Remanescência escrita por Honora
Notas iniciais do capítulo
Tava com saudades de escrever algo sobre os dois, então cá estou.
Se passa logo antes da morte do Sirius. Boa leitura.
A lua minguante fazia companhia aos dois homens mais velhos e mais soturnos, enquanto o vento que soprava lá fora parecia uma ótima distração, embora proibida para Sirius. O wisky de fogo descia vagarosamente, rasgando a garganta, ao mesmo tempo que o arcaico silêncio perdurava entre os dois pensantes.
Para Remus, não havia nada melhor que uma quietude complacente; já Sirius viveu com o mutismo por muito tempo, mas não a ponto de torná-lo familiar e agradável, chegava a ser um castigo. Ainda sim, a simples companhia de Lupin parecia atenuar seu âmago inquietante. Apreciava aquele dom único, do qual nunca conheceu em outra pessoa; a facilidade de Remus em se tornar um porto seguro com rapidez.
— Quando tudo passou a ser tão complicado, Moony? — murmurou Black, propenso a ignorar os próprios pensamentos.
— Conforme você envelhece, o mundo fica mais complicado — retrucou Lupin, relaxando os ombros enquanto encarava um longevo Sirius exausto, mas ainda tão resistente e obstinado como o conheceu há anos.
— É… sinto que já envelheci demais — seu murmúrio trouxe a atenção de Remus.
— É como se tivéssemos muito a viver, mas já tivéssemos vivido muito. Faz sentido?
— Muitas coisas foram tiradas de nós, Sirius, anos de nossa vida, inclusive. Talvez o fato de termos perdido tantas pessoas queridas nos traga a sensação de que já não há muito o que viver — sua voz era calma e aconchegante, trazendo aquele carinho inesperado e tão preciso.
— Talvez esteja certo — por fim, apoiou a cabeça no ombro amigo, deixando um suspiro escapar pelos lábios.
— Mas enquanto Harry estiver aqui, você tem todos os motivos para viver — sussurrou Lupin.
— Enquanto nós estivermos aqui.
Naquele exato momento, enquanto seus dedos se acariciavam num ato furtivo e quase proibido, Sirius Black esqueceu-se por um minuto de todo infortúnio que cercava a ele e todos que amava. Encontrava naquele velho afeto uma admiração e companheirismo do qual julgava não merecer, embora aceitasse como o cachorro pidão que era.
Quis eternizar aquela cena em sua memória, porque algo o alertava que momentos de calmaria e afeto como aqueles seriam lhe extirpados, como tudo de prazeroso ao longo de sua vida. Por fim, sorriu, pois bem sabia que não importasse para onde fosse ou o que lhe acontecesse, as lembranças raras de ternura e felicidade sempre o acompanhariam.
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