tinha como saber se ele tinha ou não tatuagens nos braços, porque ele usava uma camisa de botões, de flanela, que ia até perto de seu pulso, embora ele ainda parecesse o tipo de pessoa que poderia dirigir uma moto de alta cilindrada, ou ter um cachorro babão.

Foi até rápido de concluir aquilo: Sirius era muito gostoso.

Gostoso de um jeito meio fora do tradicional, e quando deu um sorriso amigável eu não pude evitar sentir um formigamento no pé da barriga.

— E aí, Remo. De boa? – perguntou ele, estendendo a mão para me cumprimentar.

— Tranquilo, e você?

— Bem, bem... trouxe seu filhote para você. – então ele enfiou a mão em um bolso interno do casaco que colocara na cadeira e puxou meu iPod de lá.

Mesmo que eu já estivesse esperando reencontrar meu aparelho, tive uma súbita surpresa, e foi gostoso segurar meu iPod na mão, diminuindo sensivelmente a culpa e a chateação da última semana.

— Você foi um enviado dos céus! Sério! – ele deu uma risada.

— Se não fosse um enorme senso moral, eu teria ficado com ele para mim... suas músicas são ótimas!

Agradeci, sentindo meu rosto esquentar de vergonha. Lily e James entraram na conversa e, logo menos, minhas playlists tinham virado o assunto de debate da mesa.

— Sirius canta covers de rock, Remo... devia vir com a gente algum dia ao Três Vassouras para assistir ele tocar. – disse James em algum momento, fazendo Sirius dar um sorriso arrogante.

— É, devia mesmo. Bom gosto musical a gente reconhece, e você ia gostar das coisas eu toco. Só música boa, juro!

— Eu adoraria... vocês precisam só me avisar uns dois dias antes, para eu planejar como vou fugir para ir. – respondi, terminando minha bebida e fazendo Dorcas dar outra gargalhada alta. Ela não parecia muito bem.

— Problemas em casa? – perguntou Sirius

— Meus pais não gostam que eu saia. Ou viva.

— Sei como é. Por isso eu saí de casa, e James foi um irmão me acolhendo. – ele e James trocaram um soquinho, e eu dei um sorriso sem muito humor.

Eu queria ter um amigo para aonde ir, para poder fugir de casa também.

— Lily me falou que você quer gravar um álbum, é sério? – quis saber, mudando logo de assunto.

— Ah! É sim... bom, um EP pelo menos, não tenho material o bastante para um álbum. Mas a grana ‘tá curta, e eu só conseguiria pagar a gravação mesmo, toda a parte de arte e divulgação não ia rolar, e sem propaganda a gente não chega a lugar nenhum, então a ideia tá suspensa até sobrar um dinheiro.

— O que, julgando pelo tanto que esse pinguço me leva para beber, vai demorar um pouco ainda. – acrescentou James, fazendo Sirius mostrar o dedo do meio para ele.

— Essa coisa da arte... é simples, se você souber mexer nos programas. Não precisa ser nada mega elaborado, uma arte minimalista já vende.

— Não sei nem para aonde vão esse softwares, cara. Só sei mixar música.

Eu ri, me identificando. Até ao admitir que não sabia fazer algo Sirius era arrogante, mas de um jeito confiante e divertido, eu diria.

— Posso ajudar, se quiser... – ele me olhou com uma expressão de interrogação. – Ah, vai! ‘Cê salvou meu iPod, deixa pelo menos eu tentar ajudar em alguma coisa...

Sirius achou graça, e pela expressão dele eu podia jurar que ele tinha ficado empolgado com minha oferta e ia aceitar a proposta, mas então aconteceu algo que nenhum de nós havia previsto (embora devêssemos, já que estava óbvio!).

Dorcas se levantou de seu assento, meio cambaleante, dizendo que não estava muito bem e iria ao banheiro, e então, sem qualquer aviso prévio, ela vomitou ali mesmo, completamente bêbada. Tive o privilégio de estar no raio de ação do estômago revoltoso dela, e recebi um jato sobre os pés e tornozelos, melando minha calça e meus tênis.

Estava feito o caos.

Lily levantou-se em um pulo, segurando os cabelos de Dorcas e ajudando-a a se manter em pé, enquanto James correu para pedir um balde e água, e Sirius me puxou para trás, evitando que a situação piorasse.

Mas é claro que o inferno astral não teria dado trégua completamente, então meu celular começou a tocar e era minha mãe ligando. Gelei. Se ela ouvisse música alta ia enlouquecer para saber aonde eu estava.

— Mãe?

— Oi, querido! Avisando que estamos saindo mais cedo hoje, tudo bem? Estamos indo para casa, quer algo da rua?

— Ahm... não, mãe, tá okay. Até já. – e desliguei. Podia arranjar uma desculpa depois, mas precisava estar em casa para não ser escalpelado.

Dorcas ainda colocava o estômago para fora e, àquela altura, metade do pub olhava para nossa mesa. Mas não havia nada o que fazer.

— Eu tenho que ir, de verdade! – disse com urgência, tentando pensar em como chegaria em casa a tempo. E o que eu diria sobre o vômito na roupa?

James perguntou se eu precisava de ajuda, e se queria me limpar, mas eu disse que não daria tempo e só vesti o casaco, me despedindo.

— Valeu, valeu gente! Lil, me dá notícias da Dorcas depois. Até depois, James. Valeu mesmo, Sirius. Depois eu mando mensagem para falarmos dessas artes aí!

E deixei uma nota na mesa, saindo correndo em direção a estação de metrô, cinco ruas dali, sentindo o cheiro de vômito se espalhar quando o vento gelado batia em mim.

 


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Notas finais do capítulo

1. Pret a Manger: lojinha internacional de sanduíches, com base no Reino Unido, e que possui uma sede quase que a cada esquina de Londres.

Reviravolta demais para um capítulo só! Por favor, me contem o que acharam desse Remo asmático e meio sequelado, do nosso Black favorito, e o que mais vocês quiserem!

Beijos! Espero vocês nos comentários e nos vemos na segunda-feira que vem! ❤❤❤