I Am Easy To Find escrita por isa


Capítulo 1
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Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Pra mim é um prazer participar desse projeto com tanta gente linda :)
Não vou me estender porque queria postar meia noite e já tô três minutas atrasada. Espero que gostem.
Um abraço.



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Dominique Weasley fechou o malão e respirou fundo, dando uma última olhada no dormitório feminino da grifinória. Ele havia coabitado ali por grande parte dos seus últimos sete anos. De todos os lugares possíveis em Hogwarts, o tempo que passara naquele quarto não havia sido particularmente miserável, mas parecia triste em muitos sentidos que agora ele finalmente podia ressignificar.

Depois de seu décimo sétimo aniversário, consequente maioridade bruxa e cirurgia, a diretora McGonagall tinha lhe assegurado que, quando ele retornasse para a escola após o recesso natalino, todas as suas coisas já estariam realocadas no espaço novo: o dormitório individual. Essa era uma modificação relativamente nova, implementada durante a direção de Minerva. Alunos que, por razões diversas, gostariam de solicitar um cômodo individual, só precisavam preencher um longo formulário (assinado pelos responsáveis, caso o bruxo fosse ainda menor de idade) e submetê-lo ao colegiado. Dom havia feito o seu com antecedência e a resposta de sua solicitação chegara a tempo para ser considerada por ele o melhor presente de natal. Ele se sentia leve.

Encarando o espelho de chão, aproveitou que estava sozinho no dormitório e levantou o blusão de frio mais uma vez. Nos últimos dias ele simplesmente não podia evitar; parecia um milagre. Ele passou o dedo indicador pela fina linha de cicatriz da mastectomia abaixo do peito reto e pensou o quanto ela parecia um indicativo: o prenúncio de algo bom.

Estava tão distraído com isso que nem notou quando Hiroko entrou. Mas assim que viu sua silhueta pelo vidro, desceu a roupa depressa, envergonhado.

— Busto bonito! - ela saudou daquele jeito animado de sempre, fazendo com que ele quisesse morrer. - Ah, qual é, Dom. - e levantou o próprio suéter para ficarem quites. Dom não conseguiu desviar os olhos a tempo. Como ele, anos antes, Hiroko odiava sutiãs.

— São só peitos. - girou os olhos. - Não é como se metade da escola não os tivesse visto, de todo modo. - Era verdade. Por alguma razão desconhecida, Hiroko tinha uma leve tendência a ficar seminua nas festas ilícitas que ela e o time de quadribol promoviam quando a grifinória ganhava.

A capitã do time de sua casa apenas se sentia confortável demais na própria pele. Dom, que apenas agora começava a entender o sentimento, ficava feliz por ela. Em sua experiência, nunca haviam sido só peitos. Mas ele sabia que Hiroko não estava sendo insensível com a sua história, estava apenas contando a dela.

E agora ela estava jogada em sua cama, cruzando as botas em cima da mala recém feita de Dom.

— Vou sentir sua falta. - avisou.

Ele se permitiu deitar uma última vez ali, ao seu lado.

— Também vou sentir sua falta. - disse, olhando-a de verdade pela primeira vez desde que ela chegara ao quarto. – Mas eu sou fácil de encontrar. – brincou, espalmando a mão na dela.

Havia algo de muito confortável no gesto de estar com a mão segurando a de Hiroko, e não só porque desse modo ambos podiam ficar com as mãos aquecidas, o que era sempre bem-vindo naquele clima congelante. Tinha a ver com a constatação da presença dela e do senso de regulagem que o universo parecia adquirir toda vez que a garota estava por perto. 

E ela havia estado por perto desde o primeiro ano, é verdade – afinal, eles dividiam o dormitório. Mas apesar das amenidades e cordialidades anteriores, Hiroko só havia se tornado sua amiga no quinto ano, quando o pegou voando escondido de um lado para o outro durante a noite, depois de ter o coração partido.

Dom havia namorado Juno, uma garota gentil da lufa lufa, por um curto período de tempo, mas as coisas não tinham dado muito certo desde que ele tomara coragem para lhe contar seus planos futuros e o pronome pelo qual gostaria de ser chamado.

Fora um término amável dentro do possível, mas o atingira fundo e o único modo que ele conhecia de estirpar seus pensamentos era voando em alta velocidade. Hiroko, por outro lado, tinha um olho clínico e estava sempre pronta para reconhecer potenciais jogadores quando os via. Ela perturbara Dom até que ele concordasse em fazer um teste para artilheiro. À época, um dos melhores jogadores do time estava prestes a fazer um intercâmbio em Castelobruxo e Hiroko precisava urgentemente de um reserva.

Ela conseguiu um reserva e, com o tempo, também um melhor amigo.

— Você tem certeza que não quer vir comigo? - Dom convidou mais uma vez. Hiroko ia passar o natal na escola porque os pais dela precisaram viajar às pressas para Tóquio, onde seu avô centenário estava enfrentando problemas de saúde outra vez.

— Não. - ela sorriu, olhando para o teto. - Vou aproveitar esse tempo para continuar trabalhando em meu jogo.

Além de quadribol, Hiroko era obcecada com o jogo de RPG que vinha desenvolvendo há dois anos consecutivos.

— Como vai Ben? - Dom perguntou, curioso com o personagem que ele sabia ser baseado nele próprio.

— Bem. Melhor do que nunca. Ele acabou de chegar nas Terras Sombrias do Oeste.

— E porque isso o deixaria feliz? - perguntou, genuinamente assustado.

— Ah, porque ele conseguiu resgatar Sky. Não que ela precisasse, mas ele chegou na hora certa. E eu acho que eles se beijaram. - Ela disse, como se não fosse nada demais o fato de que o personagem inspirado em Dominique beijasse a personagem inspirada nela.

— Mas...! Eles são amigos. - Titubeou.

— Bom, é claro que eles são amigos. - ela girou os olhos. - Mas, do meu ponto de vista, algo em Sky parecia só estar esperando ele se resolver com toda aquela questão da identidade élfica. Era a jornada do herói dele, não era? Ele tinha que descobrir como iria performar primeiro... Acho que ela estava só esperando. - Repetiu, ainda olhando o teto.

Dom sentiu a pulsação acelerar um pouco.

— Você acha má ideia? - Hiroko perguntou, finalmente encarando-o.

Dominique pensou no quanto tudo naquele dia parecia surreal. É claro que ele já havia divagado como sobre seria pousar a mão no rosto de Hiroko, acariciar a pintinha que ela tinha logo abaixo do olho direito e simplesmente beijá-la. Ele achava difícil que qualquer pessoa não tivesse pensado nisso em Hogwarts. Ela era tão bonita e tão confiante, ninguém resistia a força dessa combinação, muito menos ele.

Ainda assim, ele jamais faria qualquer coisa que colocasse em risco o que eles haviam construído. Dom não era exatamente uma pessoa sociável e apesar de todos os primos e primas com quem ele podia contar na escola, Hiroko era a única pessoa, desobrigada pelos laços de sangue, que o conhecia tão profundamente.

E enquanto ele ponderava sobre tudo isso, Hiroko começou a sentir um princípio de pânico. Era a primeira vez que ela parecia qualquer coisa além de absolutamente certa sobre si e sobre a vida.

— Eu achei que você... - ela gaguejou, incerta com o tempo de silêncio. - Olha, Dom, me desculpa, eu...

— Não. - ele a interrompeu. -  Eu não acho uma má ideia. - disse, por fim, antes de experimentar tocar os lábios nos dela.

Parecia um bom desfecho, ele pensou, quando ela o correspondeu. Não, pensou melhor, e seu coração concordou em alegria, parecia um bom início.


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Notas finais do capítulo

Fun fact: em 2016 escrevi pela primeira vez Dominique como trans (https://fanfiction.com.br/historia/708380/Dom/) e esse ano decidi escrever de novo, ai quando eu soube do projeto decidi juntar o útil ao agradável. Há uma série de coisas que eu ponderei que deveria abordar melhor - a questão da disforia, por exemplo - mas acabei optando por deixar a história curtinha e soft.
Eu nem sabia que ficaria no primeiro dia do cronograma, e, pensando em retrospectiva, acho que esse finalzinho ficou bem adequado.

Mal posso esperar pra ler as próximas historinhas ;)