50 Tons de uma Salvação escrita por Carolina Muniz


Capítulo 10
Capítulo 09


Notas iniciais do capítulo

Gente, esse é o último de hoje, porém, nao prometo que é o ultimo rs, pq estou inspirada, vai que né...



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"Esse é um conto de fadas moderno, sem finais felizes, sem vento soprando em nossas velas, mas não imagino minha vida sem os momentos de tirar o fôlego acabando comigo. "

 

Capítulo 18 – O você sente?

O que aconteceu?

Como ela foi parar ali?

O que fez de errado? O que fez de certo?

Tudo começou com uma certeza: Christian não estava ali porque não podia. Os dias se passaram, ela teve que passar por situações que não sabia como reagir, ela ouviu coisas que não queria ouvir. E então veio a dúvida: por que ele não voltava? Ele queria voltar?

Qualquer pessoa como uma mente difícil de lidar, cairia ao primeiro deslize.

Até que no fim daquela semana, Ana queria arrancar o próprio coração a cada santo dia, só para parar de sentir o que ele a fez sentir.

Era começo do dia, o sol nascera e permanecera no céu mesmo com o clima frio de Seattle.

Havia um juiz acima de todos ali.

Ana estava sentada numa cadeira alta de madeira polida, diante de uma mesa, ao lado o Sr. Hardware - advogado de seus pais - e os proprios. Do outro lado se sentava Grace Grey, Sr. Jeffey Leonel - advogado da Clínica Priory - e Linc Timber Prory; observando tudo e a todos estava o policial Trevis e a policial Monroy. Flynn estava ali também, Elliot Grey, Jack Hyde, e Christian.

Ana controlou suas emoções e seu corpo, havia finalmente conseguido aquele talento nos últimos dias.

Ali era a oficialização, ela iria falar e todos tirariam suas próprias conclusões sobre sua vida e sua mente. Era um tribunal sem testemunhas para decidirem o que fazer com ela.

Com aquilo Ana estava acostumada, sua vida inteira desde que se lembra era daquela forma: pessoas desconhecidas decidindo sobre ela, falando sobre ela, fazendo suas escolhas por ela. Mas daquela vez a garota sabia que era diferente, não era apenas ela quem teria a vida decidida, daquela vez havia arrastado Christian, a única pessoa em seu mundo que não deveria ter os passos guiados por ninguém além dele.

Era crucial que ela fizesse tudo certo.

Mas o que era certo? Ninguém nunca fez questão de lhe ensinar.

— Estamos aqui hoje em recorrência da denúncia de Carla Rose Steele e Raymond Sales Steele, delegando assédio por parte do medico-psiquiatra Christian Treveland-Grey, de vinte e seis anos, à mulher Anastasia Rose Steele, que residia na Clínica Priory, dirigida por Grace Amélia Treveland-Grey e propriedade de Linc Timber Priory. Steele residiu em Priory depois de um diagnóstico psiquiátrico feito por Flynn Gader, medico/psiquiatra - o juiz esclareceu.

Sr. Hardware levantou a mão um segundo antes de ajeitar a gravata que usava e falar:

— Gostaria de ressaltar que a Clínica Priory é dirigida por Grace Grey, mãe de Christian Grey, o acusado. E a Srta. Steele, a vítima, estava sendo orientada em consultas diárias por Elliot Grey, irmão do acusado.

Sr. Leonel revirou os olhos e bufou baixinho.

O juiz balançou a cabeça numa concordância.

— É relevante - declarou. - Sr. Elliot Grey, terapeuta psiquiátrico, especializado em traumas mentais, esta com a plena ciencia do caso e de perguntas e situações que podem ser levadas à Anastasia Rose Steele nesse julgamento sem testemunhas?

— Sim, meritíssimo - Elliot respondeu.

— Está de acordo com a participação de sua paciente nesse julgamento?

— Sim.

— Não haverá qualquer desando ou reações relativamente ruins do tratamento da paciente por essa situação?

— Não, senhor.

— Muito bem, vamos começar - o juiz concordou. - Ana, posso te chamar assim? - o juiz falou de forma amigável, sorrindo gentilmente para a garota, sendo pela primeira vez menos que cordial. 

A morena balançou a cabeça e entrelaçou as mãos em seu colo.

Precisava se concentrar.

O que era errado?

O que era certo?

— Eu serei direto e claro, tudo bem? - ele questionou.

Ana voltou a balançar a cabeça, interessada em seus dedos.

— Eu quero que olhe para mim, querida - o juiz pediu.

A morena sentiu a raiva vir, do nada, crescendo porque tinha alguém exigindo que ela fizesse algo.

A garota olhou na direção de Christian, mas ele não a encarou, pelo contrário, mirava o juiz apenas. Ana tirou o cabelo do caminho e mordeu o lábio inferior. Sabia o que Christian estava fazendo, estava dizendo a ela que se ele podia olhar para o juiz, por que ela não podia?

A morena virou o rosto e encarou o meritíssimo.

— Obrigado - ele lhe agradeceu. - Agora quero palavras, okay?

Ela continuou encarando-o.

Depois decidira se faria o que ele queria.

— O Dr. Grey está sendo acusado de assedia-la - declarou. - Essa acusação tem fundamentos, Srta. Steele? - questionou.

Hardware levantou sua mão novamente, sendo atendido pelo juiz.

— Primeiramente, a senhorita entende o que é assédio - Hardware questionou à menina.

Ana levantou uma das sobrancelhas e encarou o advogado.

— O senhor sabe o que é isso pendurado em seu pescoço? - ela questionou.

— Não entendi sua pergunta - o advogado respondeu confuso.

— Parece que eu sei mais do que você então, o que quer dizer que claramente o que é assédio.

Hardware engoliu em seco.

— Srta. Steele... - começou ajeitando a gravata novamente, o rosto ruborizando.

— Se chama gravata, na maioria das vezes usada põe homens, mas muitas mulheres estão aderindo a ideia novamente - ela continuou.

— Vamos nos ater aos fatos desse julgamento, esquecendo as gravatas, tudo bem?

— Era o meu pensamento inicial antes do senhor me questionar como obtusa - seu tom era firme e cadenciado, quase gentil, mas tinha um quê de sarcástico e irritação.

— Eu não quis...

— Tudo bem, vamos continuar - o juiz interveio, sabendo que a conversa nao daria em nada. - Qualquer índice de toque ou até mesmo palavras dirigidas a senhorita com o intuito de segundas intenções, é considerado assedio, Ana - o juiz resolveu esclarecer.

— Muitas pessoas fazem isso o tempo todo, não existiria mais homens livres no mundo se isso fosse crime.

— Desculpe, querida, mas em seu diagnostico resultando em incapacidade de responder por si mesma, se torna crime.

Ana bufou e cruzou os braços.

— Entendi. Então, sim, tem fundamentos - respondeu ela

Todos na mesa se surpreenderam, e Hardware sorriu enquanto Hyde conseguiu se conter.

Christian a encarou, tentando decifrar a menina, mas não conseguindo, como sempre.

— Em base no que há fundamentos, Srta. Steele? - o advogado Leonel questionou.

— Christian me tocou, disse coisas com segundas intenções, falou sobre relacionamento, a coisa toda de assédio - ela respondeu sem emoção.

Leonel não soube o que perguntar e fazer, não era com aquelas acusações que ele havia infundado o caso e preparado uma defesa, não diante do comportamento tão afetivo à Christian de Ana.

— Mas ele nunca me beijou, não com a iniciativa dele, quero dizer - ela continuou, revirando os olhos no fim da frase. - Ele sempre se afasta - completou, encarando o mesmo com tenacidade.

— Como se sente por ter passado por essas situações, Srta. Steele? – Leonel questionou, tentando uma jogada diferente.

Christian devolveu o olhar taciturno da menina, não demonstrando nada, apenas sorrindo de leve quando a garota sustentou seu olhar de forma confusa, como se esperasse por algo.

Ela não estava mentindo, afinal, e ele estava bem com aquilo. Não podia pedir para a garota mentir, não a coagiria a confundir mais ainda a própria mente.

A garota devolveu o sorriso de forma maior, deixando uma covinha única aparecer e os dentes pequenos.

Ali, Ana percebeu que estava errada, alguém lhe ensinou, fez questão de lhe ensinar o que era certo, o que era bom, como era sentir, como ser humana, como machucar às vezes é um mecanismo de defesa do seu próprio corpo, que você não tem controle de tudo e isso está tudo bem, que algumas vezes sua vida numa situação ruim é apenas uma fase para que as coisas boas possam se transformar. Christian fez aquilo. Ele fora o único que se preocupou mais com seus sentimentos do que com sua mente estranha e sua incapacidade de sentir dor física, ele fora o único que a fez entender que a dor emocional era pior.

Era uma ligação extremamente íntima e pessoal, ninguém além dos dois iria entender aquilo, o quanto era surreal, inocente e forte o que aconteceu entre os dois. Nem eles entendiam direito, nem eles conseguiam colocar em palavras, só aconteceu, só foi acontecendo. Não era uma necessidade de se tocarem, ou de se beijarem, ou qualquer coisa, era de estar perto, de conversar ou estar em silêncio, era de saber um do outro, era as consequências que aquele tipo de conexão traz ao ser humano.

— Segurança? – ela questionou a si mesma. – Acho que me sinto segura... ao contrário do que vocês pensam, eu posso responder por mim, eu sei o que faço e sei o que fazem comigo. Eu sei exatamente o que Christian Grey fez comigo. Ele me dá segurança, eu não tinha isso antes, não lembro de ter... – ela divagou, tirando o cabelo dos olhos e deixando as lágrimas que cobriam seus olhos, escorrerem por sua bochecha de forma silenciosa. - Ele me dá a sensação de que vai ficar tudo bem, ele me faz querer me esforçar para que as coisas fiquem bem de verdade - ela deu de ombros e suspirou, sorrindo minimamente. - Ele me dá um friozinho na barriga, como se eu estivesse caindo de algum lugar, sabe? Mas eu não tenho medo porque ele vai estar lá para me segurar - confessou, enrolando os dedos uns nos outros de forma tímida. – E eu sinto falta dele. Droga, eu sinto falta dele o tempo todo, até quando ele está aqui, a centímetros de mim. Sinto falta dele de um jeito que eu não consigo explicar, é sufocante – declarou, limpando o rosto com as costas das mãos. – Eu sinto como se o meu corpo fosse entrar em combustão só de olhar para ele, é como se a minha mente só processasse ele, como se eu não precisasse de mais nada para sobreviver. Eu sinto que... que o amo. É, eu amo. E antes que o Sr. Hardware me questione, eu sei o que é amor. Os meus pais me amam, não é a mesma coisa, eu sei, mas eu faria qualquer coisa para que eles ficassem felizes. Eu sei que eu amo o Christian porque eu faria qualquer para que ele fique feliz. Eu nunca senti isso antes, nunca quis que alguém ficasse bem – ela teve de limpar o rosto novamente com as costas das mãos, as lágrimas desciam mesmo que não houvesse um nó em sua garganta e a sua voz falhasse. – Acho que as pessoas me machucaram tanto a ponto de que eu querer que elas se machuquem também – ela se virou para o juiz e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

O que era certo?

O que era errado?

— Olha, eu não estou dizendo que não tenho problemas, eu tenho, tipo, muitos. Eu tenho mais problemas do que o limite de um ser humano permite, mas o Christian está me ajudando. Não acho que o senhor vá entender, eu acho que nem o próprio Christian entende – ela riu sem humor. – Mas ele faz isso. É como se ele... me salvasse em vários tons diferentes – ela respirou fundo e então suspirou, ainda encarando o juiz. - É surreal o efeito que algumas pessoas podem causar em nossa vida – completou e então se voltou para o Sr. Leonel. – Eu me sinto feliz, como uma boa pessoa. Todo mundo tem um lado bonito. Eu gosto disso. É isso o que eu sinto com todo esse assédio.

O juiz havia dado um tempo, nem mesmo ele conseguiria continuar sem uma pausa após as palavras de Ana. A garota fora conduzida para fora primeiro, com um policial em cada lado, e um enfermeiro que nem ela havia percebido que estava ali.

— Tudo está a nosso favor agora, só temos que saber que palavras usar e como convencer o juiz de que Anastasia está sim completamente consciente do que faz – Sr. Leonel foi o primeiro a falar quando foram para uma das salas reservadas do tribunal.

— Para isso, Jeffrey, precisaríamos que a menina seja curada, e eu não acho que ela vá ser em quarenta minutos – Linc suspirou, sentando num dos sofás. – Eu ainda pego esse Hyde, não acredito que além de gravar dentro da clínica, ainda colocou os pais da menina para nos processar.

— Eles estão me processando, não a clínica – Christian corrigiu.

— Você faz parte da equipe, pacientes são levados para Priory para serem tratados especialmente por você. Não vou perder meu garoto de ouro.

Grace olhou feio para Linc.

— Meu filho não é um negócio – ela murmurou firme. – Christian, quero conversar com você – a mulher se levantou e saiu da sala, sem olhar para ver se o mesmo ia atrás dela.

Christian era um adulto formado e independente, tinha sua própria casa e cuidava da própria, mas isso não queria dizer que ele não tinha mais medo das broncas da mãe.

O mesmo seguiu a mulher para fora da sala e se recostou na parede do corredor vazio, encarando-a, esperando o veredicto.

— Eu nem sei por onde começar a minha decepção – ela falou. – Christian, eu avisei tanto, eu entendo, ela é bonita, é diferente...

— Mãe, isso com certeza não tem nada a ver. E a senhora não sabe o quanto eu tentei evitar, mas aconteceu. E não aconteceu porque ela é bonita e diferente – ela balançou a cabeça e suspirou. – Eu não sei explicar. Eu nunca sequer olhei para uma paciente desse jeito, e quer saber, eu nunca sequer olhei para outra pessoa desse jeito.

Grace o encarou confusa.

— Ela é perfeita – ele declarou. - Você pode achar que não, e a maioria das outras pessoas podem achar também, mas ela é perfeita para mim. Tem alguma coisa nela que me faz querer apenas ficar perto dela, tanto que eu sinto como se... como se não conseguisse mais viver sem ela – confessou.

— Você está apaixonado por essa menina? – a mulher questionou com assombro.

Quanta vezes a gente quer as coisas que não podemos ter? Parece um ímã – ou apenas teimosia.

A verdade é que, para Christian, Ana era alguém que intensificou todos os seus sentidos e fez sorrir todas as partes do seu corpo. Ela falava sobre o cabelo molhado, sobre as abelhas no jardim ou os passos de lama na chuva e mesmo assim era os assuntos mais interessantes para ele. De algum jeito, mesmo sendo tão frágil, ela o deixava forte, com seus elogios fora de hora e honestidade sem limite. Nunca conseguia ficar mal-humorado na companhia dela por muito tempo, era impossível, por mais merda que havia sido seu dia, ela estava sempre tentando fazê-lo sorrir. Até no meio de um tribunal em que ele era o acusado. Sabe, não importava as mulheres interesseiras em médicos, as enfermeiras suspirando nos corredores e até os caras dando em cima na balada, seus olhos e pensamentos estavam sempre focados nela. Ela bagunçava tudo, desde o seu cabelo à suas ideologias, e era ela também que arrumava. Era ela quem estava lá, em seus pensamentos, quando ele acordava de madrugada após um pesadelo por causa dos surtos dos pacientes, era ela quem ele queria ver quando seu pager apitava por um código vermelho nos corredores. Era sempre ela. Não dava para evitar, ele não tinha como esconder, ainda mais ali, com tudo tão expostos após as declarações dela.

Grace não precisou de uma resposta verbal.

— Filho, sabe que sua vida nunca vai ser normal, essa menina...

— A Ana é a garota que eu quero, não me importo se a minha vida vai ser normal ou não com ela – ele foi sincero.

— Eu só quero o seu melhor, meu amor.

— Eu sei, mãe. Olha, eu não posso dizer como vai ser minha vida ou a dela, e nem a senhora pode dizer, eu não sei como os dias vão ser, mas eu quero ficar com ela. Quero ela em todos os dias da minha vida, com todas as crises de identidade e de personalidade.

Christian não acha que algum dia havia sito tão sincero com sua mãe ou consigo mesmo. Ele nunca se permitiu dizer em voz – ou em pensamento – ou que sentia por Ana, o que sentia vontade de fazer com ela. Era tudo muito abstrato, muito longe da realidade possível... e tão errado.

Grace abriu a boca para falar novamente, mas os passos no corredor a fez se calar. Era Ana com um policial ao seu lado.

A garota claramente estava exausta, e ainda assim estava inacreditavelmente bonita.

— Você tem cinco minutos – o policial falou para a menina quando os dois estava perto o bastante de Christian e Grace.

A morena se virou para o homem e franziu o cenho.

— Não gosto de ordens – declarou.

— Eu tenho algemas e uma cela – o outro devolveu com uma expressão ameaçadora, mas num tom brincalhão.

— Cinco minutos, policial Trevis? – a garota questionou seriamente, entrando em sua brincadeira, para a surpresa dos outros dois.

— E nem um segundo a mais, Srta. Steele – o policial respondeu. – Com licença – e logo se foi.

A garota se voltou para Christian e Grace, com um olhar interrogatório para a mulher que claramente queria dizer para ela sair, mas a menina estava aprendendo a ser mais educada.

— Isso é legal? – Grace questionou se referindo ao fato de Ana estar sem supervisão de um policial e perto de Christian.

— Não – a garota respondeu.

Grace suspirou, levantando a mão em rendição.

— Piorar não tem como – resmungou antes de entrar na sala ao lado e deixá-los a sós.

Ana esperou a porta se fechar e se aproximou completamente de Christian, quase tocando seus corpos.

Os dois se encararam sem dizer nada, até que Christian quebrou o silêncio.

— Também sinto sua falta – ele sussurrou.

Era o que ela precisava para finalmente jogar os braços ao redor do pescoço dele e colar seus corpos, levantando-se na ponta dos pés para apoiar o queixo em seu ombro. Christian a abraçou de voltar, sentindo o coração rápido e forte da garota batendo contra o seu.

— Não era para isso ter acontecido, eu sinto muito – ele falou contra o cabelo dela.

— Não é culpa sua, nós dois sabemos disso – ela respondeu, voltando a encará-lo, mas sem se afastar um centímetro. - Não fica assim não – murmurou – Quer ver meus peitos?

Ele a encarou surpreso e então riu, balançando a cabeça.

— Eu realmente senti falta disso – confessou, pegando as mãos da garota e fazendo seus braços se passarem por sua cintura, deixando seu rosto colado ao seu peito.

Ela adorou ouvir e sentir o coração dele.

— Dos meus peitos? – a garota questionou e sentiu a vibração do corpo dele quando o mesmo riu novamente.

— Do seu jeito – respondeu ele.

— Hum – ela o encarou debaixo e deixou o queixo contra seu peito. – Tem certeza que não quer ver meus peitos para se alegrar?

— Obrigado, mas não acho que seja apropriado aqui – falou ele.

Ela bufou de brincadeira enquanto ele dava um beijo em sua testa.

— Você já me alegra só por respirar – ele confessou.

— Você é a minha paz – ela confessou de volta num sussurrou baixo, ainda sentindo nos lábios do outro em sua testa.

— Só para constar, eu também te amo – ele devolveu, apoiando o rosto no topo de sua cabeça, abraçando-a com mais força. - Muito. Mesmo que você talvez me coloque na cadeia por uns dez anos.

Ana riu baixinho.

— Eu não vou deixar eles te pegarem. Nós vamos fugir - ela falou.

Ele a encarou, sorrindo.

— Vamos? - questionou.

— Sim. Para bem longe, para onde tem praia, porque eu não lembro se já a vi... - disse e então deu um sorriso malicioso, que fez Christian levantar uma das sobrancelhas já sabendo que ela iria falar algo que não prestava. - Eu vou deixar você tirar a minha roupa na areia - declarou ela.

Christian arregalou os olhos e engoliu em seco.

— Ta - suspirou ele, colocando o rosto no pescoço da garota, tentando não imaginar a cena.

Sem sucesso.

— Está tudo bem? - ela questionou.

— Uhum. Só estou tentando lembrar da minha vó que eu vi pelada uma vez - ele respondeu.

Ana riu.

— Droga, sua risada não ajuda - ele voltou a encará-la.

A garota parou de sorrir e o devolveu um olhar sério.

— Quer que eu pare de rir? - questionou, já quase rindo novamente.

Christian a apertou contra si e tocou os lábios na pontinha de seu nariz.

— Nunca – ele respondeu antes da garota levantar o rosto e tocar os lábios seus. – Não – ele a interrompeu, virando o rosto. – Por causa disso entramos em problemas.

Ana suspirou.

— Não foi por causa disso, foi por causa do Sr. Hyde – ela resmungou.

Ele gravou a consulta. Não gostei disso - reclamou.

— Nem eu - Christian concordou, afinal, era realmente por causa daquela droga de gravação que tudo havia acontecido.

— Ele fez de propósito, não é? Ele queria te preju-prejudi...?

— Prejudicar? – ele a corrigiu.

— Essa palavra aí.

— É, foi o que ele fez – concordou.

— Ele é muito cínico – ela ralhou. - Ele que é mal e quer fazer você parecer que é, ele machucou a babá e fez parecer que você fez isso comigo.

— Do que está falando?

— Da gravação, ele fez...

— Não, você falou de babá – ele a interrompeu, se afastando alguns centímetros para poder encará-la. - Que babá é essa?

— Não sei.

— Você acabou de falar, Ana.

Ela bufou.

— Eu odeio quando você me chama de Ana - resmungou.

— Amor. – ele respondeu gentilmente, tocando em seu queixo. - Agora me fala dessa babá.

— A minha babá, ué.

— Eu não estou te entendendo.

A morena inclinou a cabeça e pareceu pensar.

— Ele machucou a minha babá. Eu acho que foi ele, eu não lembro. O brinco de diamante é igual, e uma vez eu vi pela janela ele chegando em Priory com um boné, e ele era igual também – despejou as palavras de uma vez.

— Brinco, boné... Eu estou tentando ver sentido, mas está difícil. Me explica direito, amor.

— Ele estava usando quando machucou a babá - ela respondeu um pouco impaciente. - Ninguém entende o que eu falo, nunca. Isso é chato, sabia? Eu estou dizendo que ele machucou a babá.

Christian acariciou cabelo dela e mirou o teto.

Não era a primeira vez que Ana falava sobre aquilo, e em seus registros era descrito que a esquizofrenia paranoide dela havia começado com a babá, a garota falava sobre coisas que uma criança de nove anos não deveria saber.

Mas e se não fosse uma paranoia? E se tivesse acontecido mesmo?

Há dez anos ninguém dava importância ao que uma criança falava sobre a babá se a mesma desmentia tudo, ninguém tentava ao menos descobrir porque a criança falava sobre o que falava.

Mas e se Ana estivesse falando a verdade o tempo todo? Ela podia não entender na época, podia não saber a gravidade do que falava, o jeito que falava sem emoção e relatava um possível estupro, tendo a vítima negando até o fim, era realmente um pouco descrente. Mas ela havia crescido, as memórias se deterioraram com o tempo, porém, ainda havia algo. Todos se preocupavam demais com seu problema, uma rachadura destendida no cérebro que a fazia ser incapaz de sentir, o medo durante a vida inteira de se machucar e não saber a fez ser irredutível e totalmente antissocial. E era isso. Era apenas o que todo mundo se preocupava, tentavam fazê-la se tornar "normal" tentando achar solução para algo que talvez não fosse o problema central.

Somente um trauma realmente grande podia fazer a mente de alguém trabalhar de forma perigosa.

 


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Notas finais do capítulo

Gente, oi, e aí? Agora a Ana está entrando num estado mais de lucidez, mais de entender o que tem que fazer, o que está acontecendo, ela precisa disso para saber o que aconteceu de verdade há tanto tempo, do que aconteceu com ela, e eu to dando o meu melhor para colocar em palavras a ideia que eu tenho da história, porque quem escreve sabe como as vezes é difícil você colocar na escrita seus pensamentos e ideias rs. Enfim, eu espero que estejam entendendo. Esse é o terceiro ou quarto capítulo que eu posto hoje, o que é um recorde para mim né?? kkk é que eu trabalho, estudo, cuido dos meus amores (sobrinhos haha) e sempre guardo um tempo para escrever essas histórias malucas que saem da minha cabeça.

Vou responder os comentários rs, logo logo, é q eu to dando prioridade para escrever e postar, obrigada pelo apoio e carinho, vocês são demais. ♥



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