A Criada Francesa escrita por Claen


Capítulo 5
Investigando o Inspetor




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Já sem a companhia da Sra. Hudson, fomos caminhando com Gregson até a Scotland Yard. A sede da polícia metropolitana de Londres ficava do outro lado do Tâmisa, então atravessamos a Ponte de Westminster e em menos de vinte minutos já estávamos em frente à mesa de Lestrade.

Gregson tinha nos dado permissão para vasculharmos o lugar à procura de pistas que pudessem corroborar a hipótese de Holmes, por isso começamos a investigação imediatamente. Olhamos suas anotações e as fichas dos casos em que ele estava trabalhando, mas tudo foi em vão, pois nada despertou a atenção de Holmes e isso o deixou completamente frustrado. Ele tinha certeza de que encontraria as respostas que procurava naquele lugar, mas parecia que não seria tão fácil assim.

— Diabos! – exclamou meu colega, sentado na cadeira de Lestrade e batendo com a palma da mão na mesa de madeira.  – Eu tenho certeza de que o que quase deu fim a Lestrade foi investigar um desses casos, mas parece que ele só estava trabalhando num caso de assalto a banco e colaborando num caso de assassinato em Einfield. Nada disso parece ter ligação com o que procuro. Tem certeza de que ele só estava trabalhando nesses dois casos, Gregson?

— Sim. E pelo que eu soube, a polícia de Einfield até já encontrou o assassino que procurava.

— Não... tem algo mais. – insistiu Holmes, pensativo, enquanto olhava todos aqueles papéis espalhados pela escrivaninha. – Talvez ele estivesse trabalhando em algo que vocês não soubessem...

— Isso é praticamente impossível, porque não temos permissão para fazer tal coisa, mas fique à vontade para continuar procurando. Infelizmente, eu não poderei ficar para ajudar porque tenho muito trabalho a fazer. Boa sorte. – disse Gregson, antes de deixar o local.

— Eu tenho certeza de que a resposta está aqui em algum lugar. Continue lendo, Watson! Continue lendo!

Mesmo não tendo a mesma confiança de meu colega, continuei fazendo o que Holmes havia me pedido, até que algo, ou melhor, alguém, chamou minha atenção.

Enquanto olhava as anotações feitas por Lestrade em uma caderneta, reparei que um dos policiais nos observava, mas desviava o olhar e disfarçava sempre que eu olhava em sua direção. Era o mesmo jovem policial que havia confirmado o possível estado delirante de Lestrade lá no hospital.

— Holmes. – chamei, em voz baixa, por meu colega que estava sentado no lado oposto da mesa.

— O que foi, Watson?

— Sabe aquele policial que disse que Lestrade estava falando sozinho?

— Sim, o que tem ele?

— Ele está sentado na mesa atrás de você e não para de olhar para a gente. Tenho a impressão de que ele quer falar alguma coisa, mas está meio relutante.

— Não me diga, Watson! – disse Holmes, se virando discretamente, já com um leve sorriso, para confirmar minha observação.

— Eu acho que você tem toda razão, meu caro Watson. Então vamos tornar as coisas mais fáceis para o rapaz. – disse ele já se levantando e indo em direção ao jovem policial.

— Bom dia, policial. – cumprimentou Holmes, surpreendendo o rapaz, que parecia ter ficado um pouco nervoso com a nossa aproximação. – Creio que ainda não fomos oficialmente apresentados.

— Bom dia, Sr. Holmes. – respondeu ele, enquanto se levantava e estendia a mão para cumprimentar meu colega. – É uma honra poder finalmente me apresentar a uma pessoa tão famosa quanto senhor. Muito prazer, Albert Hobbes.

— Muito prazer, policial Hobbes. – respondeu Holmes, educadamente. - Então quer dizer que o senhor foi uma das pessoas que ajudaram a socorrer o Inspetor Lestrade, não foi?

— Sim, senhor. Eu estava aqui na hora em que tudo aconteceu.

— Interessante... Eu gostaria de conversar com o senhor por alguns minutos. Será que o senhor se incomodaria em acompanhar a mim e ao Dr. Watson até a cafeteria da esquina? – sugeriu Holmes, na tentativa de afastá-lo de seus colegas de uma forma discreta. - É que saímos de casa com tanta pressa hoje cedo, que acabamos não tomando café da manhã e agora estamos mortos de fome. Assim matamos dois coelhos e poderemos comer alguma coisa enquanto conversamos.

O rapaz olhou para o relógio e parecia ter tempo para atender ao convite de Holmes. Não sei se foi impressão minha, mas ele pareceu ter ficado um pouco mais tranquilo em ver que desejávamos falar com ele longe das dependências da Scotland Yard.

— Eu tenho alguns minutos de intervalo. Acho que posso acompanhá-los.

Nós estávamos curiosos com o que o policial Hobbes teria para nos contar de tão interessante que, aparentemente, não poderia ser contado na presença de outros policiais.

Assim que chegamos na cafeteria, nos sentamos e pedimos café e duas fatias de bolo. Holmes e eu realmente tínhamos fome, mas o policial aceitou apenas a xícara de café antes de começar a falar.

— Policial Hobbes, eu vou direto ao ponto. – começou Holmes, sem rodeios. – Parece-me que o senhor deseja nos contar algo. E tenho a impressão de que essa informação não seria bem vista caso chegasse aos ouvidos de algumas pessoas da Scotland Yard, ou estou enganado?

— Bem... – começou o policial, meio sem jeito. – O senhor tem razão. É que eu ainda sou novo no departamento e não sei se deveria falar o que ouvi, porque talvez não seja bom para o Inspetor Lestrade, mas acho que pode ter a ver com o que o senhor falou lá no hospital.

— Foi exatamente o que eu imaginei. Faz muito bem em ser prudente, meu jovem, mas não se preocupe, porque o que você disser aqui ficará apenas entre nós. – encorajou-o Holmes. – Lestrade estava trabalhando em outro caso, não é?

— Para falar a verdade, eu não sei se ele estava trabalhando em um caso, mas há uns quatro dias, um homem francês veio até a delegacia pedindo ajuda para encontrar a irmã desaparecida há quase dez anos. Ninguém deu muita atenção para ele, já que era um assunto tão antigo e principalmente, pelo fato de que a moça, na época de seu desaparecimento, ser uma imigrante ilegal.

— Entendo. – disse Holmes, passando a mão pelo queixo. - Mas Lestrade se interessou, não foi?

— Pareceu-me que sim. Quando o homem já estava indo embora, ele o chamou e os dois trocaram algumas palavras e logo em seguida deixaram a Scotland Yard juntos. O inspetor só voltou quase uma hora depois e passou a tarde toda pensativo. Depois daquele dia, ele saía todas as tardes e sumia por horas sem dizer onde tinha ido e quando alguém perguntava, ele desconversava. Algo me diz que ele estava ajudando o tal homem francês.

— E como é que você sabe disso tudo, meu rapaz? - perguntei.

— É porque como ainda sou novato, faço muito serviço burocrático e na maior parte do tempo fico dentro da delegacia. Naquele dia eu era uma das poucas pessoas presentes.

— Compreendo... – disse Holmes. O que o jovem policial dizia parecia fazer sentido para Holmes e se encaixava em suas deduções. Embora não fosse do costume de Lestrade agir contrariando ordens, aquela poderia ser uma boa explicação.

— Diga-me apenas mais uma coisa, policial Hobbes. – pediu Holmes.

— Pois não, Sr. Holmes.

— Você conseguiria descrever o tal homem francês que procurava pela irmã?

— Bem... – respondeu o rapaz tentando puxar pela memória a fisionomia do homem. – Ele era bem jovem, devia ter uns 20, 21 anos no máximo. Era um pouco mais baixo que eu, então calculo por volta de 1,75. Seus cabelos eram negros, curtos e bem penteados. Os olhos eram escuros também.

— O que pode me dizer sobre suas roupas? Ele se vestia bem? Parecia ter posses?

— Ele usava um terno bem cortado, mas suas roupas não me pareceram ser das mais caras. Não deve ser rico, mas é bem apessoado.

— Está certo, policial Hobbes. Temos sorte de o senhor ser bastante observador. Agradeço pelas suas informações, elas foram bem esclarecedoras.

— Não faz muito tempo que trabalho com o Inspetor Lestrade, mas ele me parece ser um homem bastante íntegro e um grande detetive, por isso eu também gostaria de saber o que realmente aconteceu. Espero poder ter ajudado em alguma coisa.

— Certamente ajudou.

Logo que terminamos nossa conversa, o policial voltou para a Scotland Yard, enquanto nós permanecemos por mais alguns minutos no café.

— Curioso, não acha, Holmes? – perguntei, intrigado depois de ouvir Hobbes.

— De fato, Watson. Lestrade não é do tipo que descumpre ordens, mas algo que o tal homem francês disse, certamente fez com que ele agisse por conta própria. Talvez tenha sido seu coração mole.

— Ele pode ter ficado com pena dele, já que o rapaz parece estar procurando a irmã há um bom tempo.

— Eu não creio que este caso terá um final feliz, afinal, é muito improvável que alguém desapareça por tanto tempo por vontade própria.

— Quem sabe... – disse eu tentando não ser tão pessimista. – Ela pode ter tido um motivo muito forte para desaparecer dessa forma.

— Gostaria de ter o seu otimismo, meu caro Watson, mas sou realista demais para me deixar levar por sentimentalismos baratos.

— Bem... Mas o que pretende fazer agora?

— Não é obvio? Vou procurar o tal homem francês. Não deve ser muito difícil encontrá-lo.

— Você acha que vai ser fácil encontrá-lo, mesmo sem saber praticamente nada sobre ele?

— Duas horas, Watson. Dê-me duas horas e eu terei seu nome e sua atual localização.

Eu quis duvidar dele, mas com o passar dos anos aprendi que essa não era uma boa ideia, principalmente em momentos como este, em que ele se mostrava totalmente confiante em suas palavras.

— Agora, se me der licença, eu preciso agir! – disse Holmes se levantando bruscamente da mesa e me deixando sozinho na cafeteria, com a conta para pagar, enquanto desaparecia pela porta.

Eu não estava com pressa, então permaneci por mais alguns minutos enquanto terminava de comer minha fatia de bolo e tomar meu café. Eu não fazia a mínima ideia de para onde ele poderia ter ido, então a única coisa que me restava era ir para casa e esperar por seu retorno.


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