The Eleventh Hour escrita por isa


Capítulo 1
A desfazedora de feitiços


Notas iniciais do capítulo

É engraçado postar uma história que, eu imagino, só terá minhas duas amigas como leitoras, mas também é importante pra mim porque acho que é a primeira fanfic que escrevo que me faz acreditar ser possível um dia me apaixonar por personagens meus originais tanto quanto sou apaixonada pelos que existem no universo de Harry Potter.

A história é toda inspirada em uma das missões especiais que aparecem no jogo Hogwarts Mystery (que se passa alguns anos antes do ingresso de Harry, Ron e Hermione na escola), mais especificamente a do Baile Celestial. Há uma série de licenças poéticas da minha parte, claro, mas o plot - e alguns diálogos - vêm direto da fonte.

Foi assustador e absurdamente divertido escrever com tanto personagem que não me evoca nenhuma memória afetiva (exceto por Bill e Tonks que aqui são meros coadjuvantes). É algo que eu quero - e em algum nível preciso - me lembrar quando entrar aqui no perfil. Por isso cá está. Mas se você não é a Aisha e nem é a Ruh e ainda assim está lendo essa nota e quer dar uma chance à história: muito obrigada e boa leitura.


A música desse capítulo inicial chama She, da Dodie e você pode escutar aqui: https://open.spotify.com/track/45h4w81P5iJJTSeR0jJUQ8?si=R3sVY4-YS2CYVo90kP6kOw



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Am I allowed to look at her like that?
Could it be wrong when she's just so nice to look at?
And she smells like lemongrass and sleep
She tastes like apple juice and peach
You would find her in a polaroid picture
And she means everything to me

 

Ela era a desfazedora de feitiços, a quebradora de maldições, a amiga de lobisomens, a que não tolerava o bullying de Mérula Snyde, a corvina mais encrenqueira de Hogwarts nos últimos cinco anos. Com um currículo desses, era de se imaginar que Isis Poeirestelar desconhecia o significado da palavra medo, mas ainda assim, ali estava ele, pesando no fundo de seu estômago vazio como uma azia.

Isis desejou que o anúncio simples do professor Dumbledore sobre o Baile Celestial - um evento específico para o seu ano, como uma espécie de recompensa pelos N.O.Ms - tivesse sido pronunciado depois do desjejum. Desse modo, perguntas como quem ela iria levar, que roupa vestiria e quem organizaria o baile não ficariam rondando sua cabeça.

Mas as coisas eram como eram e, um instante depois de ela decidir que não estava com fome, o café da manhã surgiu como mágica (como acontecia todos os dias), e ela precisou reconsiderar quando percebeu sobremesas com calda de chocolate.

Mais tarde ela não saberia apontar em que momento entre o primeiro e o último gole no seu suco de abóbora o mal-estar se transformou em expectativa. Mas aconteceu e, como tudo quando se tratava de Isis, aconteceu rápido. Ao seu lado, no entanto, uma muito-mais-obstinada e firme em suas emoções Rowan Khanna soltava muxoxos e suspiros discretos.

— Vai ser legal, Rowie! - Khanna era o braço direito e, muitas vezes, o cérebro de Isis Poeirestelar. Elas haviam se conhecido no Beco Diagonal ainda às vésperas do primeiro ano escolar e nunca mais havia se desgrudado. Isis a amava como a irmã que nunca teve e, na falta do irmão desaparecido que ela de fato tinha, Rowan preenchia os dois papéis.

— Bom, pode até ser. - ela ponderou. - Mas eu vou garantir que estarei longe o suficiente para saber.

— Rowan... - mas o que quer que Isis pretendia dizer à sua melhor amiga nunca alcançou seus lábios, porque naquele momento, Penny Haywood se levantou da mesa da lufa lufa e cruzou o amplo corredor do salão principal em sua direção.

Isis não sabia como um ato tão simples ganhava ares de produção cinematográfica: Penny parecia deslizar em câmera lenta enquanto uma música instrumental – que Isis estava consciente de que só tocava em sua cabeça – realçava aquele magnetismo natural que atrelado à sua personalidade gentil e rosto de fada (bom, fada aos modos trouxas, pelo menos) a tornavam uma das garotas mais populares de Hogwarts.

O coração da desfazedora de feitiços pulou uma batida inteira quando Penny chegou perto o suficiente e, depois de cumprimentar Rowan educadamente, apertou o ombro de Isis em cumplicidade, curvando-se para sussurrar:

— Será que nós podemos conversar em particular no corredor depois que você terminar o café da manhã?

Isis concordou com a cabeça, incapaz de pronunciar uma palavra diante da fragrância de erva-cidreira que emanava de Haywood. Ela se concentrou nas botas pretas que ela usava, nos cadarços amarelos e na meia branca também com listras amarelas. Nunca a parte inferior do corpo humano parecera tão bonita quanto naquele instante. Isis não precisava se virar para saber que, às suas costas, na mesa da grifinória, Bill provavelmente estaria escondendo uma risadinha.

— Nós conversamos sobre isso depois, tudo bem? - Isis disse para Rowan, terminando seu croissant depressa.

— É claro. - ela girou os olhos, sabendo que teria que enfrentar a amiga e suas táticas persuasivas.

Isis piscou em resposta, quase como se pudesse ler seus pensamentos, e tentou sair de maneira digna, isso é, sem correr.

O corredor do encontro em questão significava um só: o que ficava à direita, ali mesmo, no andar inferior, na parte oeste. Era nele que havia um armário de vassouras do tamanho de um cômodo pequeno onde objetos escolares, depois do fim de suas vidas úteis, encontravam o esquecimento e acumulavam poeira.

As pessoas passavam batido por aquela porta e espaço e era por isso mesmo que Isis o havia transformado numa espécie de quartel general há anos atrás.

Ela já havia se encontrado ali com Haywood inúmeras vezes antes: para pensar planos mirabolantes de como abrir as criptas malditas, para aprender poções, para treinar o filhote de crupe que Hagrid havia lhe dado, para procurar restos que poderiam servir como comida para as criaturas mágicas da Floresta...

Em nenhuma dessas vezes, no entanto, Isis tinha estado tão consciente do suor produzido por suas mãos.

— Hey. - ela cumprimentou, fechando a porta atrás de si.

— Oi - Penny disse, parecendo desconfortável. Ainda assim ela era irritantemente bonita com aqueles olhos azuis de céu de verão e o cabelo loiro que descia liso até depois dos ombros e o penteado que era sua marca registrada: uma trança na mecha esquerda da frente pendendo livre sobre sua clavícula e outra, à direita, que fazia uma curva adorável e era presa na parte de trás de sua cabeça.

Por alguma razão, as tranças sempre despertavam em Isis uma vontade de descobrir como seria passear os dedos pelo cabelo da amiga. A vontade era antiga e existia antes da adolescência e seus consequentes hormônios, quando, aos onze, Isis ainda ficava confusa sobre querer ter ou ser Penny.

— A razão pela qual te chamei aqui ao invés de conversar como uma pessoa normal no salão é idiota. - Ela adiantou com um sorriso amarelo.

— Você quer falar sobre os pares para o baile? - Isis se precipitou, sentindo um princípio de arritmia. Era sempre assim quando se via na beira de um abismo: seu instinto não fazia com que ela corresse para longe e sim que se jogasse da maneira mais impulsiva possível. De acordo com a professora Trelawney isso estava intimamente ligado ao seu signo zodíaco solar, Áries, mas a garota não estava muito certa do que isso significava.

— O que? - Penny piscou, confusa, e de repente todo o desconforto que ela sentia sumiu com uma risada bem dada. - Oh, Merlin, não! Eu não quero nem pensar nisso por enquanto. - Garantiu.

— Ah...

— É sobre o Comitê de Decoração do Baile Celestial. - Murmurou e suas bochechas coraram. - Sei que pode parecer um objetivo idiota perto de outros como seu, por exemplo, que é resolver o mistério em Hogwarts e encontrar seu irmão, mas... - suspirou. - Eu realmente quero ser a aluna-presidente na organização desse evento, Is. Estou cansada de ser conhecida como "a garota popular da lufa lufa". Não há nenhum mérito em ser uma menina bonita. - Ela crispou os lábios.

— Só uma menina bonita diria esse tipo de coisa - Isis alertou, mas continuou diante do olhar de Haywood: - e além disso, você não é conhecida só por isso, Penny. As pessoas também sabem que você é excelente em Poções.

— Pois eu queria que elas não soubessem de nada sobre mim. – afirmou, cruzando os braços - e na impossibilidade dessa opção, que pelo menos saibam mais então.

— E você quer fazer isso provando que é uma boa decoradora? - Isis não conteve uma careta.

— Uma líder, Isis. Como você. - a menina suspirou, frustrada. - Para encabeçar o comitê é necessário ser uma boa estrategista, agradar a professores e alunos, ser diplomática, lidar com pastas e planilhas e paletas de cores, além de saber uma coisa ou outra sobre feitiços e trabalho manual.

— De fato... - Isis ponderou, botando para trás da orelha uma mecha do dreadlock que havia se soltado do coque.

— Eu acho que posso fazer isso. - Penny insistiu. - Eu sei que consigo.

— É claro que você consegue. - Isis disse sem sequer titubear, o que fez Haywood se sentir agradecida por dentro - Meu ponto é só que você não precisa provar nada para ninguém, mas se importa para você, então eu não vejo como não te apoiar.

Penny sorriu com todos os dentes antes de esmagá-la num abraço de urso.

— Isso significa que você vai me ajudar? - perguntou, ainda sem soltá-la. - Porque Emily Tyler já anunciou aos quatro ventos sua candidatura e a votação já é no próximo fim de semana...

—  É claro que eu vou te ajudar. - Isis murmurou, pouco disposta a sair do abraço. - Eu já perdi as contas de quantas eu te devo. Embora sua concorrente talvez seja um problema...


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