O Caminho das Estações escrita por Sallen


Capítulo 7
OUTONO: O momento que antecede a queda


Notas iniciais do capítulo

Olá, novamente. Como vocês estão?

Bem, cruzamos um determinado limiar (inclusive em determinados limites rs) e agora talvez o envolvimento das estações nessa jornada fique mais evidente.

Enfim, espero que vocês aproveitem o início do caos.



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Como uma tempestade imprevisível, de última hora, Nicholas apareceu abalando todas as estruturas que Juno jurava manter sob controle.  

Ela sentia conhecer o rosto, reconhecer aquela pessoa, entender sua existência, porém foi como estar diante de um fantasma e encarar a sua alma. E mesmo assim, Nicholas era tão real quanto ela e tudo ao seu redor. Tentando não perder o apoio do próprio equilíbrio, Juno sentia uma ruptura percorrer por todo seu ser.  

Sua visão percorria por toda a silhueta, reconstruindo padrões já ofuscados em sua mente. A estatura mais baixa, o corpo mais parrudo, a pele pálida. Não era o rapaz que ocupava seus pensamentos nos últimos dias. Os cabelos por cortar, lisos e arrepiados, seguidos por uma barba média, emoldurando o rosto oval, com os olhos azuis como o céu, nariz fino e arredondado e uma boca pequena com lábios curtos. A figura de Nicholas estava igual a antes e, de alguma forma, totalmente diferente aos olhos de Juno.  

Então, observando cada detalhe do homem que costumava amar, Juno sentiu-se rachar, como uma casca, trazendo à tona tudo o que havia omitido para si mesma de uma vez só.  

Dois anos de relacionamento estavam diante de si. Deveria significar alguma coisa, na verdade, deveria significar tudo. Sentia que conhecia Nicholas sua vida inteira. E era como se ele fizesse parte de cada detalhe da sua realidade desde o momento que o conheceu.  

Era mais jovem, desesperada por emoções, quando Nicholas apareceu. Ao completar dezenove anos, Juno ainda procurava o significado da vida, enquanto ele tinha uma estabilidade invejável aos vinte e oito anos. Era um homem feito, nove anos mais velho, com uma maturidade difícil de encontrar em outros rapazes. E só tinha olhos para Juno. Mesmo quando poderia ter qualquer outra garota, Nicholas preferiu a garota magra, esguia, de cabelos repicados, com o riso fácil e exagerado.  

No início, Juno sentia inveja de Nicholas. Tinha uma carreira em ascensão, uma boa qualidade de vida, um círculo de amigos engrandecedor e uma família bem estruturada. Tudo o que ela nunca teve. Sendo apenas uma garota tentando descobrir seu lugar no mundo ao mesmo tempo que precisava ser responsável, por várias vezes, questionou seu lugar ao lado de Nicholas. Por que estaria interessado em alguém tão deslocado da vida que ele levava? Ela nunca soube a resposta, embora ele nunca tenha dado espaço para dúvidas.  

Até que conheceu seus pais e teve sensação de não ser tão bem recebida. Sendo mais velhos, social e financeiramente bem sucedidos, não pareciam gostar da ideia de um relacionamento com uma garota tão nova que não acompanhava a ascensão de seu único filho. Apesar disso, Nicholas sempre tentou fazê-la se sentir em casa ao seu lado, mostrando que era o melhor lugar que Juno poderia estar.   

Quando, finalmente, permitiu Nicholas a fazer parte de sua existência, nada foi como antes. Ele tinha esse controle sobre a vida, sendo capaz de alterar tudo para a sua própria realidade de um jeito sútil, quase imperceptível. Aos poucos, Juno começou a se moldar, encaixando-se a ele, de acordo com o homem feito, estável e consolidado, deixando para trás a garota espontânea e expansiva que era.  

Logo, seu círculo de amizade transformou-se no dele. Seus amigos sempre tão agitados, que ansiavam tudo o que o mundo tinha para oferecer, já não tinham espaço entre aquelas pessoas tão centradas, preocupadas com o que futuro reservava. Graças a ele, Juno encontrou pessoas que jamais imaginou conhecer. Pessoas influentes, de mentes brilhantes, com grandes potenciais. Sem perceber, estava cercada dos colegas de Nicholas, tendo de se adaptar à suas conversas, festas e comportamentos. Não questionou, afinal se era um modo de alimentar seu relacionamento, estava disposta a abrir mão de algumas coisas.  

Não demorou para também começar a participar de sua vida acadêmica e profissional. Nicholas tinha um gosto particular em ajudar Juno, sempre que possível, arrumando desde cursos extracurriculares até estágios remunerados em sua área, utilizando de sua influência como produtor e fotógrafo de eventos. Rapidamente, Juno descobriu como era ter uma vida consistente, ainda que em constante crescimento. E o melhor era ver o sorriso satisfeito dele, tão orgulhoso em auxiliá-la.  

Nicholas terminou envolvendo-se no relacionamento com sua mãe. Sendo uma das únicas pessoas a conquistar o apego de Olivia, ele parecia preocupar-se de verdade com seu bem-estar, sempre tentando cuidar dela e, de alguma forma, também aliviar o peso da responsabilidade de Juno. Como um alicerce em todos os quesitos, Nicholas surgia como uma base estável para Juno, mantendo tudo sob controle.  

E então, cada vez mais intrínseco em sua existência, Nicholas estava tão impregnado em Juno, que era difícil separar onde a vida dele acabava e a sua começava.  

Por isso, a sensação de ruptura era tão gritante em seu âmago. Havia construído uma vida dupla, em um novo mundo, sem a participação de Nicholas. E o peso da culpa começava a cair sobre os ombros ao recebê-lo em seus braços novamente. Não só por tê-lo traído de tantas formas, sentia-se culpada, principalmente, por não conseguir se arrepender.  

Quando o abraçava, sua mente ainda insistia em retornar para os braços de outro homem. Seus olhos ainda procuravam pelo rapaz com cabelos cacheados, pele escura e sorriso cativante. Seu corpo permanecia buscando o segredo dos toques e os beijos escondidos. Entretanto, tudo o que encontrava era Nicholas, quando o que desejava era Nirav.  

Quando fechava os olhos, era possível retornar àquela cachoeira. Conseguia sentir o peso do corpo de Nirav sobre o seu. Podia ver seus olhos tão escuros e seu sorriso tão belo. Lembrava da textura da barba e dos cabelos sob o toque de seus dedos. Era capaz de sentir a sensação de afogar-se, entregando-se a ele. No fundo, daria tudo para ainda estar lá, entre os braços de Nirav, recebendo seus beijos, embalando seu corpo ao dele...  

E, apesar de ser tão errado, não era proposital. E, embora o peso dos seus erros se tornasse cada vez mais insuportável, Juno não conseguia se arrepender.  

— Não sabe como senti sua falta. — ele murmurou, beijando sua bochecha e seus lábios, trazendo-a de volta para realidade.  

Juno vestiu um sorriso, levando as mãos até seu rosto. Parecia mais cansado, talvez por conta do trabalho e da viagem. Seus cabelos estavam maiores, caindo pelo pescoço, implicando um tom despojado para alguém sempre tão sério. Não combinava com ele, mas ainda era Nicholas. Ainda era o mesmo homem que sempre conheceu.  

— Precisa cortar esse cabelo. — ela sugeriu, passando os dedos pelos fios. Estavam grandes como os de Nirav, embora lisos e arrepiados, com alguns fios quase desbotados.  

— Eu estou gostando de manter crescido, o que acha?  

Juno anuiu, ainda atuando o sorriso. E apenas quando suas tias o receberam, levando-o para cozinha para tomar café, conseguiu recuperar o fôlego preso em seu peito. Sentia-se asfixiada em seus próprios sentimentos e pensamentos.   

Observando-o se afastar para dentro da casa, ela teve de procurar apoio na parede para se manter de pé. Com a mão sobre a boca, Juno respirava fundo, tentando esvaziar a cabeça.  

Ela permitiu-se fechar os olhos por um instante. E como um dado viciado, seus pensamentos caíram em Nirav, uma brincadeira de mau gosto de sua mente. E, apesar de tudo, o sentimento que nutria por ele continua vívido, incapaz de ser ignorado, muito menos evitado.  

Então, sentia medo, sem saber o que fazer. E podia parecer simples, afinal uma conversa deveria bastar. Ou aquele telefonema que se recusou a dar. Nicholas deveria entender. Entretanto, de simples nada tinha. Embora fosse óbvia a sua verdadeira vontade, de alguma forma, Juno sentia que a escolha estava borrada demais para ser, de fato, uma escolha.  

Por mais que seu sentimento por Nirav parecesse impossível de ser parado, seu relacionamento com Nicholas parecia uma muralha, sólida e imóvel. E era da colisão de ambas as coisas que Juno tinha medo.  

Obrigando-se a afastar tais pensamentos, resolveu seguir para a cozinha, fingindo normalidade. Abigail estava arrumando a mesa e Octavia terminava de passar o café fresco para Nicholas, sentado na cabeceira da mesa.  

Do lado de fora, a manhã revelava-se fria, com um sol encoberto por nuvens cinzas, que também engoliam o azul do céu. O verão tão ensolarado parecia ceder seu lugar a um outono equivocado, que não sabia esperar a sua vez, trazendo um vendaval consigo.  

— Aproveitei para visitar sua mãe antes de vir. — Nicholas anunciou quando Juno sentou-se na cadeira mais próxima.  

— Por que não a trouxe? — Octavia perguntou ao trazer para mesa a garrafa e as xícaras. — Estou com saudades de minha irmã. — Juno notou um tom de desapontamento na voz dela. Não podia culpá-la.  

— Acredite, eu tentei convencê-la de todo jeito possível, mas sabe como é... ela e suas desculpas.  

— E você costuma ser o único a quem ela dá ouvidos...  

— Parece que estou perdendo meu poder de persuasão. — ele bufou, coçando a barba e esboçando um semblante presunçoso. — Mandou cumprimentos, beijos e abraços, mas não quis nem pensar na ideia.  

Nicholas serviu-se de uma xícara e, logo, Abigail e Octavia juntaram-se à mesa para conversar.  

Juno sentia-se numa peça de teatro, onde tudo era armado, nada era natural. Até as roupas que vestiam pareciam parte de um figurino montado, que não complementavam a cena, apenas a distorcia mais a cada segundo.  

Nicholas parecia desconexo com os cabelos bagunçados enquanto vestia uma camisa clara de abotoar e calças jeans, com sapatos fechados. Já Juno estava descalça, trajando uma blusa preta com mangas longas e uma calça branca, de tecido macio. Suas tias também destoavam, com Octavia usando um vestido largo e verde, e Abigail com uma blusa preta larga por cima de bermudas jeans.  

Cada um parecia ter vindo de uma história diferente, sendo jogado naquela peça de qualquer jeito, só para ver o caos acontecer.  

— E como ela está? — Juno indagou, apoiando as mãos sobre a mesa.  

— Com saudades da filha. — ele sorriu e levou a mão até seus cabelos, ajeitando-os com carinho. — Pediu para te levar de volta logo.  

A resposta irritou Juno.  

— É, até parece... — retrucou, abaixando a cabeça. — Ela sequer liga para saber como eu estou, o que estou fazendo, se estou me divertindo...  

— Não fale assim, Juno! — Abigail interrompeu, contestando. — Você já está há bastante tempo longe de casa. É impossível que ela não esteja sentindo sua falta.  

Juno procurou auxílio nos olhos de Octavia, que nada disse, embora se identificasse com seu posicionamento, afinal vivia com a constante distância da própria irmã, que esperou tanto tempo para reencontrar.  

— Não faça pouco caso da sua mãe. — Nicholas a alertou, chamando sua atenção.  

— Não estou fazendo pouco caso, é só... — suspirou, cruzando os braços, parando para pensar no que dizer. — Ela sabia que eu iria ficar durante as férias, ela disse que não tinha problema algum, agora age assim...  

— Por saudades, meu amor. — Nicholas procurou se aproximar, buscando contato com sua mão. — Eu estava sentindo o mesmo. Não via a hora de ter você de volta, então imagine sua mãe.  

Juno o observou, sentindo seu toque. Naquele momento, seus olhos arderam.  

— É, eu também sinto saudades. — respondeu, aceitando o beijo em seu rosto.  

Nicholas contou como Olivia parecia atarefada com alguns serviços de casa, além do próprio trabalho. Estava tentando lidar bem com os cuidados que Juno havia programado antes de viajar, porém não estava nada satisfeita e pouco amistosa. Foi o suficiente para deixar Juno preocupada. Não demorou muito para perceber que suas férias terminariam antes do planejado.  

Ainda não estava preparada para ir embora, no entanto, não sabia como seria se insistisse em ficar. Qualquer caminho parecia traiçoeiro para se seguir. O que fazia a culpa e o medo só aumentar. Todas as suas atitudes a levaram até o ponto em que se encontrava e era apenas o início. Precisava se preparar para lidar com as consequências de seus atos a qualquer momento e, ainda assim, era incapaz de saber o que fazer.  

Estava apenas paralisada, observando ao redor, apática. Sentia-se ausente, perdida dentro de si mesma. E toda vez que sua mente parecia retornar a Nirav, tudo ficava embaçado e se desmanchava em desespero ao misturar-se no rosto de Nicholas.  

— Alguém não está querendo conversar. — Nicholas falou, puxando-a de volta.  

— Só estou cansada. — o que não era totalmente mentira.  

Não havia dormido muito bem. Toda vez que fechava os olhos, sonhava com Nirav que, no final, transformava-se em Nicholas. 

— Tem feito muita coisa?  

Abigail respondeu por ela:  

— E como! Acho que nunca vi ninguém tão agitada e animada com as férias como Juno! — seu comentário conseguiu arrancar um sorriso verdadeiro dela.  

Juno lembrou-se do passeio com Nirav. Mesmo a menor memória daquele dia causava arrepios em todo seu corpo. Entretanto, tudo o que restava era o conflito e confusão, consumindo todo o seu ser, devorando cada parte sua, pouco a pouco.  

— Hm, ela quase não me conta nada, me esconde todas as novidades... — ele provocou, arqueando a sobrancelha em direção a Juno, que desviou o olhar. — Sobrou algum pedacinho da minha namorada para mim?  

Ele cutucou seu corpo, brincando. Juno forçou uma risada, acatando a brincadeira dele, sem estar no clima. Observando o sorriso dele, sentiu-se estranha. Nem mesmo ela sabia se havia sobrado algo de si. Pelo que se lembrava, havia entregado tudo a outra pessoa.  

Contemplando a brincadeira dos dois, Abigail sorriu, emendando outro assunto:  

— Estão juntos há quanto tempo mesmo? — indagou, ponderando a própria pergunta, tentando lembrar a resposta.  

— Dois anos. — Nicholas afirmou, pousando a mão sobre a coxa da namorada.  

— E já pensaram em se casar? Vocês formam um casal tão bonito...  

A resposta foi em conjunto, porém contraditórias.  

— Ainda é cedo. — Juno disse.  

Ao mesmo tempo que Nicholas contrapôs:  

— Eu não vejo a hora.  

Eles se entreolharam. Juno meneou, rejeitando a ideia. De tudo, o que menos precisava eram planos de casamento.  

— Ainda é cedo.  

— Mas nós estamos há tanto tempo juntos. — ele insistiu, irritando-a.  

Nicholas nunca havia demonstrado muito interesse em casamento para, de repente, estar totalmente investido naquele assunto. Era sempre o primeiro a afastar essas fantasias, garantindo que não precisavam de um matrimônio para garantir o amor que sentiam um pelo outro.  

— É cedo para mim. — ela contestou, com cuidado, olhando-o nos olhos. — Sequer terminei minha faculdade ou encontrei emprego fixo.  

— Como se isso fosse problema! Nós já conversamos sobre isso e eu garanti que ia te ajudar com tudo...  

— Eu te disse que não tenho planos para me casar! — cortou-o ríspida, perdendo a paciência. Observou a irritação arder no rosto de Nicholas. — Nós dois não tínhamos, nunca tivemos! Muito menos assim, tão cedo e tão equivocado...  

— Então por que namoramos? — questionou-a em tom rude. — Do que adianta todo esse circo?  

Um silêncio rude e pesado pousou entre eles. Octavia e Abigail se entreolharam, desconcertadas. Juno sentiu algumas palavras agarradas em sua garganta, mas apenas o observou se afastar da mesa, levantando-se com agressividade.  

Ela fechou os olhos, começando a se arrepender, sentindo-se culpada por contrariá-lo.  

— Desculpe, Nicholas, eu... — já era tarde, ele tinha se retirado.  

Quietas, suas tias também se levantaram e Juno trocou olhares com Octavia. Sem obter alguma resposta, por fim, resolveu ajudar a retirar a mesa.  

Novamente, o peso da culpa voltava a esmagar seu cerne. E alastrava-se cada vez mais. Agora não só por toda a mentira que construiu, também se sentia culpada por ser tão indelicada com Nicholas. Era como se estivesse fazendo de propósito, só para descontar a frustração que tinha de si mesma. 

Sentiu-se ingrata. Não tinha o direito de se sentir confusa e, por isso, agir de um jeito tão rude com Nicholas, que estava ali só por sua causa. Ele sequer queria viajar para Florencia, o fez só por Juno, para ser tratado com tamanha grosseria e, além de tudo, na frente de outras pessoas. Sabia como ele não suportava ser destratado em público e parecia estar procurando provocá-lo intencionalmente. 

Juno encaminhou-se até o antigo quarto de Leo, onde ele estaria acomodado junto com ela. Ao entrar, deu por si pensando em Nirav, já compreendendo o motivo dos súbitos relances. Agora, até mesmo a memória de Leo desencadeava pensamentos sobre Nirav. Então, quando Nicholas a olhou, Juno temeu que ele fosse capaz de ler toda a verdade em seu rosto.   

De repente, sentiu que estivesse se preparando justamente para ser honesta, revelar a farsa que era e todo o caos que estava promovendo. Sentia, no fundo de sua garganta, um grito sufocado. Entretanto, a voz insatisfeita dele roubou toda a sua coragem.  

— Por que falou daquele jeito comigo?  

Juno suspirou, sem coragem de olhar para ele, desmanchando qualquer discurso que havia produzido nos últimos segundos.  

— Desculpe, Nicholas, de verdade.  

— Não precisava ficar me contrariando na frente das suas tias, é vergonhoso.  

— Eu não quis ser rude, me desculpa... — sentiu sua voz esganiçada. — Nós já conversamos sobre isso e você disse que tinha entendido meu lado. Eu não terminei a faculdade, não tenho um emprego fixo e ainda tenho que cuidar da minha mãe...  

— E você sabe que eu vou te ajudar com tudo o que precisar, como sempre fiz. Você sempre vai ter a mim.  

— Não posso ficar dependente de você, Nicholas. — disse, sentando-se ao seu lado.  

— Não é ser dependente, nós estamos investindo em uma vida em conjunto. É o que fazem os casais, dão suporte um ao outro. E nós já construímos esse relacionamento por tanto tempo. É algo sólido, verdadeiro. Não podemos desperdiçar essa chance, Juno.  

Juno fechou os olhos, pensando no que dizer. Com cuidado, escolheu suas palavras:  

— Casamento é uma responsabilidade a mais. Se esperamos todos esses anos, esperar um pouco mais não vai fazer diferença. Tudo tem seu tempo, você mesmo dizia isso.  

Por fim, ele acabou sorrindo, envolvendo o braço em seus ombros, puxando-a para mais perto.  

— Tudo o que eu mais quero é passar o resto dos meus dias ao seu lado. Não importa como.  

Juno manteve o olhar distante, sem saber mais como responder a ele. Quis afastá-lo, sair de perto e desaparecer. Estava tão confusa diante de suas palavras. A imagem de Nirav embolava-se com a imagem de Nicholas. Era difícil permanecer sã. 

— Você está esquiva, quieta demais... — ele comentou, percebendo seu silêncio.  

— Desculpe. — sua voz saiu baixa, insegura. Juno teve medo de chorar. — Só estou pensando sobre minha mãe... — era a única desculpa que conseguia pensar. — Sabe o quão dependente ela é...  

— Ela precisa de você. Assim como eu preciso. — murmurou, segurando o rosto dela em direção ao seu. — Você é importante demais para nós, meu amor. É a única filha dela. E é a mulher da minha vida.  

Nicholas beijou seus lábios, brevemente. Era suave, quase tímido. Não era ruim, só não era o que queria. Mesmo assim, beijou-o de volta, tentando reacender qualquer coisa dentro de si para compensar Nicholas. Precisava compensá-lo.  

— Nossa... Não sei o que seria de mim sem você. — ele suspirou, encostando a testa na sua. Uma última vez, ele tornou a beijar seus lábios. — Você não tem noção do quanto eu amo você.  

Juno o segurou, apertando seus braços entre suas mãos, procurando algum apoio naquele homem, buscando alguma resposta. No fundo, sentia-se uma grande covarde.  

— Eu também amo você. — sussurrou, fechando os olhos que começavam a lacrimejar.   

E foi o máximo que conseguiu dizer sem se engasgar com toda a culpa, toda a confusão, todo o sentimento. Caso contrário, quebraria. 


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Notas finais do capítulo

Cara, a diferença da Juno... Uma Juno que pondera o que vai falar, que força sorrisos, que é contida. Será se tudo isso é culpa mesmo ou só a influência do próprio Nicholas?

Bem, o questionamento que quero deixar é: por que esses homens com uma vida, aparentemente, tão bem sucedida, geralmente mais velhos, procuram parceiras tão opostas? Sem generalizar, claro.

Bem, de qualquer forma, a gente começa a entender porque Juno sentia-se tão "presa" na vida de outras pessoas antes de Florencia. O que não justifica seus atos, mas explica um pouco.

Enfim, espero que tenham gostado.



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