Poseidon encarou o copo cristalino em suas mãos, virando o líquido todo de uma vez em sua boca, dando um resmungo quando a bebida desceu queimando sua garganta.

— Tem alguém aqui? – O Deus, disfarçado de um mortal grande e barbudo, virou-se para a voz doce que falava atrás dele. Uma mulher com cabelos cor de fogo sorria apontando para a cadeira ao seu lado.

— Anh – Balbuciou estupefato com a beleza dos lábios cheios e do rosto ruborizado – Não. Não tem ninguém. Pode sentar... se quiser.

Assim que terminou sua frase gaguejada, se sentiu patético. Nem o mortal mais idiota de todos faria aquela cena na frente daquela mulher bonita. Ele tinha perdido o jeito.

— Obrigada – Puxou a cadeira, sentando ao lado do homem. Um leve odor de mar irradiava dele – Você é daqui?

— Não... Na verdade moro na praia – Não era inteiramente verdade, mas uma mortal não precisava saber que ele era um Deus grego.

— Que legal. Eu gosto muito do mar, adoro o som das ondas quebrando.

— Sério? – Abriu um sorriso pela primeira vez na noite solitária – Eu também. Essa é basicamente minha coisa preferida da água. E depois disso é mergulhar.

— Ah, isso já não é muito eu – Brincou – Não sou muito fã de entrar de fato nas ondas.

— Mas mesmo assim ama o som? – Indagou com o sorriso bobo estampado no rosto bronzeado. Mortais eram muito interessantes, de fato...

— Gostaria de beber alguma coisa? – Um barman se aproximou do balcão onde os dois estavam sentados. A mulher fez o pedido e Poseidon ficou deslumbrado admirando seu rosto. Assim que ele se afastou, o Deus riu um pouco antes de falar.

— Isso pode parecer estranho. Mas eu sinto que te conheço de algum lugar.

— Tem certeza? Tem muitas mulheres por ai parecidas comigo – Brincou.

— Eu acho isso muito difícil – A bebida que tinha pedido chegou e ela bebeu um gole.

— Qual seu nome? – Indagou desafiador olhando dentro dos olhos cor de mel dela.

A mulher levantou o olhar, encarando Poseidon de volta. O sorriso do Deus começou a se alargar à medida que via faíscas douradas dentro das íris.

— Héstia – Sussurrou com uma leve surpresa.

— Desculpe? – Ela pareceu chocada inicialmente, mas então relaxou o corpo, percebendo quem ele era – Como eu não percebi antes... Poseidon...

Os dois se olharam mais alguns segundos e então desataram a rir. Quais as chances de terem escolhido o mesmo dia, o mesmo bar e o mesmo banco para passar uma noite tranquila e longe do Olimpo?

— Quais as chances, hein? – Poseidon levantou seu copo, que havia sido cheio mais uma vez pelo homem que trabalhava atrás do balcão, estendendo na direção de Héstia, para um brinde.

— Uma coincidência tremenda, de fato – Seu olhar estava em chamas.

— Ou coisa de Moros – Sugeriu bebendo o conteúdo de seu copo mais uma vez.

— Acha que é coisa do destino estarmos aqui hoje?

— E o que mais poderia ser?

— Uma coincidência – Riu – Eu já disse!

— Eu não acredito nessa bobagem – Poseidon aproximou o rosto do de Héstia.

— E porque o destino iria querer nos unir? – Seu tom de voz baixou, o corpo inteiro se arrepiando com a proximidade do Deus dos mares.

— Porque nós somos água e fogo – Murmurou passando a mão pela nuca da Deusa – Somos muito diferentes e isso nos torna perfeitos um para o outro.

— Eu acho que isso nos torna incompatíveis – Sussurrou.

— Eu te provo que não – Retrucou antes de tomar os lábios quentes, fazendo com que seus corpos entrassem em ebulição.

Do lado de fora do bar, Moros ria consigo mesmo enquanto se afastava a passos lentos.