Blades of Chaos escrita por Madame Andrômeda


Capítulo 4
Consequências




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Lola Lombardi era uma serpente sem pudores perante oportunidades de desafios, essa tendência depravada dela era notória.

Assim que aceitei sua aposta ultrajante, a greaser de presença imodesta deliberadamente removeu sua jaqueta em um gesto inescrupuloso, expondo seu busto avantajado — este que se encontrava ainda coberto somente pelo tecido fino de sua minúscula camisa branca. 

Em seguida, Lola veio a amarrar a jaqueta em sua cintura bem acentuada, tal como eu mesma havia feito ao me preparar para golpear o saco de boxe.

Uma pressão esmagadora decorrente da antecipação pairava no ar, causando-me uma apreensão crescente. Meu peito parecia associar a densidade da atmosfera com o pesar de uma expectativa angustiante. E essa tensão se fixou em meus ombros rígidos, evidenciando mais minha postura retesada.

Era palpável a aura predatória refletida no olhar daquela que me confrontava. Percebi esse detalhe no instante em que a mesma se posicionou para avançar em minha direção sem aviso prévio. A malícia diabólica que direcionava suas intenções perversas provocava uma dilatação significativa nas pupilas de seus olhos — uma reação orgânica que apenas um desejo intenso, ou a influência de uma forte luz, poderia ocasionar.

Braços esguios, porém enrijecidos, transferiram vigor às mãos endurecidas, fazendo com que estas aplicassem força sobre os meus ombros, utilizando a propulsão necessária para me fazer cambalear para trás. Não havia técnica alguma naquele golpe baixo. A tentativa de me desequilibrar via a vantagem provinda do elemento surpresa. 

Suponho que eu deveria ter me atentado à possibilidade do inesperado, especialmente considerando o comportamento volátil que minha oponente exibia. Deveria ter imaginado que investidas súbitas fariam parte de seu repertório. No entanto, por mais que eu odiasse admitir, ela tinha sido efetiva em me desnortear. Não por sua força em específico, mas por sua voracidade espontânea.

Tomei nota mental das nossas origens discrepantes. Lola, cujo meio de vida era vinculado com os Greasers de Bullworth, vinha de um ambiente hostil marcado pelo vandalismo territorial, proveniente do conjunto de gangues a disputar domínio tanto pela escola quanto pela cidade. Nesse meio adverso, os alunos lutavam por um lugar no topo da hierarquia social, garantindo a sobrevivência através da astúcia, da impetuosidade e da força manipulativa. 

Ocupávamos lados opostos da mesma realidade deturpada. E agora, em um confronto direto, essa distinção entre nós parecia fazer toda a diferença.

Meus joelhos tensionaram, resistindo à queda, e meus pés firmaram minha posição no chão. Me recuperando do choque inicial, não tardei para contra-atacar.

Direcionei minhas mãos até os ombros da minha oponente e movi uma de minhas pernas para aplicar atrito contra seu joelho. Meu principal objetivo era desestruturá-la, para só então tomar vantagem de uma posição vulnerável.

A constrição dos músculos sob o meu toque vigoroso, bem como o rosnado de frustração que deslocou-se da garganta dela após seu corpo ter se desequilibrado, me trouxe a confiança de um cenário de vitória.

Mantive a pressão constante induzida em seu joelho mais enfraquecido, procurando a brecha para derrubá-la no chão e encerrar de vez o desafio. Contudo, de modo inesperado, no momento em que avancei para finalizar o golpe, Lola reagiu.

Palmadas aflitas para reafirmar controle me desestabilizaram. Busquei empurrá-la com mais urgência para impedir sua revanche… Mas meus esforços foram em vão. Lola tinha pisado com sua bota bem em cima do meu pé, e como o tecido do meu tênis era fino, não pude resistir em expressar a dor do impacto através de um grunhido contido. E a partir dessa jogada mais uma vez nefasta, Lola me agarrou pelo braço ferido e impulsionou meu corpo para fazê-lo colidir contra o chão.

Meus joelhos colapsaram contra o concreto, fazendo com que os ossos das minhas articulações ardessem dolorosamente. Cerrei os dentes na tentativa de impedir que os gemidos de dor escapassem pela boca. Meu pé doía, meus joelhos doíam. Gostaria de poder dizer que era apenas isso que me agonizava, mas, infelizmente para mim, não era. O golpe que Lola havia desferido contra mim parecia ter atingido precisamente o centro da minha lesão, fazendo com que todas as partículas do meu braço fossem invadidas por uma dor lancinante.

Era o fim. Lola havia triunfado. Dei-me por vencida, muito a contragosto. Derrotas deixavam um sabor amargo em minha boca. No entanto, não me permitiria demonstrar vulnerabilidade diante da minha oponente.

— Eu venci! Venci mesmo, não foi? — Lola comemorou extasiada, seu rosto reluzindo um sorriso altivo, o peito estufado de satisfação.

A greaser vencedora afrouxou o aperto que havia estabelecido em meu braço, soltando-me de suas rédeas aleivosias e imediatamente movendo-se para vestir sua jaqueta de couro de volta em seu corpo.

Não quis dar o gosto de ressaltar vocalmente que sim, ela havia ganhado. Limitei-me apenas a menear a cabeça em anuência, e em seguida me ergui. Um pensamento invasivo penetrou minha mente: preciso parar de achar que estou dentro de uma batalha de igual para igual, como nos ringues de esgrima. Afinal, não há regras em brigas de rua. Céus, eu deveria ter me preparado melhor!

— Oh, querida. — Lola lamentou com um tom arrependido ao ter notado meu semblante fatigado. — Desculpe por ter te machucado, não foi por mal. Sabe disso, né? Prometo que irei recompensá-la em nosso encontro. Esteja aqui às sete horas da noite amanhã. Estarei ansiosa à sua espera.

Enquanto dera continuidade à sua fala, Lola se aproximou de mim novamente, seu olhar ávido parecendo ansiar minha confirmação de que eu compareceria ao local designado no horário estipulado. 

Respondi com certa relutância:

— Sim, estarei aqui. Irei cumprir com o acordo.

Deleitada pela minha afirmação, Lombardi elevou sua mão para acariciar meu rosto em um toque desejoso. Sua unha preta contrastava com minha pele alva, e uma quentura distribuída pela minha face inteira fora o resultado final desse afago repleto de promessas intercaladas.

Não confirmei a vitória dela, não somente por suas investidas viciosas, como pela condição desfavorável do meu braço, da qual ela tirou proveito para me deixar em posição vulnerável. Eu precisava absorver aquela experiência mais como um aprendizado para melhor lidar com conflitos em Bullworth, do que como a conclusão fracassada de uma aposta feita no calor do momento. 

Não posso dizer que a perspectiva de ter um encontro com ela me aliviou da frustração de ter perdido a luta. O que não era exatamente um conforto, mas aliviou minha dor, foi saber que tudo não se passou de uma farsa. Eu não havia me envolvido em um batalha honrosa, como estava acostumada, mas em vez disso, em uma briga de rua, onde tudo era permitido.

Lola havia jogado sujo. Isso não era surpresa para mim. O que foi uma surpresa foi perceber que toda a experiência não havia sido em vão, mas constituía em um aprendizado fundamental. Chame-a de minha primeira aula oficial em Bullworth. Naquele momento, eu me dei conta de três coisas cruciais. 

Primeiro: que em Bullworth, os conceitos de ética e noções de moralidade não se aplicavam. 

Segundo: que dentro do território escolar, jogar sujo era a única lei em vigor. 

E terceiro: que se eu quisesse sobreviver naquele inferno, jogar sujo era exatamente o que eu deveria fazer.

~

O despertador vibrante ecoava de modo estridente, alertando meus sentidos. Meu corpo ainda almejava desesperadamente o conforto do colchão, o calor do edredom, mas o sol já cintilava através cortinas entreabertas, irritando minhas pálpebras cerradas e me alertando quanto à necessidade de acordar de imediato. 

Era um novo dia. O céu estava ensolarado e o concerto dos pássaros ressoava em perfeita sinfonia, flutuando no ar em notas melódicas. A manhã estava radiante e fresca, e ainda assim suas cores pareciam se diluir perante à amarga lembrança da minha derrota.

Após ter perdido o desafio proposto pela Lola, retornei ao dormitório feminino e consegui adormecer com certa facilidade, devido à dor que acometia meu braço flagelado. Agora, acordando contra minha vontade, a primeira coisa a qual avistei ao abrir minhas pálpebras cansadas foram as horas estampadas no relógio disposto sobre o criado-mudo.

Eram “apenas” nove e quarenta da manhã. E eu já estava atrasada para a primeira aula do dia.

Levantei-me às pressas, tropeçando nas roupas que havia deixado no chão na noite anterior. Pinky já estava longe de ser encontrada pelos arredores do nosso quarto. Tentei adivinhar onde ela poderia estar e a resposta me provocou uma ânsia desesperadora: sala de aula.

Não havia nada que detestasse mais do que chegar atrasada. Minha única vantagem era que, antes de dormir, eu já havia vestido meu uniforme por ter previsto meu estado de sonolência aguda esta manhã. Ajeitei a saia preta do uniforme escolar e desamassei um pouco meu leve suéter acinzentado com estampa em xadrez, onde via-se bordado no campo direito da vestimenta o emblema da Academia Bullworth.

Passos ligeiros me conduziram até o banheiro. E lá, ao mesmo tempo em que escovava os dentes, também arrumava meus cabelos desgrenhados.

Poucos segundos foram necessários para que eu pudesse assumir uma imagem relativamente apresentável, e assim parti apressada a caminho da classe de Matemática, com minha bolsa a tiracolo de imitação de couro alojada em um dos meus ombros.

Ao adentrar a sala da forma mais silenciosa possível, fui de imediato surpreendida pela repreensão do professor de matemática.

— Está atrasada, senhorita Walsh. Se isso voltar a acontecer, a farei passar seu horário de aula do lado de fora da sala! — Trovejou Mr. Hattrick. Sua voz grave demonstrava-se mais áspera dentre seu leque de ameaças.

Comprimi os lábios em uma linha fina para reprimir qualquer falatório desnecessário que tivesse o potencial de me prejudicar ainda mais. Simplesmente me desculpei pela demora e assegurei que não tornaria a acontecer, para em seguida me encaminhar até a cadeira mais próxima à porta de entrada.

Prestar atenção na aula provou-se uma tarefa mais difícil de se executar do que pressupus. As horas divagaram e foi um milagre eu não ter adormecido em meio à passagem do tempo.

Com o encerramento da primeira aula do dia, recolhi meus livros e caminhei até chegar ao meu armário. Senti-me um tanto mais disposta, especialmente após ter conseguido tomar uma lata de Beam Cola provinda da máquina de refrigerantes, tal qual por muita sorte ficava bem próxima do meu armário em questão.

Os corredores estavam cheios de alunos que circulavam devido ao intervalo entre as aulas. Guardei meu livro de Matemática na prateleira central do armário de ferro, mas quando vim a fechar a porta do mesmo, acabei me deparando com o rosto emburrado e desaprovador de Pinky Gauthier.

— Por favor, me diga que é mentira que você e Lola Lombardi terão um encontro.

Pinky estava com o lado de seu corpo escorado no armário oposto ao meu. Seus braços estavam cruzados em uma pose impositiva, seu lustroso cabelo Chanel enquadrava a seriedade enfurecida estampada em sua face, patenteando uma imagem nítida de finura mesclada com ira. E isso me espantou. Era a primeira vez que eu a via tão severa contra mim.

— Não é o que parece ser. — Respondi, extenuada, buscando estabelecer um tom conciliatório. — Isso foi parte de uma aposta boba que ela veio a ganhar, e a condição da minha derrota é que eu vá a esse maldito encontro com ela.

Não fazia ideia de que Lola contaria a outras pessoas sobre o nosso encontro. E muito menos estava preparada para essa espécie de embate com a Pinky em função disso. Pouco sabia quanto o motivo verdadeiro do atrito existente entre Lombardi e Gauthier. Sabia, no entanto, que ambas pertenciam a classes sociais distintas, e que, entre elas, poderiam existir muito além do que a mera disputa por território de suas posições em seus respectivos grupos. Mas a razão da rivalidade entre ambas me era desconhecida.

— Uma aposta? — Ela questionou rispidamente, desta vez desfazendo o cruzar de seus braços e adquirindo uma postura mais confrontadora ao depositar suas mãos nos lados de sua cintura fina. — Você está mesmo disposta a comprometer sua reputação por uma aposta boba, Thea?

A assertividade de Pinky permanecia a me chocar. Lembrei-me dos meus antigos amigos em En Garde, do desdém e do desapontamento que cultivaram em relação a mim após a suspeita do meu envolvimento no assassinato de Serena ter repercutido pelos arredores da escola de elite.

Lembrei-me dos olhares furiosos e aflitos, das ofensas feitas em sussurros, do desprezo com o qual passei a ser tratada. A sensação compara-se à de adentrar um ninho habitado por vespas venenosas. De repente, todo o acolhimento e afabilidade foram substituídos pela ojeriza e pelo desapreço. 

O mesmo desconforto inquietante dessa memória vívida se alojava visceralmente em meu ser enquanto contemplava os olhos caramelados de Pinky me julgarem silenciosamente.

— As pessoas me veem como suspeita de assassinato, Pinky! — Vociferei, abrupta, tomando um passo à frente para encará-la mais de perto ao proferir tais palavras. — Acha mesmo que vou me importar que me vejam como lésbica?!

Senti como se minhas emoções tivessem se apossado de mim, fazendo aflorar em minha pele uma quentura que ruborizou minha face. Pude presenciar o olhar de Pinky, antes franzido em uma carranca reprovadora, atenuar-se diante da minha declaração, assumindo uma expressão de espanto. Suas mãos desceram de sua cintura e voltaram a envolver seus delicados braços, desta vez em um gesto mais brando do que o cruzamento rígido que mantivera anteriormente ao me abordar de princípio. 

Imagine dois galhos se friccionando, o atrito produzindo faíscas de fogo. Foi precisamente o que aconteceu entre nós. Uma tensão palpável se instalou em nossa interação, o que fez com que os alunos ao nosso redor nos encarassem, tentando decifrar a origem de nossa atual desavença. Suspirei em incômodo à essa observação.

Com a voz menos elevada, voltei a me dirigir a Pinky na proximidade que adotei para que somente ela ouvisse minhas palavras.

— Me desculpe por ter me exaltado. — Revelei de maneira acalentadora.

Acariciei ternamente o ombro dela em busca de enfatizar melhor minha postura clemente, tudo enquanto mantinha firmeza em meu posicionamento anterior.

— O que quis dizer é que não me importo se as pessoas acharem que eu sou lésbica. — Elucidei. — Pois é o que sou de fato. Não tenho nenhum vínculo afetivo com Lola e nem pretendo ter, mas não nego sentir atração somente por garotas. Por isso não nego a repercussão vinda de boatos inconvenientes a respeito da minha sexualidade.

Senti Pinky suavizando ainda mais, principalmente através do meu toque. Sua mão leve e acetinada veio a tatear a minha, ainda apoiada em seu ombro. Os alunos curiosos à nossa volta, ao perceberem que não haveria nenhuma briga, passaram a transitar pelo corredor tal como antes, deixando-nos em paz.

Gauthier repousou sua bochecha sobre as costas da minha mão, e seus lábios rubros de rosa encontraram delicadamente a superfície da minha pele. A intimidade avulsa decorrida desse gesto fez com que eu estremecesse com arrepios acalorados, como me senti quando estávamos juntas em minha cama.

— A Lola é um veneno, Thea. — O peso de sua fala sublinhava o penhor de seu testemunho. — Se você não se importa com o que as pessoas irão pensar, pense no que eu estou te dizendo. A única preocupação da Lola é se divertir às custas dos outros até ela não ter mais nada para extrair delas.

Antes que eu pudesse respondê-la mais uma vez, Pinky desvencilhou-se do meu toque e partira repentinamente em passos largos e confiantes. Era tão peculiar a sensação de calor súbito que eu sentia perto dela! E os arrepios contraditórios que sua presença me instigava…

Senti como se suas palavras tivessem se transfixado em minhas reflexões. 

Havia me descoberto lésbica quando ainda muito nova. Jamais tinha me envolvido com outra garota, apesar de já ter nutrido algumas paixões platônicas. Minha certeza acerca da minha sexualidade vinha do exercício de me imaginar ao lado de um rapaz. O asco desse mero pensamento me deixava profundamente desconfortável, como se espinhos perfurassem minha pele.

Compreendia que, independente da atração repentina de Lola por mim, a essência excêntrica dela não entregava quaisquer vestígios de estabilidade. A rapidez com a qual ela veio a nutrir esse interesse representava o quão veloz ela deixaria de estar envolvida em minha pessoa.

Eu só queria acabar logo com esse encontro. Só não iria me abster de cumprir com o desafio, afinal, não gostaria que fizessem o mesmo comigo. Na minha concepção, um trato deve sempre ser comprido, tanto quanto uma promessa.

Mas confesso estar bem tensa quanto a tudo isso.

Para intensificar ainda mais a ansiedade que estou a passar, Mandy Wiles, como que por ironia do destino, parecia ter decidido vir em minha direção com um sorriso presunçoso realçando as curvas de seus lábios avermelhados pelo seu batom bem aplicado. Seu uniforme de líder de torcida aparentava estar propriamente polido para passar por mais um dia de treino. Só o que não correspondia à composição ordenada de sua imagem eram os longos cabelos acastanhados, os quais estavam soltos, ondulando pouco acima de seus ombros.

A sedosidade translúcida de seus cachos modelados, em conjunto de seu corpo atlético enfeitado por suas vestes, era capaz de arrancar suspiros extasiados de alguns rapazes nerds que a contemplavam à distância. Não era à toa que ela era considerada a garota mais popular de Bullworth.

— Poxa vida, Walsh! E eu aqui pensando que você não queria estar em evidência. — Mandy proferiu em um notável tom de provocação ao se deslocar à minha frente. Algo sobre sua conduta parecia mais condescendente, e eu já estava me preparando psicologicamente para aturar intimidações desnecessárias.

— Não estou em evidência, senhorita abelha rainha. — Rebati, apática. — Não seria tola o suficiente para tentar roubar o seu posto.

Enquanto a respondi, ajustei minha bolsa em meu ombro para caminhar pelo corredor e assim prosseguir meu caminho, me afastando evasivamente de qualquer hostilidade originada de Mandy. Ela, é claro, decidiu acompanhar os meus passos, andando ao meu lado para impedir minha indisfarçável tentativa de fuga.

— Hm, devo estar enganada então. — Apontou de maneira cínica. — Tive quase certeza de que a avistei tendo uma briga com a princesinha esquisita e mimada por conta do seu encontro com a vagabunda da Lola.

Não precisava ser um gênio para saber que com “princesinha” Wiles quis se referir a Gauthier. Era nítido pelo modo como ela classificou a adversária que a líder de torcida e a realeza de Bullworth não se encontravam em bons termos. Existia uma transparente rivalidade no convívio entre elas, muito possivelmente ocasionada pela ambição de prestígio e popularidade que ambas nutriam, bem como pela disputa pelo posto de rainha da escola, a qual as duas pareciam competir uma contra a outra. Mas se havia algo em comum entre duas personalidades tão distintas, era o desprezo absoluto que ambas compartilhavam por Lola Lombardi.

— Bom, ninguém é inteiramente isento de fazer parte de uma ou outra polêmica, não é mesmo? — Argumentei, não querendo prolongar nosso diálogo ao justificar a real razão do meu encontro com Lola.

De repente, Mandy deu um passo para ficar à minha frente, me forçando a parar no meio do corredor.

— Se você gosta de garotas, pelo menos saiba escolher as que não sejam vadias. Te pouparia muita dor de coração partido. Johnny Vincent que o diga, o pobrezinho sequer conseguiu superá-la propriamente. — Alertou em tom enervante. Seus olhos amendoados me contemplavam áridos, parecendo querer vasculhar minhas motivações e compreender meus atos.

Não dei brecha a isso, pois sabia que deveria me opor com devidas medidas de cautela a fim de me afastar das tentativas de diminuição vindas de Mandy. Não deixaria que ela visualizasse minha vulnerabilidade muito mais do que ela já tinha visto no meu primeiro dia na escola.

O nome Johnny Vincent, como já havia me recordado antes, não me era desconhecido. A extensão totalizada de seu vínculo com Lola, no entanto, definitivamente era. Sei que é provável que seja algum greaser de ligação direta com Lola. E agora tenho conhecimento que ele teve seu coração partido. Estarei atenta quanto à eventual aparição deste indivíduo.

Buscando enfim encerrar meu contato Mandy, vim a me aproximar dela com queixo erguido e fala afiada.

— Então a menos que você esteja se qualificando para substituir o lugar de Lola nesse aspecto, não vejo por que não prosseguir com meu encontro com ela. — Disparei, instigando-a. Era um flerte desafiador, algo que talvez eu tenha absorvido de Lola durante nossa breve interação.

Pode ter sido uma jogada muito arriscada, mas definitivamente valeu a pena pagar para ver o olhar incrédulo de Mandy perante a minha provocação. Foi satisfatório contemplar sua expressão de descrença em reação ao que eu havia proposto. Um rubor se apossou da palidez de seu rosto e desse mesmo modo acanhado, seus olhos afastaram-se de mim, desviando a atenção. Foi como se sua postura de deboche tivesse se desmanchado por completo. 

Eu havia desarmado a abelha rainha. Permiti um sorriso discreto se desenhasse em meu rosto, o que ocasionou um rubor ainda mais visível nas feições de Mandy. Não me contive em remediar a situação para amenizar os efeitos negativos dela.

— Fica calma, Mandy. Não estou dando em cima de você pra valer. É só brincadeira.

— Tome cuidado com suas brincadeiras, Walsh. Você não iria gostar de me ver nervosa. — Advertiu, retornando a expressar um senso de superioridade indignado.

O sinal para a segunda aula do dia ressoou pela correnteza de estudantes além dos horizontes do colégio. E a deixa foi o bastante para fazer com que Mandy se apartasse do meu caminho, abrindo passagem para que eu desse continuidade aos meus afazeres.

Suas últimas palavras permaneceram a ecoar em minha mente enquanto seguia rumo para minha próxima aula.


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